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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Picaretagem e analfabetismo funcional & futebolístico

Sinto-me um picareta fazendo isso, mas é o jeito. Novamente vou publicar aqui o texto que vai sair na minha coluna no Jornal das Missões de sábado, mas realmente estou sem tempo de escrever um texto inédito e exclusivo para o blog. Estou trabalhando, trabalhando e trabalhando. Minha dissertação e meu orientador estão no meu bico. Tenho que achar tempo para ler e escrever academicamente, mas trabalhando das 10h às 21h praticamente sem parar, chego em casa só com vontade de dormir, ver TV, jogar vídeo-game, ir para um boteco tomar umas, e coisas do gênero. Enfim, chega de explicações e segue o texto:

Tenho me preocupado com a capacidade cognitiva dos seres humanos, em especial, dos brasileiros. Falando de forma bastante simplista, a capacidade cognitiva do ser humano está no ato dele descodificar e decifrar as mensagens que recebe, sendo que para isso, ele tem que ter aparatos mentais para unir uma informação com a outra e, com isso, entender a mensagem, seja ela falada, escrita, desenhada, etc. E nesse quesito o Brasil realmente preocupa, porque a falta dessa capacidade é o que chamamos de analfabetismo funcional, ou seja, a pessoa sabe ler uma palavra isolada, entende o seu significado, mas num contexto, ela não consegue interpretar a mensagem. Em pesquisa recente, o Brasil obteve um dos piores resultados no que diz respeito a interpretação de textos considerados simples. Ainda sendo simplista, é como se fosse escrito em uma prova “João foi do Rio para Salvador de ônibus”, e em seguida fosse perguntado: “Como João foi do Rio para Salvador?”, e a pessoa respondesse “ãhhn.. não sei, acho que foi de avião”. E no dia-a-dia, acabo percebendo esse analfabetismo funcional presente em situações práticas em nosso imenso Brasil.

Vou citar outro exemplo rápido. Nessa semana fui sacar meus escassos centavos no caixa eletrônico de um banco aqui em Bento Gonçalves e a máquina estava estragada. Olhando para os lados, logo percebi que as outras máquinas também estavam em manutenção, até que perguntei para um cara, devidamente identificado com o crachá do banco, se algum dos equipamentos estava funcionando. Ele indicou um caixa eletrônico localizado num canto, praticamente escondido. Fui lá, passei o cartão, e trancou todo o sistema. Chamei ele, mostrei que não estava funcionando. Ele me olhou com uma cara de Banzé e disse “está funcionando”. Eu olhei para ele com cara de Garfield, apertei os botões com força na frente dele e respondi: “não, não está. Travou”. Não sei se o cara era um legitimo analfabeto funcional ou se queria me irritar, mas ele insistiu que a porcaria da máquina estava funcionando. Acabei saindo do banco fazendo o “omm” e indo até o shoping para sacar minha fortuna sem nenhum maluco para me importunar.

Enfim, existem inúmeros exemplos de baixa capacidade cognitiva, como por exemplo, quando você explica tudo para alguém, passo a passo, o que deve ser feito para obter um resultado “X”, e a pessoa vai lá e faz o contrário do que você disse e acaba quebrando a cara. Ou quando você diz para uma criança não enfiar o dedo na tomada e ela vai lá e enfia (óbvio que as crianças, por uma questão de idade, não vão ter o mesmo mapeamento cognitivo de um adulto), ou quando uma mulher diz para o conjugue “não me traia senão vou te deixar” e ele vai lá e trai (e vice-versa), ou ainda, quando um treinador monta um time que toda a torcida vê que está errado e que vai perder.

Na minha modesta opinião, desta vez os treinadores de Grêmio e Inter, pelo menos nesse início de temporada, não estão cometendo os mesmos erros de seus antecessores e demonstram ter uma capacidade cognitiva um pouco mais apurada que Roth e Cia. O Fosati acertou em abrir os laterais, enquanto o Silas está se dando bem escalando Jonas e Borges na frente. Quando os treinadores mostram uma boa capacidade cognitiva e montam o time usando peça por peça explorando o que cada um tem de melhor, o resultado será, no mínimo, uma derrota jogando bem. Aliás, acredito que esse vai ser o objetivo do Grêmio amanhã, no Gre-Nal de Erechim: perder jogando bem. No entanto, torço para que o Silas se revele um gênio da tática, e faça esse Grêmio limitado superar o badalado e favorito Internacional.


* Texto publicado no Jornal das Missões desse sábado

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