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domingo, 1 de fevereiro de 2009

Falando da porra toda categoricamente


Faz alguns dias que recuperei a minha inspiração de leitor, e terminei o Solo, do Juremir Machado da Silva, e comecei a ler O Sofá, do Crébillon Fils. Para ser mais exato, estou na página 62 da versão publicada pela LPM/Pocket. Como contei quando comprei essa obra na Feira do Livro de Porto Alegre, o romance trata-se de um cara que é condenado a reencarnar sucessivas vezes em diferentes sofás, onde ele acompanha de perto as falcatruas, hipocrisias e traições que acontecem em todos os tipos de ambientes e que, se não fosse ele, não seriam testemunhadas por ninguém. No resumo, diz ainda que ele só conquistaria a liberdade quando um casal realmente apaixonado o usasse para fazer isso mesmo que você está pensando.
Nas 62 páginas que li até o momento, só encontrei histórias que seriam impossíveis de serem contadas de outra forma, se não da feita pelo próprio Crébillon. E o mais interessante de tudo, é que O sofá foi publicado em 1742. Lendo ele agora, lembro de algumas conversas que tive recentemente com diversos amigos, relatando os mais variados e fantasiosos casos envolvendo mulheres casadas, namoradas, noivas, enfim, comprometidas, que traem os seus respectivos de todas as formas imagináveis. “Está cada vez pior”, diz um. “Agora está parelho. Os homens traem, elas também traem”, repetem outros. “É o fim dos tempos”, diz um apocalíptico. E, fora isso, seguidamente esse assunto também é abordado por revistas femininas e masculinas de todos os tipos. Porém, todavia, contudo, lendo O Sofá, é fácil perceber que esse assunto não é nada novo, e que não é de agora que “o mundo está perdido”. Eu já tinha pensado e percebido isso em outras oportunidades, lendo outros livros, inclusive, no Tempo e o Vento, do Erico Verissimo, onde todas as gerações mais velhas se queixam dos hábitos e da “falta de modos e de caráter” dos mais novos. Mas dessa vez achei tão genial a colocação do Crébillon, que não me contentei e acabei vindo aqui, escrever para vocês, leitorinhos tupiniquins desse humilde blog, acessado diariamente por milhões de leitores desse Universo gigante. O trecho que reproduzo aqui do Sofá, é apenas uma pequena mostra, já que no livro cada parágrafo tem frases filosóficas e situações que te deixam pensando sobre a vida por alguns segundos, minutos ou horas, o que quer dizer que sugiro para que você leia todo o livro. Acho até que vou mandar um e-mail para a LPM cobrando pela propaganda... mas, enfim, o livro é do carajo mesmo.
Agora chega de enrolação e aí vai a frase (volto a repetir, publicada em 1742):
“Depois que Brama pronunciou a sua sentença, ele próprio transportou a minha alma para um sofá que um operário ia entregar a uma mulher de categoria, que passava por ser extramente bem comportada; mas se é verdade que há poucos heróis para as pessoas que os vêem de perto, posso dizer também que, para os seus sofás, existem muito poucas mulheres virtuosas”.
E isso não é nada! Vocês têm que ver as histórias que o cara conta de mulheres traindo os maridos com escravos, homens da corte e o diabo a quatro. Claro que os homens traídos também traem as mulheres e nem escondem isso. Mas o fato é que ele conta essa porra toda sem usar palavrões. Um negócio realmente impressionante.
Agora, vejam esse outro trecho (tudo bem, ia ser só um, mas não resisti, tem outro que é imperdível) quando a mãe da personagem Amine (uma mulher que dava para todos na esperança de que algum dos seus homens a tirasse da miséria) resolve se intrometer e aconselhar a jovem.
Porém, antes de continuar, quero lembrar que caso isso fosse dito nos dias de hoje, seria mais ou menos assim: “Guria, tu ta sendo muito burra! Ta dando pra todo mundo de graça, os caras te comem, te prometem um monte de coisa e não te dão nada. Começa a cobrar pelo troço todo, porra! Larga de ser burra!”. Agora, veja só como essa mesma frase foi escrita em 1742, com muito mais estilo do que essa atual, óbvio:
“Quão pouco a amizade deles foi útil, minha filha! – dizia-lhe ela. – Assim, é mesmo culpa sua! Por mil vezes já vos disse, nascestes muito doce. Ou vos dais por pura indolência, o que é um grande vício; ou, o que não vos vale mais e vos deu grandes ridículos, ficais fantasiando. Não digo que não nos satisfaçamos algumas vezes. Deus me livre! Mas não é preciso se sacrificar de tal forma aos seus prazeres, que se negligencie a sua fortuna. (...) Quando se sabe que uma moça tem o infeliz hábito de se dar algumas vezes por nada, todo mundo acredita ser feito para tê-la ao mesmo preço ou, pelo menos, barato”.
Tu vês. E isso que eu estou apenas na página 62, e são 253 páginas. Aliás, sobre essas questões de sexo, traição, comportamento de gênero e tudo mais, ainda quero separar as principais frases do Bukowski abordando esses assuntos e postar aqui, ou em qualquer lugar. Vendo tantas histórias desse tipo acontecendo em tudo que é lugar hoje em dia, e vendo que isso sempre aconteceu e foi relatado desde os primórdios, só posso considerar o velho Buk como o pai da Filosofia. Ainda quero cumprir essa minha promessa, antes que eu seja transformado em um sofá... Ou na barata do Kafka. Ou em qualquer outra coisa metamorfosicamente metamorfósica.

3 Comentários:

  • tu escreveu o q tu leu pra mim...pq me fez ter dois trabalhos? te ouvir e te ler? mas bom manuxoo, viu tu eh mto bonzinho...e acredita no amorr... mas como diria a tia leila... o amor eh uma florzinha roxa que nasce no coração dos trouxas

    Por Blogger Carolina, às 1 de fevereiro de 2009 às 19:03  

  • caro eduardo!!
    valeu!!
    adorei gosto muito qdo vc recomenda textos e livros pois assim, a gente aprende e discute sobre amor,sexo, almas e...sofás.
    já li bukowiski e adoro,,, so falta ler os sofás...
    bjossssss

    Por Blogger sissa, às 22 de março de 2009 às 18:54  

  • Cheguei aqui procurando um resumo do livro no Google, porque a linguagem do livro às vezes torna a leitura muito cansativa pra mim, mas depois desse post animado decidi continuar, estou quase no final mesmo. Acho que meu problema é justamente com essa história longuíssima da Zulica, porque eu não entendi o que se passa com o Mazulhim. Uma hora pensei que ele tivesse broxado ou gozado precocemente, não sei, só sei que as mulheres reclamam de algo nele que não consigo entender o que é e assim é torturante seguir a história.

    Por Blogger Unknown, às 26 de novembro de 2013 às 15:54  

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