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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Papo cabeça com os mortos


Sexta-feira de Carnaval. Estou em casa, bebendo uma cerveja, conversando com os mortos, pegando conselhos para obter o tão almejado sucesso! Sei que para o conceito contemporâneo capitalista de sucesso não precisaria consultar os mortos, bastaria ligar para o Sílvio Santos, para o Vitor e Léo (não o Victor e o Léo do Grêmio), para a Malisa (ou Maísa?) ou para qualquer pessoa com alto poder midiatico (tipo o Arionzinho). No entanto, prefiro pegar conselhos com os mortos, tomando uma latinha de Skol.
Primeiro conversei com Nietzsche, que em alguns livros apresenta uma auto estima fora do comum, como no Ecce Homo, onde os títulos dos capítulos vão desde “porque eu escrevo tão bem” até “porque sou tão inteligente”. Durante a nossa conversa eu reclamei que muitas pessoas não lembram de coisas que para mim marcaram muito, mas ele me disse, bem-humorado, que essas pessoas são felizes, já que a vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez. De fato, ele tem razão, e cada vez que alguém faz uma jura de amor dizendo “você é único, você é o melhor que já tive”, essa falta de memória deve estar presente. A verdade é cruel, como ele mesmo já antecipava. Depois, eu contei de uma briguinha que tive certa vez com minha namorada, e ele contou que quando começou a terminar com uma mulher na qual teve um quase começo de relacionamento, ele a escreveu: “fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te”, e então, ele me disse uma frase que resume tudo: na vingança e no amor a mulher é mais bárbara do que o homem. Depois, perguntei para ele qual era a fórmula do sucesso, e ele me respondeu com apenas uma palavra: sofra. Então, eu o olhei seriamente, tomei o último gole de cerveja, e segui para a rua.
Vinha caminhando, quando encontrei um velho barrigudo sentado sozinho em uma mesa. Tratava-se de Charles Bukowski. Pedi para sentar-me na mesa dele, e então, ocorreu mais ou menos o seguinte diálogo:
- Vai se fuder – ele me disse.
Eu sentei,
- Olha Buk, li todos os seus livros que foram traduzidos para o português.
- Grande bosta.
- E queria um conselho seu.
- Ta bom, diga lá e vá embora.
- Que conselho você dá para quem quer ser escritor, de preferência famoso, como o senhor?
- Primeiro: senhor é a merda do teu cachorro. Segundo: escritor já nasce feito, não é conselho que vai resolver. E terceiro: para ser escritor deve se escrever como se estivesse mijando. Agora não amola e some da minha frente antes que eu chute esse teu rabo pra longe daqui.
- Olha aqui, seu velho babaca, eu vou embora sim. Mas antes vou fazer uma coisa.
E bebi a garrafa que ainda estava cheia em cima da mesa até o último gole. Ele me olhou, deu uma risada, e disse:
- Já é um bom começo...
Segui caminhando. Andei duas quadras, e então vi um cara com uma mochila nas costas pedindo carona em uma rua próximo da saída da cidade. Logo reconheci que era o bom e velho Keroac. Segui fazendo minha pesquisa, e perguntei-lhe qual era a fórmula do sucesso. Ele respondeu: “pé na estrada e foda-se o sucesso”. Um carro parou e lhe deu carona, e eu fiquei ali, comendo poeira.
Dei seqüência à minha sina e à mesopotânica busca do sucesso, da fama e da glória! Ia voltando em direção ao centro, quando vi em outra mesa um senhor calvo, de cabelos brancos, fazendo uns rabiscos em um papel amassado, à lápis. Aproximei-me, ele levantou seus olhos serenamente, e com sotaque carioca perguntou:
- O quê você quer, garoto?
- A fórmula do sucesso.
- Fórmula do sucesso? Escuta, para ser famoso eu escrevi Garota de Ipanema, casei nove vezes e fui amigo do whisky durante anos. Pergunte a ele a dita fórmula – e me estendeu um copo de whisky. Tomei um gole, que me queimou o estômago. Ele riu. – Ainda falta muito para você, garoto.
Só porque seu nome é Vinícius, seu sobrenome é Moraes, ele acha que sabe tudo, resmunguei. Mas que nada, continuei caminhando. Topei com um senhor de idade, ar sério e tímido. Um dos caras que conheço melhor, pensei ao vê-lo. Tratava-se do tema da minha dissertação de mestrado: Erico Verissimo. Esse cara vai ter que me dizer a fórmula do sucesso. É praticamente meu conterrâneo, não vai me negar nenhuma informação, calculei.
- Ei, Erico! – gritei, com ar bestial. Ele parou e fez um sinal como se dissesse “digaí”. – Eu sou quase teu conterrâneo, sou de Santo Ângelo, mas meu pai é de Cruz Alta, assim como o senhor. Você também é o tema da minha dissertação de mestrado e eu já li 92,4% dos teus livros. Você pode me responder uma pergunta?
- Aham.
- Qual é a fórmula do sucesso?
Ele coçou o queixo, pensou por um instante, e me olhou com ar grave e respondeu:
- Eu, ao contrário de muitos, casei com a Mafalda, vivi com ela até o fim da minha vida, e tive a Clarissa e o Luis Fernando. Então, mande para o diabo o sucesso que o resto você já sabe.
- Obrigado. Muito obrigado – respondi servilmente, e saí de mansinho, sem saber o que fazer.
Ia pensando nas sábias palavras do Erico, quando quase me bati com um jovem, que xingava uma prostituta na porta de um cabaré, dizendo que não a amava mais. Eu o reconheci e aproveitei que ele estava nervoso para perguntar de cara:
- Ei, John. Qual é a fórmula do sucesso?
- Pergunte ao pó! – respondeu-me, irritado.
O velho e bom John Fante continua o mesmo, pensei.
Vinha andando, refletindo sobre todas as respostas, tentando montar uma fórmula infalível para me tornar famoso, ficar rico, entrar para a história da humanidade como um grande pensador, quando vi um dos maiores amigos que já tive nesses 27 anos de vida e que proporcionou as melhores conversas cabeça em mesas de bar. O Aranha. Assim que o vi, berrei:
- Aranha!
- Ritter!
- E aí!
- E aí! Estou na corrida, mas é bom te ver.
- Então não vou tomar muito o seu tempo. Estou fazendo uma pesquisa para saber a fórmula do sucesso. Você sabe alguma coisa sobre isso?
- Não faço a mínima idéia! – e soltou a sua sonora e característica gargalhada, antes de se despedir.
Segui caminhando, animado por ter encontrado o Aranha, e vi um sujeito super magro, fumando no cordão de uma calçada. Caio Fernando Abreu.
- Caio! Hoje é o meu dia de sorte!
Ele me olhou como se dissesse: “quem é esse louco?”.
- Queria te perguntar uma coisa – tratei de falar, antes que ele me mandasse para o inferno por interromper os seus pensamentos – qual é a fórmula do sucesso?
- Não ser hipócrita.
Anotei mentalmente o seu conselho. Em outro barzinho, ouvi uma música que vinha de dentro, perguntando “que país é esse?”. Era o Renato Russo cantando no karaoquê, observado pelo Cazuza. Senti-me intimidado para interromper os caras num momento de pura diversão. No entanto, o Cazuza me viu e disse:
- Chega aí! Toma umas e vamos cantar!
Eu fiquei meio acanhado, e acabei perguntando sem pensar:
- Coéafórmuladosucesso?
- Hã?
- A fórmula aquela, do sucesso, sabe? Coé?
- Ah. A fórmula do sucesso? É super simples: dormir e um dia nascer feliz.
O Renato Russo ouviu, e acabou interrompendo, falando no microfone:
- Não mente pro cara não. Para obter o sucesso é preciso deixar para trás todo o marasmo da fazenda só para sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu...
E então, ele seguiu cantando Faroeste Caboclo, e a galera foi a loucura. Acabei saindo de fininho...
Caminhava entre as pessoas que andavam animadamente pela calçada, cantando e pulando, felizes por estarem vivendo mais um carnaval, enquanto eu estava ali, desolado e feliz por não ter encontrado nem a sombra da resposta para a minha investigação... E agora estou aqui, revivendo essas conversas vivas que tive com os mortos...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Melhor do que você pensa


Bom, nunca gostei de reproduzir aqui textos ou letras de músicas conhecidas (gosto mais de indicar as leituras, e não reproduzi-las), mas enfim, dessa vez abrirei uma exceção e coloco aqui a letra de uma música do Tequila Baby que diz tudo o que eu penso, ou, como diz a letra da música, melhor do que você pensa.




Quanto tempo faz
que você chegou
Aonde foi, não tinha telefone
Com alguém que não, se importa em te dar
Tudo o que você quer...
Nunca importou
o que eu fiz por você
nunca pude ser quem você quer
nunca confiei que alguma vez você acreditou em mim...
Eu não quero mais ouvir falar, você teve sua chance
usando tudo que quis...
Me matando como você faz, não vai mudar
Eu sempre soube como acalmar você
e não pode negar...
Me matando como você faz, eu sei...
Melhor do que você pensa aaaa...
eu sei... Melhor do que você pensa aaaa...
eu sei... Melhor do que você pensa...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Dica de filme e de pensamento


Acabei de ver um filme que deveria ser visto por 100% dos moradores dessa nobre terra tupiniquim: Sicko $O$ Saúde, documentário do Michael Moore.
Cara, quando você termina de ver esse filme você fica com a impressão "não sei porquê, mas acho que nasci no país errado". Não por eu me achar demais para o Brasil, mas é que, porra, o nosso país não passa de um projeto de Estados Unidos subsenvolvido. O Moore mostra muita coisa que acontece nos Estados Unidos que os brasileiros tentam fazer o mesmo, pelo menos no discurso (leia-se: políticos e grandes empresários que adotam um discurso que prega exatamente o oposto do que fazem na prática). Mas enfim, para vocês entenderem tudo, é só assistindo o filme mesmo.
Resumidamente, ele faz uma denúncia da máfia dos planos de saúde americanos que fazem de tudo para recusar os pedidos de procedimentos médicos, excluindo a necessidade do atendimento e visando unicamente o lucro, inclusive, dando bônus para os médicos que recusarem mais pedidos de atendimento. Então, ele mostra o discurso dos políticos e da mídia (ou melhor, dos políticos usando a mídia como microfone e fazendo terrorismo na população), além de muitos casos sinistros e dramáticos (chorei, inclusive), e depois ele apresenta o contraponto da questão, apresentando os sistemas de saúde pública do Canadá, Inglaterra, França e Cuba, onde a população recebe atendimento gratuito e de primeira linha.
Inclusive, um dos argumentos utilizados pelos proprietários das empresas de planos de saúde americanas é que a valorização dos médicos iria decair muito caso o governo assumisse o sistema de saúde. Porém, Moore mostra um médico de Londres, que trabalha para o governo, obviamente, e mora numa casa de R$1 milhão de dólares! Como se isso não fosse suficiente, em Londres (o Fábio que corrija o Moore se ele estiver errado) tem um caixa para auxiliar os pacientes que não tem condições de pagarem o transporte de volta para casa! E na França, o pessoal chama o médico (do governo) em casa para atender até uma gripe! Tu vês! E por fim, ele leva um grupo de americanos que ficaram doentes trabalhando no resgate das vítimas do 11 de setembro, e que não tem plano de saúde, para serem atendidos em Cuba! Bom, os pormenores vou deixar para vocês assistirem, mas que deu vontade de sair correndo desse país para um desses outros quatro mencionados pelo Moore, ah, isso deu!
Bom, não me xinguem por contar esses trechos, porque esse também não é o final do filme. Mas outro ponto interessante é quando um americano que mora em Paris compara os dois sistemas dizendo mais ou menos o seguinte: "na França o governo tem medo da população, enquanto nos Estados Unidos a população tem medo do governo, e o governo americano não tem interesse de mudar a educação do seu povo porque sabe o que isso causaria". Já um inglês diz que se mudassem esse sistema de atendimento gratuito, certamente haveria uma revolução na Inglaterra.
Porra, é por isso que eu sempre digo que enquanto não derem textos, filmes, áudios, seja lá o que for, com conteúdo crítico para as crianças e adolescentes isso não vai mudar nunca. E como sei que num país onde nem os adultos são alfabetizados criticamente, onde se valoriza mais a roupa nova de marca do que o livro que se leu na semana passada, não tem como mudar, não acredito que isso um dia deixe de ser assim. Aliás, creio mais na chegada do apocalípse do que em ver o fim desse sistema que impera tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. E viva la revolución!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Um gole de felicidade

O copo de whisky que seguro na mão
era para conter o antídoto da alegria
no entanto
as lágrimas que transformaram
o seu gosto forte
em um toque de lamúria e nostalgia
que deixam meu corpo
nesse estado febril
e faz me sentir
cada vez mais só
longe de todos, fazendo com que
eu deseje não ser mais
essa pessoa que sempre sonhou
em não estar nem aí
para o sofrimento dos infelizes
que insistem em amar e
beber cada vez mais
na busca incessante
da felicidade
utópica
e alucinógena
como o whisky
que está no copo
que levo a boca
para sorrir
mais uma vez

Eu maleio, tu maleias, ele maleia...


Acabei de servir um copo de champagne Glamur em um copo de cerveja e agora estou olhando para aquela bunda arregaçada da capa do livro O Sofá, do Crébillon Fils, que estou penando para acabar de ler. Estou na página 215, o que significa que faltam 38 páginas para acabá-lo. No entanto, não estou nem um pouco a fim de falar sobre O Sofá. Estou ouvindo Perfeição, do Legião, "vamos celebrar a estupidez de quem cantou essa canção...", e ao mesmo penso sobre o que é amor e sobre as censuras que sofro, que me impedem de divagar sobre um monte de coisas e principalmente de certos seres vivos.
Sentei aqui com a seguinte interrogação na minha cabeça (além do que é o amor e das inquietudes da censura): será que as pessoas malas, sabem que são malas, ou elas nem desconfiam que 99% das outras pessoas as consideram malas? Também não vou ficar aqui divagando aqui sobre o que é um mala, já que todo mundo conhece ao menos um. Enfim, estava me perguntando se os malas sabem que são malas, contudo, não posso citar nenhum exemplo direto, já que isso resultaria censura e pessoas rezando para que meu cachorro me morda e me transmita raiva, ou que o mosquito da febre amarela me pique.
Agora, não que quem lê o meu blog possa ser mala, eu sei que nenhum leitorinho tupiniquim do meu blog é mala, mas todos os leitorinhos tem línguas poderosas, que podem levar esses textos até os olhos de um mala nominado. Entrementes, ninguém se sinta ofendido, até porque eu tenho consciência que às vezes sou bem malinha, inclusive, mais de uma vez algumas pessoas me disseram que eu sou gente boa somente quando estou dormindo...
É que (o champagne Glamur, podichique, está começando a fazer efeito) o problema, a meu ver, não é a pessoa ser mala. Todo mundo é um pouco mala, ou passa por momentos de malês. O problema, como ia dizendo, é quando a pessoa é muito, mas muito mala. Quando tudo o que ela faz é malear. E para malear há diversos significados: reclamar; resmungar; achar alguém para colocar a culpa; falar mal dos outros nas costas, e na frente ser completamente falso; ficar pedindo coisa para os outros, ao invés de levantar o rabo gordo e a própria mala ir fazer ou buscar o que precisa; se provalecer da boa vontade alheia; ficar agorando que aquilo que você mais tem esperança vai dar errado, enfim, ser um legítimo estraga-prazer e tagalera mal-humorado.
Todavia, como disse antes, todo mundo tem recaídas e faz uma dessas coisas às vezes, mas o problema é quando a (s) criantura (s) faz (em) isso o tempo inteiro! Não tem quem aguente. Isso me leva a loucura de tal forma que agora estou escrevendo sobre o ato de malear para desabafar, entendem? É quase como um grito de gol. O prazer só é maior quando a gente não aguenta mais, não encontrando argumentos para a pessoa parar de malear, e explode dizendo: "mas tu é mala, heim?". Cara, como faz bem dizer isso para um mala. É um quase orgasmo, dá para se dizer. Depois que você diz isso a um legítimo mala, ele pode até ficar brabo, beiçudo, falar mal de você, mas nada vai tirar a leveza que vai tomar conta de você. Eu disse NADA!
PS: acabei com o Glamur e se eu não aparecer com textos novos em cinco dias é possível que eu tenha sido assassinado (não pelos malas, mas pela dona do champagne).

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A primeira vez a gente nunca esquece

Ontem, dia 12 de fevereiro de 2009, aos 27 anos de idade, comi pela primeira vez em um rodízio de pizza. Pizza sem ovo, é lógico. Como contei outra vez, eu já havia comido pizzas em pizzarias, várias vezes, inclusive. Mas sempre quando íamos comer pizza em lugares onde a massa é sem ovo, nunca havia rodízio. Ou, se havia, optavamos por uma pizza média ou grande de três sabores. Sem graça isso de escolher três sabores fixos.
Mas dessa vez não. Eu, que sempre comia batatinha frita, arroz, feijão, bife e saborosas folhas verdes de alface, enquanto os outros enchiam o bucho de pizza e diziam: “nossa, esta aqui está uma delícia, mas estou esperando vir a de calabresa”, dessa vez pude olhar orgulhosamente para os garçons que passavam com as suas bandejas exuberantes e cheias de pizza e dizer: “essa sim, por favor” ou “não, obrigado, estou esperando a quatro (ou seria seis?) queijos”. Foi um prazer fazer isso. Esperei minha vida toda por esse momento. É o ápice do pequeno poder!
Mas agora, aqui, em frente ao computador, enquanto relembro as caras e olhares invejosos vindos das outras mesas, que me olhavam escolher decididamente cada pedaço de pizza, penso nas diferenças entre a luxúria de um rodízio e a simplicidade de um não-rodízio.
Pensem comigo: caso você escolhe uma pizza, digamos, grande. Você define três sabores e só come aqueles três sabores a noite toda. No rodízio não. Não, não, mil vezes não! No rodízio, a cada passada do garçon, você tem o poder de decidir se você quer ou não quer aquele sabor. Com isso, descobri que você também não pode pegar todos os sabores que o garçon oferece. É muito comum. Que graça tem você ir num rodízio e aceitar tudo que o garçom lhe traz? Não pode.
Ontem, às vezes estava comendo um pedaço e o garçon trazia uma pizza que, no fundo, eu até queria, mas tinha que manter a postura de um bom frequentador de rodízios e respondia: “não, obrigado, vou esperar mais um pouco”. A frase tinha que sair ao natural, com ar de patrão que não está nem aí, para ficar natural. Imagina se um daqueles garçons ou daquelas pessoas invejosas que estavam ao redor soubessem que aquela era a minha primeira vez? Iriam zombar de mim, certamente. Por isso é importante a pose. “Essa portuguesa está uma beleza”, comentei em voz alta, dando ênfase na rima. Até poesia se pode fazer em um rodízio!! Vejam vocês...
Enfim, é por isso que sempre digo que há uma inesgotável fonte de coisas deliciosas para descobrirmos nessa breve vida. E depois dessa experiência inesquecível, agora posso dizer com sinceridade que sou um homem mais feliz, experiente e que aprecia os pequenos e saborosos prazeres da vida.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Reconstituindo o passado Hare Krishna (entrevista exclusiva!)

Bom, estava escrevendo o último post, quando comecei a falar com minha amiga Simone Conforto, do Rio de Janeiro. A nossa história é sinistra, apesar de que eu não lembrava direito. Resumindo, eu recordava que a tinha conhecido no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em 2005, e na semana seguinte, ao acaso, a reencontrei no carnaval no Rio de Janeiro. Só que, como vocês verão na entrevista que se segue, foi na Lapa, e não em Santa Teresa, como achava que tinha sido. Enfim, apresento aqui a Simone, que segue morando no Rio, e que me ajudou muito a reconstituir mais uma parte do meu passado que estava perdida em alguma latinha de cerveja qualquer durante aquelas duas semanas de folia na capital carioca:
Pouco antes da entrevista:
Posso te pedir um favor antes de começar?
O quê?
Tipo, sem parecer chato, mas já sendo, dá para tentar escrever sem as abreviações da internet, para facilitar a edição?
Escrevo mal pra caralho, mas vou tentar.
Vamos lá então!
A entrevista:
Nome?

Simone Ferreira Conforto
Profissão?
Fonoaudióloga e professora de surdos.
Idade?
36. Sempre minto.
Como conheceu esse que vos escreve?
Na beira do rio Guaíba. Num dia do Fórum Social Mundial.
Como foi?
Estávamos todos conversando com um russo, que contava histórias do seu país. A beira do rio.
E?
Ficamos conversando, falando de yoga, de caminhos de meditação... Ele nos vendeu um livreto de Hare Krishna.
Caraca, eu achava que tinha memória, mas você me ganhou!
Viu???
E o russo falava junto? Como entendíamos o russo?
Ele falava português.
Caraca!
Mal pra caramba, mas nos entendíamos. Pois no Fórum se fala todas as línguas possíveis...
E eu comprei o livro também? Tô começando a lembrar disso...
Eu sei disso tudo, porque eu comprei o livreto e o meu namorado era aí do Sul e ele me fez uma dedicatória.
Então quer dizer que nos conhecemos através do russo?
Foi.
Tu vês. E você tava com a turma que veio de excursão, do Circo Voador?
Isso, estávamos nos despedindo.
Nossa.
Eu ia ficar.
É mesmo. Nós ficamos dando tchau pro pessoal dos ônibus.
Pois não tinha carona.
Que côsa.
Isso foi muito engraçado. Horas se despedido do Fórum. Todos muito emocionados pelas histórias de vida, palestras, cultura, trocas...
Caraca, eu lembro do Mineiro, que levou uma ZH que saiu uma nota dele, e depois no Rio ele me deu um monte de melzinho da Lapa no carnaval.
Isso!!!
Tu conhece o Mineiro?
Ele é meu amigo.
Deixa eu ver... daqueles, eu ainda tenho contato com o Vinicius Longo.
Claro!! O Mineiro vende mel na Lapa!
O Tarso sumiu também, e a Cinthia tinha ido pra Bahia a última vez que falei com ela.
O Tarso era amigo de um ex-namorado meu. O Vinicius faz o que?
Caraca, a entrevista é contigo. Depois a gente fala disso...Então, voltemos às perguntas e à tentativa de reconstituir o meu passado... Quê lembrança você tem desse que vos escreve, lá do Fórum?
Que você me fez companhia quando eu estava lá sozinha, esperando o Marco.
Claro, aí ele chegou.
Daí ele chegou.
Lembrei agora.
E ficamos conversando com o tal russo.
Aliás, o que aconteceu com vocês: casaram, brigaram, tiveram filhos?
Lembra?
To começando a lembrar.
Chamei ele pra vir pro rio. A gente sempre se escreveu bastante. Nos falamos sempre no orkut.
O Marcos ou o russo?
O Marcos.
E o russo?
O russo me mandou um email.
Sério?
Sobre alguma coisa naquela época. Acho que foi que viria pro Rio de Janeiro.
Tu vês.
Mas não nos encontramos mais.
Mas e a historia com o Marcos? como ficou?
Nos falamos no telefone, no orkut, cartas lindas de a mor, mas depois a distância, as pessoas, a vida nos distanciou... Mas foi legal enquanto durou... Mandei ovinhos da Páscoa, presentes...
Legal. Eu não curto muito ovos, mas ele deve ter curtido... Mas voltemos no tempo novamente...
Porque ele tem duas filhas. Ta.
E depois, no carnaval, como nos encontramos?
Daí, um dia, lembro do dia, pois foi um dia especial, lembra?
Claro! Mas contaí..
Era o dia que começava o carnaval no Rio. Não oficialmente. O dia que todos os blocos se encontraram na Lapa. Estava lindo dia, eu voltava da praia e estava rosa o pôr do sol na Lapa. Os blocos, céu na terra, cordão do boitatá, as pessoas bonitas, coloridas, cheias de luz...
Caraca, que memória!
Eu estava feliz!! Alto astral!!
Uhuullll!! Hare Krishna!
Daí encontrei com você no meio dos arcos da lapa. Lembra?
Nos arcos?? Caramba, eu jurava que tinha sido no morro de Santa Teresa...
Então eu falei: você por aqui??? Você não é de Porto Alegre? Daí, demorou pra você me reconhecer naquela confusão... Gente, blocos,uma luz especial, acho que depois nos encontramos em outro lugar... Daí não lembro bem.
Sim, depois acho que foi em Santa Teresa!
Talvez seja em Santa.
Ou foi noutro dia, sei lá. Então, eu fui pra lá e fiquei até o sábado depois do carnaval, lá na casa do Vinicius, em Bonsucesso.
O fato é que foi mágico né??
Foi hare krishna. Por falar nisso, você continua mística?
Eu?? Desse papo todo, comecei a fazer yoga.
Tu vês.
Já fazia meditação taoista, budista e agora faço yoga que me faz muito bem. Adoro musica mantras...
Tu vês, aquele russo mudou a tua vida...
Mas eu sou uma comunista tântrica. Se é que isto existe!!! Adoro Che Guevara. Adoro a guerrilha, a luta de classes. Filha de comunista...
E viva lá revolución! Tu vês. E o russo sumiu?
Pois é, ele me escreveu dizendo que estava pra vir com a namorada. Algo assim, mas não veio. Quem veio foi você!!! Que história! Isso pare e até um pagode russo...
É mesmo.
E assim, mais uma parte do meu passado perdido foi reconstituída, graças a ajuda da mística Simone. Gracias pela entrevista, muchacha!

Carta ao leitor


Olá, nobres leitorinhos tupiniquins. Sei que estou sumido, mas continuo em estado zen. E, além disso, é como comentei em outro texto, parece que quanto mais coisas temos para fazer, mais inspiração a gente têm, e quanto mais parado a gente fica, menos dá vontade de escrever. É mais ou menos isso que está acontecendo comigo: estou esperando começarem as aulas do mestrado, trabalhando em ritmo desacelerado, namorando e lendo o Sofá, que aliás, parece que deu uma travada, mas continua bom (estou na página cento e 70 e alguma coisa).
Também estou fazendo o inglês, mas praticamente acabou, e está light agora. Portanto, sem muitas coisas acontecendo e sem muita inspiração não tenho muito para contar nem para comentar por enquanto. Estou mais é projetando a ida para Porto Alegre mesmo, olhando as matérias que irei fazer, me programando para os congressos e talecoisa.
Já olhei até as tabelas do Gauchão, do Brasileiro e da Libertadores para ver que jogos poderei assistir. Sem contar que no dia 1° de abril deve ter jogo da seleção no Beira-Rio, e quero estar lá.
Achei o tema para o próximo post... Até daqui a pouco!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Minha super manuxa!

Uma rapidinha:
Eu disse antes que a pessoa que me conhece melhor é a minha irmã. Por mais que ela me odeie e não queira que eu more com ela, que brigue comigo por eu não baixar a tampa do vaso, que me xingue por roncar, ela é a única pessoa que REALMENTE me olha e sabe exatamente o que estou pensando. Se estou brabo, ela pergunta “o que foi?”, se estou feliz da vida, ela também pergunta “que foi?”, se estou quieto ela pergunta outra vez “que foi?” e se estou em dúvida entre fazer uma coisa ou outra ela pergunta mais uma vez “o que foi????”.
Você deve estar achando que assim fica fácil de me conhecer, não é? Mas aí que vocês, nobres leitorinhos, se enganam. Ela pergunta “o que foi” e então eu invento alguma coisa qualquer, e então ela responde “mentira, aposto que aconteceu isso, isso, isso e isso”. E ela sempre, eu disse SEMPRE acerta.
Agora abro um parêntese para contar o que meu primo Vinícius acaba de comentar no MSN, e que vai deixar minha irmã fula. Eu mandei o link do último texto e sabe o que ele comentou, Cartolina? Ele disse: “que massa, tu entrevistou o Mazarpi!”. Calma, Cartolina!
Enfim, como sempre todo mundo diz: existem, no máximo, meia dúzia de pessoas em que podemos confiar, e juntamente com meus pais e meu outro irmão, o Fábio, a Cartolina com certeza é uma das primeiras dessa lista. Mas não fica se achando que se tu me tocar do apartamento chamo a RBS pra fazer uma matéria: “jornalista é expulso de casa pela irmã assistente social (e mestranda) e vai morar no Arroio do Dilúvio!”. Já pensou?

Lua cheia, vida boa...

Todo mundo que me conhece, ou a maioria (exceto a minha irmã, que é disparada a pessoa que me conhece melhor) me considera calmo. Ou pelo menos é o que me dizem. Mas agora, nesses últimos, sei lá, dois dias, tenho andado zen ao extremo. Não sei porquê isso aconteceu. Até aquelas coisas pequenas (como por exemplo, o despertador me acordando de manhã), que me irritavam antes, não estão mais me incomodando. Sei lá se é porque finalmente está arraigada em mim, definitivamente, a idéia de que a partir de março finalmente estarei morando em Porto Alegre, após uns 13 anos tentando ir para lá.
Pois bem, vamos começar do princípio. Primeiro, em 1996, meu pai foi para lá transferido pelo BB (não é BBB, é BB mesmo). Era a minha esperança, na época. Meu sonho era ver todos os jogos do Grêmio no Olímpico. Minto. Meu sonho maior ainda era jogar no Grêmio, já que estava com 15 anos. Está bem, está bem, quem já me viu jogar vai pensar “no Grêmio? Por que não no Barcelona ou no Milan, onde joga o seu amigo Kaká?”. Mas é que meu coração falaria mais alto. Não sou mercenário, sou um burro romântico que adora histórias épicas. No entanto, no final das contas, o pai ficou um ano lá e voltou morar em Santo Ângelo. Esse, inclusive, foi o ano em que repeti no colégio, e meu castigo foi não ir ver a final do Brasileirão entre Grêmio e Portuguesa. O pior castigo que já recebi na minha vida. E para piorar, ainda tive que ver esse jogo na desértica Meia Praia (SC), e o Grêmio ganhou com aquele gol do Aílton aos 40 do segundo tempo e aquela porra daquela cidade estava deserta e não tinha nem como sair para comemorar. Um castigo e tanto, esse que o meu pai me deu. Pior foi ver a RBS de Santa Catarina no outro dia, mostrando notícias locais, e nada do meu Grêmio. Talvez por isso eu tenha começado a estudar feito um louco depois disso, até conseguir a bolsa do mestrado.
Como diriam os paulistas: ENTÃO, de 1996 para cá eu tentei ir para lá várias vezes, mas passemos para o lendário ano 2000 (tu vês, o mundo não acabou). Minha idéia era conseguir qualquer emprego lá, para começar a estudar depois. Nada. O máximo que consegui foi emprego num daqueles anúncios “vendedor externo” e saí com uma mochilinha oferecendo radinhos de pilha, brinquedos do Paraguai e o diabo a quatro de porta em porta. Durou uma semana, mas só consegui vender um radinho porque um cara conseguiu conecta-lo no celular para ouvir as conversas telefônicas dos outros no aparelho (não me perguntem como). Não precisei ser demitido, eu mesmo pedi para sair.
Depois, comecei a faculdade na Unijuí. Em 2005, a pior de todas as dúvidas. Faltando um semestre para me formar, fui chamado para fazer estágio na assessoria de imprensa do Inter. Lembro-me como se fosse hoje: estava sentado na frente do kitnet, conversando com o Beck, quando tocou o celular. Dessa vez não era estágio voluntário, era estágio de verdade, com salário e tudo. Podixique. Porém, tive que optar: ou me formava ou transferia para alguma universidade de Porto Alegre e lavaria mais uns dois anos para terminar, já que se trancasse na Unijuí, não poderia fazer o estágio, pois estar cursando jornalismo era uma das exigências. Tive que dizer um doloroso “não”.
Acabei me formando, e então passei na seleção de mestrado da Unisinos para a turma de 2007. Sem bolsa. Tive que dizer outro “não”. Acabei indo para Porto Alegre meses depois para fazer um estágio de experiência na Rádio Gaúcha que, como já disse, foi ótimo, mas para me sustentar trabalhava de dia como vendedor de empréstimo pessoal para aposentados. Mó viagem, como também já contei nesse mesmo espaço em algum lugar do passado.
E agora, em 2009, 13 anos depois da primeira tentativa de ir para Porto Alegre, consegui a tão sonhada bolsa.
Contudo, se me perguntarem por que tanta vontade de ir para a capital do Estado, bom, eu digo que inicialmente foi pelo Grêmio, mas depois acabou se tornando por tudo: mercado de trabalho que dá mais visibilidade, opções para lazer (inclusive gratuitas) como peças de teatro, cinema, eventos e tudo mais, e além disso, sendo jornalista, se torna melhor ainda, porque posso fazer boas entrevistas para vocês, nobres leitorinhos tupiniquins! E no meu caso específico, um mestrado na PUC ou na Unisinos tem um puta reconhecimento em qualquer lugar do país!
Porém, isso não significa que eu não goste de Santo Ângelo, Ijuí, Cruz Alta e a região toda. Muito pelo contrário! Eu adoro! Vou carregar tudo o que aprendi aqui pelo resto da vida e, inclusive, a tendência é que eu volte para o interior em breve (mesmo sem ser essa a idéia).
Para encerrar, lembrando de tudo que passei nesses 13 anos, das amizades que fiz (inclusive em Porto Alegre), dos planos feitos nas mesas de bar na faculdade (que saudades do Aranha!), dos jogos que vi do Grêmio na Libertadores, da passagem rápida pela Gaúcha, enfim, de tudo, e olhando uma capa de caderno onde estão dois pares de pés descansando em uma água transparente em que em cima está escrito “No Stress”, eu penso: estou em alfa, e ninguém vai me tirar desse estado! A não ser o maldito cachorrinho que não para de latir lá no portão! Vou lá aquietar ele...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A Arte de xingar o Arion(zinho) - parte 1.448

Li hoje uma notícia na Ilustrada da Folha que aquele programa da Rede Record da troca de famílias chegou aos 19 pontos esses dias, assumindo a segunda posição no Ibope, e tirando pontos preciosos da Rede Globo, que na hora exibia o Big Brother Brasil. Bom, agora o que vocês acham que a Globo vai fazer para recuperar a audiência do BBB? Apelar, ora pois. Muito sexo, sacanagem, traições, fofocas e intrigas, é óbvio. Eu não assisto essa birosca, mas já sei o que vai acontecer. E o pior de tudo: funciona. Impressionante como a massa é previsível. Quanto pior a sacanagem, mais o público fica lá que não pisca. Esses dias (não vou citar nomes de novo, porque essa eu tenho a mais absoluta certeza de que serei censurado) chegamos de uma janta e fomos contar para uma pessoa como tinha sido a janta, as histórias engraçadas e tudo mais. Mas o nosso ouvinte ficou me olhando seriamente, sem dizer nada, até que enfim, quando terminamos de contar tudo, ele me olhou e disse gravemente: “Dudu, saí da frente que eu to vendo o Big Brother”.
Cara, isso foi pior do que ser xingado. Na boa. E o pior é que não sofri por mim, por ter sido ignorado, mas sofri por aquela pobre alma, vendida para a Rede Globo.
Mas voltando a questão da audiência, como os meus últimos textos também registraram uma baixa audiência (inclusive críticas) resolvi apelar e fazer aquilo que o povo gosta e dizer aquilo que a massa quer ouvir: xingar o Arion.
Ou seja, como sabiam estrategicamente os grandes líderes imperialistas, vamos dar para as massas o que elas querem por um tempo, e aos poucos vamos impregnando a nossa doutrina, colocando a nossa ideologia por trás daquilo que ela quer ver. Ou apenas damos o que elas querem para não deixar que prestem atenção nas falcatruas que acontecem. Como diria o Bukowski: o povo não consegue prestar atenção em duas coisas ao mesmo tempo. Apesar de ter consciência disso, meu objetivo aqui não é doutrinar ninguém, só faço isso (escrever) como terapia para ficar menos louco, mas enfim, darei a massa o que ela quer: xingarei o Arion.
Inclusive, tomei essa difícil decisão depois de ouvir o meu primo Santro Si(n)vello dizer supersinceramente que meus textos estão muitos chatos e que não está dando mais para agüentar. Inclusive, ele ameaçou trocar o meu blog pelo do BBB no site da Globo, ora já se viu.
Pois bem, vamos lá. O Arion não passa de um cagalhão, comedor de capim, um energumero, um hipócrita, maldito, maléfico, nigromante, um merda, mentecapto, idiota, otário, jegue, bocó, boca aberta, um animal de pata, estúpido, anão de jardim, vagabundo, vadio, samoco, bobalhão, mongó, jumento, anta gorda, um salafrário, sem vergonha, mau caráter, diabo das taquara e tudo mais de ruim. Como forma de interagir com os leitorinhos, convido a todos a xingarem o Arion duas vezes ao dia, uma depois do almoço e uma antes de dormir para manterem a boa qualidade de vida. Inclusive o próprio Arion pode se xingar na frente do espelho, que nele o efeito positivista será redobrado.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Tragédia Real - O Retorno

Cenário: Céu
A rainha, a prima, o rei, o súdito e o motorista se encontram em meio às nuvens. Entre uma tossida e outra, o rei e a rainha se enxergam. Eles correm um em direção ao outro, até que se abraçam e se beijam, perguntando: “você está bem, meu amor?”. O súdito e a prima da rainha então, vão tirar satisfação do casal real, querendo saber que história era aquela de “meu amor”, já que ambos garantiam aos seus respectivos amantes que se mantinham juntos apenas para manter a aparência e a autoridade sobre o povoado, mas que não existia mais amor entre eles.
Então, quando o rei e a rainha ouvem o que a prima e o súdito dizem, eles começam a brigar. O céu vira uma falação só, até que entra um senhor de barba branca com uma bengala. Ele pára em frente deles, até que se irrita com aquela balburdia e berra para que todos fiquem quietos. É o motorista, que até então não tinha aberto a boca, quem toma coragem e questiona:
- Quem é o senhor?
- Eu sou o São Pedro. Inclusive, estava tentando consertar aquela bosta de encanação, que está inundando de forma desproporcional as diferentes partes do mundo, mas vocês só fazem merda lá embaixo, que acho que não tem mais jeito. Estou ficando louco com isso. Quando arrumo de um lado, dá vazamento em outro. Já em outro canto tento ligar, e não sai água nenhuma. E para piorar, Ele ainda saiu de férias e me deixou como responsável para distribuir os que entrarão em vosso reino e os que serão mandados lá para baixo.
Os cinco que ouviam São Pedro se olham, apavorados. Nenhum tinha moral para entrar no paraíso. São Pedro, porém, parece bastante confuso, principalmente porque ainda lamentava a derrota do São Paulo para o Santo André pelo Paulistão. Depois de seis meses, até o seu time do coração estava começando a dar problemas.
Um tanto atordoado, São Pedro acaba analisando as fichas dos cinco defuntos, passa os olhos rapidamente em todas elas, olha para aquelas caras de bestas em sua frente, e resolve simplificar:
- Olha, eu não tenho tempo a perder, enquanto estou aqui conversando com vocês, mais um temporal está devastando uma região do Brasil. Entrem todo mundo, só não vão fazer merda, senão mando vocês todos lá para baixo.
E São Pedro volta para o conserto das nuvens, que seguem derramando muita água em alguns lugares, e pouca em outros.
O tempo passa, e quando Ele volta das férias, encontra um Open Bar e todo mundo bêbado, tomando todos os tipos de bebidas alcoólicas possíveis. Antes de mandar pararem com aquela bagunça, a rainha empurra Ele, que caí sentado em uma cadeira. Ela monta em seu colo, e faz lembra-lo dos prazeres que Ele mesmo havia inventado, e que nem sabia o quanto era bom. Então, Ele resolve investir no ramo de bebidas, e a partir disso, todos os donos de bares estão indo para o céu, que conta com um lugar cativo para o inventor da cerveja. Após esses sucessivos imprevistos, Ele não teve mais tempo para se preocupar com as gazelas do mundo, mas, por consideração a espécie, colocou o seu cachorro Godofredo para vigiar os seus habitantes.

The End (Letrinhas)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Tragédia Real

Cenário:
Um castelo inglês do século XVII.
Súdito se acorda ao lado da rainha, e, espreguiçando-se, após soltar um longo bocejo, cutuca-a e diz:
- Está na hora de vossa alteza voltar para o castelo. Alguns amigos meus estão chegando para o café...
A rainha se acorda, olha aquela criatura gigante com ar bestial ao seu lado, passa os olhos pelo quarto, vê o quadro dela com o rei e o príncipe pendurado em frente à cama, olha de novo para o súdito, que não para de olhar com um sorriso bobo no rosto, e responde:
- Eu estou no meu castelo. É você quem deve voltar para o lugar de onde veio.
*
Enquanto isso, o rei se desloca em uma carruagem com a prima da rainha, trocando afagos e carícias sufocantes, enquanto ele tenta achar algum buraco por aquela roupa toda para sentir as partes quentes daquele corpo escultural. Após algum trabalho, ele o encontra, e a carruagem começa a balançar fortemente, dando muito trabalho para o motorista e os cavalos.
*
O súdito, que nas horas de folga fazia bico como bobo da corte, deixa o quarto discretamente, mas esquece a ceroula ao pé da cama. Ao vê-la, a rainha sai rapidamente para o corredor, e enquanto caminha, ofegante, encontra uma lavadeira. Ela ordena: “Quero que lavem essa ceroula e descubram quem é o seu dono a qualquer custo! Quero saber onde ele mora e com quem. E rápido!”. A lavadeira murmura um “sim senhora” e segue rumo a lavanderia do castelo com a cabeça baixa, como se pedisse desculpas por existir.
*
O rei e a prima da rainha seguem se amando, e o ardor e prazer são tantos que eles não se controlam e, aquilo que começou com sussurros e gemidos baixos, acaba se tornando gritos, que deixam os cavalos assustados, e eles passam a correr mais rápidos, não dando ouvidos aos comandos do motorista.
*
A rainha volta para o quarto, ainda um tanto atordoada. Ela abre a janela, mas nesse momento, um arqueiro atrapalhado que estava treinando no pátio do castelo erra o alvo e acaba acertando a testa da rainha, que cai dura e pálida em seu quarto, para nunca mais acordar.
*
Na estrada, logo após passar Hull, rumo a Londres, no momento em que o rei dá o seu urro final de prazer, a carruagem vira e todos caem barranco abaixo, capotando por pelo menos 30 metros, e apenas três horas depois um viajante avista o acidente e, reconhecendo a carruagem real, vai buscar socorro. Apenas os cavalos sobrevivem.

The End
(Letrinhas)

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Falando da porra toda categoricamente


Faz alguns dias que recuperei a minha inspiração de leitor, e terminei o Solo, do Juremir Machado da Silva, e comecei a ler O Sofá, do Crébillon Fils. Para ser mais exato, estou na página 62 da versão publicada pela LPM/Pocket. Como contei quando comprei essa obra na Feira do Livro de Porto Alegre, o romance trata-se de um cara que é condenado a reencarnar sucessivas vezes em diferentes sofás, onde ele acompanha de perto as falcatruas, hipocrisias e traições que acontecem em todos os tipos de ambientes e que, se não fosse ele, não seriam testemunhadas por ninguém. No resumo, diz ainda que ele só conquistaria a liberdade quando um casal realmente apaixonado o usasse para fazer isso mesmo que você está pensando.
Nas 62 páginas que li até o momento, só encontrei histórias que seriam impossíveis de serem contadas de outra forma, se não da feita pelo próprio Crébillon. E o mais interessante de tudo, é que O sofá foi publicado em 1742. Lendo ele agora, lembro de algumas conversas que tive recentemente com diversos amigos, relatando os mais variados e fantasiosos casos envolvendo mulheres casadas, namoradas, noivas, enfim, comprometidas, que traem os seus respectivos de todas as formas imagináveis. “Está cada vez pior”, diz um. “Agora está parelho. Os homens traem, elas também traem”, repetem outros. “É o fim dos tempos”, diz um apocalíptico. E, fora isso, seguidamente esse assunto também é abordado por revistas femininas e masculinas de todos os tipos. Porém, todavia, contudo, lendo O Sofá, é fácil perceber que esse assunto não é nada novo, e que não é de agora que “o mundo está perdido”. Eu já tinha pensado e percebido isso em outras oportunidades, lendo outros livros, inclusive, no Tempo e o Vento, do Erico Verissimo, onde todas as gerações mais velhas se queixam dos hábitos e da “falta de modos e de caráter” dos mais novos. Mas dessa vez achei tão genial a colocação do Crébillon, que não me contentei e acabei vindo aqui, escrever para vocês, leitorinhos tupiniquins desse humilde blog, acessado diariamente por milhões de leitores desse Universo gigante. O trecho que reproduzo aqui do Sofá, é apenas uma pequena mostra, já que no livro cada parágrafo tem frases filosóficas e situações que te deixam pensando sobre a vida por alguns segundos, minutos ou horas, o que quer dizer que sugiro para que você leia todo o livro. Acho até que vou mandar um e-mail para a LPM cobrando pela propaganda... mas, enfim, o livro é do carajo mesmo.
Agora chega de enrolação e aí vai a frase (volto a repetir, publicada em 1742):
“Depois que Brama pronunciou a sua sentença, ele próprio transportou a minha alma para um sofá que um operário ia entregar a uma mulher de categoria, que passava por ser extramente bem comportada; mas se é verdade que há poucos heróis para as pessoas que os vêem de perto, posso dizer também que, para os seus sofás, existem muito poucas mulheres virtuosas”.
E isso não é nada! Vocês têm que ver as histórias que o cara conta de mulheres traindo os maridos com escravos, homens da corte e o diabo a quatro. Claro que os homens traídos também traem as mulheres e nem escondem isso. Mas o fato é que ele conta essa porra toda sem usar palavrões. Um negócio realmente impressionante.
Agora, vejam esse outro trecho (tudo bem, ia ser só um, mas não resisti, tem outro que é imperdível) quando a mãe da personagem Amine (uma mulher que dava para todos na esperança de que algum dos seus homens a tirasse da miséria) resolve se intrometer e aconselhar a jovem.
Porém, antes de continuar, quero lembrar que caso isso fosse dito nos dias de hoje, seria mais ou menos assim: “Guria, tu ta sendo muito burra! Ta dando pra todo mundo de graça, os caras te comem, te prometem um monte de coisa e não te dão nada. Começa a cobrar pelo troço todo, porra! Larga de ser burra!”. Agora, veja só como essa mesma frase foi escrita em 1742, com muito mais estilo do que essa atual, óbvio:
“Quão pouco a amizade deles foi útil, minha filha! – dizia-lhe ela. – Assim, é mesmo culpa sua! Por mil vezes já vos disse, nascestes muito doce. Ou vos dais por pura indolência, o que é um grande vício; ou, o que não vos vale mais e vos deu grandes ridículos, ficais fantasiando. Não digo que não nos satisfaçamos algumas vezes. Deus me livre! Mas não é preciso se sacrificar de tal forma aos seus prazeres, que se negligencie a sua fortuna. (...) Quando se sabe que uma moça tem o infeliz hábito de se dar algumas vezes por nada, todo mundo acredita ser feito para tê-la ao mesmo preço ou, pelo menos, barato”.
Tu vês. E isso que eu estou apenas na página 62, e são 253 páginas. Aliás, sobre essas questões de sexo, traição, comportamento de gênero e tudo mais, ainda quero separar as principais frases do Bukowski abordando esses assuntos e postar aqui, ou em qualquer lugar. Vendo tantas histórias desse tipo acontecendo em tudo que é lugar hoje em dia, e vendo que isso sempre aconteceu e foi relatado desde os primórdios, só posso considerar o velho Buk como o pai da Filosofia. Ainda quero cumprir essa minha promessa, antes que eu seja transformado em um sofá... Ou na barata do Kafka. Ou em qualquer outra coisa metamorfosicamente metamorfósica.