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quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Sangue Frio - Quem pode, pode

Confesso que quando comecei a ler A Sangue Frio, hoje de tarde, após anos de tentativas frustradas de lê-lo, ao me deparar com o seguinte trecho, na apresentação de Ivan Lessa: “Quando confrontado com o terrível On the road [do Jack Kerouac], Capote foi ao âmago da questão: ‘Isso não é escrever. Isso é bater à máquina”, senti a mais pura vontade de fechar o livro ali mesmo e não seguir adiante. Confesso ainda que segui adiante mais por obrigação, do que por vontade própria. Desde a graduação queria ter lido A Sangue Frio. E por várias vezes quase o comprei. Nas últimas feiras do livro de Porto Alegre, sempre o via lá, nas bancas, mas sempre pensava “esse eu compro quando me der na telha, não corro o risco de esquecer. Vou deixar para outra hora”, e acabava comprando alguma novidade ou relíquia não tão famosa, como o Martin Eden, do Jack London. Depois, cheguei a procurar A Sangue Frio em livrarias, mas nunca tinha dinheiro. O mais barato que achei, em Porto Alegre, era 50 reais em um sebo. Sempre pensava a mesma coisa: “esse livro com certeza um dia vou ler, é obrigatório para mim, mas agora vou ver outro...”, e adiava sempre pra depois. Ano passado, quando fui procurar na biblioteca da PUCRS, os mais de 10 exemplares estavam retirados, possivelmente porque algum professor mandou os alunos lerem. O tempo passou, e dessa vez, finalmente, peguei o livro na biblioteca. Lembro que em certa ocasião, alguém, que já leu A Sangue Frio, comentou que era um livro chato. Aquilo tinha ficado na minha cabeça. Até assisti ao filme, que não lembro agora se leva o título de A Sangue Frio, ou de Truman Capote, mas o fato é que gostei do filme, mas seguia com a impressão de que o livro era chato.
No entanto, não vou me ater a falar muito sobre o livro, vou contar apenas o seguinte: abri a primeira página por volta das 15h30 da tarde de hoje. Agora são 00h18. Estou na página 156 e sem a mínima vontade de dormir, louco para saber o que tem na página seguinte. Trata-se, realmente, de uma história com um enredo que daria tudo para ser o mais sensacional romance de ficção, porém, o pai do New Journalism (que é um filho bastardo, pois o próprio Capote não gostava de denominar assim o seu livro) realmente conseguiu transformar essa história verídica numa narrativa ultra-completa, contada de uma maneira envolvente e hipnotizadora. Capote realmente conseguiu dar voz com profundidade psicológica, com tal realismo, a todos os personagens envolvidos (desde os principais, até os mais obscuros) que eu fiquei agradavelmente surpreso ao constatar que o livro mais célebre dos chamados “livros-reportagens” é, de fato, uma obra prima digna de receber tal denominação. Inclusive, ao ler a frase de Capote sobre o Kerouac, pensei: “esse cara se acha demais, mas tudo bem, não vou julgar antes de lê-lo. Aposto que as primeiras páginas irão demonstrar que é um fanfarrão arrogante”... Ledo engano. O cara falou isso porque realmente tem cacife pra falar isso. Agora, não o considero mais um arrogante. Trata-se simplesmente de um cara que dizia ser o melhor, porque realmente era o melhor. Inclusive, encerro esse texto, citando o primeiro parágrafo da apresentação de A Sangue Frio, escrito por Ivan Lessa, só para vocês ficarem com a impressão inicial de que Capote é um arrogante filho da puta, mas, depois de lerem o livro, se darem conta que estavam completamente enganados (apesar que depois que eu escrevi isso, vocês possivelmente já peguem o livro sabendo o que lhes aguarda, e portanto, o que aconteceu comigo não ocorrerá com vocês e... ), porra, chega de papo e vamos lá:

Está no lendário das colunas sociais: Truman Capote, Gore Vidal e Norman Mailer, em sarau literário, discutiam livros. Cada qual, evidentemente, falando de seus próprios livros. Capote, o mais baixinho e fisicamente frágil dos três, assim como de longe o mais venenoso, virou-se e disse (Capote era uma das poucas pessoas no mundo capazes de “virar-se” e dizer uma coisa): “Tudo isso que vocês estão dizendo pode ser muito interessante, mas a verdade é que eu escrevi uma obra-prima, e vocês não”.

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