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sábado, 25 de agosto de 2012

Piração

Lembro-me que, quando terminei minha monografia de graduação e fiz meu projeto experimental (naquele tempo tinha que fazer os dois, não tinha essa barbada de escolher um ou outro) deixei o emprego para ficar seis meses concluindo as três disciplinas que ainda faltavam para me formar e fazendo a monografia e o projeto experimental (que no meu caso, foi um livro-reportagem, que um dia, se eu tiver tempo, paciência e dinheiro, ainda será publicado). Além, claro, do artigo acadêmico abordando e justificando o meu projeto experimental. Lembro que não foi fácil, mas consegui.
Isso foi no primeiro semestre de 2006. Eu estava no ápice dos meus 24 anos. Alguns anos depois, em 2010, após fazer um ano de disciplinas do mestrado, reservei um ano da minha vida para escrever a minha dissertação de mestrado. Claro, irônico leitor, eu não fiz a dissertação em um ano. Na verdade, já tinha adiantado muita coisa um ano antes de entrar no mestrado e mais um tanto durante o primeiro ano. Mas esse um ano que dediquei exclusivamente à dissertação foi para sentar e escrever, do início ao fim, usando tudo aquilo que eu tinha levantado nos últimos anos de estudos (pois minha monografia também tinha sido sobre jornalismo e literatura – Erico Verissimo). Também não foi fácil, mas também consegui.
Mas agora, em 2011, estou tendo que usar toda a minha capacidade mental para começar a escrever a minha tese de doutorado e, acreditem, não é brincadeira. Você joga em seu texto o máximo de si, usa o máximo do teu repertório lingüístico, explanatório, acadêmico e não-acadêmico, enfim, joga ali dentro toda a sua massa cinzenta e, mesmo assim, quando você termina uma página, ou até mesmo um parágrafo, você se sente completamente sugado. Se está calor, você está suando. Fica nervoso. Fica pensando se colocou o que você queria da maneira correta. Fica imaginando as mil possíveis retaliações que você irá receber da sua banca de qualificação e, depois de tanto pensar, você conclui que não tem como saber o que a sua banca de qualificação vai pensar e dizer a respeito. Então, você respira fundo, como a Hortência fazia antes de cobrar um lance livre, e segue em frente. De vez em quando, a coisa deslancha, e você escreve muito. Hoje, por exemplo, bati um recorde. Escrevi oito páginas trabalhando o dia inteiro. Parei, porque chega uma hora que a coisa não anda mais. Ou você para, ou o seu cérebro para e você fica meio dã, sacam?
Tenho uma coisa para dizer para você, sarcástico leitor, isso não é para os fracos. Isso não é para quem quer ficar rico (que geralmente esses, são os mais fracos). Isso não é para quem quer ficar mais inteligente. Isso também não é para quem não tem o que fazer. Quem quer ficar rico, que vá virar político ou que fique juntando da maneira mais avarenta possível o que sobra do salário todo o fim de mês. Quem quer ficar mais inteligente que, antes de tudo, assuma que não sabe nada e comece a ler tudo o que ver pela frente (de matemática e física à filosofia e literatura geral). E quem não tem o que fazer que vá plantar mandioca. Isso é para os fortes. Isso é para quem tem paciência, para quem tem insanidade (e um pouquinho de sanidade) e para quem tem colhões, e dos grandes.
Então, estúpido leitor, antes de você sair por aí dizendo que eu não faço nada ou “só” estudo (além de dar aula, claro), pense duas vezes, senão eu vou tirar os teus testículos pela boca e enfiar eles dentro do seu ânus. E pode crer, inocente leitor, que eu NÃO estou brincando, entendido?
Ah, e só para esclarecer, não estou estressado nem paranóico. É só um cansaço passageiro após mais um dia de trabalho.
Hasta la vista! Fui!

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Eu e minha figurinha

O nesse momento! Fui!!!! Que o fim virou começo, enquanto o Lobão canta: “Quem é que vai pagar por isso?????”. Contecend. cÉ inacredi tável, mas estou escrevendo essas palavras com a Larissa no meu colo, tentando mexer no mouse, enquanto observa, atentamente o barulho do teclado. Enquanto ela não clicar lá no fechar, está bom. Ddtydtvtjh68 b mjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjj.
Agora ela escreveu essas letras aí de cima e agora está brigando pra desligar as caixinhas de som que estão tocando Lobão. Conseguiu. Acabou de me olhar, como se perguntasse: “não vai brigar não?”. Agora está ligando e desligando. Achou uma distração, por isso estou conseguindo escrever. Ela aperta, desliga. Fica silêncio. Ela fica olhando a caixinha. Aperta de novo, liga. Faz som. E então ela desliga novamente. E assim segue.
Agora a aventura está mais perigosa. Ela descobriu os botões do monitor e está tentando apertar todos, um por um. Voltou para o mouse. Acho que ainda vou perder esse texto..oiiiiiiiii3 cvx bgfgvccvvvvv b v
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Não tem condições. Não sei o que ela fez que a flechinha virou uma lupa. Voltou para a caixinha de som. Ela fez aparecer um monte de coisa aqui, e enquanto eu dizia “não”, ela gritava “paaaaiaaaaa!”. E agora ela desliga o som, me olha e dá risada. Liga, me olha e começa a dançar Lobão. É uma figura. Amo demais essa guria! Se fico um dia sem vê-la, parece que faz um mês, e fico maluco de saudades. Está tentando apertar o botão que desliga o monitor, mas não consegue. Já é meia noite e meia. Ela dormiu três horas, das seis às nove, e agora está a mil por hora. Começou a ligar e desligar a caixinha de forma alucinada. Acho que vai estragá-la. Não para um minuto. Acho que vou sair daqui antes que eu definitivamente perca esse texto. Voltemos ao Fofão, sua nova paixão. Pois é, comprei o DVD do Balão Mágico nos camelôs e ela adora o Fofão. Ontem, dormindo, ela chamava “Fofão! Fofão!”. Enfim, acho que vou lá no quarto ligar o Fofão, o que provavelmente vai interromper o sono da mãe dela. Mas, como diria o Juremir Machado da Silva, faz parte do jogo.
Ela está tentando descer do colo pra brincar com a cadela. Os periquitos estão dromindo. Pegou meu relógico com uma mão e um CD com outra e está cantando alguma coisa como Patati ou Galinha Pintatinha. Agora botou o mouse em cima do CD e está clicando sem parar no troço. É incrível como ainda consigo continuar escrevendo. Acho que nenhum escritor escreveu algo com alguém tentando detê-lo como está a

sábado, 11 de agosto de 2012

Prata sem colhões

Hoje de manhã, eu até ignorei o fato da seleção olímpica estar cheia de colorados, como Damião, Oscar e Sandro, e, com o objetivo de meter no rabo da Globo, até torci para o Brasil ser campeão. Era mais ou menos como naqueles desenhos animados, que tem um diabinho e um anjinho tentando convencer a sua consciência de que decisão tomar. O diabinho dizia: “torça contra o Brasil, assim você poderá cantar Inter Cagão, pois essa seleção está cheia de colorados”. E o anjinho patriota dizia: “torça para o Brasil, assim o Galvão Bueno e a Globo vão levar no cu e não vão encher o saco em 2016 forçando campanha para o primeiro ouro olímpico em casa – tem coisa mais clichê que essa merda? - ARGHT!”. Optei por dar ouvido ao anjinho, e torci pelo Brasil.
Mal deu tempo de ligar bem o cérebro, às 11 da madrugada, e os xicanos já faziam 1 a 0. Enquanto eu olhava o jogo, pensava: “putaquepariu, que seleção mais ruim!”. E a gente que, tempos atrás, reclamava de Ronaldo Gordo, de Romário, de Rivaldo, de Kaká, de Djalminha, de Edmundo, de Túlio, de Robinho, etc! E agora, o que temos? Uma zaga que leva bafão de Honduras e México, um ataque que não consegue virar um jogo, enfim, um time desorganizado sem nenhum jogador brilhante – sequer um pseudocraque. Esse time (que se abrir para ao acima de 23 anos também não tem muita opção) está no mesmo nível da seleção angolana!
Cada vez mais me convenço de que Neymar e Damião devem seguir o caminho de Oscar se querem chegar a algum lugar pela seleção: a Europa. Só assim eles vão se acostumar com grandes jogos, contra as melhores defesas do mundo. Uma coisa é estraçalhar um jogo contra a defesa do Náutico, do Botafogo ou de qualquer time brasileiro. Outra é pegar os melhores zagueiros do mundo nos campeonatos alemão, inglês, espanhol, italiano, etc. Enfim, deu no que deu.
A única coisa que sei é que, provavelmente, não teremos maracanaço em 2014, pois desse jeito sequer chegaremos à final. Esse é um time fraco e sem colhões. Ninguém lamentou demais no grupo a perda da medalha de ouro. Para eles, essa foi só mais uma etapa na luta por uma vaga na seleção da Copa de 2014, como se 2014 já estivesse ganho!
Bom, possivelmente eu não terei muitos motivos futebolísticos para lamentar se eu estiver longe do Brasil na Copa de 2014. Do jeito que a coisa vai, até a seleção norte-americana tem mais chances que o Brasil daqui a dois anos.
Hasta!

sábado, 4 de agosto de 2012

Fóia papai

Minha guria está cada vez mais esperta. Sei, você vai pensar que todo o pai diz isso de seu filho/filha, porém, não tenho como não me surpreender e babar a cada dia. E, se todos os pais são felizes ao ver seus filhos crescerem e aprenderem coisas (principalmente artes) novas, que bom!
Gorinha há pouco ela foi para o quarto e ficou lá, quietinha. Então, passaram-se 30 segundos (o que é uma eternidade para ela ficar sozinha no quarto, pois em meio segundo ela põe tudo de pernas pro ar) e, quando entrei lá, pé ante pé, vi que estava atrás da porta mexendo nas pantufas de cachorrinho que ela ganhou. Ao me ver ela disse “no papai”, levantou-se, me pegou firmemente pelo dedo indicador com seus cinco dedinhos, e foi me puxando para o lado de fora do quarto dizendo “fóia papai, fóia papai”. Fiquei olhando para ela com cara de Garfield, mas obedeci e fiquei observando ela fechar a porta do quarto na minha cara. Isso com um ano e 8 meses!
Tudo bem, a super Nany vai achar isso o absurdo dos absurdos, vai dizer “VOCÊ DEVE MOSTRAR PARA ELA QUE QUEM MANDA É VOCÊ! NÃO PODE PERMITIR ELA TE COLOCAR PARA FORA DO SEU PRÓPRIO QUARTO NESSA IDADE!”. Ok, ok, teoricamente até concordo, entretanto, vendo aquela carinha de arteira com os olhos grandes e escuros te olhando e dizendo “fóia papai” fica impossível resistir.
Outro fenômeno, que não lembro se já comentei aqui ou não (se já comentei, não faz diferença, pois meu um leitor e meio é tolerante), enfim, outro fenômeno que observo é quando saio com a minha pequena pelas ruas lotadas do centro de Pelotas. Passam uns caras com cara de mau, com cara de gângster, com cara de velho ou velha rabugenta que não ri há décadas, entretanto, todos, eu disse TODOS, ao verem a minha pequenininha andando abrem um sorrisinho, nem que seja de canto, e suspiram, alegres por ver uma coisinha tão fofinha se movimentado sozinha pelas ruas em meio à multidão.
Tudo bem, nobre leitor, para você não pensar que eu sou um babaovo cego, admito que, vezemquando ela está a 50.000.000.000 km/h e eu acabo cansando e, vezemquando, ela faz uma birra que me tira do sério, mas é a lei da natureza, eu fazia isso com meus pais, meus pais faziam com meus avós, ela faz comigo, e meus netos farão com ela, e assim por diante... Tem vez que ela pede pra ver o Patati. Eu ponho o Patati e ela chora pedindo a Xuxa. Então, coloco a Xuxa e ela chora pedindo o Pocoyó. Eu ponho o Pocoyó e ela pede o Patati de novo. E assim sucessivamente, até que eu piro e desligo a TV e, então, ela chora mais ainda, como fazia sua tia Cartolina em 1900 e antigamente, que eu acho que ouvem até no Paquistão.
Mas a graça está toda aí. Quando eu fico um dia sem ver ela, parece que faz uma semana. E se eu fico sem ver uma semana, parece que faz um mês. A cada dia ela aprende uma coisa nova. E eu aprendo outras mil com ela, every day.
Ah, e pra completar, arranjaram um cachorro. Ou melhor, uma cadela, que se chama Jolie, em homenagem a Angeline. A Lari chama o bicho de “Noni”. Porém, quando deixamos ela pegar a “Noni”, a Lari vira a Felícia, e não dá para deixar muito tempo elas juntas... Enfim, agora eu tenho mulher, filha, enteada, duas periquitas (no bom sentido) e uma cadela. Estou tentando convencer essa mulherada toda a largar de mão a idéia de comprar um hamster... ou seria uma hamster?
Hasta!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Cartas na rua

“Cartas na rua” é o título do primeiro romance escrito pelo velho safado Charles Bukowski narrando a vida no submundo de Los Angeles dos anos 1970, quando ele trabalhava como carteiro, e gastava as migalhas que ganhava com bebidas e mulheres. Mas não é a esse livro que faço referência nesse texto, e sim, às cartas mesmo, essas, de papel que você manda (ou mandava) pelo correio.
Pesquisando sobre a vida de outro norte-americano, o jornalista Hunter Thompson, encontrei uma infinidade de livros biográficos em inglês (pra variar, nenhum em português) e vários deles formados a partir de correspondência do jornalista com amigos, inimigos, editores, leitores, políticos, etc. Tem um, que é uma relíquia que pretendo adquirir num futuro próximo, que tem quase 800 páginas só de correspondência dos últimos 10 anos da vida do escritor (que morreu em 2005). Fiquei me questionando: e se fosse hoje? Como recuperar a correspondência de alguém, se hoje a correspondência é toda eletrônica?
O tempo passa e, quanto mais passa, mais velho fico e mais velho me acho. Às vezes me sinto um vovô explicando para os mais novos que “no meu tempo” eu me correspondia por carta com os primos que moravam longe. Lembro que uma vez escrevi uma carta indignada para a Revista Placar, reclamando que eles não davam espaço para os times do sul. Passou-se um mês e recebi uma longa carta do Juca Kfuri, que era o editor na época, explicando como funcionava a linha editorial da revista. Mal ele sabia que o leitor indignado, que ele tratava por Senhor Eduardo, era um guri de 12 anos cheio de espinhas na cara. Outra vez, quando o Felipão foi para o Palmeiras pela primeira vez, fiquei enfurecido pela “traição”. Não tive dúvidas, peguei o endereço do Palmeiras no meu álbum de figurinha e mandei uma longa carta dizendo o quanto eu estava decepcionado pela sua ida para o Parque Antarctica, que na época era o grande rival do Grêmio no cenário nacional. Além disso, troquei correspondência com as coisinhas fofas que eu conhecia no veraneio, na praia, mesmo sabendo que nunca mais as veria. Enfim, bons tempos...
Mas o que quero dizer é que hoje a carta (conhecida por email) se banalizou. As pessoas não gostam do que escrevo aqui e resolvem mandar um e-mail falando qualquer coisa, pois isso não dá nenhum trabalho. Não precisa mais sentar, pensar, escrever por vários minutos, quiçá horas, deslocar-se até o correio e botar a carta para receber uma resposta, quando muito, uma semana depois. Ou seja, a correspondência, que no passado tinha um puta valor simbólico, banalizou-se.
Essa mesma banalização se tem hoje, na Libertadores. “No meu tempo” só ia para a Libertadores o campeão da Copa do Brasil e o campeão Brasileiro. Não tinha essa barbada de vice ou de terceiro colocado se classificar. Naquele tempo, pra ser campeão da América tinha que ser o melhor do seu país. Mas, como os tempos mudam, e nem sempre para melhor, vamos torcer para a dupla ganhar dos seus adversários nesse final de semana para lutar pelo 3° e 4° lugar, que é o que nos resta.
Hasta! Um bom final de semana a todos.

*Texto publicado no J Missões de amanhã.