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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Nem Napoleão salva... (o resto do título foi censurado)

A capacidade de reflexão e de evolução de um povo se mede pela liberdade de expressão e pela censura. São dois pólos extremos, como se fosse uma escala de 0 a 10. Quanto mais censura há, mais perto do irracional e do animalismo esse povo está. A evolução e o crescimento de um povo só se dão quando as idéias, por mais óbvias que pareçam, são debatidas, sem censura. E aqui está um dos principais problemas do Brasil: o convencimento equivocado de que a queda do regime militar terminou de vez com a censura.
Peguemos apenas um exemplo histórico, mas fundamental para a determinação do futuro de um povo: a Revolução Francesa. Dentro da luta pelo poder, a imprensa, ainda com cheiro de nova, se tornou uma ferramenta fundamental na guerra pelo domínio da opinião pública. Porém, para entendermos isso, temos que voltar um pouco mais no tempo, mais especificamente para o Antigo Regime, onde tudo passava pela censura, com fiscalização e controle feitos pela polícia. Com tanta fiscalização, o que fizeram os espertos franceses? Tráfico de livros. Isso mesmo, assim como nós, sul-americanos do século XXI, somos experts em tráfico de drogas, os franceses eram em tráfico de livros. As editoras vendiam por “baixo dos panos” livros proibidos, geralmente de filosofia ou eróticos, e esse mercado paralelo acabou causando todo um clima propício para a queda da censura, aliás, um grande número de prisioneiros da Bastilha tinha cometido crimes relacionados à literatura clandestina e à efervescência das discussões nas esquinas, cafés e salões franceses. E mais: os livros mais procurados e mais vendidos eram os livros proibidos. Tanto é que na época diziam que se você quisesse fazer sucesso literário, bastava o governo censurar o seu livro.
No entanto, muitos podem achar que com a queda da censura francesa, a partir do longínquo 1789, a liberdade de imprensa estava garantida, não? Não. No início, quando a Assembléia Nacional sancionou as leis do comércio do livro, em agosto de 1790, não havia uma legislação para prever casos como o surgimento de monopólios de editoras, ou algo que resolvesse o problema do desemprego que atingiu os censores da época. Mas, o que parecia ser um problema, acabou se tornando solução. Três anos depois, em 1793, a Convenção Nacional aprovou um decreto destinado a dar uma clara base legal à publicação comercial, oferecendo ainda milhões de libras em forma de subsídios, prêmios e créditos públicos para incentivar a publicação de livros, principalmente de natureza científica e educacional, tornando, assim, a França numa referência mundial em matéria de desenvolvimento social. Está certo, mesmo tendo passado mais de 200 anos desses fatos, a França ainda não é perfeita, tem vários defeitos e muita coisa errada, porém, lá, a revolução envolveu cultura, idéias e ideais, ideologias, e tudo o mais, e a discussão sempre foi o alicerce para toda essa caminhada. Pierre Bourdieu, por exemplo, fez um discurso impecável na televisão, falando sobre a TV, que originou o clássico “Sobre a televisão”, numa crítica impecável sobre os próprios colegas jornalistas.
Mas, aqui no Brasil, quando temos um problema, o que fazemos? Censuramos. Proibimos. E assim, o problema é colocado embaixo do tapete, mas ele fica lá, guardadinho. Não é resolvido, e muito menos eliminado. Com o objetivo de se eliminar, a censura dá força para os amordaçados. E é nesse sentido que seguimos caminhando. O estatuto do torcedor, por exemplo, prevê que não se pode mais falar palavrão nos estádios. Puxa, que chato. Sem poder falar palavrão, vamos chamar o juiz de quê, de bobo, boboca, xarope? Já na cobertura das eleições não é permitido dar opinião sobre os candidatos. Não é possível apontar para o povo as falcatruas de cada um. Não se pode falar que o candidato X disse em rede nacional que está pouco se lixando para o eleitorado, porque se citar tal fato, dando nome aos bois, o jornal, rádio, site, ou emissora de TV, é processado. Agora me digam: é proibindo de se falar no assunto que vamos resolvê-lo? Perguntem ao Napaleão, porque estou censurado para dar essa resposta.

Referência: DARNTON, Robert; ROCHE, Daniel (orgs.). Revolução impressa - A imprensa na França 1775-1800. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1996.

*Texto que será publicado na edição de sexta-feira de A Tribuna Regional (se não for censurado).

2 Comentários:

  • Bah... mandou bem manolo... até que tuas "porcarias" têm algum fundamento às vezes...

    o problema é que quem manda censurar, é quem tá sujo... se é que me entende... hehe...

    kpaz que vão deixar falar mal dos políticos...muito mais importante ficar fazendo lei de proibir de xingar nos estádios. Imagine vc... xingar um juiz pode colocar em risco a economia do pais...até rimou de tão tosco que é... hahaha...

    baita texto manolo!

    Abraço ae...

    Por Blogger Mr. Gomelli, às 3 de agosto de 2010 às 22:59  

  • Porra Napoleao!

    Por Blogger Zaratustra, às 4 de agosto de 2010 às 01:09  

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