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domingo, 6 de junho de 2010

Vida de vagabundo rico

Estava eu, deitado em minha cama, tirando um cochilo para descansar das horas extras de sono dormido, quando de repente alguém bate na porta. Era a minha secretária. Uma loira de pernas compridas, que não entendo por que, mesmo no frio, insiste em usar um short curto. Certamente se o Bukowski a visse exclamaria: ey, nada mal! Mas enfim, tenho apenas relações profissionais com ela. A sua função é fazer o intermédio entre eu e o resto do mundo, sem que eu tenha contato com o mesmo. Não é que eu não goste das pessoas, só prefiro que fiquem longe. Sempre a mesma aporrinhação: trabalho, família, cachorros, viagens, quem transou com quem, quem traiu quem, quem gastou um absurdo para comprar alguma coisa, quem morreu, quem nasceu, quem está no hospital, quem engravidou, quem se separou, enfim, assuntos banais. São poucos os que conseguem falar sobre o que realmente presta nessa vida miserável: mulheres, bebidas, música, cinema, boa literatura e futebol. E tem que saber falar com qualidade sobre todos os itens, senão não presta. Opinião elaborada com lugar-comum não me interessa. Enfim, não sobra quase ninguém. Pelo menos dentre as pessoas do meu convívio.
Inicialmente tinha um cachorro, mas ele não atendia ao telefone, e eu precisava de alguém para ligar para algumas pessoas, mandar e receber recados, ir ao super-mercado, cozinhar, buscar comida no restaurante, enfim, uma secretária profissional. E como teria que vê-la todo o dia, tive que optar entre as mulheres gostosas mas burras, e as feias inteligentes. Optei pelo primeiro grupo, já que estava interessado em alguém para cumprir as tarefas sem questionar, e as feias inteligentes são muito questionadoras. Isso não quer dizer que eu ache todas as mulheres feias inteligentes, ou todas as bonitas burras. Existem feias burras e bonitas inteligentes. Nunca esqueçam: para cada regra, há exceção. É assim em tudo na vida: com os idiomas, com a matemática, com o sistema e com as mulheres. Entretanto, não queria arriscar. Contratei logo a Simone por ela ser gostosa e, não vou dizer burra, mas não muito inteligente. Ela é inteligente para obedecer. E para se vestir. Gosto do short dela.
Vezemquando eu adiciono um extra em seu salário para que ela faça outros serviços, sabe cumé, ninguém é de ferro. Porém, classifico essa relação como estritamente profissional, pois estou pagando pelos seus serviços. E tenho que me controlar para não viciar. Quando me pego sentado na cadeira, olhando para o céu estrelado, pensando nos seus lábios, nas suas coxas, nos seus peitos, na sua bunda... resolvo dar um tempo. Tranco-me no quarto e ela só me chama para fazer esse elo entre eu e o mundo. Pois então, era num desses dias que eu estava deitado, descansando das horas extras de sono dormido, quando Simone bateu na porta.
- Pode entrar – resmunguei.
- Oi sr. Palhares. Um senhor falando uma língua estranha, acho que inglês, está no telefone.
Adoro quando a Simone parece burra. Atendi ao telefone, e o diálogo, traduzido aqui por esse que vos escreve, foi mais ou menos o seguinte:
- Alô.
- Alô, senhor Palhares?
- Diga.
- Boa tarde senhor Palhares, tudo bem com o senhor? (silêncio). Her..hmm. Bom, eu sou da American Ass, somos parceiros da Open Pussy. Gostaríamos de contratá-lo para fazer um trabalho temporário conosco...
- Pra quando? – tratei de cortar o mala.
- Da metade de junho até a metade de julho.
- Escuta, por acaso o senhor acha que sou algum idiota?
- Não senhor Palhares, imagine. Inclusive, nós estamos dispostos a lhe pagar o triplo do valor de mercado, justamente porque o senhor é o melhor do ramo, uma referência mundial no setor de....
- Olha cara, não sei quem foi o merda que mandou você me ligar. Mas cara, se liga! Vai começar a Copa! Não perco os jogos nem a pau. Sabe o que é que vou fazer, seu safado? Sabe o que é que vou fazer, vagabundo?
- N-não...
- Eu vou passar o dia inteiro com meu pijaminha verde-amarelo, comendo pipoca, tomando cerveja, vendo os jogos, e no intervalo entre um jogo e outro vou foder minha secretária, está bem? E não quero saber da sua proposta. Vá se foder!
E desliguei o telefone na cara do otário. Digam-me se tem fundamento apresentar uma proposta de emprego em plena Copa do Mundo. Tem cada um...
Voltei a descansar, quando de repente, novamente Simone bateu na porta.
- Senhor?
- Fala, minha flor.
- É a sua esposa no telefone.
- Porra, manda ela a merda.
- Desculpe senhor, eu disse que o senhor estava descansando, mas ela estava muito irritada e...
- Olha, minha flor, minha mulher sempre está irritada. Faz seis meses que não a vejo, e não quero vê-la em nenhum lugar que não seja no inferno (que é pra lá que nós dois vamos). Portanto, manda ela pastar e só me chame em caso de extrema emergência.
- Está bem, senhor.
Dormi mais um pouco. Estava cansado de descansar. E por isso descansava mais. Sabem como descansar do descanso? Tomando umas biras. E foi isso que fiz: tomei muita bira.
Ainda não estava bêbado, quando Simone bateu na porta novamente:
- Senhor?
- Entra minha flor.
- Desculpe, mas essa ligação é urgente, e...
- Desligue essa merda, tira a roupa e vem deitar comigo.
- Mas senhor, acontece que é...
- Não interessa quem é. Desliga isso, tira a roupa e vem aqui relaxar e gozar comigo.
- Está bem senhor.
- Hmmmmm, ahhhh, hmmmmm, delícia, hmmmmm, coisa boa, hmmmmm.....
FIM

PS: em breve, Vida de vagabundo pobre.

4 Comentários:

  • A vida que tu pediu a Deus, não?!rsrs
    E quem já se viu trabalhar em tempos de Copa?! Oo..na certa não é brasileito o suficiente..rsrs..ai ai país de gente esquisita, sem memória, sem visão..

    Por Anonymous Anônimo, às 6 de junho de 2010 às 21:37  

  • hahaha... muito bom Ritter... e mesmo que tu ou algum leitor do JM não goste, foi bem no estilo dos textos do David Coimbra...

    e óbvio, que tratandos-e de um texto teu, tinha que ter muita putaria... hahaha...

    mas muito bom mesmo o texto...ô, essa era a vida que todos nós, homens, queremos, eu acho... se bem que, como tu mesmo falou, tem as exceções né...

    enfim, no ritmo de Copa, estou saindo de féria na terça-feira...sabe como é né... tem que assistir todos os jogos... sauahsuahushuash...

    abraços!

    Por Blogger Mr. Gomelli, às 6 de junho de 2010 às 22:38  

  • É...imaginei que essa fosse a vida de um vagabundo rico. Mas achei uma pobreza....só descansando e fudendo....putzz....achei que descansar do descanso era viajar e fazer cruzeiros e sei lá....

    ...mas td bem estou curiosa pra saber da vida do vagabundo pobre. Deve ser bem emocionante!

    Ah eu tenho um blog novo tá?

    http://www.ijuhy.com/noticia-ler.php?id=15617

    Comentá lá desgraça! eeheiahauahaua

    bjs

    Por Blogger Aline, às 7 de junho de 2010 às 07:29  

  • porra alemao!

    Por Blogger Zaratustra, às 8 de junho de 2010 às 09:36  

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