O novo hóspede do buraco do beco e outros causos
Curiosamente, durante o ano que está findando, eu li “Os ratos”, do Dyonélio Machado. Na verdade, no livro, os ratos só aparecem numa cena secundária no final do livro. Enfim, após esse parêntese sem muita lógica, voltamos ao novo hóspede. Sua primeira aparição ocorreu enquanto o Agnight e eu jogávamos Grêmio e Ajax no vídeo-game. Jogo duro. Revanche da final do mundial de 1995. Estávamos concentrados no jogo, quando eu vi um ponto preto andando encostado na parede branca. Era o hóspede. Ele se escondeu, bem quietinho atrás daquele aparelhinho preto que liga a internet. Eu peguei a vassoura e o Agnight o espantou o bicho até que ele chegasse em frente à porta. Quando chegou nesse ponto, eu ergui a vassoura e “zapt!”, dei uma linda tacada ao melhor estilo Tiger Woods, e o ratinho voou para longe, gritando “criiiiiiii!”. Depois disso (e de ter vencido o Ajax com um gol de falta aos 40 do segundo tempo), achei que tinha resolvido o problema e que o hóspede inesperado nunca mais aparecesse. No entanto, hoje à tarde, quando acordei, ouvi um barulho numa sacola de plástico. Aproximei-me e ouvi o mesmo “criii” da tacada do dia anterior. Fui pegar a sacola, e o desgraçado sumiu. Tirei todas as coisas do meu quarto. Tirei tudo de dentro das sacolas, mas não o vi mais. Deve ter ido para outro quarto, pelas frestas que têm nas paredes de madeira. O desgranido deve estar por aqui. E o pior: deve estar querendo a minha cerveja... Na próxima fez não pouparei a vida do desgraçado.
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Outro dia estava me perguntando que critérios utilizo para considerar bom um escritor. Lendo Jack London, cheguei à resposta rapidamente: considero bons escritores aqueles que escreveram textos que eu leio e penso “porra, queria que esse texto fosse meu”. Ou ainda, quando leio e o cara colocou em palavras perfeitas e em ordem perfeita, coisas que penso ou semelhantes às que aconteceram ou acontecem comigo. Por exemplo, vejam essa passagem do Jack London, onde a mãe da mulher na qual Martin Eden (personagem auto-biográfico de London) está interessado e tenta convencê-la a deixá-lo de vez:
“Ele é quatro anos mais novo do que você. E anda ao deus-dará, sem posição nem salário. Não tem senso prático. Se o tivesse, e uma vez que a ama, deveria empreender qualquer coisa que lhe desse o direito de casar, em vez de ficar brincando com essas histórias e esses seus sonhos infantis. Receio bem que Martin Eden nunca chegue a adulto. Não quer responsabilidades nem trabalhar como um homem, como fez seu pai e como fizeram todos os nossos amigos, e Butler acima de todos. Receio muito que nunca chegue a ser um homem capaz de ganhar dinheiro. E este mundo encontra-se de tal forma ordenado que o dinheiro é indispensável à felicidade... Oh, não!, nada dessas fortunas gigantescas, mas o bastante para permitir viver em certo conforto e decência” (p.156-157).
Rapaz! Quando li isso, quase mandei imprimir uma cópia desse trecho e pendurar num quadro no meu quarto para ler todas as manhãs. O cara criou essa cena antes de 1909 (data da publicação) e, vejam vocês, isso acontece até hoje com muitas pessoas. Aliás, sempre aconteceu e sempre acontecerá. Mas cara, eu poderia roubar esse trecho e, colocando mais dois anos na diferença de idade entre Martin Eden e Ruth, poderia escrever como se fosse uma história minha! Caramboles, vejam vocês.
Pronto, acabou o texto e acabou a cerveja. Vou voltar ao livro.
1 Comentários:
Porra alemao!
Ja que o rato quer beber tua cerveja, eu ia dizer pra ti colocar veneno na cerveja, mas pode ser perigoso, vc se esquece e acaba bebendo ela. Voce por exemplo poderia botar veneno num ovo e deixar ali, o ovo aberto esperando o maldito rato... além de envenenar o rato, envenenaria o que vem tentando te envenenar hà décadas.
Quanto aos escritores, nao conheço Jack London ainda. Aliàs, to começando a conhecer coisas estranhissimas em um primeiro momento, mas ja to me acostumando, como escritores indianos, caribenhos e canadenses.
Se falemo alemao!
Por Zaratustra, às 20 de dezembro de 2009 às 10:56
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