Larissa
Naqueles doces segundos da minha vida, minha respiração parou, de emoção. Não ouvi mais nada que se passava ao meu redor, foi como se eu tivesse sido transportado para outra esfera, onde ruídos de carros que patinam pelas ruas, vozes humanas que não dizem nada, latidos de cães que não nos deixam dormir à noite, risadas de bêbados na madrugada, reclamações de chefes mal-humorados, enfim, nenhum som, nenhum ruído, nem sequer uma música, pudesse entrar nessa esfera excepcionalmente hipnotizadora e envolvente.
Naquele momento, entendi que todos os prazeres da vida, como uma noite romântica na beira da praia, um gol do Grêmio comemorado no último minuto nas arquibancadas do Olímpico, ou o espasmo e o êxtase alcançado com quem se ama na frente da lareira, é apenas a superfície da capacidade máxima de sentimento que um ser humano pode ter. Descobri também que aquilo representa o amor pelo amor. Ou seja, um duplo amor. Um amor, dentro de outro amor, ou melhor, um amor duplicado, que vai além do que qualquer outro sentimento de prazer, satisfação, paixão, loucura, liberdade, etc, pode nos proporcionar. Esse, inclusive, é um sentimento de prisão. Mas prisão pelo que te mantém vivo, pelo que te faz sonhar. E é através dessa prisão harmônica (existiria, até então, uma prisão harmônica?) que você percebe que está livre, pois não há limites para o amor.
Essa imagem, a que tanto me marcou, me fez relembrar em segundos toda a minha vida, me apaixonar loucamente naquele presente, e ter certeza de que todas as incertezas quanto ao futuro não passam de belas e tolas incertezas. Também despertou em mim a doce ilusão da invencibilidade e da imortalidade, pois sei que, por essa imagem, eu dou meu sangue, dou minha alma, dou minha vida. Lutarei como um gladiador psicopata pela defesa dessa vida, e torturarei como um gângster todo aquele que desejar algum mal a essa imagem.
Pois a imagem a que me refiro, o pequeno par de olhos que me despertou tantos sentimentos intensos, eram as duas bolinhas pretas dos olhos de minha filhinha, Larissa, que vi através do ultra-som realizado pela minha noiva, no consultório da Dra. Cleia, na última segunda-feira. Víamos atentamente aquele pequeno bebê, que nem cinco meses completou dentro da barriga quentinha de sua mãe, virar o rostinho e mostrar na tela aqueles dois olhinhos minúsculos, que parecem entender tudo o que se passa do lado de cá da barriga. E é para ela, Larissa, que dedico esse texto, escrito em uma noite fria, mas muito feliz, desse gelado inverno de 2010.
*Texto publicado em A Tribuna Regional de hoje.
10 Comentários:
Meu caro amigo, lindo texto! Que sejas muito feliz com esta alminha ao teu lado. Parabéns por esta glória. Abração! Filipe.
Por Filipe Duarte, às 16 de julho de 2010 às 19:55
Há uma bela frase de Octavio Paz que diz "Todo amor es eucaristía" (1996: 288), que nos traz esse desejo humano de superar a morte através da conquista da unidade com o outro. Bonito isso! Gostei do seu texto... bom ler sobre esse seu momento tão repleto de sensibilidade.
Por ABaroni, às 16 de julho de 2010 às 20:00
Dudu, belo texto. Apaixonado, sincero. Sorte da Larissa ter um pai assim!
Por Lara, às 16 de julho de 2010 às 20:07
Lindo!!!! fiquei,emocionada e comovida...especialmente pque essa estrelinha que virá brilhar aqui fora, é minha SOBRINHA NETA,sorte da Cris ter um companheiro tão apaixonado,por ela e pela filhinha.
Que Deus continue te iluminado.
abraço da tia
Aldair
Por ALDAIR, às 17 de julho de 2010 às 04:50
Foste mt feliz neste texto, e vejo q já sentes aquele amor incondicional que só os pais têm pelos filhos...
Um beijão meu filho, e q Deus abençoe mt esta criança q está vindo!
Por Nara Miriam, às 17 de julho de 2010 às 05:52
Eu bem sei o que é isto que sentes e que conseguistes expressar de maneira sensível e consistente. Depois da vinda de minhas duas filhas, também adquiri uma força que me mantém, apesar das adversidades, forte e resoluta na defesa dos meus "olhinhos". Obrigada pelo belo texto!
Por martamaia, às 17 de julho de 2010 às 07:12
Grande alemao!
belo texto! Quando a Larissa crescer e ler isso, vai se sentir orgulhosa do pai escritor.
gde abraço
Por Zaratustra, às 17 de julho de 2010 às 11:18
Caramba, colega. Estou muitíssimo emocionada. Lindo sentimento, lindo texto. Parabéns para vocês e muita muita muita saúde para essa gremistinha que está a caminho!
Grande abraço
Por Queridos publicitários, às 17 de julho de 2010 às 11:56
uiri da minha afilhadinha
Por Carolina, às 17 de julho de 2010 às 12:41
Bah Ritter... recém comentei contigo no MSN, mas faço questão de repetir aqui. Mandou muito bem!
Que texto! que homenagem! Com certeza, o dia que ela ler isso vai ter ficar orgulhosa do pai escritor, como disse ali o Zaratustra... hehe
caraca meu... me arrepiei aqui e confesso que cheguei a encher os olhos de lágrimas...
Bah... espero um dia ter a oportunidade de ter essa mesma sensação que tu sentiu.
Muito bom mesmo. A forma como tu escreveu foi genial.
Parabéns aí pelo texto, mas principalmente pelo carinho que tu nutre pela Larissa.
Parabéns mesmo... abraços!
Por Mr. Gomelli, às 20 de julho de 2010 às 22:57
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