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sábado, 2 de janeiro de 2010

Ressurgindo...

Duas coisas que me fazem mudar o humor: mensagem de quem eu amo dizendo que está pensando em mim (minha irmã Cartolina deve ficar se remoendo, pois ela odeia casais felizes) e ler um texto (romance, conto, crônica...) onde o autor descreve situações na qual me identifico pacas. E agora há pouco, depois de escrever o último texto, aconteceram essas duas coisas. Primeiro, recebi uma mensagem da minha noiva e na sequência li exatamente o que gostaria de ler no livro do Jack London. Bastaram esses dois acontecimentos para todo aquele pessimismo e negativismo que eu mencionava no texto anterior irem para o espaço. Ah, e para completar, estava passando uma entrevista com um americano falando sobre a possibilidade do fim do jornal impresso, das revistas, da rádio e da TV com as evoluções tecnológicas, na Globonews. Muito boa, mas não vou falar sobre ela agora. E possivelmente nem depois. Enfim, vou deixar para falar sobre o texto, ou melhor, um dos capítulos do livro Martin Eden, do Jack London, que acabei de ler.
Não tenho como não me identificar, principalmente com a primeira parte do livro, onde Martin Eden só se ferra. Ele fica devendo, tem que penhorar terno, bicicleta, não tem o que comer, não tem dinheiro para pegar o ônibus, fica oscilando entre subempregos e o tempo livre para tentar ser escritor, escreve pra caralho, manda textos para as revistas (isso em 1909), os caras rejeitam os textos ou publicam e não pagam, ele vai numa redação e quebra a cara do editor e do chefe do departamento comercial, vai em outra e é chutado para fora à força, resumindo, o cara só se fode. E mais: ninguém acredita nele. A irmã, o cunhado, a noiva, a família da noiva, os “amigos”, todos só falam uma coisa para ele: largue dessa história de querer ser escritor e de viver das letras e vá trabalhar, vá ter uma posição na sociedade, vá ser “alguém” na vida. Vale lembrar aqui, que o romance é semi-autobiográfico do Jack London, o mesmo London que escreveu os Caninos Brancos, transformado em filme, que você já deve ter ouvido falar. Mas voltando ao livro, resumidamente ele trabalha, junta uma grana, fica vivendo dessa grana e escrevendo por um tempo até o dinheiro acabar novamente, e assim vai indo, sucessivamente, praticamente sem dormir, sendo chutado e esculachado por todo mundo, morando numa pensão barata, recebendo umas 50 cartas negativas para publicações por mês, passando fome, e por aí vai..
Mas (sempre tem um mas), um dia a sorte começa a virar a favor de Martin Eden, justamente quando o seu único amigo (que aliás, ele havia conhecido há pouco) morre. As revistas começam a aceitar e a pagar pelo seu trabalho, ele publica seu primeiro livro, e uma publicação puxa a outra, e ele passa a não trabalhar mais, pois vai publicando as centenas de textos que havia escrito quando estava na miséria. Claro que a essa altura a noiva já tinha deixado dele e a família dela já tinha o humilhado o suficiente para que ele não mais a procurasse. Mas (novamente tem um mas), depois que ele conquista a fama e o dinheiro, todos os que antes o debochavam, agora o convidavam para jantar, para receber homenagens e tudo mais. Eis que, num desses episódios, ele reflete:
“Vieram-lhe à memória os dias de desespero e de fome, quando não recebia convites de ninguém. Nesses tempos é que precisava verdadeiramente que lhe oferecessem jantares, enfraquecido como andava pela falta deles, perdendo peso por pura fome. Era aquele o paradoxo da questão. Quando queria os jantares, ninguém lhos dava; agora que podia pagar milhares de refeições, a ponto de ir perdendo o apetite – agora era que os jantares lhe choviam de todos os lados” (p.343), e segue nesse ritmo, com Martin Eden denunciando a hipocrisia social, como por exemplo, no seguinte trecho:
“- Li sua Voz dos Sinos numa revista, há bastante tempo – disse ele. - Um autêntico Poe. Esplendido!
Sim, e por sua vez nos meses que se seguiram passou por mim na rua e não me reconheceu (…). E de cada uma dessas vezes eu tinha fome e ia à casa de penhores. E, no entanto, o trabalho estava feito. Não me conheceu na ocasião. Por que me conhece agora?”
Tu vês. Será que um dia eu consigo? A parte do se ferrar e de ouvir recordes de não por trabalho enviado (ou por emprego mesmo), essa eu já conheço como ninguém...

3 Comentários:

  • todo esforço será recompensado manuxo!

    Por Blogger Carolina, às 2 de janeiro de 2010 às 16:13  

  • Que bom que melhorou. Na linha filosófica do comentário anterior, diria que essa mensagem da tua noiva e a identificação com o texto do Jack são da ordem dos encontros felizes. É possível que, nesse período de exílio em Bento (tua pré-temporada?), os mortos - que exalam vida por meio de seus livros - te façam melhor companhia que os vivos - que apodrecem em pé, habitando aquela zona cinza do automatismo. Pelo seu comentário sobre o livro do London, acho que você gostaria de ler duas coisas: os Diários do Kerouac (se é que já não leu) e um livro autobiográfico do Orwell chamado Na Pior entre Paris e Londres. Os dois são a tua cara. Fica a dica. Grande abraço, maluco.

    Por Blogger ababeladomundo, às 6 de janeiro de 2010 às 05:45  

  • Oi Eduardo! Adorei o texto e a reflexão! Bem vindo ao mundo dos escurraçados... hauhauahua
    O difícil é não perder o rumo quando se sente perdido... Mas (sempre há um "mas") é preciso ter retidão e seguir em frente, não é mesmo?
    Lembre-se que quanto mais longo o caminho, maior o tempo observando a paisagem =)

    Parabéns pelo texto!

    Por Blogger Juliany, às 6 de janeiro de 2010 às 05:56  

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