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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Circo dos horrores

Infelizmente, passa ano entra ano, e caras como o goleiro Bruno continuam a habitar o mundo. E o pior: fazem discípulos. Nessa semana, tanto circulou na internet a notícia do envolvimento de um filho de um dos diretores da RBS de Santa Catarina em um caso de estupro em Florianópolis, que o Grupo acabou se manifestando, timidamente, sobre o caso, e o pior: tomando as dores de seu diretor. No meu modesto entendimento, não está em discussão se o cara é ou não filho do diretor da RBS, do delegado, de um político, mas sim, a discussão tem que ser feita em torno do acontecimento, e do que gerou esse acontecimento. As informações que se têm foram obtidas através da escola onde os adolescentes estudam e das informações que circularam pela internet, essa mídia incontrolável, mas que abre um verdadeiro espaço para a discussão e formação da opinião pública, na essência do que termo significa. E, partindo dessas informações, resumidamente, temos a seguinte história: a garota, de 14 anos, terminou o namoro com o filho de um delegado de Florianópolis, que, inconformado, chamou dois “amigões” para se vingar dela. Um desses camaradas era o filho de um dos diretores da RBS, que colocaram um “boa noite cinderela” na bebida e a levaram para o apartamento dos pais de um dos adolescentes, onde fizeram de tudo com ela.
Bom, seguindo a lógica dos adolescentes e de caras como o Bruno, não só os pais, como a sociedade inteira, também teriam o pleno direito de fazer justiça com as próprias mãos com eles, afinal, em uma sociedade onde a impunidade dá margens para margineis endinheirados passarem por cima da lei, sem que nada lhes aconteça, voltemos ao estado de natureza de Thomas Hobbes e John Locke, onde cada indivíduo pode fazer o papel de juiz e aplicar a pena que considera justa ao infrator. Nesse sentido, o que poderia impedir do pai, ou do irmão da garota estuprada fazer justiça com as próprias mãos: pegar esses três garotos e levar para um porão, ao melhor estilo máfia italiana ou favela da Rocinha, e fazer o mesmo e mais um pouco do que eles fizeram com ela? Absolutamente nada.
Partindo disso, voltemos ao princípio, e novamente batemos na mesma tecla de sempre: a única coisa que pode inibir uma pessoa de fazer atrocidades como as cometidas por Bruno e pelos adolescentes de Florianópolis não é a ameaça de punição, mas sim, é a educação, a informação e a religião. Abrimos um parêntese destacando a velha máxima de quando a persuasão não é efetiva, parte-se para a coerção, ou seja, o porão da máfia italiana ou a ala vascaína de Bangu 1. Porém, o astuto leitor vai se questionar: mas esses adolescentes não eram de classe alta e estudavam na “melhor” escola de Florianópolis? Pois é, nobre leitor. A partir dessa questão é possível levantar algumas hipóteses, tais como: 1) a melhor escola não é sempre a mais cara; 2) a escola tem responsabilidade parcial na educação da criança e do adolescente, porém, os principais agentes do processo educacional são os pais; 3) eles se sentiram impunes pelo “status” que os seus pais ocupavam na sociedade; 4) eles não têm irmã e receberam uma educação machista dos pais e acham que podem fazer o que querem com uma pessoa do sexo feminino. Enfim, são inúmeras as hipóteses, e, independentemente de qual é a correta (salientando que uma não elimina a outra), o fato é que em semanas com acontecimentos como esses, parece que estamos vivendo, de fato, em um circo de horrores, onde uma besta tenta superar a outra em palhaçadas revoltantes e sem graça.

Texto escrito para A Tribuna Regional da próxima sexta-feira.

2 Comentários:

  • tu vesss... como diria racionais mcs "minha vida nao tem tanto valor qto seu celular..." alguma coisa assim... são os valores morais perpetuados por uma sociedade do consumo, do espetáculo, do descartável, enqto o outro se resume a um objeto para satisfazer seus prazeres..tb são os limites que estes guris possivelmente nao tinham, tb o machismo presente em toda a sociedade...enfim enfim... o homem é o lobo do homem

    Por Blogger Carolina, às 7 de julho de 2010 às 15:46  

  • 3) eles se sentiram impunes pelo “status” que os seus pais ocupavam na sociedade;

    muito bom Ritter. como tá ali na citação que eu copiei, o "status" acaba levando muita gente a crer que esta acima da lei. Seja pelo montante de dinheiro e bens que possui ou pelo cargo que ocupa, como naquele caso dos policiais que eu relatei no meu blog aquela vez.

    Muito também da educação e aí não digo das escolas. Porque do jeito que as crianças saem de casa, as vezes fica impossivel para o professor acrescentar algo de util no jeito delas pensarem e agirem.

    Eu sempre falo e escrevo que a criação dos jovens está muito errada. É muito liberalismo, é muita frescurinha. E aí vai acontecendo isso que a gente ve aí...

    enfim... acho que era isso...

    hehe... abraço!

    Por Blogger Mr. Gomelli, às 9 de julho de 2010 às 00:24  

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