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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Dom Quixote das letras

Recebi nessa semana um texto do Luis Fernando Verissimo falando sobre o seu pai, Erico Verissimo, que eu havia lhe solicitado para utilizar na biografia do escritor, que compõe um capítulo da minha dissertação de mestrado em Comunicação da PUCRS, que aborda o tema Jornalismo e Literatura. Não vou divulgar esse texto na íntegra até a conclusão do meu trabalho, porém, tem dois aspectos que ele abordou que aprovam algumas hipóteses psicológicas que sempre tive, mas que fogem do tema da minha pesquisa, e que, por isso, não passam de hipóteses.
A primeira diz respeito a imposição da vontade dos pais sobre os filhos. Existem pais que querem obrigar os filhos a seguirem uma profissão. Ou senão, querem determinar, desde pequenos, que sigam para uma determinada área. Considero isso mais ou menos como o dar remédio “goela abaixo” para as crianças. E, nesse sentido, o Erico nunca tentou obrigar o Luis Fernando Verissimo a seguir a mesma profissão que ele, ou alguma outra que ele achasse interessante, como o próprio Luis Fernando destacou no seguinte trecho de seu texto: “Sei que ele [Erico Verissimo] se preocupou porque eu estava custando a largar as historias em quadrinhos e passar para os livros, mas ele nunca tentou orientar minhas leituras”. Ou seja, possivelmente por essa liberdade que o Erico deu que o Luis Fernando Verissimo acabou, após tentar outras profissões, se tornando um escritor profissional.
Já a segunda hipótese é justamente a incompreensão da sociedade capitalista com as pessoas que se dedicam à literatura, às letras, enfim, à cultura. Antes de pensar em se tornar escritor, Luis Fernando Verissimo conta que, na infância, também não entendia direito o que o pai fazia: “Lembro que, quando era pequeno, eu tinha uma certa dificuldade em explicar para amigos e colegas de escola o que, exatamente, meu pai fazia. Escritor era uma profissão que não existia”. Acrescentaria aqui que, exceto para o próprio Luis Fernando Verissimo e outros dois ou três escritores mais famosos do Brasil, é possível sobreviver financeiramente de literatura. Os demais escritores vão buscar seu ganha-pão em outras profissões, principalmente no jornalismo. Ou seja, quem quer ser escritor, tem que se travestir de Dom Quixote, achar o seu Sancho Pança, vestir a armadura e lutar contra os moinhos de vento sociais.
UM PESO NA CULTURA – Já que estamos falando de literatura e de cultura, publico aqui, na íntegra, a poesia feita por Valter Nunes Portalete, poeta e compositor missioneiro, que me mandou uma poesia especial, feita por ele após ler a minha última coluna, criticando o sucateamento da cultura. Segue o texto:

Meu texto vai aos altares,
livros, jornais, almanaque
porém em muitos lugares,
meu texto não tem 'destaque'...

Nos braços da cultura,
o meu texto está preso.
Porém, a muitas figuras,
a cultura não tem peso..

Crônicas, resenhas, Poesias,
podem viajar campo afora,
mas em certas academias,
a cultura fica de fora..

Uns 'patrocinam' a cultura,
posam pra foto em jornal,
pra ter espaço e 'figura'
numa coluna social.

Para muitos secretários,
tendo em volta o seu cartel
nossos livros literários
são meros pesos pra papel..

Quem escreve por inteiro
pra não cercear pensamentos
é Dom quixote missioneiro,
de encontro aos cataventos..


Um bom final de semana a todos!
* Texto que será publicado em A Tribuna Regional de amanhã.

2 Comentários:

  • "...Os demais escritores vão buscar seu ganha-pão em outras profissões, principalmente no jornalismo. Ou seja, quem quer ser escritor, tem que se travestir de Dom Quixote, achar o seu Sancho Pança, vestir a armadura e lutar contra os moinhos de vento sociais."

    poha manolo... muito boa essa parte... legal o texto...

    abraço aeee!

    Por Blogger Mr. Gomelli, às 26 de agosto de 2010 às 20:19  

  • muito bao

    porra alemao

    Por Blogger Zaratustra, às 28 de agosto de 2010 às 02:34  

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