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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Livros

Uma das serventias desse blog, pelo menos para mim, são os comentários que coloco acerca dos livros que estou lendo. Assim, daqui alguns meses ou anos, quando eu já tiver esquecido completamente sobre o que se trata tal obra, eu posso vir aqui e catar os resumos/comentários. Sei que tem livros que são bons de serem lidos mais de uma vez, mas como são tantos os títulos que ainda não li, mas que ainda quero ler, que acho que só vou realmente entender esse prazer de leitura dupla quando estiver lá pela quarta idade (se assim me for permitido, o que acho difícil...). Ou seja, até hoje eu só li o mesmo livro mais de uma vez para escrever minha monografia/dissertação/tese (Solo de Clarineta, do Erico Verissimo, por enquanto é o meu recorde, pois acho que já li ele umas três ou quatro vezes). Ou ainda quando estou completamente impossibilitado de adquirir (comprado ou emprestado) algum livro novo que eu não tenha lido. Creio que Isso só aconteceu uma vez e, no referido caso, eu peguei uns livros do Bukowski para ler novamente. Afora isso, sempre busco algo novo. Mas chega de trova e vamos ao que interessa.
Na volta do Nordeste, eu terminei de ler Diário da Corte, do Paulo Francis. Na verdade, comprei esse livro por interesse pessoal, pois o PF viveu a maior parte da sua vida em Nova York, onde pretendo estar daqui a um ano. Lendo, descobri que ele fez uma pós na mesma universidade que, se tudo der certo, vai me receber: a New York University (NUY). Quanto ao texto, confesso que gostei mais dos dois Conexões e (Re) Conexões do Lucas Mendes. O Diário da Corte consta de textos publicados na Folha de São Paulo de 1970 e poucos até 1990. Muita política, alguma coisa de teatro e cinema, e mais política. O objetivo do livro, conforme relata o seu organizador, é mostrar a transição do PF da extrema esquerda para a extrema direita. Acho exagero dizer que ele tenha sido extremista qualquer coisa. Na verdade, ele era como a maioria dos escritores, intelectuais, artistas, etc, são (e o Schereck também, claro): não gostam de pessoas. Aliás, ele dizia que só gostava de gente que tivesse conteúdo para conversar com ele. Os demais, ele nem se prestava a dar um cumprimento ou alguma desculpa. Dizia na lata “não quero falar com você e ponto”. Creio que, enquanto ser humano livre, ele tinha esse direito. Mas enfim, teria muito mais a escrever sobre ele, entretanto estou cansando, então vou partir para os próximos.
Ainda na volta do Nordeste, li As pernas de Úrsula, da Cláudia Tajes. É um livro pequeno, que li em umas quatro ou cinco horas. Resumindo, trata da necessidade que o homem (no sentido masculino do termo) tem de buscar possibilidades. Mas é um romance, com personagens e tudo. O personagem principal é recém casado, tem um filho bebê, e se apaixona pelas pernas da Úrsula. Assim, ele faz de tudo para encontrar a dona daquelas pernas e, então, acaba realizando o seu sonho. Entretanto, vou me limitar a contar que ele passa por toda a lambança mental que um homem que tem mulher e filho passa ao se apaixonar loucamente por outra. Porém, na verdade, ele não está apaixonado por outra, mas sim, como a maioria dos homens, ele está apaixonado pelas possibilidades causadas pela outra. Depois que a possibilidade se concretiza, ele tem uma necessidade, quase que biológica, de buscar outras possibilidades, e assim sucessivamente. É algo mais velho que Jerusalém, mas que segue surpreendendo todas as gerações como se fosse algo completamente contemporâneo e pós-moderno.
Por fim, comecei a ler (fora os livros acadêmicos, lógico) Animal Tropical, do Pedro Juan Gutierrez. Esse livro, lembro que meu primo Gérson-Alemão me indicou há anos. Entretanto, primeiro li Trilogia Suja de Havana e O Rei de Havana, para só agora ler o Animal Tropical. Realmente, faz jus a indicação, pois as primeiras 30 páginas são sensacionais (creio que as demais também). Resumindo, Gutierrez relata dois relacionamentos: um com uma prostituta pobre de Cuba, e outro com uma intelectual sueca. Para quem não está a par, ele é cubano, mas ficou alguns meses na Suécia a convite de uma universidade, onde se envolveu com a tal sueca. E, lá na Suécia, ele era visto como um “animal tropical”, daí o título da obra.
Como sei que o vagabundo leitor tem preguiça de textos longos (e entendam aqui “vagabundo” como um elogio, no sentido kerouacquiano do termo) vou pondo um ponto final nessa porra toda.
Hasta!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Puritanismo futebolístico

Em “O sonho americano e o homem moderno”, publicado pela primeira vez no Brasil em 1972, o inglês Walter Allen aborda a formação do sonho americano, que é o pai do sistema atual do mundo ocidental, onde todos têm a possibilidade de ascender social e economicamente, em uma perspectiva histórica. Ele compara os puritanos ingleses que chegaram aos Estados Unidos acreditando que estavam chegando em uma “terra prometida” onde não haveria espaço para a diversidade religiosa nem para o questionamento da palavra de Deus que estava na bíblia, conforme a interpretação de alguns que se autodenominavam os detentores do poder e que se autodenominavam de “os escolhidos Dele”. Ou seja, eram fundamentalistas religiosos que não permitiam nenhuma outra interpretação da bíblia que não fossem as suas próprias.
Na medida em que ia lendo o livro, fui percebendo que o puritanismo não é algo exclusivo da religião e tem seu espaço no mundo futebolístico. Não falo no sentido clubístico, mas no sentido da evolução do futebol. O impedimento, por exemplo. Pra que serve o impedimento? Para dar emprego aos bandeirinhas? Para os comentaristas de TV ter o que debater no outro dia? Para derrubar sistemas táticos? Enfim, na minha avaliação, não tem serventia nenhuma, a não ser para impedir o que o torcedor mais gosta: o gol. Daí o seu nome: impedimento.
É a regra mais besta e burra que um esporte pode ter. Imagino que 50% dos impedimentos são mal marcados (ou são marcados quando não há, ou não são marcados quando há). Como ninguém sugere o fim da regra do impedimento? Quando vamos evoluir até o ponto de voltarmos às origens? Sinceramente, acho que nunca, pois com certeza se alguém, além desse que vos escreve, propor isso na FIFA, por exemplo, será execrado e taxado de louco, da mesma forma como quem questionava os puritanos na origem da história norte-americana ia parar na forca ou na fogueira.
Outra coisa, essa com certeza você, nobre leitor, vai achar mais absurda da minha parte.
Mas não seria melhor, e mais puro para os puritanos futebolísticos, que o futebol fosse jogado de pés descalços? Se assim fosse, não teríamos enganação. O sujeito estaria em contato direto com a bola. É o futebol na pureza da sua essência. Bate com o dedão embaixo da bola para encobrir o goleiro. Dá carrinho de sola sem deixar as marcas das travas na canela de ninguém. Aliás, até a caneleira seria dispensável. Que maravilha! Ah, mas não pode, senão os fabricantes de chuteiras e caneleiras, que patrocinam o espetáculo, ficariam zangados. E a última coisa que os puritanos do futebol querem é ver seus financiadores zangados.
Esses são devaneios que tenho, enquanto a corrida de tartarugas, que é esse campeonato brasileiro por pontos corrido, não chega ao fim. Amanhã tem Atlético-MG e Grêmio. Se o Grêmio perder, segue onde está. Se empatar, fica no mesmo lugar. E se ganhar, não avança nenhuma posição na tabela. E o Inter? Bom, o Inter já está em ritmo de férias há algum tempo. Que venha o ano novo!
Um bom final de semana a todos.
*Texto publicado no JMissões de sábado.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Abre aspas - by Adson Santos Santana

“Pegue seu colchão e ponha onde quiser”. Foi a frase que ficou na minha memória em meio a resolução de em qual lugar eu ia ficar no Hostel, depois de ser acolhido provisoriamente (logo mais definitivo) em quarto maravilhoso, é claro. Isso só era o começo, pois não podia imaginar as coisas que iam me acontecer já que na semana que antecedia a tão esperada viagem para o Intercom eu não estava com o mínimo de empolgação. Depois de tantos altos e baixos no tocante da minha hospedagem e como eu ia me portar numa nova cidade, pus a carapuça e disse: vou lá!
No início foi tudo incerto, confuso e incomum, onde todos os estranhos fariam parte da minha vida, onde todos os cantos teriam histórias escondidas, onde eu pude compartilhar mais um momento da minha existência com os amigos e conhecidos. E nessa conjuntura não tinha mais para onde fugir. O jeito era se jogar de corpo e alma. E a frase, mais uma vez, ecoou em minha cabeça - pegue seu colchão e ponha onde quiser.
E num encontro de muita gente inteligente, boa, bonita, alto astral, tímida, singela e secreta tudo aconteceu de forma intensa, feroz, feliz, corrida e sempre de maneira jocosa de levar a vida todos se deixaram levar pela onda. Eu nem sabia que dia era, muito menos, a hora que teimava em passar. Só tinha em mente que estava ali naquele momento e tinha que viver cada minuto em seu vão momento.
E Papicu? Sim! Não podia esquecer o terminal que leva o nome de um bairro (preferia que fosse nome de peixe ou algo indígena – risos) no qual todos os caminhos de Fortaleza se direcionavam para lá, onde muitas histórias, conversas, ansiedades, risadas, decisões foram tomadas em seu caminho ou como forma de aclamação, pois bastava estar perdido o primeiro pensamento que vinha a mente era: moço passa em Papicu? Oh! Nobre Papicu que de uma singela brincadeira fez com que almas se encontrassem para a partir de então um nova história ser contada – a cúpula Papicu.
Apresentei meu primeiro artigo em congresso e envolvido no clima tive a certeza de que devo tentar uma vida acadêmica, pois diante de conversas pude perceber que nada é descartável e que, quase tudo, dá um artigo. Além da percepção de que sou capaz de fazer algo de boa qualidade. Destarte, para a minha loucura dos slides que só ficaram prontos no dia da apresentação e acho que devo ter enchido o saco falando: e meus slides que não estão prontos?
Sem mais delongas, em Fortaleza passei bons momentos de minha vida, fiz amigos, muitos dos quais creio que me acompanharão para sempre. Por isso tenho que comemorar!
Olho para trás e vejo que eu tenho que voltar para Fortaleza para encontrar uma amizade que não vi, para visitar o que não deu, para fazer a falsa pool party no fundo do hostel e para lembrar os bons momentos vividos tomando o velho e bom chop de vinho do Bixiga.
E no fim de tudo, o colchão que eu pus onde eu queria, teve que voltar para o seu lugar para que outras pessoas, outras histórias, outras realidades possam ser vividas, rememoradas e sonhadas. E para mais, fica o abraço meio desconcertado e choroso na última festa, o aperto de mão que acalenta o choro no táxi, a conversa de 30 min dos mais sinceros corações, o olhar de adeus ou até breve do portão com a benção da Santa Virgem de Guadalupe, o soluço preso na garganta que a cada poste que passava trazendo o clarão de luz era uma lembrança, do check in bêbado, da viagem faminta e fria com direito a dor de ouvido e cabeça, da não lembrança de ter pego a mala e depois ficar encucado como ela apareceu na sua mão, do primeiro abraço forte de despedida, da carona perfeita, dos tchaus dados, da Barra, do acarajé e do fim.
- Alô, Fundação Brasil Criativo. O que deseja?
- Quem fala?
- Adson da UFS.
- Oi. Por onde você andou?
- Estava em Fortaleza participando do Intercom. Melhor experiência não há. Ano que vem vamos falar com a galera para ir viu? Pois tem uma cúpula que atenderá pelo nome de Pirarucu a nossa espera.

domingo, 16 de setembro de 2012

Medo e Delírio em Fortaleza - By Vinícius Waltzer

Encontrei meu companheiro de viagem já no aeroporto de Porto Alegre. O plano era atravessar o país, rumo ao Ceará, e participar do Intercom – o congresso anual de comunicação que reúne uns figurões da área acadêmica, alguns nerds e um bando de estudantes loucos por conhecer o maior número de pessoas possível. Pela lógica, meu parceiro, que chamo apenas de Professor, ficaria com o primeiro grupo, eu com o segundo e as gurias mais desejadas com o terceiro. Não que eu seja nerd, mas tenho um senso de responsabilidade que faz as pessoas me confundirem com um cdf, mesmo eu ficando aquém da inteligência da maioria deles.
Bom, mas o fato é que quando entrei naquele avião com destino ao outro extremo do mapa do Brasil eu estava bem mais interessado em antropologia do que teorias do jornalismo. Não digo que saí do Intercom sem aproveitar nada para a minha vida acadêmica, isso seria muita burrice minha. Fiz uma baita reflexão sobre jornalismo regional, por exemplo, que tem me ajudado a entender o papel do meu trabalho no estágio que faço no jornal. Mas o maior aprendizado ficou por conta da convivência com as pessoas que conhecí em Fortaleza. Sotaques, experiências e visões de mundo. São estas coisas, muito mais do que a palestra afudê do DaMatta, que fazem minha primeira viagem ao Nordeste inesquecível.
Já na chegada eu sabia que o Intercom seria um pano de fundo pra tudo que eu queria conhecer em uma semana. Desembarcamos mais de onze da noite de um sábado e não tínhamos nem o endereço do hostel, que o Professor tinha anotado errado. O bafo que vinha da rua já dava uma amostra do clima cearense. Liguei pra um amigo em Porto Alegre com acesso à internet e consegui dizer ao motorista do táxi para onde estávamos indo. Era o início da aventura. Medo e Delírio em Fortaleza.
O nosso trabalho falava de Jornalismo Gonzo. Não posso dizer que tenhamos chegado perto do que o Hunter Thompson fazia nas coberturas dele, mas certamente daria para escrever uma boa reportagem sobre as aventuras de três gaúchos no Ceará (não apresentei a Esther, grande amiga e colega que chegou no segundo dia e foi fundamental para o desenrolar dos acontecimentos).
O Professor, contrariando a lógica dos outros e seguindo a lógica dele, parecia estar em um filme… algo como (CENSURADO) ou “curtindo a vida adoidado”. A Esther se divertiu e divertiu tanto as pessoas que até agora escuto as risadas dela. E eu? Bom… eu reclamei do calor, comi bastante, dormi uma média de duas horas por noite e conheci as melhores pessoas que poderia ter conhecido. Estrangeiros de vários estados brasileiros e de alguns países menos tropicais. Dessa interação toda, algumas coisas podem ser contadas, outras não. Algumas porque estrapolam um pouco algumas regras, outras porque fazem muito sentido pra gente, e nenhum pra quem não viveu aquela semana de Intercom.
Vou contar uma mais leve, que certamente vai nos render risadas por um bom tempo. Estávamos em uma festa. O Professor não foi porque está velho e precisa dormir mais que os outros. E também porque senão a mulher dele mata ele e, talvez, a nós todos. Estávamos nessa festa, um pouco porque um colega nosso tinha tido problemas com um vagabundo na rua e um pouco porque eu deveria encontrar lá uma cearense muito bonita e simpática que me ajudaria, caso desse tudo errado e eu me perdesse. Mas o que não deu certo foi encontrar a guria. Admito que muito por incompetência minha. Estávamos nessa festa… eu, o colega que brigou com o vagabundo, a Esther e os amigos baianos que fizemos no hostel. De repente um maluco não muito atraente chama nossa gaúcha pra conversar. Eu já caí na risada na hora, menos porque ele era pouco atraente e mais porque queria ver se deixava minha colega sem graça.
Alguns minutos de conversa e a Esther volta com aquela gargalhada que a gente não sabe se é alegria ou um plano maquiavélico em curso. Ela estava salva das minhas piadinhas. O alvo do cara era um de nós. “Quero conhecer o teu amigo de cinza”, disse o tal magrão pouco atraente. Como vestiam cinza apenas eu, com esse meu corpo de pedir desculpas, e um baiano negro cheio de estilo que estava com a gente, ela supôs na hora que o alvo era o baiano. Não era. Eu não teria problema em conhecer um cearense, mas as intenções antropológicas dele eram menos acadêmicas que as minhas. “Não vai rolar, brou”.
Não sei em que circustâncias, mas a Esther foi falar com o colega e ele respondeu de uma maneira que ela achou meio grosseira. Dois segundos depois o sorriso divertido da Esther tinha virado um risinho maléfico. Ela chamou o cara pouco atraente e disse: “olha, meu amigo de cinza prefere mulheres, mas aquele ali (o outro colega) eu não sei. Dança perto dele e vê no que dá”. O colega é um cara gente boa e é claro que ele ia conversar com um cara que parasse do lado dele. Logo de cara ele se mostrou tri disposto a interagir com um “cearense da terra do Jardel”. Mesmo desavisado sobre os interesses do nosso companheiro de festa, o colega não demorou muito para demonstrar que não jogava no mesmo time dele. Poupou constrangimentos, mas também impediu mais motivos pra gente dar risadas. Daquela festa não teve muito mais que isso. Logo depois o colega sumiu, enquanto eu jogava sinuca e tentava compensar a falta de habilidade para dançar. Logo que percebi que ele tinha ido embora, procurei por alguns quarteirões e voltei pro hostel na esperança de encontrar ele já dormindo. Por que ainda penso uma coisa dessas? Ele não voltara para o quarto.
(Algumas pessoas são mesmo totalmente irresponsáveis consigo mesmas. Agem por impulso e aproveitam as coisas sem se preocupar com nada. Tento agir assim, às vezes, porque sei que é muito mais divertido. Essa é uma característica que faz do nosso colega um grande parceiro. Só é preciso tomar alguns cuidados para ele não ir preso ou ser apagado por algum vagabundo cearense que tenha jurado dar um tiro nele um dia antes.)
Mesmo sendo muito tarde e eu estando muito cansado, resolvi esperar mais um pouco e sair para procurar o desaparecido. Peguei no sono esperando. Um tempo depois ele me mandou uma mensagem codificada no celular, dizendo mais ou menos que estava bem, em uma pousada com outros congressistas. Eram cinco da manhã, no mínimo. Fui dormir. Acordei às sete, tomei banho, café e acho que já estava de papo com um pessoal do hostel quando o colega me ligou pra perguntar a senha do banco pra que ele pudesse pegar dinheiro pra um táxi. Encontrei ele com a cara mais deslavada do mundo, meia hora depois, subindo a escada que levava ao quarto onde ele passaria o resto do dia dormindo. Nessa hora eu prometi pra mim mesmo que escreveria contando a história e levantaria a possibilidade de ele ter sumido para conhecer melhor o tal do cara pouco atraente que encontramos na festa. Não recupera minhas horas de sono daquela noite, mas faz eu me sentir melhor.

Papicu, substantivo próprio - by Vitor Andrade

Soterópolis. Engarrafamento. Check in. Embarque. Desembarque. Check out. Ônibus. Táxi. Avião. Pouso. Repouso. Bagagem. Quarto. Cozinha. Café. Almoço. Janta. Pão. Chopp. Vinho. Roska. Tequila. Arriba. Abajo. Al Centro. Adentro. Berlândia. Água. Diversão. Versão. Perversão. Pedinte. Aborrecimento. Chatice. Noite. Madrugadas. Dia. Sol. Sol. Sol. Calor. Clima. Sono. Ânimo. Zuada. Risadas. Uno. Corta. CS Composto. Assassinatos. Detetives. Cidade Dorme. Cidade. Metrópole. Juiz de Fora. Pelotas. Santo Ângelo. Cassino. Vagoneta. Rio Grande. Rio de Janeiro. Madureira. Santo Antônio de Jesus. Amargosa. Sergipe. Recife. Manaus. Manauara. México. Mexicana. França. Francesinha. Argentina. Alemanha. Terra Luz. Albergue. Conhecidos. Desconhecidos. Anônimos. Famosos. “Amar. Malamar. Desamar.” Mar. Dragão do Mar. Praia. Futuro. Passado. Presente. União. Separação. Praia de Iracema. Mercado Central. Bixiga. Órbita. Fafy. Iracema. Alencar. Além-mar. Aquém-mar. Arrocha. Polca. Frevo. Samba. Reggae. Forró. Apertadinha. Adson. Alice. Amanda. Ana Paula. Andreia. Bia. Bruno. Camélia. Camila. Cáritas. Débora. Diana. Eduardo. Esther. Izamir. Jéssica. Joaci. Larissa. Letícia. Marcelo. Marília. Marilúcia. Meiry. Milton. Regiane. Rodrigo. Santiago. Seu Francisco. Socorro. Vinícius. Unifor. Da Matta. Mata. Edson. Malu. Marialva. Iluska. Cárlida. Esporte. Acerola. Newsmaking. Teoria. Prática. Política. TCC. Monografia. Ufba. Ufpel. UFJF. PUC. UFRJ. UFS. USP. Unesp. Comunicação. Jornalismo. Publicidade. Relações Públicas. Silêncio. Oxente. Bah. Thê. Daí. Capaz. Uai. “Mexmo”. Guri. Sotaques. Dialetos. Idiomas. Esperanto. Esperanças. Encontros. Desencontros. Culturas. Aprendizado. Amadurecimento. Sul. Norte. Leste. Oeste. Fortaleza. Intercom. 2012. Cúpula. Papicu. Colegas? Amigos. Uhu, Papicu!

sábado, 15 de setembro de 2012

Fragmentos intercomianos

Oxe, oxe, oxe, onde pega busão pra Papicu? Oxe, oxe, oxe, si, si, chato duma porra! O sol ta forte, eu não consigo dormir! Acorda aí gaúcho! Porra do caraí, deixa eu dormi! Bora pra praia! Bora pro congresso! Bora pro mercado! Oxe, oxe, oxe, si, si, Gardel? Claro que sé Gardel! Viu, ele conhece o Jardel! Não é Jardel, é Gardel, porra duma porra! Porra, você conhece o Jardel? Nunca ouvi falar! E você, bichinho, conhece o Jardel? Claro, Jardel, atacante, goleador aqui do Ceará! Aí, porra, achei alguém que conhece o Jardel! Oxe, oxe, oxe! Tudo isso acontece enquanto a cidade dorme. Nessa madrugada aconteceu um crime horrível e os pampas gaúchos nunca mais serão os mesmos! Oxe, oxe, oxe! O Rio de Janeiro continua lindo, mas, perdeu uma carioca depois de um assassinato em Copacabana. Oxe, oxe, oxe! A floresta amazônica nunca mais será a mesma depois dessa madrugada. Oxe, oxe, oxe! O pelourinho teve um abalo terrível enquanto a cidade dormia. E Guadalajara nunca mais terá a mesma tequila depois da perda que os mexicanos tiveram nessa noite! Não fui eu, juro, estava no Intercom! Foi ele! Eu? Porra, cacete do caralho, foi eu porra nenhuma, eu tava na cidade mais linda do mundo com as pessoas mais maravilhosas do mundo! Foi ela! Eu???
Eu estava andando de vagoneta na maior praia do mundo! Foi ele! Eu???? Eu estava tomando uma tequila com meus amigos nesse horário! Foi ela! Eu???? Não é possível, eu estava... eu estava... Ih, fudeu! Vai pra forca!!! Mais um inocente morto injustamente pela sociedade.... Bora pra praia do Cumbuco! Eu não tenho catrevagem, mas o carinha ali está cheio e é o rei da catrevagem! Com emoção ou sem emoção??? Sou cardíaco, com emoção porra nenhuma! Sete contra um, perdeu playboy! Bora pro buggy! Ahhhhhhhhhhhhhhh, caralho da porra, para com essa merda, cacete!!!!!!!!!! Ooooooooooooooooohhhhhhhhhhhhhh, vai virar, caralho, para com issooooooooooo! E de quem é esse jegue???? Quem deixou ele aqui????? Skibunda na prancha do Grêmio! Jardel deixou essa prancha aqui! Me vê uma água de coco. Ih, cacete, tá com gosto estranho! Toma aí? Ih, Dona Marta, a água do rapaz ta zebrada, troca por outra aí! Oxe, oxe, oxe! Falta muito pra Papicu? Bora faze uma foto em Papicu! Motora, eu pedi sem emoção, caralho! Bora passa no mercado compra pão, queijo e mortadela pra não gasta, que meu cartão foi pro saco! Para de canta, que seu Francisco ta na porta esperando e a vizinhança vai chama a polícia, porra! Bora tricolor! Queremos a copaaaa!!!! Passa em Papicu? A prainha fica pra que lado? É muito longe? É muito caro? Quanto vem nisso aí? Oxe, oxe, oxe. Eu to armado, passa os 10 reais aí! Eu baleei um caboclo ontem de noite! Grande merda, eu também! CRASHHHHHHHHH! Saí daqui porra! Tu ta marcado! Bora pra casa do seu Francisco! Que horas é teu vôo? Si, si! Oxe, oxe! Essa porra vai caí, nunca mais viajo de avião! Você é doido, ir pra Salvador de busão? Pra come acarajé com pimenta vale tudo. Ano que vem tem Manaus, mas não vou não, deixar pra 2014 em Foz do Iguaçu, que da pra ir de busão! Onde fica o Banrisul? O que é Banrisul? Não tem polícia nessa porra não? Eu recebo pra faze segurança na casa do bispo! Caralho! Onde, tu andava?? Ô, professô, o carinha desceu a ladeira atrás de ti, tava preocupado! Tava lá no outro hostel fazendo integração interestadual! O alemão de carro conversível e eu mexendo nos fusível, bybe quando você me deixou!!!! Bora pra França que aqui o alemão se consagrou! Sou atriz, posso roubar o alemão pra mim! Vai lá. Torcida em cima e... uhhhhhhhhhh! Na trave! O Brasil é campeão, ta todo mundo contente! Argentina? Ui, que nojo! Nojo? Argentina é só alegria! Festa no Ceará, festa em Pernambuco, integração Recife com a maior praia do mundo! E a cidade segue dormindo! Praia de Iracema. Mas e o Intercom? Ema, calor, suor, comunicação, jornalismo, história, antropologia, literatura, cibercultura, Nietzsche saiu pra passear e se encontrou com Hunter Thompson, que lhe convidou para um LSD em Papicu. Chega lá, já ta Marques de Melo com Traquina, Pulitzer, Morin, Freud, Maffesoli, Chatô, Claudio Abramo, Paulo Francis, meus professores Hohlfeldt e Juremir, Felipe Pena, Talese, Capote e mais dezenas de vivos e mortos jogando a cidade dorme, e nessa madrugada ocorreu mais um crime terrível e as missões nunca mais serão as mesmas, e eu já me levanto, xingando a porra da porra da porra da sociedade injusta que me condenou novamente, pego meu copo de cerveja e volto a me reunir com os outros mortos de Papicu: Marcelo, Vinícius, Esther, Vitor, Andreia, Diana, Santiago, Adson, Marília, Jô, Bruno, e mais uma porrada de gente que eu não lembro o nome ou não lembro mesmo porque eu sofro de descompasso memorial e esses são apenas alguns de tantos fragmentos intercomiais.
Oxe, oxe, oxe! Hasta la vista!

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Cúpula Papicu

Para uma crise de criatividade e produção, nada como um Intercom Nacional. Segue o texto que escrevi para a minha coluna no Jornal das Missões, ou seja, algo mais "moderado". Em breve, prometo publicar algo mais atrativo e mais gonzo, se é que isso é possível, inclusive, tentando explicar a origem do nome da referida cúpula...

Passei praticamente as duas últimas semanas no nordeste. Mais especificamente, em Fortaleza, no Ceará, terra do Jardel. Estive participando do encontro Intercom, que envolve acadêmicos, pesquisadores e profissionais da área da Comunicação Social no Brasil. Fiquei hospedado em um hostel, que é uma espécie de albergue sofisticado. Várias pessoas do Intercom ficaram lá. Formou-se uma cúpula com gente do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Amazonas, Minas Gerais, Sergipe, Argentina e México. A cúpula, que foi batizada de Cúpula Papicu, ainda recebeu convidados da França e Alemanha. Algo internacional, no bom sentido do termo.
O fato é que, quando eu disse que estávamos na terra do Jardel, as pessoas começaram a pensar que eu era louco e que o Jardel fosse um personagem imaginário criado a partir de alucinações causadas pelo forte calor cearense misturado com as poucas horas de sono. Como a cúpula era formada por comunicadores, eles foram à rua para checar a informação e, para meu espanto, os primeiros entrevistados diziam nunca ter ouvido falar do Jardel. Eu já estava me convencendo de que era um gaúcho lunático perdido em Fortaleza quando, em um restaurante, perguntamos para o garçom se ele conhecia o Jardel. Diante de tal questão, ele respondeu de bate-pronto: “claro, ele é daqui de Fortaleza! Jogou no Grêmio, no Palmeiras, em Portugal, no Vasco...”. Como a cúpula de Papicu é muito exigente e desconfiada, inicialmente suspeitaram que eu tinha subornado o tal garçom. Mas, depois, quando um morador de rua confirmou a existência do Jardel, inclusive mencionando o seu vício em cocaína, ficou provado que eu não era um gaúcho louco, mas sim, o Jardel realmente existiu.
Durante esse tempo todo, conheci toda essa gente, andei de skibunda e buggy pelas dunas de Fortaleza, ouvi uma palestra sensacional do Roberto Damatta, apresentei trabalho sobre Jornalismo Gonzo, conheci a praia de Iracema, o Dragão do Mar e a praia do Cumbuco, passei por Salvador, comi um acarajé, dei uma passadinha no Farol da Barra, assisti ao Bahia fazer 4 a 0 no Vasco no Rio, passei pelo próprio Rio, por Curitiba, por Porto Alegre, até chegar em Pelotas e, depois de tanto tempo e de tantas experiências, ao chegar em casa e checar a situação do campeonato brasileiro, descubro que nada mudou. Quando o Grêmio perdeu, o Inter também perdeu. E quando o Grêmio ganhou, o Inter empatou. Ou seja, o Inter segue longe do G-4, o Grêmio segue em 3° com folga em relação ao Vasco, e Fluminense e Atlético-MG seguem monopolizando a disputa pelo título. A impressão que eu tenho é que posso sair do país e voltar só no final do ano que vai estar tudo do mesmo jeito. Os quatro últimos seguem os mesmos, os quatro primeiros também, e a turma do não fede nem cheira continua no mesmo lugar. Esse é o nosso campeonato brasileiro por pontos corridos. Tão emocionante quanto uma corrida de tartarugas. Aplicar num país do tamanho do Brasil, que tem tantas diferenças, tantos sotaques, tantas peculiaridades, uma fórmula européia, que é válida para países menores do que o Rio Grande do Sul, é bem a cara dos brasileiros, que seguem achando que copiando irracionalmente os países desenvolvidos vai chegar a algum lugar melhor...
Enfim, acabou o espaço, portanto, um bom final de semana a todos, que domingo tem mais mesmices com Flamengo x Grêmio e Inter x Sport. O resultado desses jogos vai mudar alguma coisa na classificação, tanto quanto a classificação do Grêmio para a Libertadores vai alterar a sua seca de títulos...
Hasta
*Texto publicado no Jornal das Missões de sábado.