.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Picaretagem e analfabetismo funcional & futebolístico

Sinto-me um picareta fazendo isso, mas é o jeito. Novamente vou publicar aqui o texto que vai sair na minha coluna no Jornal das Missões de sábado, mas realmente estou sem tempo de escrever um texto inédito e exclusivo para o blog. Estou trabalhando, trabalhando e trabalhando. Minha dissertação e meu orientador estão no meu bico. Tenho que achar tempo para ler e escrever academicamente, mas trabalhando das 10h às 21h praticamente sem parar, chego em casa só com vontade de dormir, ver TV, jogar vídeo-game, ir para um boteco tomar umas, e coisas do gênero. Enfim, chega de explicações e segue o texto:

Tenho me preocupado com a capacidade cognitiva dos seres humanos, em especial, dos brasileiros. Falando de forma bastante simplista, a capacidade cognitiva do ser humano está no ato dele descodificar e decifrar as mensagens que recebe, sendo que para isso, ele tem que ter aparatos mentais para unir uma informação com a outra e, com isso, entender a mensagem, seja ela falada, escrita, desenhada, etc. E nesse quesito o Brasil realmente preocupa, porque a falta dessa capacidade é o que chamamos de analfabetismo funcional, ou seja, a pessoa sabe ler uma palavra isolada, entende o seu significado, mas num contexto, ela não consegue interpretar a mensagem. Em pesquisa recente, o Brasil obteve um dos piores resultados no que diz respeito a interpretação de textos considerados simples. Ainda sendo simplista, é como se fosse escrito em uma prova “João foi do Rio para Salvador de ônibus”, e em seguida fosse perguntado: “Como João foi do Rio para Salvador?”, e a pessoa respondesse “ãhhn.. não sei, acho que foi de avião”. E no dia-a-dia, acabo percebendo esse analfabetismo funcional presente em situações práticas em nosso imenso Brasil.

Vou citar outro exemplo rápido. Nessa semana fui sacar meus escassos centavos no caixa eletrônico de um banco aqui em Bento Gonçalves e a máquina estava estragada. Olhando para os lados, logo percebi que as outras máquinas também estavam em manutenção, até que perguntei para um cara, devidamente identificado com o crachá do banco, se algum dos equipamentos estava funcionando. Ele indicou um caixa eletrônico localizado num canto, praticamente escondido. Fui lá, passei o cartão, e trancou todo o sistema. Chamei ele, mostrei que não estava funcionando. Ele me olhou com uma cara de Banzé e disse “está funcionando”. Eu olhei para ele com cara de Garfield, apertei os botões com força na frente dele e respondi: “não, não está. Travou”. Não sei se o cara era um legitimo analfabeto funcional ou se queria me irritar, mas ele insistiu que a porcaria da máquina estava funcionando. Acabei saindo do banco fazendo o “omm” e indo até o shoping para sacar minha fortuna sem nenhum maluco para me importunar.

Enfim, existem inúmeros exemplos de baixa capacidade cognitiva, como por exemplo, quando você explica tudo para alguém, passo a passo, o que deve ser feito para obter um resultado “X”, e a pessoa vai lá e faz o contrário do que você disse e acaba quebrando a cara. Ou quando você diz para uma criança não enfiar o dedo na tomada e ela vai lá e enfia (óbvio que as crianças, por uma questão de idade, não vão ter o mesmo mapeamento cognitivo de um adulto), ou quando uma mulher diz para o conjugue “não me traia senão vou te deixar” e ele vai lá e trai (e vice-versa), ou ainda, quando um treinador monta um time que toda a torcida vê que está errado e que vai perder.

Na minha modesta opinião, desta vez os treinadores de Grêmio e Inter, pelo menos nesse início de temporada, não estão cometendo os mesmos erros de seus antecessores e demonstram ter uma capacidade cognitiva um pouco mais apurada que Roth e Cia. O Fosati acertou em abrir os laterais, enquanto o Silas está se dando bem escalando Jonas e Borges na frente. Quando os treinadores mostram uma boa capacidade cognitiva e montam o time usando peça por peça explorando o que cada um tem de melhor, o resultado será, no mínimo, uma derrota jogando bem. Aliás, acredito que esse vai ser o objetivo do Grêmio amanhã, no Gre-Nal de Erechim: perder jogando bem. No entanto, torço para que o Silas se revele um gênio da tática, e faça esse Grêmio limitado superar o badalado e favorito Internacional.


* Texto publicado no Jornal das Missões desse sábado

sábado, 23 de janeiro de 2010

Se beber não case (e não escreva)

Acabei de ver um dos filmes mais hilariates que já vi: Se beber não case. Qualquer um que já teha tomado um porre federal e teha tentado recostituir nos dias posteriores o que acoteceu na noite do porre entrevistando testemunhas vai se idetificar muito com esse filme. A diferença é que no filme eles não lembram de absolutamente nada, enquanto que nos porres reais, muitas vezes quando alguém menciona algum acotecimento flashes cruzam pelo cérebro do protagonista.
Lembrei-me em especial do Carnaval 2005, no Rio de Janeiro. Como já escrevi em outro post há muito tempo atrás, nesse carnaval eu simplesmennte sumi do mapa entre a uma hora da madrugada e às seis da manhã, quando a vizinnha do meu amigo carioca me achou andando pela Lapa, querendo pegar um ônibus para Bonsucesso. Lembro que acordei no outro dia com uma pulseira laraja no braço, possivelmente colocada em alguma balada que entrei. Depois, me veio o flash de eu saindo do lugar e o segurança perguntando se iria voltar, e eu respondendo afirmativamente, estendendo o braço para colocar a pulseira.
O que vou falar agora choca os conservadores de plantão, os adoradores da família e dos “bons” costumes, mas o fato é que para cada trago se tem um rol muito grande de histórias cômico-homéricas. Tudo bem, não estou defendendo que todo mundo se embebede todos os dias, mas, vezemquando faz bem. O ideal é quando tem alguém são para controlar o povo, mas a tendêcia é todo mudo se embebedar junto, e no dia seguinte cada um lembrar dum trecho, com o coletivo reconstituindo uma sombra da realidade da noite anterior. Um lembra do outro carregando uma placa na madrugada, o outro lembro do terceiro convidando o segurança para dançar, e o terceiro lembra do primeiro sem dinheiro para pagar a conta na hora de ir embora, com o segurança com cara de Mike Tyson, colado em seu ombro. Pior quando no outro dia vem alguém que o cara não conhece direito dizendo: “bah, tava legal ontem né”. E você olha para o sujeito e não lembra de ter visto ele, mesmo que você faça todos os esforços do mundo para puxar aquela figura do escaninho de sua memória.
Pois é, amigos, para quem quer dar muitas risadas e ver um bom filme, “Se beber não case” é uma boa. Vou ficando por aqui, porque já estão gritando que a caipirinha está pronta! Asta la vista!

O drama do Grêmio e do Tiger Woods

Imagine se você fosse um atleta bem sucedido, com milhões de dólares em uma conta bancária, no auge da forma física, com dezenas de mulheres correndo atrás de você. Imaginou? Agora, multiplique isso tudo por mil. Ou seja, você é um dos atletas mais bem pagos do mundo, é um galã que está na mídia, com milhares, quiçá, milhões de mulheres torneadas e sedutoras correndo atrás de você: loiras, morenas, mulatas, ruivas, japonesas, italianas, enfim, um arém. O quê você faz, nobre leitor? Ok, ok, não vou prejudicar seu casamento, namoro, noivado, rolo, seja lá o que for. Não precisa falar nada. Mas você, como eu, sabe bem a resposta.

Pois foi exatamente isso que fez o Tiger Woods, golfista mais famoso do mundo. Só que nem ele, nem a sua esposa, souberam como lidar com isso. Vejam vocês, o pobre milionário teria se internado em uma clínica no longínquo Mississipi para curar um suposto vício por sexo. O tratamento? Dezoito semanas sem ir as redes, como diria o Pedro Ernesto Denardin. Isso mesmo, o atleta no auge da sua forma física, com os hormônios a flor da pele, com milhões em sua conta bancária, vai ficar 18 semanas, ou seja, 126 dias, sem fazer sexo. Se eu fosse bom de matemática, até diria quantas horas isso dá, mas como não acho a porcaria da calculadora nesse computador, vou ficar apenas na questão dos dias. 126 dias sem sexo. Seria um período sofrível, mas compreensível, se fosse imposto a qualquer outra pessoa: um sujeito que foi preso, alguém que se recupera de um acidente, um cara depressivo após ser abandonado pela mulher, etc... Mas para um atleta no ápice do seu condicionamento físico, com milhões na conta e casado! Convenhamos. Como já dizia uma propaganda de revista, sexo é vida! E eu gosto da vida.

Mas, escrevi isso tudo, para dizer o seguinte: o Tiger Woods vai sair dessa clínica com a mesma sensação de ter que suprir uma necessidade biológica quanto o torcedor gremista está sentindo em relação a títulos, ou a falta deles. Um torcedor sem títulos é como um homem sem sexo. Ele se irrita facilmente, fica elaborando mentalmente uma possibilidade de resolver o problema, tem esperanças, mas acaba sempre se frustrando no final. E o Gauchão desse ano é a chance de ouro para os gremistas quebrarem esse jejum. Aliás, assim como Tiger Woods, acredito que quando o Grêmio voltar a gozar da conquista de um título o resultado será semelhante ao retorno de Tiger Woods aos lençóis cheirosos de suas infindáveis e insaciáveis fãs e, enfim, ele, como os gremistas, gritará do fundo de seus pulmões: é campeão!

Texto publicado no Jornal das Missões deste sábado

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Hare Krishna

Tem épocas em nossas vidas que parece que as coisas dão certo, independente do que você faça. Tudo bem, essa é uma excelente frase para um livro de auto-ajuda, mas enfim, era o que eu estava disposto a escrever quando abri o arquivo do Broffice, afinal de contas, diversas vezes já escrevi aqui me queixando de que tudo dá errado, que sou azarado, que não arranjava emprego e blá, blá, blá, blá... Mas agora, após a turbulência passageira, acho que estou em alfa novamente. Sei lá se é o clima, se é o verão, se são as boas parcerias que tenho em Bento Gonçalves, se são as muitas risadas que estou dando por dia, simplesmente não sei, a única coisa que sei é que, yes man, estou me sentindo ótimo comigo mesmo. Em todos os sentidos. Minha alma e minha consciência estão tão leves quanto uma pluma. Ok, essa frase ficou meio gay, como diriam meus colegas de rádio, mas foda-se. Estou tão bem que não me importo que façam piadas com essa frase, ou com esse texto.
Para falar a verdade, além de estar satisfeito aqui em Bento Gonçalves, de estar cercado por várias figuras inigualáveis, de estar em uma cidade onde a temperatura dificilmente passa dos 30 graus em janeiro (enquanto no resto do Rio Grande nessa época do ano os termômetros beiram os 40 graus), estou com a sensação de que algo muito bom vai acontecer em breve. É como se o sucesso inevitável me perseguisse (nossa, vou ter que escrever um livro de auto-ajuda!). Como se só houvessem pessoas felizes e bonitas ao meu redor e como se todas elas gostassem de mim, tanto quanto eu gosto delas! E mais, parece que nenhuma notícia ruim pode derrubar esse meu ânimo. Poderiam me dizer “cara, tu estas demitido”, ou, “você vai tirar zero na dissertação”, ou ainda “terás que trabalhar 24 horas durante o próximo mês inteiro”, enfim, nada está me fazendo mudar de humor. É, meus amigos, depois de pouco mais de um mês e de uma chegada um tanto aflita, como escrevi em outros textos, parece que os ares da Serra finalmente estão surtindo um efeito positivo na minha alma. Hare Krishna!

sábado, 16 de janeiro de 2010

A oncinha felina

Fred ainda tinha o peito doído pela última decepção de sua vida. Estava na beira da praia, bebericando uma caipirinha, tentando aliviar o aperto no peito com um falso entusiasmo, conversando com Roger, seu melhor amigo, sobre a infeliz peça que o imperdoável destino lhe pregara:
- Não esquenta não – dizia Roger – Já passei muito por isso. Tudo passa, como já diria algum filósofo cantor...
- Porra, meu – disse Fred, antes de bebericar a caipirinha – não estou nem ligando. Vamos pra balada e arrebentar.
- Cara, eu te entendo. Mas... você quer que eu te diga a real, na cara dura?
- Fala aí. Nada que tu disser vai me atingir.
- Cara, tu ainda gosta dela. Só está bravo... Já passei por isso... Vem com essa história de vingancinha...
- Meu, não fode – cortou Fred.
- Está certo, mas já estou até vendo: vamos sair, se empedrar, você vai tomar três tocos de três minas, vai ficar mal, deprimido, e vai chorar no meu ombro que ainda gosta dela e que não consegue viver sem ela.
- Porra, eu sei disso, não precisa me dizer!
- E eu vou rir muito da tua cara.
- E vai ser bom pracaraí! – retrucou Fred – Vamos rir muito! Vamos beber muito! O mundo é muito grande mermão! Essa é a vida! A vida real!!
Roger tomou o copo de caipirinha da mão do amigo, balançou negativamente a cabeça, e tomou um longo gole. Fred olhava do amigo para o copo, do copo para o amigo, preocupado que ele fosse tomar toda a bira.
E foi quando estava nessa expectativa toda, numa confusão mental que ia da ex-namorada para o fim da caipirinha e da caipirinha para a ex-namorada que ele a viu passar. Ou melhor, ele a viu desfilar diante de seus olhos. Tinha os cabelos castanhos claros, praticamente loiros. Era magra, um pouco baixa, uns três anos mais nova do que ele, ginga elegante no andar. Deslizava sobre a areia como se estivesse patinando talentosamente sobre o gelo. Cada passo dela marcava uma batida no coração de Fred. Aos poucos ele esqueceu a caipirinha, a ex-namorada, as borracheiras que estava marcando com Roger, esqueceu até do calor infernal que fazia àquela hora da tarde, sem guarda-sol para protegê-los. Só tinha atenção para ela e para seus olhos felinos, que estavam semi-escondidos por um óculos de sol não muito escuro. E, para completar, usava biquini de oncinha. De oncinha! Naquele momento, ele era um leão querendo correr atrás daquela oncinha perfeita, que durante aqueles rápidos segundos em que desfilou em sua frente, fizeram-no lembrar de que a felicidade, sim, existia! Aliás, não só existe, mas veste biquini de oncinha! Yes, you can, my friend!
Fred só aterrizou das nuvens quando o amigo lhe deu um cutucão e falou em voz alta:
- Pega isso aqui meu! Toma um gole e aprecie essas deusas seminuas!
A voz do amigo mal chegava aos seus ouvidos, que seguiu acompanhando o desfilar daquela criatura magnífica, que estendeu sua toalha num canto da areia e lá sentou-se, puxando de sua sacolinha um pote de creme bronzeador. Como ele queria estar naquele pote! De longe, acompanhou ela colocar o líquido branco na palma de uma das mão, e, com a mão direita, esfregar o creme no braço esquerdo. E assim fez com o braço direito, com as pernas (ah, que pernas!), com a barriguinha, com o pescocinho, com o rosto, com as nádegas (e que nádegas), com os peitos (nesse instante ele ouviu a locução do Pedro Hernesto Deardin gritando “É demais! É demais!”), e assim ia indo, sussecivamente, até que, inocentemente, percebeu que não conseguiria alcançar nas costas. “Veja você!”, falou dele pra ele. “É a minha chance. É a oportunidade da minha vida! Aquela oncinha vai ser minha!”. E, por alguns segundos anteviu toda a felicidade que o aguardava, a abordagem, a descoberta de que ela cursa medicina em uma universidade federal qualquer do Brasil, imaginou o som de sua voz, o gosto do primeiro beijo, a primeira pegada na mão para um passeio romântico à beira-mar, as risadas juntos, as viagens, o nervosismo de conhecer a sua família, as noites dormindo de conchinha, o casamento, o filho com os olhos dela dizendo “papai”, estava quase chorando vendo ela olhar para os lados com ar de criança perdida, quando ele, o seu amigo de infância, seu irmão, seu brother, seu camarada, praticamente sua alma gêmea, resolveu caminhar até ela. E foi à distância que Fred viu ela alcançar para Roger o pote de bronzeador, e viu eles rirem como se a muito fossem namorados de frente para o mar. E foi daquela mesma distância que Fred viu o melhor amigo a conduzir para dentro do mar, e embasbacado, com lágrimas nos olhos, ele viu o maldito Roger lhe beijar os lábios. Naquele instante, o mundo voltou a ser duro demais para o seu coração. E foi então que ele olhou para a caipirinha, pegou-a pela cintura, e engoliu-a de um só gole, percebendo, assim, que nem tudo está perdido enquanto houver caipirinha no mundo.
PS: A foto ilustrativa do conto é da minha parceira e colega de O Rebate, Juliany Luz, que representa perfeitamente todas as descrições feitas no texto. Acessem o blog dela também! (http://orebate-julianyluz.blogspot.com/)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O anão

Estou tentando descobrir o que significa o tal do anão. Desde que cheguei em Bento Gonçalves, sempre que saio na rua, dou de cara com ele. Primeiro vou descrevê-lo. Ele é baixo (óbvio), deve ser da altura da minha cintura, e está sempre vestido de terno e gravata, com um chapéu misterioso. Tem cavanhaque e aparenta ter mais de 55 anos. A cara tem traços de mexicano. E está sempre carregando uma maletinha preta. Estou curioso para descobrir o que ele carrega naquela maletinha preta. Fica andando, para cima e para baixo, com ar misterioso, sempre segurando a maldita mala preta e vestindo terno cinza claro, com gravata azul, e cara séria. Mas ele não me engana. Deve ser um hibrido que está me vigiando... Não, eu não estou paranóico.
Vou ao supermercado, paro na estante dos Ruffles, fico na dúvida entre levar o pacote pequeno, médio ou grande, pego um, olho com calma, devolvo na estante, coço o queixo, olho para o lado e lá está ele, observando como quem não quer nada os Doritos. Um frio toma conta da minha barriga e saio dali o mais rápido possível. De manhã, saio para ir trabalhar, chego na esquina, paro na sinaleira em meio a pequena multidão bento-gonçalvense, olho para os peitos da morena ao meu lado, e, olhando nessa direção, de cima para baixo, o que vejo logo atrás dos peitos2 O anão. Lá está ele, com sua barbicha, ar sério e mala preta na mão a caminhar disfarçadamente, indo para não sei onde. Outro dia fui almoçar em um restaurante bem em frente da rádio e, por Deus, quase sai correndo. Cheguei lá e o anão estava de prato na mão, se preparando para entrar na fila, como se estivesse só me esperando... E em outro dia, indo para a rodoviária apressadamente para ir para Porto Alegre, passo pelo anão, que está sentado em um banco próximo a uma parada de táxi, mãos sobre os joelhos, ar pensativo, como se fosse se levantar dali a qualquer momento para me seguir... Enfim, onde vou, encontro o tal anão, de terno cinza e ar sério. Portanto, se eu desaparecer de uma hora para a outra, já sabem. Foi o anão.
PS: essa última parte é brincadeira, se eu desaparecer não foi o anão não. Não vão prender o probre coitado (quanto ão!).

sábado, 9 de janeiro de 2010

A sociedade do espetáculo em tempos de rivalidades bestiais

Na correria aqui, não tenho conseguido postar nada que preste. No entanto, em um intervalo de mais ou menos uns 10 minutos, escrevi minha coluna para o Jornal das Missões de Santo Ângelo, que posto aqui, já me desculpando por eventuais falhas gramaticais ou de pensamento...

Bento Gonçalves parou nessa semana para receber a dupla Gre-Nal. Trabalhando aqui na Serra, descobri duas coisas: nos órgãos de imprensa de Bento, 90% dos jornalistas e profissionais da comunicação são colorados. No entanto, nas ruas, acredito que, no mínimo, 65% são gremistas. Não tem como se comparar a festa que a torcida do Grêmio fez, com relação a do Inter. Porém, por outro lado, as primeiras provocações e os atos de vandalismo de alguns torcedores, também ficou a cargo da torcida gremista, manchando desnecessariamente uma bonita festa.
Na quarta-feira, dia em que a delegação do Grêmio chegaria a Bento, logo no início da tarde eram vistas com muita facilidade dezenas de pessoas vestidas com a camisa tricolor desfilando pelas ruas do centro. Eram crianças, mulheres, homens, idosos, e, sem exagero, desconfio que até alguns cães também estavam vestidos com uniforme tricolor. No entanto, percebi o clima de tensão no meio da tarde, quando um carro com gremistas hostilizou um casal que passou de moto vestidos com camisa do Internacional. O que se viu depois, mais tarde, com a chegada da delegação gremista no hotel, foi o que todos acompanharam pela mídia: baderna, confusão, bagunça, troca de xingamentos e tudo o mais.
Tudo isso aconteceu com transmissão em tempo real por televisão, internet, rádio, além de ocupar as capas dos principais jornais do estado no outro dia, e de ganhar destaque nacional no Globo Esporte. Lembrei-me, de imediato, do livro A Sociedade do Espetáculo, do Guy Debord. Está certo, no livro o teórico francês está mais preocupado com outras questões, mas a sociedade onde a imagem vale mais do que tudo, como já dava as primeiras pinceladas Debord, é essa onde os torcedores fazem de tudo para mostrar para todo mundo o quanto odeiam o seu rival, numa impressionante rivalidade de bestas. Ou seja, a mídia está preocupada em cobrir os acontecimentos, mas é exatamente com esse objetivo que os torcedores arrancam faixas, atiram pedras em ônibus e queimam camisas: mostrar o quanto eles "amam" os seus clubes. Não estou dizendo que acho que fazendo isso eles mostram que amam seus times, mas é essa a lógica que sustenta essas atitudes em suas mentes fracas. Enfim, resumindo tudo, após todos esses acontecimentos, e ouvindo o pessoal do setor de segurança pública aqui da Serra, colegas meus de imprensa, poder público, dirigentes, etc, concluo que o problema vai muito além de "prender esses vândalos" ou "lugar de vândalos é na cadeia". A razão e a coerção não são o suficiente para mudar uma cultura. Se tem algum investimento que deve ser feito é em educação. Essa é a única forma de mudar alguma coisa.
Gauchão 2010 - Só para dar uma pincelada rápida nas expectativas em torno do Gauchão, aqui na Serra o Esportivo está aparecendo como um forte candidato ao rebaixamento, perdendo amistosos para Brasil de Farroupilha e Avenida. Confesso que vou torcer para o clube bento-gonçalvense não cair e que a SER Santo Ângelo ganhe a vaga de outro clube. Em relação a dupla, nos últimos anos o time que disputa a Libertadores tem fracassado no Gauchão. Também aposto nessa lógica nesse ano. Essa é a grande chance que o Grêmio tem de sair da fila...

*Texto publicado no J Missões de sábado - 09/01/10
Foto: Eduardo Cecconi

sábado, 2 de janeiro de 2010

Ressurgindo...

Duas coisas que me fazem mudar o humor: mensagem de quem eu amo dizendo que está pensando em mim (minha irmã Cartolina deve ficar se remoendo, pois ela odeia casais felizes) e ler um texto (romance, conto, crônica...) onde o autor descreve situações na qual me identifico pacas. E agora há pouco, depois de escrever o último texto, aconteceram essas duas coisas. Primeiro, recebi uma mensagem da minha noiva e na sequência li exatamente o que gostaria de ler no livro do Jack London. Bastaram esses dois acontecimentos para todo aquele pessimismo e negativismo que eu mencionava no texto anterior irem para o espaço. Ah, e para completar, estava passando uma entrevista com um americano falando sobre a possibilidade do fim do jornal impresso, das revistas, da rádio e da TV com as evoluções tecnológicas, na Globonews. Muito boa, mas não vou falar sobre ela agora. E possivelmente nem depois. Enfim, vou deixar para falar sobre o texto, ou melhor, um dos capítulos do livro Martin Eden, do Jack London, que acabei de ler.
Não tenho como não me identificar, principalmente com a primeira parte do livro, onde Martin Eden só se ferra. Ele fica devendo, tem que penhorar terno, bicicleta, não tem o que comer, não tem dinheiro para pegar o ônibus, fica oscilando entre subempregos e o tempo livre para tentar ser escritor, escreve pra caralho, manda textos para as revistas (isso em 1909), os caras rejeitam os textos ou publicam e não pagam, ele vai numa redação e quebra a cara do editor e do chefe do departamento comercial, vai em outra e é chutado para fora à força, resumindo, o cara só se fode. E mais: ninguém acredita nele. A irmã, o cunhado, a noiva, a família da noiva, os “amigos”, todos só falam uma coisa para ele: largue dessa história de querer ser escritor e de viver das letras e vá trabalhar, vá ter uma posição na sociedade, vá ser “alguém” na vida. Vale lembrar aqui, que o romance é semi-autobiográfico do Jack London, o mesmo London que escreveu os Caninos Brancos, transformado em filme, que você já deve ter ouvido falar. Mas voltando ao livro, resumidamente ele trabalha, junta uma grana, fica vivendo dessa grana e escrevendo por um tempo até o dinheiro acabar novamente, e assim vai indo, sucessivamente, praticamente sem dormir, sendo chutado e esculachado por todo mundo, morando numa pensão barata, recebendo umas 50 cartas negativas para publicações por mês, passando fome, e por aí vai..
Mas (sempre tem um mas), um dia a sorte começa a virar a favor de Martin Eden, justamente quando o seu único amigo (que aliás, ele havia conhecido há pouco) morre. As revistas começam a aceitar e a pagar pelo seu trabalho, ele publica seu primeiro livro, e uma publicação puxa a outra, e ele passa a não trabalhar mais, pois vai publicando as centenas de textos que havia escrito quando estava na miséria. Claro que a essa altura a noiva já tinha deixado dele e a família dela já tinha o humilhado o suficiente para que ele não mais a procurasse. Mas (novamente tem um mas), depois que ele conquista a fama e o dinheiro, todos os que antes o debochavam, agora o convidavam para jantar, para receber homenagens e tudo mais. Eis que, num desses episódios, ele reflete:
“Vieram-lhe à memória os dias de desespero e de fome, quando não recebia convites de ninguém. Nesses tempos é que precisava verdadeiramente que lhe oferecessem jantares, enfraquecido como andava pela falta deles, perdendo peso por pura fome. Era aquele o paradoxo da questão. Quando queria os jantares, ninguém lhos dava; agora que podia pagar milhares de refeições, a ponto de ir perdendo o apetite – agora era que os jantares lhe choviam de todos os lados” (p.343), e segue nesse ritmo, com Martin Eden denunciando a hipocrisia social, como por exemplo, no seguinte trecho:
“- Li sua Voz dos Sinos numa revista, há bastante tempo – disse ele. - Um autêntico Poe. Esplendido!
Sim, e por sua vez nos meses que se seguiram passou por mim na rua e não me reconheceu (…). E de cada uma dessas vezes eu tinha fome e ia à casa de penhores. E, no entanto, o trabalho estava feito. Não me conheceu na ocasião. Por que me conhece agora?”
Tu vês. Será que um dia eu consigo? A parte do se ferrar e de ouvir recordes de não por trabalho enviado (ou por emprego mesmo), essa eu já conheço como ninguém...

Desgaste, desgaste, desgaste...

Estou começando o ano completamente cansado, desgastado, estressado, rabugento, pessimista, depressivo e tudo mais de negativo que vocês queiram me falar. Sempre disse que sou um otimista, um cara paciente, de bem com a vida, independente do que ela estiver fazendo comigo, mas admito que estou precisando de algo que não sei o que é. Estava lembrando há pouco que antigamente, quando eu estava num lugar novo, com pessoas que não conhecia, eu me entusiasmava, queria sair com todo mundo, sentar numa mesa de bar, jogar conversa fora, falar de futebol, de relacionamentos, contar velhas histórias, fazer planos, ouvir histórias mirabolantes, saber como aquela criatura que está na minha frente chegou até ali e tudo o mais, no entanto, mesmo quando tento fazer isso aqui em Bento Gonçalves não consigo me entusiasmar. Falo alguma coisa que, para mim, é o ápice, e as pessoas me olham com estranheza, murmuram um “pois é”, fazem cara de Garfield, agem todas como se fossem estranhas a mim (e acho que realmente são). Ou é a porra do cargo de coordenador que me coloca nessa situação, pois até agora só convivi com os colegas de trabalho. Aliás, tenho andado sem paciência para nada. Até um gol sofrido no vide-game nos nossos confrontos dos nossos raros momentos de folga me deixa com vontade de esganar meu oponente. No fundo, acho que isso tudo também é a saudades do cão, que está me consumindo a cada segundo, que estou sentindo da minha noiva. Bom, não sei nem como dizer isso, mas é como se, de verdade, todos os dias fossem cinzentos, como se todas as pessoas só falassem bobagem, como se todo mundo que vive ao meu redor não tivesse a mínima graça. Tudo bem, tudo bem, os acadêmicos de plantão podem dizer que é tudo questão do meu imaginário pessoal, e os autores de livros de auto-ajuda podem dizer que estou depositando demais minhas energias em uma coisa só, que eu devo me centrar em outras atividades, e blá, blá, blá, blá. Pois fodam-se! Agora, o pior de tudo, devido a esse estresse todo, a esse desânimo, eu por pouco não acabei por fazendo a maior bobagem da minha vida.
Apesar dos pesares, estou aqui, sábado de tarde, vivo após trabalhar nove horas no dia 31 de dezembro e no dia 1° de janeiro e hoje pela manhã, até a uma hora da tarde. Estou curioso para saber quanto será depositado na minha conta nessa semana, quando recebo meu primeiro salário... melhor não pensar nisso, e voltar para o livro do Jack London...