Cadê meu prêmio, pô?
Fiquei um bom tempo morando em Porto Alegre, morei mais três meses em Bento Gonçalves, e, de volta à terra natal, achei que merecia receber meu prêmio, afinal, eu o conquistei! Inclusive, acreditei que a tal academia, que não vou mencionar o nome porque ela não é digna de tal menção, incentivasse a cultura. Quanta inocência! Para aparecer no jornal se dizendo “apoiador” da cultura é bonito. Todo mundo vê. Mas, depois que o ganhador aparece para reivindicar o seu prêmio, você é tratado como se estivesse mendigando um mês de academia grátis. Até pensei: bom, tenho exercitado demais o meu cérebro, lendo dezenas de livros por mês, escrevendo centenas de páginas entre a dissertação de mestrado, artigos para congressos, seminários, disciplinas, colunas para jornais, enfim, mereço exercitar um pouco o corpitcho, senão, quando vejo, a patroa ta olhando para os pit-boys acéfalos. No entanto, não recebi o prêmio. E assim como não recebi o prêmio, só faltou o cara que falou comigo no telefone dizer “e não apareça mais aqui! Não queremos literatos de merda erguendo nossos pesos de ouro!”. Desliguei o telefone me sentindo como se eu tivesse cometido um crime. Afinal, quem mandou eu ir para Porto Alegre fazer mestrado, coordenador um grupo de comunicação em Bento Gonçalves e me meter em congressos sobre o tema por esse Brasil a fora, se eu poderia ter ficado aqui, malhando na academia desse nobre carrasco da cultura? Ele ainda disse que o prêmio “era só para a época do concurso”, e eu murmurei um “desculpe, mas não sabia que o prêmio tinha prazo de validade”.
Enfim, acho que esse episódio retrata como grande parte da sociedade brasileira trata a cultura e a educação: como lixo. Inclusive, para alguns, eu sou um vagundo: só leio, escrevo e me proponho a discutir idéias, ensinando e aprendendo para ver se evoluo num país que insiste em existir sem evoluir, pois quem não investe em educação não sai do lugar. Afinal, o que era Aristóteles? O que era Nietzsche? O que era Erico Verissimo? O que era Jack London? O que era Luis Fernando Verissimo aos 20 e tantos anos? Enfim, na visão dos funcionalistas, não passam de meros vagabundos. Óbvio que não tenho como me comparar a eles, mas a vida a que eles se dedicaram não incluía bater cartão-ponto na repartição, como o Lineu, da Grande Família. Nada contra quem bate cartão-ponto, eu também já fiz isso e voltarei a fazer, afinal, eu sou brasileiro e morro na fantástica terra tupiniquim! Dã!
**Texto que será publicado no jornal A Tribuna na próxima sexta.
5 Comentários:
Dudu! Lendo teu blog comecei a pensar na minha vida. Tenho 24 anos e já tive 5 empregos. E fui desligada (romanticamente falando) do meu último trabalho.
Foi então que resolvi parar para estudar e tentar ser mestre como você.
E é muito estranho falar disso com as pessoas, que esperem que a gente fale de nossos empregos formais, etc e tal.
Também respeito quem trabalha e quem bate cartão, mas enquanto nós formos operários, e nos contentarmos com isso, não estaremos cooperando para um mundo melhor, mais digno e com justiça social.
É triste ver que a sociedade nem sempre aposta na cultura, mas felizmente pessoas como você, que estuda e se dedica à formação acadêmica, nós certamente teremos um mundo melhor!
Por Aline, às 16 de agosto de 2010 às 18:46
Alemão,
Amanhã vais ao cinema?
Ou já estarás na Finlândia?
Por Silvério, às 17 de agosto de 2010 às 17:04
Porra alemao!
por isso que o Brasil ta atrasado em tanta coisa.
Só quando se vem pra europa que da pra perceber a diferenca gritante e o quanto ainda temos que evoluir. E o pior, o quanto o Brasil olha somente pro proprio umbigo, achando que é alguma coisa, mas nao é nada.
enfim, desabafos à parte to tomando umas por ti alemao. Aliás nao umas, muitas!
Gde abraco
Por Zaratustra, às 18 de agosto de 2010 às 07:36
Mas olha, o principal problema é que todo mundo vai descobrir o nome da academia, falem mal mas falem de mim, e ainda os cara vão fazer nome, vai lotar de gente lá!
Os curioso vão dando uma passarinheira (usei ferramenta de correção de texto, passadinha era pra ser) pra ver como é, e ainda vão dar razão pra academia!
O mundo é cruel emanuel leuname.
Por Rodrigo, às 19 de agosto de 2010 às 08:44
bah ritter... que sacanagem... mas é assim mesmo... muita hipocrisia e pouca ação de fato...
e isso acaba sendo alimentado pela mídia, que tem influencia sobre grande parcela da população e por aí vai... um ciclo vicioso e terrivel...
enfim...esse ano escreve outro, ganha de novo e vai lah cobrar de novo... hahaha
abração ae manolo!
Por Mr. Gomelli, às 20 de agosto de 2010 às 21:16
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