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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Pequeno gênio

Um homem de 31 anos, outro de 28 e duas mulheres de 25 anos ouvindo um garoto de oito anos palestrar sobre história, filosofia, história da arte, biologia, ciências, etc. Essa cena aconteceu hoje na minha casa, quando meu irmão, minha irmã, a amiga dela e eu ouvimos meu primo de segundo grau, Bento, falar sobre a vida de Leonardo da Vinci, dinossauros, formação de espermatozóides, vida fora da Terra, história do deus Zumbi do Egito, aracnídeos, etc. Aliás, no início, quando ele começou a apresentar suas teorias e a falar que o dinossauro tal é o segundo maior herbívoro que existiu, fiquei com uma pulga atrás da orelha. Fui pegar um álbum de figurinhas da Elma Chips que apresentava algumas espécies de dinossauro. Mostrava a figura, sem exibir o nome, e ele ia falando e acertando todas as espécies: brontossauro, tiranossauro rex, pteranodonte, triceratops, estagossauro e anquilossauro. Quando falou do último, ainda comentou como quem não quer nada: “esse teu livrinho é meio mixuruca”. Fiquei olhando, pasmo, para aquele garotinho.
Perguntamos a ele se todo esse aprendizado vem da escola. Não. Da sua mãe? Não. Do seu pai? Não. De onde vem então? “Dos livros. Eu pego na biblioteca do colégio e compro livros no shopping”. Vejam vocês.
Depois, quando começaram a zoar dizendo que ele era namorado de sua coleguinha, ele respondeu, categórico: “eu não posso namorar ela, porque ainda não produzo um milhão de espermatozóides e ela não tem óvulo maduro”. Ele explicou ainda que Leonardo da Vinci não foi só um pintor, mas foi também um inventor de navios de guerra e tudo o mais. Eu estou resumindo as palavras dele, porque ele discursou por alguns minutos, dando detalhes e usando termos que para mim, são impossíveis de memorizar, enquanto atônitos, ouvíamos aquele pequeno ser. Ele ainda comentou, dando risadas, que a mãe dele não sabia o que era acelerador de partículas. Olhei para ela e disse “mas como você não sabe o que é acelerador de partículas?”, sem ter a mínima idéia do que é um acelerador de partículas.
Outra questão que ele nos fez é: qual a diferença entre os aracnídeos e os demais insetos? “Os aracnídeos têm oito patas!”, disse astutamente. “Essa é só uma das diferenças”, respondeu ele, do alto dos seus oito anos, para, em tom professoral, explicar as outras. Outro ponto debatido foi a existência de seres vivos em outros planetas que, segundo meu primo, é impossível, pois, para haver vida é necessária a existência de algumas substâncias, que eu não sei o nome, mas que ele disse. Argumentei: “Mas e o pequeno príncipe que vive no cometa B 612?”. Ele ficou a pensar, com a mão no queixo e a cabeça baixa murmurando: “B 612... B612...”, como se dissesse “esse eu não conheço”.
Segundo minha prima, esse pequeno gênio já palestrou para a turma do terceiro ano do segundo grau na escola onde estuda. E, se no meio da fala dele, que depois ganhou o reforço de meus pais e dos pais dele, alguém falasse, alguém logo dizia “pshito! Fica quieto que quero ouvir”. Cheguei a cogitar largar o mestrado para seguir ele. Aliás, ouvindo-o palestrar, bolei vários planos para ficar rico. Poderia ser o empresário dele para vender palestras motivacionais e educativas, poderia tentar botar uma palestra dele no youtube para torná-lo famoso e depois negociar apresentações suas e entrevistas para a imprensa, poderia ainda dar os livros das bibliografias dos concursos públicos para ele ler, e entregar minha identidade para ele ir fazer a prova em meu nome, enfim, tenho vários planos para o garoto. Mas a mãe dele já se ligou disso e acho que não vai querer dividir o tesouro. A única coisa que eu lhe disse, seriamente, é: “quando você crescer, ficar rico e famoso não esquece do primão aqui, ok?”. Espero que não esqueça...

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