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domingo, 17 de junho de 2012

Sobre compartilhamentos facebookianos

Às vezes, olhando o Facebook, fico espantado como as pessoas andam lendo clássicos e como elas estão ficando cada vez mais cultas. Confesso que me sinto até um tanto burro, pois vendo tanta gente compartilhando tantos textos de autores clássicos, fico pensando que autor eu poderia compartilhar, e não consigo pensar em nada tão criativo quanto o que eu vejo a cada minuto no Face. O pessoal compartilha de tudo: Caio Fernando Abreu, Freud, Sartre, Luis Fernando Verissimo, Chico Xavier, Bukowski, Jô Soares, Kerouac, Nietzche, etc, etc, etc. Agora, chega de ironias. Vamos aos fatos: primeiro, não tenho um estudo quantitativo, mas creio que pelo menos 50% das frases atribuídas a esses autores não são deles. Apenas alguém escreveu uma mensagem besta, geralmente relacionada com auto-ajuda ou com relacionamentos, e colocou o nome dos caras para dar credibilidade à bobagem dita. Segundo, mesmo as que são verdadeiras, estão completamente descontextualizadas. Na maioria, são frases soltas e bestas, do tipo “você é aquilo que faz, e não aquilo que diz”. Porra. Como diria o Seu Saraiva: “grande descoberta!”. Elas pecam, em sua maioria, pela obviedade, geralmente moralista disfarçada de algo que poderia parecer politicamente incorreto, mas que de tão batido, já passou a ser o status quo dessa porra toda. E, por fim, vem o maior de todos os problemas: quase 100% das pessoas que postam frases desses autores, nunca leram sequer UMA obra deles. Na maioria dos casos não sabem nem quem é o cara, nem o que ele representa ou ponto de vista que defende. Larga-se lá um Nietzche ao Deus dará. Cita-se um Freud sem se entender patavinas de Freud. Na maioria dos casos é pega a frase mais superficial de alguma obra, ou se pega simplesmente uma daquelas frases que tem em sites como “grandes frases da humanidade” e aquilo é apropriado por qualquer semi-analfabeto de uma maneira completamente tosca. Enfim, agora chega. Eu, como diria o Macaco Simão, vou pingar meu colírio alucinógeno. Aliás, eis aí uma boa frase para se compartilhar no Face. Mas hoje, só amanhã!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Nós, os órfãos do Felipão

A primeira vez em que fui ao estádio Olímpico foi em 1995. Eu tinha 14 anos e estava na oitava série do Colégio Sepé Tiaraju. Lembro que nem mesmo a derrota por 3 a 2 para o Botafogo de Túlio, pelo Brasileirão (que o Botafogo ganhou naquele ano) desanimou o torcedor gremista, que só pensava no Mundial e na decisão que teria contra o Ajax no final do ano. De lá para cá são mais de 15 anos indo com frequência ao estádio Olímpico. E em todos esses anos, nunca vi um público tão grande ficar tanto tempo em silêncio como ocorreu na última quarta-feira, na derrota para o Palmeiras pela Copa do Brasil. Antes do jogo o clima era de decisão. Quando eu ia indo pela Erico Verissimo, passaram carros e motos da Brigada Militar para trancar a rua. O ônibus conduzindo os jogadores do Grêmio passou sendo ovacionado pela multidão que se encaminhava para o Olímpico. Fora do estádio, a torcida cantava, gritava, uivava de êxtase. O clima era totalmente de festa na Azenha. Embaçado pelo entusiasmo, comprei um bandeirão e uma toca do Grêmio. Fui para o estádio enrolado na bandeira, pensando que, finalmente, depois de mais de dez anos da última conquista tricolor de peso, o orgulho gremista estava começando a ser resgatado. A festa durou apenas até a bola rolar. Felipão fez o que todos os treinadores sempre tentam fazer quando enfrentar o Grêmio no Olímpico: calar a torcida. Desde o início o Palmeiras não deixou o Grêmio jogar. Paravam os jogadores tricolores de qualquer jeito: com falta leve, com falta violenta, com entrada dura na bola, com empurrão, com puxão de camisa, etc. Exatamente a cara do Felipão. E, aos poucos, a torcida do Palmeiras, que estava quieta, começou a cantar. E a do Grêmio, que estava agitada, foi ficando cada vez mais quieta. E pior: só abria o bico para chiar, xingar e vaiar, coisa rara no Olímpico. Já vi o Olímpico cantar o jogo inteiro em partidas em que o Grêmio caiu, como na derrota para o Boca na final da Libertadores. Mas dessa vez, o silêncio da torcida gremista, que lotou o Olímpico, foi uma espécie de maracanaço tricolor. Foi constrangedor. Foi triste. Foi inesquecível. Pela primeira vez na vida vi a Geral do Grêmio ficar completamente em silêncio. Nenhuma bandeirinha tricolor ousava tremular nas arquibancadas. Foi uma rendição total à capacidade do Felipão Quando o jogo terminou, esperei o estádio esvaziar. Então saí, com a cabeça baixa, tentando entender o nó tático que o Felipão deu no Luxemburgo (mais uma vez). Andei novamente pela Erico Verissimo, até encontrar uma lancheria. Comi um xis galinha sem ovo e sem maionese vagarosamente, antes de seguir meu rumo. Na rua deserta, vi uma cena surreal: um torcedor de cabeços brancos vinha calmamente em minha direção, mas sua camisa não era tricolor, e sim, verde-limão marca página do Palmeiras. Ao me ver, enrolado na bandeira do Grêmio, ele baixou a cabeça. Franzi a testa e fui andando em sua direção, estranhando aquela figura corajosa e pitoresca que caminhava vagarosamente com sua camisa luminosa na escuridão do início da madrugada porto-alegrense. Aproximei-me dele e o cutuquei. Ele não reagiu. Pensou que eu era mais um torcedor violento e bêbado desolado que havia deixado o estádio e que estaria pronto para lhe agredir. Ao ver que ele não iria me dar atenção, simplesmente murmurei, em tom de súplica: “devolvam-nos o Felipão”. Então ele ergueu a cabeça e sorriu. Eu acenei e segui o meu caminho. Hasta. *Texto publicado no J Missões.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

O Grande Gatsby

Li, mais por obrigação do que por qualquer outra coisa, o Grande Gatsby, de Scott Fitzgerald. Na verdade, esse foi o livro preferido de Hunter Thompson, e como agora estou pesquisando o cara, me senti na obrigação de lê-lo. Inclusive, Hunter, na tentativa de aprender a escrever, em sua juventude, digitava a obra de Fitzgerald na máquina de escrever para ver se aprendia um pouco do então consagrado escritor. Enfim, tenho muitas considerações acerca desse livro. A primeira de todas, é que ele está (ou já foi) filmado e vai ser lançado em 2013. Já tem o trailer na internet e a estrela é Leonardo Di Caprio, interpretando o grande Gatsby. Pelo trailer, o filme ficou muito bom. O romance de Fitzgerald, publicado pela primeira vez em 1925, já foi filmado nos anos 1970. Bom, mas vamos à história do troço todo. Inicialmente meu sentimento foi de decepção. Por essa obra ter influenciado um cara como Hunter Thompson, imaginei que fosse um livro mais para o estilo “maldito” do que para o novelesco-dramático-romântico. Lembro que li John Fante pela primeira vez quando descobri que ele tinha influenciado a escrita de Charles Bukowski. E, de fato, com Fante não me decepcionei, pois ele tem algumas características que podem ser percebidas em Bukowski. Entretanto, o início do Grande Gatsby é de dar sono. A linguagem é excessivamente polida para influenciar Hunter Thompson, porém, com o andar das páginas, você vai associando uma coisa à outra e entendendo o negócio. O Grande Gatsby conta com o personagem narrador chamado Nick, que é um cara que cai por acaso no enredo da história. Na verdade, na primeira metade do livro ele é mais um personagem-narrador-observador. O problema é que essa parte ficou um tanto maçante. Depois a história começa a melhorar. Nick começa a participar do enredo e se torna amigo de Gatsby. E quem é Gatsby? Trata-se de um cara que, você vai descobrindo a história dele aos poucos. Resumindo, era um pobre coitado que trabalhava para um milionário, e acaba passando pelo exército, por Oxford, mas sem ter um pila no bolso. Ele conhece Daisy (e isso tudo é relatado apenas com lembranças ou com terceiros contando essa versão, que é bem breve e superficial), mas a perde, justamente, por não ter grana. Ele parte para a Europa e um ano depois ela se casa com Tom. Quando ele retorna para os Estados Unidos, ele fica milionário (a encarnação do sonho americano) e resolve correr atrás da antiga amada. É justamente por essa parte, lá pela metade do livro, que tem 158 páginas na edição em que eu o li, que a história começa a parecer uma novela mexicana ou novela das oito da Globo. O drama clichê ganha espaço. Sintetizando, Gatsby mora em uma mansão, onde dá festas grandiosas e glamurosas praticamente todos os dias, com a única esperança de que Daisy apareça a uma delas. E Nick conhece Daisy, e assim, Gatsby pede ajuda a Nick, que faz o meio-campo para ele encontrar a antiga amada. Então, rola uma cena bem estilo novela da Globo: ficam todos frente a frente (mulher, marido, amante, Nick e uma outra, que estava afim de Nick, que não me recordo o nome) e acontece um dramalhão com choros, gritos, xingamentos, acusações, etc, etc, etc. Tudo isso, obviamente, depois de já ter rolado novamente um sentimento entre Gatsby e Daisy. Resumindo, a discussão entre a malucada toda gira em torno da seguinte questão: a quem Daisy ama e a quem ela sempre amou? Na verdade, nem ela sabe. Tom diz que ela o ama e que nunca amou Gatsby, e Gatsby defende o contrário. A discussão vai indo, até que Tom manda a mulher e o amante embora. Entretanto, o amante a deixa na casa de Tom e fica de vigia em frente à mansão para ver se ele não vai a tratar mal. Aí começa outro drama: uma senhora é morta atropelada por um carro amarelo, que era o carro em que Gatsby andava com Daisy. O marido, que estava brigando com a mulher, pois ele sabia que era corno (e isso fez com que ela, em meio à surra, tentasse fugir e fosse atropelada), resolve se vingar do motorista do carro, que ele acreditava ser o amante da mulher. Tom, espertamente, conta para ele que Gatsby estava dirigindo (entretanto, não era Gatsby, e sim Daisy). Então, acontece o óbvio: esse senhor corno vai até Gatsby e mata o herói para, logo em seguida, cometer suicídio. E aí então termina a fase novela mexicana e começa a fase reflexão filosófica sobre o sonho americano. Ninguém vai ao funeral de Gatsby, a não ser Nick, seu pai, que não via o filho morto há dois anos, e um terceiro personagem misterioso. E aí começam as divagações sobre o fato de Gatsby ter acreditado no sonho (americano) de sair da pobreza para se tornar milionário, mas morre tragicamente deixando a questão: e daí? De que serviu? Para que tudo isso, se no fim a amante ficou com o marido e, enquanto ele ficou esfriando no caixão, eles seguiram suas vidas como se nada tivesse acontecido, voltando a sua atenção e suas preocupações para os bens materiais? Enfim, tire você mesmo suas próprias conclusões, pois minha cuca está fundindo. Bom, estraguei a sua leitura, pois contei tudo, até o fim do livro. Não posso garantir que contei também o fim do filme, pois, os últimos filmes que vi e que foram adaptados de obras literárias, literalmente, foderam com os originais. Dois que lembro agora, de cabeça: Pergunte ao Pó, do John Fante (final do livro genial, e final do filme tosco), e Diário de um jornalista bêbado (idem). Na verdade escrevi esse texto aqui muito mais para que, no futuro, quando eu esquecer a história do livro, eu vir aqui e consultar, do que para qualquer outra coisa. Mas estou ansioso para assistir ao filme. Ah, e as influências de O Grande Gatsby na obra de Thompson? Agora, pensando friamente, e concordando com algumas declarações de amigos e colegas de Thompson que estão no filme The life and work of Hunter Thompson, vejo que O Grande Gatsby traz vários elementos que aparecem na obra e na biografia de Hunter Thompson, sendo que a principal, é a obcecada cada preocupação em buscar e desvendar o sonho americano. Para além disso, há ainda a questão do suicídio e, também, as duas cidades que aparecem na obra de Fitzgerald: New York e Louisville (a primeira, cidade em que Thompson morou, e a segunda, cidade onde Thompson nasceu e foi criado). Agora sim, paro por aqui, pois está na hora de encarar mais uma aulinha. Hasta!

domingo, 10 de junho de 2012

Que côsa!

Essa eu roubei do Face da minha colega Cinthia. Vale para autores acadêmicos, mas também reflete o que pensavam os escritores beats e malditos como Bukowski, Krouac, Thompson, etc...

No Idea

Apesar de não escrever há algum tempo aqui, tenho escrito muito. Só que artigos acadêmicos. Eles estão sugando todos os meus neurônios. Às vezes até penso em escrever algo aqui, mas aí penso "putz, mas tenho que escrever tal e tal artigo e continuar traduzindo a biografia do Hunter e ler mais o livro..." e desisto. Enfim, acho que um dia meus neurônios voltarão ao normal (espero).