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sexta-feira, 30 de julho de 2010

O andarilho das estrelas

No livro “O Andarilho das Estrelas” (1915), de Jack London, o personagem principal, Standing, está no corredor da morte esperando o momento para ser enforcado. No entanto, até chegar o dia D, ele passa por uma série de torturas aplicadas pelos guardas do presídio onde ele se encontra na Califórnia, Estados Unidos. Um dos principais castigos que lhe aplicavam, era amarrá-lo a uma camisa de força até espremer o último espaço entre os ossos, e deixá-lo em uma cela completamente fechada, com apenas um facho de luz entrando por baixo da porta durante o dia. Standing ficava lá, às vezes um dia, às vezes semanas, ganhando diariamente apenas um gole de água para não morrer. No entanto, como não tinha defesa nenhuma, e como estava completamente cansado de sofrer, Standing seguiu a orientação de um outro preso, mais experiente, e começou a querer morrer, mas sem se matar. Complexo, não? Pois é, mas, através disso, Standing passa a entrar em transe, voltando aos locais onde teria vivido suas vidas passadas. E, estando em transe, ele não sentia mais o sofrimento do corpo que estava ali, amordaçado na camisa de força.
Vendo a atual situação do Grêmio, com a boa fase do Inter, lembrei-me de imediato desse livro de ficção. O Standing nada mais é do que um gremista que já não sabe mais o que fazer para aliviar a sua dor de torcedor. O problema é que o torcedor do Grêmio ainda não descobriu nada parecido com o que Standing fez: matar o próprio corpo para viver apenas da alma. O torcedor gremista está, sim, é oscilando entre o entretenimento de secar o Inter e rir das tragédias alheias, mas que dificilmente chegam à altura das suas próprias tragédias. O torcedor gremista sabe que com a diretoria que tem, com os jogadores que estão no Olímpico, e com a comissão técnica comandada por Silas, o sofrimento será certo. No máximo, o tricolor escapará do rebaixamento. Parece que os gremistas se deram conta de que dessa vez nem mesmo o seu grito e o seu canto nas arquibancadas do Olímpico podem superar a mediocridade do time em campo.
E como o torcedor gremista reverterá esse quadro de sofrimento? Se ausentando espiritualmente dos jogos. Substituindo uma ida ao Olímpico num domingo de tarde por uma caminhada na Redenção. Trocando o jogo na TV em um bar de Santo Ângelo por um filme no cinema ou por uma caminhada com o cachorro. É a fuga do sofrimento. Por isso, o Gre-Nal de amanhã será apenas de uma torcida. Por isso, o Gre-Nal de amanhã será colorado. Mas (sempre tem o “mas”), caso o Grêmio vença e o Inter caia na Libertadores na quinta-feira, o torcedor gremista poderá se considerar um ser abençoado por milagres, e, porque não, poderá voltar a comemorar.
SELEÇÃO – Ainda é cedo para comentar o trabalho do Mano Menezes na Seleção. A convocação para o jogo contra os Estados Unidos não poderia ser diferente: vários jogadores novos e desconhecidos ganhando a chance de mostrar o seu futebol. Só volto a repetir que o Mano não poderá criar o mesmo esquema de bruxaria que o Dunga tinha, mantendo jogadores em má fase por “consideração”. Futebol é momento e uma seleção precisa de qualidade. Caso em 2014, na véspera da Copa, aparecer novos jogadores bons, ele não pode manter um ruim, que agora, em 2010, está bem, só porque convocou o cara durante três anos. A Copa desse ano foi prova disso, e a torcida brasileira não pode passar pelo que Standing passou por conta de um cabeça dura.
Um bom final de semana e um bom Gre-Nal a todos.

*Texto publicado no JM de sábado.

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