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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Feliz dia dos blogueiros!

Há um bom tenho aproveitado minhas tardes e noites de produções acadêmicas para escrever ouvindo a rádio da Unijuí-FM (http://www1.unijui.edu.br/unijui-fm). E eis que, nessa tarde, descobri através do meu amigo Gilmar, que lá trabalha, e da minha amiga Mirian Quadros, que hoje é o dia do blogueiro. E, diz a Mirian, que todos os blogueiros do mundo estão convocados a postar hoje o endereço de outros blogs, para um blog citar outro (todo mundo se citando), e assim, todos os blogs serem acessados. Negócio é o seguinte, como não to com saco de colocar aqui todos os blogs que eu sigo, deixo aberto esse espaço para cada um divulgar o seu blog nos comentários (pois se eu citar um e esquecer de outro rola aquele ciuminho básico). Porém, todavia, contudo, cito aqui um que descobri há poucos dias, muito bom, indicado pela minha outra amiga e eterna professora Ângela Zamin. É o seguinte:
http://jornalismo-literatura.blogspot.com/
Boas leituras!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O contra-sonho

Há muito tempo venho cultivando a minha mini-fazenda no Orkut. Uma distração leve, desestressante. De certa forma, até entorpecente. Como já escrevi em outro texto, compro vacas, porcos, ovelhas, planto milho, lírio, algodão, abóbora moranga, enfim, faço de tudo na minha mini-fazenda. Tenho vários carros e várias casas. Porém, estava pensando esses dias: por que tanta satisfação em uma fazenda virtual se eu nunca morei e nem pretendo morar em algo semelhante? Pensei, pensei, pensei, até que conclui que, como diria McLuhan, o meio é a mensagem. Ou seja, no caso do estudioso canadense, ele apontou que o que importa não é o conteúdo dos meios de comunicação, mas sim, os próprios meios. Nesse sentido, no meu caso, a minha atração não é pela fazenda em si, mas sim pela lógica desse tipo de jogo: ganhar dinheiro para poder comprar mais. Esse é o princípio dos jogos onde você administra uma cidade, um café, uma boate, uma casa, um clube de futebol, enfim, o que menos importa é o conteúdo, mas sim, o a lógica do jogo.
Fiquei me questionando quanto a isso porque existe por aí um plano de me levarem para um sítio, fazenda, ou algo do gênero. Aliás, não só eu, mas mulher e filhas também. E se tem alguma coisa que, literalmente, me mataria de tédio em pouco tempo (uma semana, um mês, um ano?) seria isso: uma fazenda. Nada contra quem goste de estar em paz consigo mesmo no meio da natureza e dos animaizinhos, mas, sinceramente, isso não é para um jornalista urbano como eu. Pelo menos, não para um jornalista de 28 anos.
Fazer isso seria o mesmo que pegar o meu diploma de jornalista, todos os livros que li sobre jornalismo, a minha monografia, meu projeto experimental de conclusão de graduação, meu artigo vencedor do Iniciacom na categoria Cultura de 2005, minha dissertação de mestrado, enfim, seria o mesmo que colocar tudo isso numa caixa e jogar num rio (sim, porque sítios e fazendas geralmente têm rios). Livrando-me dos meus apetrechos, eu simplesmente teria a vida que mais me causa embrulho no estômago: limpar estábulos, colher na horta, plantar, pegar os ovos das galinhas (para os outros, já que eu não como), tirar leite das vacas, limpar vários hectares de grama sei lá eu como, cuidar das máquinas (como se eu entendesse alguma patavina de máquina), limpar as bostas das ovelhas e das vacas com uma enxada para, no fim do dia, completamente sujo, cansado e embostado (sou meio desajeitado com atividades domésticas e fazendísticas), tomar um banho, dormir cedo (SOU BOÊMIO!), para no outro dia fazer tudo de novo, pois os animais seguem produzindo e cagando e as plantas seguem crescendo (e a grama também, e alguém tem que cortar, sabe cumé....). Enfim novamente, como disse, até admiro quem gosta de viver assim, até porque precisamos de agricultores para termos comida no supermercado, e acho que eles devem ser supervalorizados. Mas, eu ir morar em um sítio ou fazenda é mais ou menos como colocar um jogador de vôlei a jogar futebol, ou um jogador de futebol a jogar basquete, ou um jogador de basquete a jogar tênis. Ou, fazendo uma metáfora futebolística, seria como botar um goleiro de centroavante, um meia habilidoso na zaga ou um zagueiro trombador como meia de criação. Desculpem a pieguice mas, tipo assim: não rola. Vejo-me mais como um coiote levando estrangeiros para os Estados Unidos no México do que como alguém que vai trabalhar na terra. Entretanto, volto a frisar mais uma vez: admiro muito quem gosta desse tipo de vida, inclusive, meu pai cresceu morando “pra fora” e adora trabalhar com terra, bichos, plantas, etc. Mas, cada um cada um, ou, como diria aquela musiquinha ultra-enjoada: cada um no seu quadrado.
Aproveito o espaço cedido por mim mesmo para também responder às críticas da minha amada Mamuxca, que critica vários textos meus, dizendo que estou me indispondo com certas pessoas, empresas, políticos, etc... Mas, pensando agora, às 3 da madrugada, lembro de uma resposta que o escritor Charles Kiefer me deu em uma entrevista, quando lhe questionei sobre o quê o levava a escrever? “Não sei, simplesmente se não escrevo começo a passar mal, o coração dispara, parece que vou ter um treco, morrer...”, foi mais ou menos o que ele disse. E assim é comigo: se tem um assunto que está entalado na minha garganta, tenho que escrever. É da minha natureza. E, para ter sobre o quê escrever, tenho que estar no agito, no movimento, no meio da circulação de pessoas, e não numa fazenda. Agora, aproveitando o momento de desabafo (pra variar...) também vou usar esse nobre espaço cedido muito gentilmente por mim mesmo para responder aqueles que criticam quem escreve sobre si mesmo (coisa que praticamente todos os cronistas contemporâneos fazem: David Coimbra, Juremir Machado da Silva, Martha Medeiros, meu primo Gérson Alemão, Mr. Gomelli, July, etc...): minha literatura (se é que podemos chamar assim) é escrita para salvar a mim mesmo de minha própria insanidade. Caso alguém mais se salve (sabe-se lá de quê?) já estarei no lucro.
Um forte abraço a todos os leitores, que eu estou indo para o meu retiro acadêmico-espiritual (Intercom em Caxias do Sul e depois seminário na PUCRS). Um dia, se Deus quiser, eu volto.

sábado, 28 de agosto de 2010

A casa da mãe Joana

No ano passado, quando ia ao estádio Olímpico, lembro que ficava olhando para a torcida adversária e pensava: “coitados, viajaram de tão longe sabendo que o time vai perder”. E, de fato, quando não perdia, empatava. Olhei assim para diversas torcidas: do Corinthians, do Flamengo, do Atlético-PR, do Botafogo, do Cruzeiro, do Atlético-MG, até para os colorados olhei e pensei “poxa, por que não ficam em casa com a família?”. E, de fato, todos esses times, e muitos outros, passaram no caixa no estádio Olímpico em 2009, ano da invencibilidade gremista jogando em casa.
Mas, como diria Joseph Climber, do grupo Os Melhores do Mundo, a vida é uma caixinha de surpresas, e num belo dia de verão, os tricolores perderam a sua tão orgulhosa invencibilidade no Olímpico para o Pelotas. A partir de então, a vida dos gremistas se assemelhou demais com a do anti-herói Joseph Climber. E mais: o estádio Olímpico virou, literalmente, a casa da mãe Joana.
Quem antes ia para Porto Alegre certo da derrota, quiçá, da goleada, agora viaja sabendo que tem grandes chances de retornar à sua terra de origem com três pontos na bagagem. Aquele time invencível em seus domínios, agora deixa os adversários se sentirem em casa. Só nesse Brasileirão, em 8 jogos em seus domínios, foram 3 derrotas, 3 vitórias e 2 empates. O time antes que atropelava no Olímpico, nesse campeonato marcou 12 gols e sofreu 9. Muito pouco, e não é a toa que está na zona do rebaixamento. Poderíamos dizer: menos mal que nesse final de semana o jogo será em Curitiba, mas, a campanha fora de casa consegue ser ainda pior: em 8 jogos foram 3 empates, 5 derrotas e NENHUMA vitória, com 7 gols marcados e 14 sofridos! Ou seja, enquanto o Inter se prepara disputar o Mundial, o Grêmio começa a pensar em cursar pelo terceiro ano na história a Série B do campeonato nacional.
SANGUE DOCE – Já os colorados estão rindo à toa. Enquanto assistem ao seu rival jogar as tripas a cada rodada para não morrer, o Inter parece só disputar jogos festivos. De quebra, se ganhar do Botafogo, no Beira-Rio, automaticamente passa o time carioca, chegando, no mínimo, ao quarto lugar na tabela de classificação. O que mais querem os colorados?
Isso é o que um amigo meu chamaria de “sangue doce”: quando você está tão descansado, tão zen, tão relax, tão na boa, tão em alfa, que tudo dá certo para você, até quando não espera. Pode não estar preocupado com dinheiro, mas ganha um prêmio em um sorteio. Pode não estar pensando em mulheres, mas aquele monumento espetacular que você conheceu há 10 anos resolve te ligar. Pode não estar almejando uma festa, mas um amigo lhe convida para ir a uma balada com entrada gratuita e cerveja liberada. Pode não estar esperando uma vitória do seu time, mas ele, o Inter, vai lá, e ganha mais três pontinhos para a coleção. Enfim, essa tem sido a feliz rotina dos colorados...
Um bom final de semana a todos.
*Texto publicado no Jornal das Missões de hoje.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Dom Quixote das letras

Recebi nessa semana um texto do Luis Fernando Verissimo falando sobre o seu pai, Erico Verissimo, que eu havia lhe solicitado para utilizar na biografia do escritor, que compõe um capítulo da minha dissertação de mestrado em Comunicação da PUCRS, que aborda o tema Jornalismo e Literatura. Não vou divulgar esse texto na íntegra até a conclusão do meu trabalho, porém, tem dois aspectos que ele abordou que aprovam algumas hipóteses psicológicas que sempre tive, mas que fogem do tema da minha pesquisa, e que, por isso, não passam de hipóteses.
A primeira diz respeito a imposição da vontade dos pais sobre os filhos. Existem pais que querem obrigar os filhos a seguirem uma profissão. Ou senão, querem determinar, desde pequenos, que sigam para uma determinada área. Considero isso mais ou menos como o dar remédio “goela abaixo” para as crianças. E, nesse sentido, o Erico nunca tentou obrigar o Luis Fernando Verissimo a seguir a mesma profissão que ele, ou alguma outra que ele achasse interessante, como o próprio Luis Fernando destacou no seguinte trecho de seu texto: “Sei que ele [Erico Verissimo] se preocupou porque eu estava custando a largar as historias em quadrinhos e passar para os livros, mas ele nunca tentou orientar minhas leituras”. Ou seja, possivelmente por essa liberdade que o Erico deu que o Luis Fernando Verissimo acabou, após tentar outras profissões, se tornando um escritor profissional.
Já a segunda hipótese é justamente a incompreensão da sociedade capitalista com as pessoas que se dedicam à literatura, às letras, enfim, à cultura. Antes de pensar em se tornar escritor, Luis Fernando Verissimo conta que, na infância, também não entendia direito o que o pai fazia: “Lembro que, quando era pequeno, eu tinha uma certa dificuldade em explicar para amigos e colegas de escola o que, exatamente, meu pai fazia. Escritor era uma profissão que não existia”. Acrescentaria aqui que, exceto para o próprio Luis Fernando Verissimo e outros dois ou três escritores mais famosos do Brasil, é possível sobreviver financeiramente de literatura. Os demais escritores vão buscar seu ganha-pão em outras profissões, principalmente no jornalismo. Ou seja, quem quer ser escritor, tem que se travestir de Dom Quixote, achar o seu Sancho Pança, vestir a armadura e lutar contra os moinhos de vento sociais.
UM PESO NA CULTURA – Já que estamos falando de literatura e de cultura, publico aqui, na íntegra, a poesia feita por Valter Nunes Portalete, poeta e compositor missioneiro, que me mandou uma poesia especial, feita por ele após ler a minha última coluna, criticando o sucateamento da cultura. Segue o texto:

Meu texto vai aos altares,
livros, jornais, almanaque
porém em muitos lugares,
meu texto não tem 'destaque'...

Nos braços da cultura,
o meu texto está preso.
Porém, a muitas figuras,
a cultura não tem peso..

Crônicas, resenhas, Poesias,
podem viajar campo afora,
mas em certas academias,
a cultura fica de fora..

Uns 'patrocinam' a cultura,
posam pra foto em jornal,
pra ter espaço e 'figura'
numa coluna social.

Para muitos secretários,
tendo em volta o seu cartel
nossos livros literários
são meros pesos pra papel..

Quem escreve por inteiro
pra não cercear pensamentos
é Dom quixote missioneiro,
de encontro aos cataventos..


Um bom final de semana a todos!
* Texto que será publicado em A Tribuna Regional de amanhã.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Eternamente, amor

O amor não tem tempo, o amor não tem idade. O amor presencial pode durar cinco minutos, mas no coração ele será sempre eterno. O amor pode estar num olhar, num passeio, numa surpresa. Num sorriso ou num beijo. Numa lágrima ou num abraço. O amor pode estar no ato de fazer amor, ou no de fazer sorrir. O amor entorpece, alucina. O amor transforma a tristeza em alegria em uma fração de segundo. O amor transforma o desespero em esperança, a dor em prazer. O amor acalma, o amor seduz, o amor envolve. O amor é eterno enquanto dura, e segue eterno quando termina. O amor, enquanto amor,é rei e absoluto. Fora o amor, nada mais importa: o passado, o presente, o futuro. O amor é auto-sustentável por ele mesmo. O amor torna 20 anos de espera menor do que cinco minutos de presença. O amor transforma a ansiedade em conforto. O amor consegue fazer o que o homem sempre sonhou: a eliminação do tempo e do espaço. O amor faz com que cinco segundos que passariam despercebidos, fiquem presentes em uma memória por décadas, quiçá, séculos. E faz com que horas de outras atividades passem despercebidas, diante da lembrança do amor.
O amor enlouquece e o amor amolece. O amor faz perdoar e nos faz ser perdoado. O amor nos faz viajar, lutar, sonhar, correr, sofrer, morrer e viver. O amor faz o substituível ser insubstituível. O amor nos faz conjugar todos os verbos da língua portuguesa, francesa e inglesa com um sorriso duradouro nos lábios. O amor nos faz aprender russo e latim. O amor nos faz rir em meio a uma tempestade, nos faz gostar do que não gostamos e nos faz querer sempre mais do que podemos. O amor nos torna eternos insaciáveis e insatisfeitos, pois sempre queremos mais e mais o amor.
O amor nos faz enxergar na escuridão e nos deixa cego na luz. O amor nos trai e nos atrai. O amor nos envolve. O amor nos faz amar. O que eu quero, eternamente, é amor.

Escrevi o texto acima, pois queria comentar o filme Diário de uma paixão (2004). No entanto, só me restou escrever sobre o amor, que é alma desse filme, que simplesmente apresenta um enredo (baseado no livro Nicholas Sparks) que representa o que eu tentei descrever acima, e que é indescritível: o amor. Por isso, nenhuma palavra a mais. Fica agora o silêncio. O silêncio do amor.

Nada como um dia após o outro

Hoje estava caminhando na rua, tranquilamente, quando de repente um homem veio em minha direção. Sorridente e atencioso, cumprimentou e me entregou um santinho de um candidato. Despedimo-nos, e, sem me entorpecer bebendo vinho, eu segui só o meu caminho, com aquele rosto de político me olhando. Dei uma espiada na frente do panfleto, e lá estava o nome do candidato, o número e o slogan de sua campanha. Mas o mais interessante estava atrás: um mini-currículo resumido.
Lembrei de alguns episódios do passado, esfreguei as mãos, e murmurei comigo mesmo: “nada como um dia após o outro”. Explico-me: desde que comecei o curso de jornalismo, no longínquo 2002, eu já pedi emprego pra ele, deixa eu tentar contar... 1, 2, 3... umas 6 vezes. Primeiro, quando comecei a estudar, topava até em fazer estágio de graça. Não quis. Depois, quando já trabalhava em Ijuí, município aqui perto, voltei a procurar o seu veículo de comunicação, pois se trabalhasse aqui teria menos gastos, e novamente ouvi um redondo NÃO. Nem uma chancezinha sequer. Antes de eu ir para Porto Alegre fazer estágio na Rádio Gaúcha e entregar panfletos, novamente o procurei, e novamente ouvi NÃO. Depois, quando já estava na Gaúcha, mas precisava de um emprego por fora para me manter, propus de enviar matérias, colunas, fotos, enfim, o que fosse necessário em troca de um valor risível, e, mal acabei de falar, já ouvi outro NÃO em um telefone de orelhão da Otávio Rocha.
Mas, como diriam “Os melhores do Mundo”, interpretando Joseph Climber, existem pessoas que não se abatem por nada. Até mesmo os mais terríveis obstáculos são encarados como novos e maravilhosos desafios. E de Porto Alegre, voltei para Santo Ângelo para trabalhar em outro jornal. Depois, quando fui fazer mestrado em Porto Alegre, antes de conseguir um emprego em Bento Gonçalves, procurei esse nobre candidato, que ocupava um cargo de alto escalão na capital do RS, para ver se não conseguia qualquer coisa para um pobre mestrando, do tipo, porteiro de prédio, vigia, assessor de imprensa, carregador de qualquer coisa, enfim, coisas do tipo, e, adivinhem: ele, como bom político, disse “Não se preocupe, Duduzinho, vamos resolver isso pra ti”. Passou-se um ano e meio e nada. Quando voltei para a minha amadíssima terra natal, ainda com espírito de Joseph Climber, voltei a procurar a empresa dele, mas que nada. “No futuro, quem sabe”, foi o que ouvi. E eis que, depois de tanto pedir e não ganhar UMA oportunidade, recebo um santinho do nobre candidato. É muita ironia do destino. Mas, além disso, também não sei de nada que ele tenha feito de importante para mim durante os três mandatos que ele teve como deputado estadual, o que quer dizer que há uma pequena falha de estratégia comunicacional nesse material divulgado por ele nas ruas. O que eu sei é que, como já escrevi, já consegui emprego em todos os cantos desse estado, menos na minha terra natal.
Agora, pergunto: por que diabos eu deveria votar num cara desses?
FIM

domingo, 22 de agosto de 2010

Perfil (O retorno, parte 22)

Depois de um tempo sem esse quadro, voltamos hoje com o perfil. Dessa vez quem responde ao mais refinado questionário do jornalismo mundial é Pedro Giumelli, jornalista de 23 anos. Aliás, ele também tem um blog, muito bom por sinal, entrem aí: http://www.mrgomelli.blogspot.com/. Agora sim, vamos à entrevista, com seu respectivo making-of.

Pow! Queria escrever um texto foda, mas to sem idéia.
Hasuahushuahusha.

Porra. Já sei!
É foda isso.

Vou te entrevistar.
Não... pára meu.

Sério rapaz. E escreve certo. Pra facilitar a edição.
Já esgotei minha cota de entrevistas do semestre.

Teu cu. Responde aê. Nome, idade, profissão?
Aff.

Vâmo, caraí.
Não tem mais ninguém do Msn pra fazer isso?

Responde o bagulho aqui. Não, não. O pessoal todo foi dormir. Ah, e a entrevista será editada. Responde ai, caraí.
Poutz.

Vâmo tchê.
Pedro Giumelli, 23 anos, Jornalista.

Opção sexual? Ihhh, ta demorando demais... Não decidiu ainda?
Ashaushuahsuhasha. Calma pow!

Caraí, o cara não responde..
(Resposta censurada pelo entrevistado - que saudades dos generais de 64!).

Vai pedir ajuda pra algum amigo por celular? Manda ela cata coquinho e responde, cacete. Ou ele, vai saber...
Cara... eu sou homem... gosto di mulher... Fala sério, pow.

Esse "di" ficou meio gay, mas enfim....To falando, pow!
TOMA NO CU!

Porra, meu. Vou editar isso. E quantas minas já traçou até hoje?
Baah... que pergunta é essa meu?

Porra, quer que eu desenhe?
Isso eu me recuso a responder.

Ta bom, ta bom... Mas isso tá vinculado com tua opção sexual? Ok, ok... Time?
Poha. HASUHAUSHAH. Ah... eu torço pro Grêmio neh...

Que time teu?
Poha...

Joga em que posição?
Que merda.

Responde, carajo. Não tenho a madrugada inteira.
Mas pergunta então, meu...

Porra, perguntei: joga em que posição?
Bah... futebol jogo na defesa, normalmente...

Ruiva, loira, negra ou morena? Ou ruivo, loiro, negro ou moreno, enfim...
Morena... ou ruiva... ou negra...ou loira... não tenho nada contra elas.

O quê pensa sobre o jornalismo?
Nao me importa a cor de cabelo ou da pele, mas sim as atitudes. Falei bonito agora neh.

Falou, falou... Mas responde a outra pergunta. Ta cagando?
Jornalismo... pow, o jornalismo é uma ferramenta importante como fiscalizador das atitudes de quem tem "poder" e que normalmente se acham donos do mundo e das pessoas.

Mercado ou academia?
Mercado.

E você se acha dono das pessoas e do mundo?
NÃO.

Mas você não é jornalista?
Mas não foi isso que eu disse.

Porra, você ta dizendo que não disse o que disse?
Tu que interpretou mal.

Saca só: jornalista = pensam que é dono do mundo. Pedro = jornalista, logo, Pedro = acha que é dono do mundo.
Eu falei que quem tem o "poder" acha que é dono do mundo e das pessoas. Poha manolo.

Ah, achei até o título pra entrevista: "Pedro: eu sou o dono do mundo!"
Interpretação de texto... coisa básica.
NÃÃÃO!

Ou: "Pedro: o mundo ficará a meus pés!". Inter campeão da libertadores, o que isso quer dizer?
Que o Rio Grande do Sul tem dois dos cinco maiores clubes do Brasil: Grêmio e Inter.

Mentira... O Inter ta no caminho, mas ainda não chegou lá. Um domingo perfeito?
Daonde manolo... eles são sim, infelizmente. Cara... domingo perfeito?

Porra, não vamos discutir isso agora... É, meio gay essa pergunta, mas copiei do perfil da Zero Hora.
Dormir até tarde, ver um jogo do Grêmio, com vitória do tricolor, e depois fazer algo pra relaxar.

Tipo, bater uma bronha?
Nãão..

Qual foi o maior porre da tua vida?
Bah... reveillon de uns anos atrás. Eu acho...

Carai, quer ajuda dos universitários? Detalhes... Que merda tu fez?
Ah... nada demais... meus porres são sem graça.

Putz, que merda. Carajo, acho que é isso.
Poha... tinha o Tiara [ju] on... tinha que ter entrevistado ele.

Tem algo mais a declarar? Ah, fica pra outra hora... O que tu pensa do Tiara?
Sei lah... O Tiara é meu chefe... uma grande pessoa.

Ta bom... Então vou escolher uma foto tua no Orkut, edita a porra toda e publicar.
Poha... jah acabou? Não perguntou nada.

É, senão da muito trabalho pra fica editando essa merda toda. Vou ver a foto.
Tah... mas cuidado com a foto hein, tenho que aprovar.

Guentaí. Porra, ta achando que isso aqui é o quê?
Senão assusta o pessoal do blog.

O pessoal é forte, acredite... Pow, acho que vou colocar uma que tu ta entrevistando uma loira. Aí tem a loira pra salva a foto...

Não, aquela não... Muito velha. Põe a com o Paulo Odone.

Putz. Que gay. Bota com a loira. Tem uma loira nova e uma velha, qual tu prefere?
Nenhuma. Muito antigas.

Tu tem banda loco?
Não..

E o que faz no meio dos rockeiros?
Você acabou de chamar a atenção.
Ah... eu curto um heavy metal.

Blz. Vou colocar essa tua foto do Msn também. Fechou. Porra, ta cheio de abreviações, que merda!
Hahahaha!

Fim

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Teoria do Jamelão

Nesses dias em que tenho estudado tarde e noite (manhã não, porque as primeiras horas do dia são sagradas), dividindo meu tempo entre leituras e escrituras, no intervalo entre a leitura de um livro acadêmico qualquer e a composição de mais um capítulo da minha dissertação, tenho observado como o meu cachorro, Jamelão, é feliz. Nunca vi alguém com tanto bom humor. Está sempre pulando, com a língua de fora, latindo, correndo, virando cambota. Coisa impressionante. E o mais incrível: apesar de hiper-ativo, ele é muito obediente. Sempre quando eu chamo, ele vem. Mesmo que seja para dar umas palmadas por ele ter rasgado alguma cueca que estava no varal ou para amarrar ele. Chamo “Jamelão!” e ele vem correndo. Passo a corrente na coleira e ele continua feliz. Está certo, quando viro as costas e vou pra casa, ele começa a latir, mas pouco depois vou espiar pela janela, e ele já está arrastando o pote de comida pra cima e pra baixo, parecendo um fantasma arrastando uma corrente.
Mas o que mais me impressionou foi quando o soltei hoje. Havia alguns passarinhos, ciscando tranquilamente algumas sementes embaixo das árvores de casa. Sempre tem passarinhos zanzando por aí. Porém, quando eu soltei o Jamelão hoje, ele saiu pulando, feito um canguru, atrás dos passarinhos, que sem esforço algum, ganharam os ares e o deixaram com a língua de fora e as orelhas erguidas, como se perguntasse: “ei, onde vocês vão?”. Mas que nada. Os bichos mal saíram voando e, após a curiosidade inicial, ele já começou a correr pelo pátio a toda a velocidade. E, depois que solto ele, vou soltar a Pretinha (foto), a minha cadelinha que parece uma ratazana, e ele vem atrás e fica esperando eu abrir o portão do canil. Quando abro, ele pula em cima dela, dá mordidinhas, como se ele fosse menor que ela (coisa que não é). A folia dura até ela chorar e eu gritar com ele, mas ele não se intimida com os xingamentos, e vem pular nas minhas pernas para sujar minhas calças.
Outro dia, ouvi barulho no pátio, como se caísse alguma coisa pesada no chão. Na hora não dei bola, mas quando fui espiar pela janela, ele estava roendo um todo de lenha no meio do gramado. Provavelmente ele puxou uma lenha de baixo e derrubou as outras, fazendo todo aquele barulho.
Enfim, observar o Jamelão tem sido uma terapia em meio a tanta teoria, o que me leva a crer que observar cães é tranqüilizante... (?). Eis a teoria do Jamelão.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Isso é só o fim

Queria registrar aqui, exatamente às 11h59 do dia 18 de agosto de 2010, o fim do mundo.

Zoológico do amor

Queria ser um peixe para em tuas águas nadar. Queria ser um gato para em tuas pernas ronronar. Queria ser um cachorro para o teu corpo todo lamber. Queria ser um leão para durante dois dias inteiros copular. Queria ser um pássaro para te beijar em pleno ar. Queria ser um macaco para fazer cafunés e no meu colo te colocar. Queria ser uma abelha para morrer depois de te amar. Queria ser um coelho para contigo o mundo povoar. Queria ser um elefante para contigo fazer a terra tremer. Queria ser um esquilo para tua cauda levantar. Queria ser uma mosca para em tua sopa pousar. Queria ser uma hiena para contigo sorrir. Queria ser um burro para acreditar que és capaz de me amar. Queria ser um jegue para empacar em tua casa e dela nunca mais sair. Queria ser um pernilongo para tuas coxas picar. Queria ser uma águia para de longe te observar. Queria ser uma andorinha para ir até o Nordeste e na praia te encontrar. Queria ser uma onça para das garras de outro amor te arrancar. Queria ser um cavalo para em meu lombo te carregar. Queria ser um papagaio para o teu nome eternamente repetir. Queria ser cão de rua para em plena avenida desenvergonhadamente contigo fornicar. Queria ser um tiranossauro rex para em tua carne me lambusar. Queria ser um ganso para em tua lagoa mágica me afogar. Queria ser um tatu para em teu buraco me esconder. Queria ser um avestruz para em teu buraco, a minha cabeça enfiar. Queria ser uma lagartixa para na parede você me jogar. Queria ser uma cobra para em teu corpo me envolver. Queria ser um golfinho para nas águas salgadas do teu suor livremente nadar. Queria ser uma baleia para com uma bocada só te engolir. Queria ser um canguru para conitgo o mundo inteiro pular. Queria ser uma tartaruga para dentro da minha casca te levar. Queria ser uma lesma para o teu corpo inteiro lambusar. Queria ser uma aranha para com oito braços te abraçar. Queria ser um morcego para o teu pescoço beijar. Queria ser um carrapato para em teu pelo colar. Queria ser uma formiga para em tua calcinha despercebidamente entrar. Queria ser uma foca para em meu nariz te equilibrar. Queria ser um homo sapiens para pra sempre te amar.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Cadê meu prêmio, pô?

Até dias atrás eu achava que o esnobismo pela cultura e pela literatura ficasse apenas por conta da maioria dos políticos. Porém, descobri nessa semana que tratar a cultura e a literatura como lixo faz parte da vida de muitas pessoas. Até respeito essa posição, porque o sentimento é recíproco. A cultura é lixo para eles, bem como eles são lixos para a cultura. Eles só querem ser “cult” quando lhes convém, para aparentar que não são tão burros para os outros. Mas enfim, como ia dizendo, fui tomado por esse sentimento de revolta numa tarde qualquer, quando tive a infeliz idéia de reivindicar um prêmio que havia conquistado com um texto literário em um concurso aqui de Santo Ângelo: um mês de academia de graça.
Fiquei um bom tempo morando em Porto Alegre, morei mais três meses em Bento Gonçalves, e, de volta à terra natal, achei que merecia receber meu prêmio, afinal, eu o conquistei! Inclusive, acreditei que a tal academia, que não vou mencionar o nome porque ela não é digna de tal menção, incentivasse a cultura. Quanta inocência! Para aparecer no jornal se dizendo “apoiador” da cultura é bonito. Todo mundo vê. Mas, depois que o ganhador aparece para reivindicar o seu prêmio, você é tratado como se estivesse mendigando um mês de academia grátis. Até pensei: bom, tenho exercitado demais o meu cérebro, lendo dezenas de livros por mês, escrevendo centenas de páginas entre a dissertação de mestrado, artigos para congressos, seminários, disciplinas, colunas para jornais, enfim, mereço exercitar um pouco o corpitcho, senão, quando vejo, a patroa ta olhando para os pit-boys acéfalos. No entanto, não recebi o prêmio. E assim como não recebi o prêmio, só faltou o cara que falou comigo no telefone dizer “e não apareça mais aqui! Não queremos literatos de merda erguendo nossos pesos de ouro!”. Desliguei o telefone me sentindo como se eu tivesse cometido um crime. Afinal, quem mandou eu ir para Porto Alegre fazer mestrado, coordenador um grupo de comunicação em Bento Gonçalves e me meter em congressos sobre o tema por esse Brasil a fora, se eu poderia ter ficado aqui, malhando na academia desse nobre carrasco da cultura? Ele ainda disse que o prêmio “era só para a época do concurso”, e eu murmurei um “desculpe, mas não sabia que o prêmio tinha prazo de validade”.
Enfim, acho que esse episódio retrata como grande parte da sociedade brasileira trata a cultura e a educação: como lixo. Inclusive, para alguns, eu sou um vagundo: só leio, escrevo e me proponho a discutir idéias, ensinando e aprendendo para ver se evoluo num país que insiste em existir sem evoluir, pois quem não investe em educação não sai do lugar. Afinal, o que era Aristóteles? O que era Nietzsche? O que era Erico Verissimo? O que era Jack London? O que era Luis Fernando Verissimo aos 20 e tantos anos? Enfim, na visão dos funcionalistas, não passam de meros vagabundos. Óbvio que não tenho como me comparar a eles, mas a vida a que eles se dedicaram não incluía bater cartão-ponto na repartição, como o Lineu, da Grande Família. Nada contra quem bate cartão-ponto, eu também já fiz isso e voltarei a fazer, afinal, eu sou brasileiro e morro na fantástica terra tupiniquim! Dã!

**Texto que será publicado no jornal A Tribuna na próxima sexta.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Manda um abraço, aeh!

Já é clichê dizer que uma imagem vale mais que mil palavras. Mas, nesse caso, é um vídeo que vale mais que mil palavras. Não sei como descreveria o papo maluco que tive com esse cara aí, no carnaval no Rio nesse ano. Vejam vocês aí no link:
http://www.youtube.com/watch?v=LJonSNlYZDc

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Deusa cadela

Onde estará a deusa-cadela chamada dinheiro?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Apocalypse now

Quinta-feira será um dia histórico. Mais especificamente, será uma noite histórica. Caso o Inter venha a passar pelo São Paulo e chegar a final da Libertadores, metade do Rio Grande do Sul ficará de luto. Como gremista, acredito que o vencedor de Inter e São Paulo será o campeão contra o Chivas. Mesmo que não for, o classificado desse confronto garante automaticamente uma vaga no Mundial. Já pensaram se o Inter for bi-campeão da América ou do Mundo. Ou, pior ainda: bi-campeão dos dois! Será o fim. Ou, será a treva, como dizia aquela gurizinha da novela do macaco da Globo. Antes a morte do que tal tragédia. Caso isso aconteça, terei que me mudar de estado. Terei que construir uma vida nova em outro lugar, onde as pessoas não falem de futebol, tipo, a Islândia. O sofrimento será imenso. A dor será profunda e insuportável. Não teremos mais flautas para tocar nos colorados, pois só teremos mais títulos da Copa do Brasil do que eles. A gloriosa Libertadores, o nosso grande orgulho de dizer que somos bi-campeões, será igualado e a corneta será morta. E pior: se ganharem duas vezes o Mundial, não nos sobrará absolutamente mais nada. O pouco que resta do nosso orgulho, será extinto. O olhar, que já estava à meia-altura, será para sempre baixado, para nunca mais erguer-se novamente. Os fundadores do já não mais tão imortal se remexerão em suas tumbas. Sorte dos que não ficaram aqui para presenciar tal absurdo da humanidade.
Essa quinta-feira pode ser a mais horripilante e apocalíptica de todas as quintas-feiras da história, e, por isso já vou treinar para a minha nova vida. Estou pensando em assistir ao debate dos presidenciáveis na Bandeirantes, ao invés de ver o jogo, pois, caso o Inter vença a Libertadores, nunca mais vou querer ouvir falar de futebol. Não vou mais querer a Copa no Brasil em 2014. Não vou mais querer saber de onze homens correndo atrás de uma bola. Enfim, minha vida, como o céu do Rio Grande, ficará um pouco mais cinza. A minha alegria depende hoje de três cores: preto, vermelho e branco. Força, São Paulo!

Esclarecimento sobre a teoria duduziana – que na verdade não é teoria

Algumas mulheres, como minha ermã, por exemplo, acusaram a minha teoria duduziana de ser machista, porém, gostaria de fazer algumas considerações quanto a isso. A minha teoria, que na verdade não é uma teoria, mas sim uma hipótese (para ser teoria teria que ter dados empíricos, revisão bibliográfica sobre o assunto, etc, etc), enfim, a minha hipótese não quer dizer que eu concorde com os fatos. Na verdade, não chego nem a concordar nem a discordar. O fato é que o que escrevi é uma constatação baseada em impressões obtidas a partir da observação dos seres humanos que me cercam, e dos que são representados, principalmente, na televisão. Veja se essa lógica não é a das novelas, por exemplo? Dos filmes? Não estou dizendo que é em 100%, mas em grande parte do todo. Enfim (novamente), quero deixar claro que essa hipótese é uma constatação, e não uma OPINIÃO. Não julguei as mulheres nem os homens, só disse que existem tendências, provocadas pelos instintos, pelas cabeças femininas e masculinas que são virtualmente pensantes, etc. Admito, porém, que generalizei, sim, e que talvez tenha escrito no sentido de fortalecer estereótipos, o que faz com que eu mesmo me critique... Não pensei nisso antes, até que uma pessoa me chamou a atenção nesse sentido, e repensei o que tinha escrito, e concordei com ela: fui generalista. Mas (sempre tem o mas) continuo afirmando que a minha hipótese aponta algumas tendências que seguem a lógica que vejo no dia-a-dia.
Para não ser mal interpretado novamente, quero encerrar dizendo que gostei de todas as observações, afinal, como escrevi no texto abaixo, as idéias tem que ser debatidas, e não censuradas. Além disso, esse é um tema que pode ser eternamente debatido sem que cheguemos a uma única conclusão, a não ser a que não temos certeza se tudo isso que foi dito é ou não é do jeito que foi dito.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Nem Napoleão salva... (o resto do título foi censurado)

A capacidade de reflexão e de evolução de um povo se mede pela liberdade de expressão e pela censura. São dois pólos extremos, como se fosse uma escala de 0 a 10. Quanto mais censura há, mais perto do irracional e do animalismo esse povo está. A evolução e o crescimento de um povo só se dão quando as idéias, por mais óbvias que pareçam, são debatidas, sem censura. E aqui está um dos principais problemas do Brasil: o convencimento equivocado de que a queda do regime militar terminou de vez com a censura.
Peguemos apenas um exemplo histórico, mas fundamental para a determinação do futuro de um povo: a Revolução Francesa. Dentro da luta pelo poder, a imprensa, ainda com cheiro de nova, se tornou uma ferramenta fundamental na guerra pelo domínio da opinião pública. Porém, para entendermos isso, temos que voltar um pouco mais no tempo, mais especificamente para o Antigo Regime, onde tudo passava pela censura, com fiscalização e controle feitos pela polícia. Com tanta fiscalização, o que fizeram os espertos franceses? Tráfico de livros. Isso mesmo, assim como nós, sul-americanos do século XXI, somos experts em tráfico de drogas, os franceses eram em tráfico de livros. As editoras vendiam por “baixo dos panos” livros proibidos, geralmente de filosofia ou eróticos, e esse mercado paralelo acabou causando todo um clima propício para a queda da censura, aliás, um grande número de prisioneiros da Bastilha tinha cometido crimes relacionados à literatura clandestina e à efervescência das discussões nas esquinas, cafés e salões franceses. E mais: os livros mais procurados e mais vendidos eram os livros proibidos. Tanto é que na época diziam que se você quisesse fazer sucesso literário, bastava o governo censurar o seu livro.
No entanto, muitos podem achar que com a queda da censura francesa, a partir do longínquo 1789, a liberdade de imprensa estava garantida, não? Não. No início, quando a Assembléia Nacional sancionou as leis do comércio do livro, em agosto de 1790, não havia uma legislação para prever casos como o surgimento de monopólios de editoras, ou algo que resolvesse o problema do desemprego que atingiu os censores da época. Mas, o que parecia ser um problema, acabou se tornando solução. Três anos depois, em 1793, a Convenção Nacional aprovou um decreto destinado a dar uma clara base legal à publicação comercial, oferecendo ainda milhões de libras em forma de subsídios, prêmios e créditos públicos para incentivar a publicação de livros, principalmente de natureza científica e educacional, tornando, assim, a França numa referência mundial em matéria de desenvolvimento social. Está certo, mesmo tendo passado mais de 200 anos desses fatos, a França ainda não é perfeita, tem vários defeitos e muita coisa errada, porém, lá, a revolução envolveu cultura, idéias e ideais, ideologias, e tudo o mais, e a discussão sempre foi o alicerce para toda essa caminhada. Pierre Bourdieu, por exemplo, fez um discurso impecável na televisão, falando sobre a TV, que originou o clássico “Sobre a televisão”, numa crítica impecável sobre os próprios colegas jornalistas.
Mas, aqui no Brasil, quando temos um problema, o que fazemos? Censuramos. Proibimos. E assim, o problema é colocado embaixo do tapete, mas ele fica lá, guardadinho. Não é resolvido, e muito menos eliminado. Com o objetivo de se eliminar, a censura dá força para os amordaçados. E é nesse sentido que seguimos caminhando. O estatuto do torcedor, por exemplo, prevê que não se pode mais falar palavrão nos estádios. Puxa, que chato. Sem poder falar palavrão, vamos chamar o juiz de quê, de bobo, boboca, xarope? Já na cobertura das eleições não é permitido dar opinião sobre os candidatos. Não é possível apontar para o povo as falcatruas de cada um. Não se pode falar que o candidato X disse em rede nacional que está pouco se lixando para o eleitorado, porque se citar tal fato, dando nome aos bois, o jornal, rádio, site, ou emissora de TV, é processado. Agora me digam: é proibindo de se falar no assunto que vamos resolvê-lo? Perguntem ao Napaleão, porque estou censurado para dar essa resposta.

Referência: DARNTON, Robert; ROCHE, Daniel (orgs.). Revolução impressa - A imprensa na França 1775-1800. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1996.

*Texto que será publicado na edição de sexta-feira de A Tribuna Regional (se não for censurado).

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Vício

Só seria possível buscar a perfeição literária se publicássemos apenas textos melhores do que os anteriores. Mas o vício pela escrita não nos permite a tal luxo. Por isso, contentem-se com minhas porcarias.

Teoriua Duduziana - O retorno

No Globo Repórter da última sexta-feira foi apresentado um dado curioso: a maioria das mulheres tem ciúme do companheiro por medo de perdê-lo para outra mulher, enquanto o ciúme dos homens é relativo à questão sexual. Pois esses dados confirmam a minha teoria, conforme explicarei agora.
Iniciarei citando um lugar comum: as mulheres perdoam mais facilmente a infidelidade do que os homens. Quantos casais você conhece que continuam juntos mesmo que todos saibam que o homem trai a mulher, e ela sabe disso? E quantos você conhece que a mulher trai o homem, e ele sabe disso? Eu, particularmente, tenho em minha memória mais casos relativos ao primeiro exemplo. Mas isso é justificável. As mulheres perdoam os homens justamente pelo motivo que elas, mulheres, traem. A mulher sempre entra num relacionamento esperando algo a mais do que sexo, diferentemente do homem. A mulher comprometida que busca um amante, vê naquele cara um homem com maior capacidade de fazê-la feliz no longo prazo. Óbvio que no início ela topará fazer aquele lenga-lenga de que sabe que o caso com o amante é só diversão, que não quer deixar o titular, etc, mas, não se engane, lá no fundo, no fundinho mesmo, ela está em busca de um relacionamento mais feliz e duradouro que o atual. Aliás, é como aquela mulher que diz que não quer casar, que não está interessada em namoro sério, etc. Não caia nessa! Todas as mulheres, eu disse TODAS, sempre estão na procura de um relacionamento sério. O papo do “não quero casar, não quero nada sério” é uma gordurinha que ela deixa para queimar caso ela não goste do cara no desenrolar dos acontecimentos. Nesse caso, sim, ela dirá “vamos parar por aqui, pois eu não quero nada sério”. Acredite: as mulheres são muito espertas. Mas (sempre tem o mas), se ela curtir o amante, ela vai fazer de tudo para ficar com ele. Ou seja, a mulher acha que o homem vai fazer com ela o mesmo que ela faria com ele: vai trocá-la por outra mulher, vai perdê-lo enquanto companheiro, enquanto marido ou futuro marido em potencial. Por isso, se ela descobre que o marido traiu e que, realmente, foi só sexo, ela tenderá a perdoá-lo porque ela, ao contrário de nós, homens, não se sentirá verdadeiramente ameaçada a perdê-lo. Enfim, a mulher acredita que os homens pensam como ela: que buscam algo sério fazendo sexo.
Já com os homens o processo é diferente. O homem não necessariamente trairá em busca de um outro relacionamento. Ele trai para ingressar numa aventura e obter sexo. Homens gostam de aventuras. É a questão da adrenalina. Então, se ele encontrar outra mulher que lhe atraía, ele não negará fogo, mas isso não quer dizer que ele quer deixar tudo por aquela outra. Porém, ele não admite que a mulher faça o mesmo. Justamente porque ele também pensa que as mulheres são como ele: que buscam o sexo pelo sexo. Então, o homem sente medo de levar vários chifres e ficar com a fama de corno. Na verdade, o homem talvez até não sofra pelo processo da cornificação em si mesmo, mas sim, na divulgação da sua cornice. É o lugar onde a figura pessoal dele vai estar no imaginário dos outros. Ele será visto como um corno, e perderá o respeito de todos por conta disso. Por isso, para os homens, às vezes uma ameaça a sua honra é mais imperdoável do que uma traição que ninguém sabe que aconteceu. E por não estar sempre na busca de um relacionamento eterno e perfeito é que ele não perdoa a traidora e larga da mulher com maior facilidade do que no processo inverso. O homem pensa: “Você me traiu, não tenho mais como sair na rua com a cabeça erguida, e posso viver sem você e arranjar outras”. Já a mulher pensa: “você me traiu, mas desde que não faça isso de novo e não me deixe, eu aceito continuar”. Claro, tudo isso é o resumo do resumo, porque na verdade tanto o homem quanto a mulher pensam muito sobre o assunto. Porém, todos pensam demais sobre o assunto e geralmente o diagnóstico final de homens e mulheres é esse que citei.
E assim, as pessoas seguem se conhecendo, se apaixonando, se amando, traindo, se separando, cornificando e descornificando o mundo, que segue a girar, em passo lento e envolvente.