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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Participação feminina na Copa


Enquanto assistia ao jogo entre Argentina e Coréia do Sul, após perguntar se a Argentina era o time de uniforme vermelho ou de branco, minha mãe elaborou a seguinte lógica futebolística: ganha quem faz mais gols, e faz mais gols quem tem mais sorte. Segundo ela, isso porque alguns chutam e não fazem gols, enquanto outros chutam e fazem. Uns, que driblam todo mundo e chutam na trave, têm azar; enquanto outros, que chutam de canela e fazem o gol, têm sorte. Muito prático e faz sentido.
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Já minha filha emprestada, Laura, após assistir comigo ao jogo do Brasil e Coréia do Norte, sentadinha e comportada, concluiu: “perdi minha tarde de terça-feira. Poderia ter ficado em casa brincando com o Fofinho”. Fofinho é o cachorro. Também tem lógica. E também faz sentido.
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Minha noiva, por sua vez, quando pergunto para quem ela vai torcer num jogo como Argélia e Eslovênica, responde: “tanto faz”. Também tem lógica. E também faz sentido.
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Outra mulher insensível da família, que não se comove com questões futebolísticas, é a minha irmã. Antes do jogo do Brasil contra a Coréia do Norte, perguntei se ela estava nervosa, e ela, bocejando, friamente, respondeu sem pestanejar, com cara de Garfield: “uhhh, to muuito preocupada”. Muito irônica essa minha irmã.
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Já uma prima minha estava torcendo para a Espanha contra a Suíça. Quando a bola do time de branco entrou, ela começou a comemorar. Foi então que o marido dela perguntou: “está comemorando o quê, ó mulher? O gol foi da Suíça!”. E ela murchou, como uma rosa que não recebe água há duas semanas.
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Voltando à minha mãe: sem prestar muita atenção no jogo entre Grécia e Nigéria, ela também concluiu que os jogadores gregos têm o nome no plural: Papadopoulos, Torosidis (parente distante do Mussum), Sâmaras, Gekas, etc. Não chego a falar grego, mas talvez faça algum sentido...
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A Copa é um fenômeno social interessante e engraçado justamente por isso: mesmo quem não assiste e não acompanha futebol durante os anos em que não há Copa do Mundo, acompanham e dão palpites engraçados durante os jogos do mundial. Em dias de partidas do Brasil, as ruas ficam desertas, tudo para, as crianças vão à aula pintadas de verde-amarelo, ninguém sai para procurar emprego, os empresários podem estar bem-humorados com os jogos e dar um aumento para um incompetente, assim como podem estar de mau humor por um resultado ruim e demitir um bom funcionário. E assim segue a vida na terra tupiniquim de quatro em quatro anos...
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Encerro essa coluna lembrando uma crônica marcante do Nélson Rodrigues escrita sobre a final da Copa de 1962. Resumidamente foi o seguinte: o marido descobre que a mulher está lhe traindo e decide matá-la no dia do jogo. No entanto, a partida vai começar, e ele resolve dar uma sobrevida para a ex-amada. A Tchecoslováquia abre o placar aos 15 do primeiro tempo. Achando que o Brasil vai ser vice, ele decide matá-la naquele instante. Porém, dois minutos depois, Amarildo empata. Ele se empolga, e esquece da mulher. Quando ele começa a voltar a pensar em matar a traidora, aos 19 do segundo tempo, Zito põe o Brasil na frente, e ele até abraça a mulher. Por fim, aos 33 do segundo, Vavá faz mais um, e a crônica termina com ele beijando, abraçando e pegando a mulher no colo, berrando “somos bi-campeões, meu amor! Eu te amo! Eu te amo!”. E, graças ao Brasil, um crime passional é evitado. Também tem lógica. E também faz sentido.

*Texto que será publicado na Tribuna desta sexta-feira.

6 Comentários:

  • qual prima? huahauhauhauhuahua mas eh claro.... o que eu fiz durante o jogo? durmiiii e ateh sonhei, não lembro com o que mas sonhei hueheuheheue

    Por Blogger Carolina, às 17 de junho de 2010 às 13:47  

  • Tu estás reforçando o estereótipo que a Globo adora de mulher como "mulherzinha" que não entende ou não se interessa por futebol!
    Achei muito válido os palpites e opiniões das mulheres ao teu redor! hehehehehe

    Por Blogger Lara, às 17 de junho de 2010 às 19:02  

  • hahuashuaushausha... ri muito com os comentários femininos aí Ritter... interessante mesmo...mas sabe, acontece com os idosos também. Hoje fui olhar Grecia x Nigéria na casa do meu avô...levou uns 30 minutos para ele entender quem tava jogando... tadinho...hehe...

    sobre o penultimo paragrafo, realmente a Copa mexe com todos... não tem jeito. No jogo do Brasil, na terça, minha mãe, que sempre diz que não gosta de futebol, ficou na frente da tv com frases do tipo: "vamo, chuta essa bola... ahh... chuto errado"... "Tira essa bola daí...ai, quase gol deles..."

    ashuahsuahsa.. eu até me surpreendi... huashuashuahusa...

    mas é isso.. é Copa do Mundo, é emoção...

    é o Brasil RumuaL Ékissa... hahaha

    abraços do Mr.!

    Por Blogger Mr. Gomelli, às 17 de junho de 2010 às 21:43  

  • Porra alemao!

    A unica que nao tem lògica è que por uma coincidencia "daquelas" a copa è sempre em ano eleitoral. Nao tem lògica, mas faz sentido (pra alguns).

    Por Blogger Zaratustra, às 17 de junho de 2010 às 23:13  

  • Os homens são de marte e as mulheres são de vênus, ponto final...

    Por Blogger Nara Miriam, às 18 de junho de 2010 às 11:49  

  • Ah, francamente! Aproveito a copa para ir ao médico, organizar o guarda-roupa, ler um livro! Não sou contra futebol...mas tudo que gera sensacionalismo me deixa profundamente irritada.

    Por Blogger Aline, às 18 de junho de 2010 às 18:52  

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