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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Intimidade

Comecei a ler ontem Intimidade, de Hanif Kureishi, escritor inglês, filho de paquistanês. Peguei esse livro e um do D. H. Lawrence na biblioteca da PUC para ler intercaladamente com os textos acadêmicos nessa fase pré-qualificação de disertação. Mas como pesquiso jornalismo e literatura, está tudo em casa. Nenhuma leitura é inválida. Aliás, estou bolando uma lista com livros que têm na biblioteca para xerocar, pois final do ano termino o mestrado e não terei mais como trazer livros de lá. Esse livro, e outro que peguei e já li desde minha última ida a Porto Alegre (Mentiras, do Nelson Rodrigues), não vou xerocar. Porém, o do Lawrence, por ser maior, possivelmente terei que xerocar para ler com mais tempo. Enfim, isso não importa.
Quero mesmo é falar sobre Intimidade. É um livro curto, de 114 páginas. Comecei a ler ontem, sem pressa, e já estou na página 63. Estou considerando um livro bem frasista, ou seja, com frases de efeito. Boas, por sinal. Lendo, lembro de algumas frases do professor Juremir Machado da Silva. Parece que leio ouvindo a voz do Juremir. Frases curtas, diretas e irônicas. Estilo parecido. Na minha modesta avaliação. Já a história me fez lembrar do livro de um outro gaúcho: Mãos de cavalo, do Daniel Galera. Na real, é praticamente o mesmo enredo. Não tenho aqui como dizer que o Galera plagiou o Kureishi, mas, nos dois casos, o homem pensa em abandonar a mulher e os filhos e a temática é a chatice do cotidiano dos relacionamentos. Indico os dois livros. E os do Juremir também.
Vou colocar aqui brevemente algumas frases que marquei até a página 63, sem desvendar a narrativa, para não tirar graça da história, caso você, nobre leitor, resolva ler esse livro:

Ela diz: “Por que você nunca fecha a porta do banheiro?”.
“Como é?”
“Por que não fecha?”
Não consigo pensar num motivo.


Mas por que pessoas competentes em matéria de vida familiar precisam empinar o nariz, como se presumissem que esse é o único tipo de vida digno, como se o resto fosse inadequado? Por que elas não podem ser acusados de não ter competência para a promiscuidade?

O desejo escarnece de todos os esforços humanos, torna-os valiosos. O desejo é o anarquista primordial, o primeiro espião disfarçado – não admira que o prefiram aprisionado e trancado em local seguro.

O alívio sexual é o máximo de misticismo que a maioria das pessoas agüenta.

Essa é ótima:
O tempo era precioso, e ele [o pai da personagem] me ensinou a temer o desperdício. Mas, ruminando e divagando na escrivaninha, concluí que não fazer nada é muitas vezes a melhor maneira de fazer alguma coisa.

A arte é fácil para quem pode e impossível para quem não pode.

Quando fui indicado para o Oscar, telefonei para contar, e ela {a mãe da personagem] disse: “você vai ter de ir até os Estados Unidos? Mas é longe demais”.
“Obrigado por se preocupar”, falei.


Essa também é ótima:
Creio que a mente está sempre concentrada – em algo que a interesse. Saias, piadas, críquete e pop, no meu caso.

Como eu gosto de escrever? Com lápis de ponta mole e com o pau duro – e não o contrário.

O bom senso diz que a gente não precisa ceder a todos os impulsos, correr atrás de qualquer mulher que nos encante. Mas acho que a gente pode ir atrás de algumas; nunca sabemos de antemão as delícias que nos aguardam.


Enfim, como já disse em outro post, gostei desse escritor, pois, ele cumpre o papel do bom escritor: escreve coisas que eu gostaria de ter escrito.

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