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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O dia em que Thiego chorou, o título colorado, e outros impropérios

Bom, voltei de São Paulo, foi tudo uma loucura lá, mas muito bom, tenho fotos e tal (algumas no Orkut), e precisarei de mais tempo para contar tudo o que rolou lá, se é que vou conseguir, já que amanhã estou de mudança para Bento Gonçalves. Enfim, a apresentação foi boa, os GTs foram bons, as palestras idem, e os contatos, trocas de informações e tudo o mais também foi muito mais do que 100%. Inclusive, encontrei até o cachorro Benji numa parada de ônibus da USP e o Oscar no aeroporto de Congonhas. A foto do Oscar vai aí, a do Benji merece um post separado. Bom, só esclareço que não sou eu que sou baixinho, mas sim o cara que é gigante.
Agora, como está tudo corrido aqui (dei uma pausa na arrumação da mudança), vou postar o texto que mandei ontem para sair no JM missioneiro, com o título “O dia em que Thiego chorou, o título colorado, e outros impropérios”. Segue:

Amigos, já estou até vendo a cena no próximo domingo: os colorados sentados, tensos como um virgem diante da Juliana Paes, com os olhos no campo e o ouvido colado no rádio, roendo as unhas, em meio a um silêncio ensurdecedor, quebrado apenas pelo bater dos 60 mil corações vermelhos que se espremem nas arquibancadas do Beira-Rio. O Inter vence tranquilamente o Santo André por 3 a 0, faltam menos de 10 minutos para acabar o jogo, e, enquanto os 11 atletas colorados tocam a bola de um lado para o outro, lá no Maracanã, a pelota cruza a área sem ser atingida pelas chuteiras que passam próximas a ela, e caprichosamente bate na canela de Willian Thiego, indo morrer mansamente no fundo das redes rubro-negras. O Beira-Rio explode em uma alegria digna do maior orgasmo coletivo da história da humanidade com o gol do Grêmio. A cena é única. Pela primeira vez em 100 anos de rivalidade Gre-Nal, a parte vermelha do Rio Grande do Sul chora de emoção por um gol azul, fazendo uma inesperada avalanche nas arquibancadas do Beira-Rio.
Depois de Gabiru, o Inter comemora um título com um gol de Thiego, perseguido pela torcida gremista durante todo o campeonato. O infeliz Thiego, que na verdade nem quis fazer o gol, agora ficará mais seguro indo morar no Azerbaijão. Qualquer cidade do mundo é mais segura para Thiego do que Porto Alegre. E assim, os colorados invadem as ruas de todas as cidades do Rio Grande do Sul segurando uma bandeira vermelha na mão esquerda, e outra azul, na mão direita.
Um absurdo inimaginável desses seria considerado exagero se fizesse parte de uma história de ficção. Ninguém nunca imaginou que isso realmente um dia fosse acontecer. Mas eis que aconteceu: teremos no próximo domingo colorados torcendo fanaticamente pelo Grêmio. Aliás, para o Inter só resta uma saída: vencer o seu jogo e torcer para o Grêmio no Maracanã. Já os torcedores gremistas não aceitam, não cogitam, não consideram a hipótese de vencer o Flamengo. Por essa e outras, teremos curiosamente uma semana Gre-Nal, mesmo sem termos efetivamente um Gre-Nal.
Estatística – A situação parece óbvia. O Grêmio só venceu o Náutico fora de casa durante todo o campeonato. Quando mais precisou vencer times fracos longe do Olímpico, como o Santo André, Barueri, Fluminense, e todos os outros, fracassou miseravelmente. Alguém realmente acredita que o time de Rospide, que está em lua-de-mel com a torcida, vai fazer algum esforço para vencer? Para isso acontecer, sinceramente, só se a bola realmente bater na canela de Thiego e enganar o goleiro Bruno. Seria a epopéia colorada por um viés tricolor.
E a qualidade? – Vi o compacto de Corinthians e Flamengo. Visivelmente os corintianos amoleceram para prejudicar os rivais São Paulo e Palmeiras. Os cartões foram cavados, até a expulsão de Chicão. Que forma melhor de entregar um jogo do que fazendo faltas violentas para forçar expulsões? Com um ou dois jogadores a menos, uma derrota torna-se natural, e assim, a falcatrua fica menos escancarada. Acredito que os jogadores andam participando de workshops de dissimulação de atitudes com os políticos em Brasília. Como roubar sem parecer que está roubando? Aliás, na volta do encontro da Sociedade Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo, em São Paulo, vi no aeroporto de Congonhas um livro com um título muito sugestivo: Como enrolar seu chefe parecendo que está trabalhando. Vejam vocês. Agora, o Flamengo pega outro time que possivelmente vai utilizar as mesmas artimanhas utilizadas pelo Corinthians: o Grêmio com time misto, cavando cartões, expulsões, faltas próximas à área, e tudo mais. Mas aí entra a questão: onde fica a qualidade? Que mérito o Flamengo tem em conquistar um título somando seis pontos contra dois times que têm mais interesse em entregar o jogo, do que em ganhar? Eis outra falha dos pontos corridos, que, a sua maneira, também passa a falsa impressão de ser mais emocionante e justo do que um campeonato com uma final. De qualquer forma, boa sorte aos colorados.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Descarrego

Os dias têm sido tão corridos aqui em Porto Alegre, que nem me dou conta de onde tenho gasto a maior parte dele. Bom, vou tentar fazer uma reconstituição histórica mental da minha vida na última semana, desde que voltei do passeio que fiz a Santo Ângelo (aquele da viagem que a PRF nos sacaneou): na segunda-feira estive envolvido no projeto do MIT com a PUCRS e a RBS; na terça tive aula das oito da manhã até às 19h; na quarta, novamente tive aula e MIT, saindo da PUCRS às 20h e indo voando para o Olímpico ver Grêmio e Palmeiras, que terminou depois da meia-noite; na quinta... o quê eu fiz na quinta? Ah, quinta foi o dia do temporal. Fui para o Centro de meio-dia almoçar e fazer matéria com o pessoal para o MIT no Mercado Público. Enfim, caiu um puta temporal, levamos duas horas para ir do Centro até a PUC. Chegamos lá e estava sem luz. Fui para casa, também não tinha luz. Enfim, não tinha luz em lugar nenhum no Partenon. Lá pelas 19h, minha irmã me deu uns trocos para comprar velas no super-mini-mercado, mas no caminho passei numa lancheria, que misteriosamente tinha luz, para pedir para deixar carregando o meu celular, pois não tinha onde carregar. Até porque a única alternativa naquele momento era a PUC, mas as aulas haviam sido suspensas devido ao maldito temporal. Acabei deixando o celular carregando na lancheria, peguei um saco de velas de canela no super-mini e voltei para a lancheria onde tomei uma cerveja, enquanto minha irmã morria de preocupação, me esperando no AP sem luz. Voltei depois que terminou o Jornal Nacional, e a guria já estava ligando para a polícia, pois achou que tinham me assaltado para roubar as velas de canela e que possivelmente haviam me matado, algo assim. Bom, não tem muito o que se fazer à noite, sem luz, sendo iluminado apenas pelas velas de canela, fora que o cheiro não é grandes coisas. Liguei o radinho e fiquei acompanhando as últimas do temporal através do Plantão Gaúcha, com apresentação de José Alberto Pinheiro. Fiquei sabendo, então, que a luz possivelmente só voltaria na madrugada e que naquele momento havia cerca de 40 mil residências sem luz no Rio Grande do Sul, sendo Porto Alegre a cidade com maior número de atingidos.
Como o previsto, a luz voltou de madrugada, e na sexta passei o dia com a minha noiva, que veio de excursão com o colégio da minha filhota para passar o dia em Porto Alegre. Elas voltaram para Santo Ângelo às seis da tarde, e de noite fiquei estudando. Já no sábado, passei o dia inteiro fazendo o artigo de Metodologia da Pesquisa em Comunicação (que entreguei hoje) e dei mais uma estudada para o concurso da FAB, que fiz no domingo de manhã. Os portões do Colégio Militar fechavam às 8h45. Às 8h20 estava na sala. A prova começou às 10h. Enquanto aguardava o início, fiquei me imaginando viajando num aviãozinho da FAB ao som de "We are the champions". Bem legal. Pena que quando o barato tava legal, a tenente que cuidava da nossa sala disse em tom autoritário: “podem começar a prova”.
Saí de lá já passava da uma da tarde e fui almoçar na Tia Leila. Comi até quase estourar o bucho e depois assisti A Era do Gelo 3 tomando Polar. Bem legal também. Acabou o filme, e o Tio César e eu assistimos ao primeiro tempo de Botafogo e São Paulo. Resolvi ir embora no intervalo, pois a cerveja e o sono estavam começando a pesar. Enquanto ia para a parada, dois carros se bateram na Bento Gonçalves. Um Gol e um veículo não identificado, mas possivelmente pré-década de 70. Cheguei em casa e assisti ao segundo tempo de Botafogo e São Paulo. Depois disso, escrevi esse texto aí de baixo ouvindo Atlético-MG e Inter. Definitivamente dou sorte para os colorados. É só eu ver a pelada na TV, ir ao Beira-Rio ou ouvir no rádio que os caras ganham. Enfim, quando me dei conta já tinha passado o domingo. Na segunda... bom, o que eu fiz na segunda? Segunda-feira foi ontem... Ah, terminei o artigo de Metodologia, revisei e preparei a apresentação para o Sbpjor. Hoje, como é terça, novamente tive aula o dia inteiro, entreguei o artigo de Metodologia, e agora estou aqui, escrevendo, esperando chegar amanhã, para embarcar de manhã para São Paulo para o Sbpjor, que vai rolar até sexta, na USP. Aliás, eu apresento na sexta à tarde. Volto no sábado, tenho que terminar meu memorial para Metodologia do Ensino Superior (são duas metodologias, mas não tente entender isso, é perigoso...) para entregar na terça de manhã para me mudar a Bento na terça de tarde... E no domingo ainda tem o jogo do Grêmio... É, só sentando, parando, pensando e escrevendo é que me dou conta de tudo o que estou fazendo. E o que você tem a ver com tudo isso? E eu vou saber? Vá ler um livro, tipo, Cervantes, Bukowski, Freud, Verissimo, Jack London, enfim, são tantos... ou leia o texto aí debaixo que ta na mão da freguesia. Ó:

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Ligação para o além

RR Soares liga para Bukowski, que está lá no purgatório pagando seus pecados:
- Alô irmão, tudo bem?
- Quem fala?
- Não lembra de mim, irmão? Aqui é o bispo.
- Bispo? Vá passa trote pra outro, não tem mais o quê faze?
- Calma, velho Buk. Eu te conheci há muitos anos, quando estive nos Estados Unidos, nós tomamos umas juntos... Você me aconselhou a entrar para a Igreja para enriquecer, lembra? O RR brasileiro...
- Hmmmm, estou começando a lembrar...
- Então, vim aqui no Pai Tadeu pra te contatar pra agradecer, irmão. Entrei nessa e estou cheio da grana.
- Caralho, sorte a sua.
- Mas estou ligando agora para salvar a sua alma, irmão.
- Ah, não fode.
- Não diga isso, irmão. O quê você anda fazendo ai no purgatório?
- Bebendo e tocando punheta. O que mais se tem para fazer nessa porra? O capeta pega todas as diabinhas só pra ele... Ainda bem que a bira é baratinha. Ele faz isso pra gente ficar aqui. Dizem que lá no céu não tem bira, mas que tem umas anjinhas do caralho. Estou começando a pensar em trocar essa merda pela outra.
- Irmão, seu vocabulário é muito rude... A tormenta do vício e da doença da alma invadiu o seu ser...
- Invadiu a bunda da tua mãe, isso sim.
- Irmão... Você está possuído, irmão, você tem que se arrepender de todos os seus pecados e fazer o bem. Você tem que dar o que tem para a Igreja e se dedicar a ajudar as outras almas, irmão...
- Já disse pra não foder. É mesmo? Então por que não monta uma igreja num galpão e não doa tudo o que tem para os pobres?
- Irmão, quem não contribui com a Igreja está roubando de Jesus, irmão.
- Ah, vá se coça num pé de tuna.
- Irmão, estou te ligando para salvar a tua alma, irmão. Ela está dominado pelo pecado, irmão.
- É mesmo? E quanto vai me custar essa brincadeira?
- Bom, podemos negociar, eu já te conheço, posso te dar um bom desconto...
- Não enrola. Quanto sai a porra toda?
- Se fosse pra outro, eu cobraria uns 500 mil reais...
- Reais? Que porra é essa?
- Ah, desculpe, irmão. Bom, ligação para o purgatório está muito cara, vou ter que agilizar isso aqui. Faço por 800 mil dólares, irmão.
- Ah, vá foder outro. Com essa porra desse dinheiro posso beber por mais 800 anos. Aqui no purgatório a bira ta cada vez mais barata. O capeta anda perdendo muita gente pro céu, sabe como é....
- Está bem, está bem. Última oferta. 100 mil dólares.
- Não fode.
- 50 mil.
- Não fode.
- 10 mil.
- Nem que você me pague.
- Puta que pariu.
- Como?
- Nada, irmão, nada. Bom, eu tentei te salvar. Vou rezar pela sua alma.
- Não reze pela minha alma. Vá rezar por quem não pode beber, quem não está fodendo nem um cu de cachorro, quem tem que trabalhar pra sobreviver, e por ai afora....
- Tchau irmão.
- Tchau.
Desligam o telefone. RR Soares paga o pai Tadeu oferecendo uma vaga cativa no céu, enquanto o velho Buk pega uma Playboy das diabinhas do Capeta e uma garrafa de Vodka e vai para o banheiro meditar.

sábado, 21 de novembro de 2009

Reunião menstruada

Vai uma curta, já que meu tempo também anda curto nos últimos dias....

Casal está preocupado, porque existe a suspeita de gravidez da mulher. Ela esqueceu de tomar pílulas alguns dias, menstruação não vem, aquela expectativa toda em torno do líquido vermelho. Homem está numa mesa rendona, participando de uma importante reunião, com a nata do empresariado brasileiro (nata?!?). De repente, toca o celular.
- Alô – responde ele discretamente, tentando não ser ouvido por ninguém.
- Oi meu amor! – diz a mulher. Só então ele percebe que, sabe-se lá como, apertou o botão do viva voz – Veio, amor, veio! - suspiro de alívio - Estou menstruada...
- Tudo bem amor, te ligo depois.
- Amor, tá entendendo? Veio, meu amor, veio agora há pouco! Estou menstruada amor! Mens-tru-a-daaaaa!
- Que bom, que bom, depois nos falamos.
E desliga o celular, enquanto estão todos atônitos, olhando para a sua cara embasbacada, que oscila entre aflição e alívio. Então, o chefe espirituoso, quebra o gelo:
- Isso merece uma comemoração! Vamos encerrar a reunião e ir para um bar comemorar!
- Sério? – pergunta o homem acanhadamente, com a voz quase inaudível.
- Claro que não, sua besta. Pegue suas coisas e nunca mais apareça aqui! Está demitido!
FIM

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Sacanagem freudiana no ritmo On the road

Amigos, a história que vou narrar agora parece surreal, mas, juro, é tudo verdade. Na semana passada inventei de ir para Santo Ângelo. Tarefa aparentemente simples. Saí do meu apartamento aqui em Porto Alegre às 10 horas da manhã de quinta-feira. Cheguei em Santo Ângelo exatamente 20 horas depois disso, às 6 horas da manhã de sexta.
Agora, vamos aos fatos. Saí do Partenon rumo à estação do trem com destino a Sapucaia. Objetivo: ir de carona com meu sogro até Santo Ângelo. Tudo perfeito. Saí ás 10 horas, cheguei lá pouco antes do meio-dia. Almocei com ele e com os operários que trabalham na obra do Fórum do município. Por volta das duas horas da tarde, meu sogro, dois funcionários e eu, ganhamos a estrada, felizes da vida, rumo à capital missioneira! Abri o vidro da camionete para sentir o vento bater em meu rosto. Mais uma vez estava na estrada! Viva On the road! Viva Keroac! Viva Che Guevara e sua motocicleta maluca! Viva a carona!
Porém, em pouco tempo avistamos uma viatura da Polícia Rodoviária Federal. Se o que fizeram é certo ou errado, não sei, mas eis o que aconteceu, sem julgamento de valor ou acusações: a viatura nos seguiu por cerca de 40 quilômetros. Meu sogro ia dirigindo, mantendo o veículo a uns 90 km/h, reduzindo conforme o trecho, já para evitar incômodos. No entanto, os policiais fizeram sinal para que parássemos Meu sogro estacionou no canto da pista, e, antes dos policiais realizarem a abordagem, eles mexeram na parte de trás da camionete. Não sei o que fizeram. Não vimos. Eu ainda pensei “pô, estão mexendo em nossas coisas antes da abordagem”. Já estava imaginando eles abrindo a minha mala e se deparando com Guy Debod, Stuart Mill, Freud, Felipe Pena, Erico Verissimo, Nelson Rodrigues, todos eles dividindo espaço com minhas cuecas e meias sujas, em perfeita harmonia.
Depois disso, um deles bateu no vidro do caroneiro de trás, onde estava sentado o Alemão, e pediram para que ele baixasse o livro. Dali, começou a fazer perguntas para o meu sogro, do tipo, de onde vínhamos, para onde íamos, etc. Quando meu sogro desceu, outro policial começou a nos perguntar o quê um era do outro. Tratei de dizer que o motorista era meu sogro, e os outros dois eram funcionários. Pela cara dele, nossas explicações não convenciam. Mandaram a gente seguir para o posto da PRF mais próximo. Lá fomos nós, até o tal do posto Tabaí/Canoas. Chegando lá, meu sogro desceu para conversar com um dos policiais e logo voltou dizendo que os policias queriam apreender a camionete porque a placa estava sem o tal do lacre. Cadê as câmeras? É pegadinha? Cadê o Ivo Holanda? Cadê o Serginho Malandro?
Descemos todos da camionete. Enquanto meu sogro estava dentro da casinha dos policiais (sei lá como se chama aquela joça), outro deles soltou dois cães farejadores que estavam em um canil. Um dos guaipecas mijou no pneu da camionete, descaradamente. Fiquei calculando se o desgranido ia farejar o Freud e minhas cuecas sujas. Já pensou, o policial diria “aha!” e abriria minha mala e daria de cara com a “A sexualidade feminina” enrolada em uma cueca suja e meu humilde livrinho com meu conto da Nescafé embalado em uma meia com cheiro adocicado de chulé.
Dentro de pouco tempo, meu sogro voltou de lá dizendo que realmente iriam levar a camionete. Fomos de carona com o guincho até um lugar que, não tenho certeza, parecia ser o Detran, como de fato acho que era. Não manjo muito bem essas paradas de órgãos fiscalizadores de veículos, mas enfim, para nos liberar, um pessoal iria lá colocar o maldito lacre na camionete, e, depois disso, todas essas ações hiper, mega, ultra-racionais precisavam entrar no tal do sistema, tão rápido quanto o Chapolin Colorado. Sempre o sistema. Eram quatro horas da tarde, e o postinho fechava às cinco, ou seja, tínhamos uma hora para isso. O problema é que, além do lacre, eles teriam que fazer toda uma checagem no veículo. Que cosa. Esse é o Brasil! Fiquei calculando quantos carros roubados devem passar por lá por dia, e eles param, atacam, acusam indiretamente e apreendem o veículo de três sujeitos que estavam trabalhando e de um estudante pobre com livros do Freud e da Nescafé na bagagem.
Como era esperado, não deu tempo, e tive que retirar minha mala do veículo com vários pensadores dentro dela. Além das cuecas e meias, óbvio. Bom, o plano então era o seguinte: os dois funcionários e eu iríamos até Lajeado pegar o ônibus para Santo Ângelo. Ou melhor, primeiro pegaríamos um ônibus daquele lugar para Lajeado, algo em torno de 45 quilômetros. Para piorar a situação, eu estava sem dinheiro e durante a semana havia perdido o meu cartão do banco na Feira do Livro (não sei como e nem porquê, pois não comprei nenhum livro, mas enfim). Sobrou, então, para o meu sogro. Mas, antes de me condenarem, ele será recompensado futuramente com garrafas de vinho de Bento...
Enfim novamente, lá seguimos nós, rumo ao maravilhoso mundo da rodoviária de Lajeado. Não vou contar tudo que rolou lá, até porque as coisas foram um tanto paradas, mas em resumo, joguei quatro partidas de sinuca com o Alemão num boteco na frente da rodoviária (ganhei uma e perdi as restantes no detalhe e na sorte do meu oponente), assisti a Bahia 1x0 Vila Nova, Novo Mundo 0x4 Santos (futebol feminino) e River Plate 2x1 LDU. Bom, faltou dizer que no boteco tocava uma música sertaneja típica de zona, a mil, e quando estávamos lá a minha noiva ligou:
- Oi amor, que horas tu chega?
- Às seis da manhã – respondi.
- Por que???
(expliquei o que havia acontecido depois das cinco, pois tinha passado o último boletim telefônico quando ainda tínhamos esperança de sermos liberados).
- E onde tu ta agora?
- Eu? Er... Na rodoviária de Lajeado – disse, enquanto o Alemão encaçapava a bola cinco – Putz!
- O quê?
- Putz, só tem ônibus às cinco pra meia-noite...
E a música rolava ao fundo. Contei a história depois, quando cheguei, mas ela disse que não chegou a ouvir o fundo musical. E, lá por volta das sete, ainda conhecemos um cara super-gente fina. Agora não tenho certeza, mas acho que o nome dele é Paulo. Ele teve que ir para a rodoviária cedo, pois morava em uma cidadezinha ali perto e tinha que esperar o mesmo ônibus que nós para ir até Ibirubá. No fim, acabamos conversando tomando umas Skóis como se fôssemos amigos há décadas. Para terminar: cheguei em casa realmente às seis da manhã, mas o restante do final de semana valeu todo o sacrifício. O pior aconteceu com meu sogro, que só conseguiu ser liberado definitivamente no sábado.
Chegando em Porto Alegre ontem, iniciou o projeto do MIT (parceria entre PUC e RBS) e hoje apresentei e entreguei trabalhos o dia inteiro e só agora, onze e pico da noite, consegui sentar, abrir uma latona de Nova Schin da promoção e escrever essas simples linhas...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O primeiro autógrafo


Dei o primeiro autógrafo da minha vida. Caraca, que coisa estranha. Mas antes de chegar nele, explico que domingo estive na Feira do Livro de Porto Alegre, quando foi lançado o livro “Os melhores contos para não deixar a vida esfriar”, numa promoção da Nescafé com o Grupo RBS. No total, 25 contos foram selecionados e publicados durante a Feira. Até o próximo domingo, dia 15, todos os dias, das 14h às 16h, são feitas as leituras dos contos vencedores no auditório do Espaço Pasárgada, com a presença de alguns dos autores. Além de domingo, eu deveria ter participado hoje, mas aconteceram alguns problemas estomacais graves que impossibilitaram a minha participação. Ontem foi tudo okey. Eram quatro autores presentes, entre eles, eu. O carinha lia alguns contos e intercalava com entrevistas com um autor por vez. Ao final, houve a sessão de autógrafos.
Vou contar agora como foi o primeiro autógrafo da minha vida. Chamaram-nos para a mesa, que estava preparada para sentarmos e autografarmos os livros, no entanto, quando me levantei da cadeira, um senhor veio com o livro em mãos e me entregou. No entanto, fui pego de surpresa, pois não tinha caneta. Alguém ali por perto tinha, e me alcançou. Putz, como se dá um autógrafo? Assinar só o nome? Escrever um recado? Que recado? Quantas questões, meu pai? E agora? Já começava a suar nervoso, enquanto o senhor aguardava... Foi então que surgiu uma luz:
- Como é o seu nome? – perguntei.
- Eugênio.
Eugênio, Eugênio. Putz, pensei rapidamente, ainda bem que é um nome fácil. Imagina se fosse Cristian. Existem também Christians, com “h”, aí teria que perguntar “com ‘h’ ou sem ‘h’?”. Geralmente as pessoas não gostam que você pergunte como escreve o nome delas, porém, como jornalista, deveria estar acostumado com isso, pois nunca tive vergonha de perguntar como se escreve um nome. Mas, sempre tem um mas, para autógrafos a coisa é diferente. Um leitor não é um entrevistado. É muito mais que isso. Você não quer desagradar aquela pessoa que se dirigiu até você para pegar a sua assinatura, ou melhor, o seu autógrafo. Já estou me sentindo até experiente em autógrafos... tu vês. Enfim, enquanto todas as coisas se passavam pela minha cabeça, escrevi: “Eugênio, boas leituras, um forte abraço, Eduardo Ritter”. Acho que foi mais ou menos isso. E acho que foi isso que escrevi para os outros 25 ou 30 livros que me deram para autografar. Ou teriam sido 15? Ou teriam sido 50? Ou teriam sido cinco? Ou teriam sido 100?? Vá saber. Enfim, foram autógrafos para pessoas que eu não conhecia, o que me deixou um tanto sem jeito.
Antes de encerrar, vou contar rapidamente a história do carinha que estava ao meu lado. Minha irmã era a única criatura conhecida na história toda, e ela aproveitou para pegar o autógrafo dos outros autores que estavam presentes. E não é que o carinha dá em cima da minha irmã via autógrafo? O maluco escreveu mais ou menos assim: “Carol, obrigado pela preferência ‘indireta’, fulano”. Caraca. O indireta foi com aspas mesmo. Não conseguimos decifrar o real significado da frase, mas para mim, o sujeito deu em cima dela. Ainda disse pra ela, depois: “pô, essa é uma cantada inédita. Nunca tinha ouvido falar de dar em cima através de autógrafo... eu heim”. E assim segue a vida...
Enfim, foi uma boa experiência. Nunca imaginei que um dia ia dar um autógrafo. Já pedi vários: pra Fernanda Abreu, pro Ronaldinho Gaúcho, pro Paulo Nunes, pro Luis Fernando Verissimo, até pro Zé Alcino e pro Zé Afonso!! Que cosa. Agora chega de papo furado e vamos ao mini-conto, selecionado para o livro. Esclareço que o tema do concurso era “não deixe a vida esfriar” e havia um limite de, se não me engano, 400 caracteres. Ah, e o título eles que colocaram, pois não havia espaço na inscrição. Então, agora sim, segue o mini-conto:

Romance
Otávio voltou a se sentir vivo naquele entardecer.
Aos 64 anos, sentiu-se como se tivesse 15 quando viu aquela mulher loira, com olhar sedutor e belo sorriso. Decidiu conquista-la.
Dirigiu-se até ela e entregou-lhe uma rosa com um cartão que dizia:
“Sou o homem mais feliz do mundo por ter você do meu lado nos últimos 30 anos”.
E assim, Otávio e a esposa nunca deixaram as suas vidas esfriarem.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Aventuras nas águas paradas do Guaíba

A história que vou narrar aconteceu há uma semana. Convidei meu amigo Cristiano para ir visitar a Feira do Livro de Porto Alegre, dar uma olhada nas bancas, aquela coisa toda, e lá pelas tantas, resolvemos dar uma passada na Feira do Livro Infantil, na beira do Guaíba. Olhamos alguns livros, eu pensando em algo para dar de presente de aniversário para a Laura, já ficando na dúvida entre o Querido Diário Otário e o Castelo das Fadas, quando avistamos um navio, que estava parado, na beira do rio.
Havia uma fila gigante para entrar. Lembrei daquele passeio de barco que fazem, com saída lá do Gasômetro, e logo comentei com meu amigo: “acho que tem que pagar ingresso”. Meu amigo, então, resolveu perguntar para uma senhora que vinha descendo do barco, ou navio, vá saber:
- Tem que pagar pelo passeio ?
- Não – respondeu a senhora.
Bom, seguimos reto para a fila. Ficamos lá, parados, durante aproximadamente meia hora, embaixo de um sol infernal de uns 40 graus. Lá pelas tantas, não resisti e fui pegar uma água mineral gelada. Quando voltei, a fila estava andando. Subimos aquela rampa de acesso ao navio com alguma dificuldade, mas, em pouco tempo, lá estávamos, a bordo, prontos para desbravar os sete mares! Ou melhor, as sete pontas do Guaíba. Olhamos para o mar, quer dizer, rio, descemos uma escada, e olhamos a exposição da Marinha Brasileira com fotos e tudo o mais. Por um momento, olhei algumas pessoas dançando a música que rolava solta dentro do navio, como se aquilo lá fosse Ibiza, ou algo do gênero, cutuquei o meu amigo e disse:
- Veja você. Esse navio, praticamente de guerra, aqui, sendo usado para passeio com uma música tumtitum. Cadê os canhões? As bombas? Os tiros? As aventuras? Agora esses marinheiros estão aí, fardados, trovando loiras e morenas, casadas e solteiras, mães e adolescentes, na beira do Guaíba. O mundo não é mais o mesmo... – disse em tom saudosista...
- Que nada meu! – disse ele – Olha só aquela paisagem! – completou, apontando para duas montanhas que se exibiam ali perto.
E seguimos para uma outra fila, que levava até a cabine do piloto, motorista, sei lá como se chama quem dirige o navio. Após mais meia hora de fila, subimos. Porra, fazia tempo que aquela merda estava parada. Comentei isso com meu amigo, que concordou. Tinha um marinheiro parado por ali, com cara de sonso. Foi então que resolvemos perguntar para o maluco:
- Escuta, Popeye. Que horas sai o navio?
- Como assim.
Olhamos para ele com cara de Garfield.
- Que horas o navio sai daqui?
- Ah, nós saímos de volta para o Rio na terça-feira.
- Como assim, na terça-feira? – perguntei. Agora era ele quem olhava com cara de Garfield, enquanto nós estávamos parados com cara de Oddie.
- Sim, voltamos para o Rio na terça.
- Mas o navio fica, tipo assim, parado? Ele não sai da uma banda no Guaíba não?
O cara riu.
- Não.
Nos olhamos, frustradamente, e descemos de volta à terra firme. Enquanto passávamos pela fila de pessoas que esperavam para entrar no navio, resolvemos fazer um teste para saber se só nós imaginávamos uma aventura no Guaíba.
- Ei! – disse meu amigo para uma velhinha, com cara de ingênua – A senhora sabe que esse navio não sai para passeio, que ele fica aí, parado?
- Sei sim – disse ela.
Tu vês. E voltamos para a feira.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A cura pelo palavrão

Após receber milhões de e-mails, mensagem no orkut, mensagens no celular, telefonemas e tudo o mais, finalmente consegui tempo para escrever aqui no blog, depois de quase uma semana de ausência. Explico-me: naquele mesmo sábado em que postei o último texto comecei a fazer um dos quatro artigos do semestre (um já está feito e enviado, portanto, faltam três) e no domingo passei na Feira do Livro com meu amigo Cristiano. Já na segunda, faxinei o AP, pois na terça receberia a visita do meu amigo Maurício, que estava vindo para o Seminário Internacional de Comunicação da PUCRS, e a minha irmãzinha, que de calma não tem muito, também chegaria, o que quer dizer que minha irmã chegando + apartamento sujo é = a confusão e briga... E como eu sou da paz, preferi passar o feriado lavando privada e roupa suja.
Mas enfim, na segunda de noite ainda peguei uma boa palestra com o Ignácio Loyola Brandão, numa espécie de bate papo com o professor Antonio Hohlfeldt, e de terça até hoje foi seminário manhã, tarde e noite. Ou melhor, muito mais tarde e noite do que manhã, no meu caso. Apesar disso, ainda consegui um tempinho para ir no jogo do Grêmio com o São Paulo no Olímpico na quarta de noite. Enfim, histórias não faltam, mas vou recorrer novamente a minha coluna do JM, e publico aqui, na íntegra, o texto que sairá na edição de sábado, que enviei agora há pouco para o jornal. No entanto, aconteceu tantas coisas além do jogo nesses dias, que prometo selecionar algumas das histórias cômicas que me aconteceram, principalmente a do navio da Marinha, para postar nesse espaço... Bom, chega de papo, que já está tarde, e segue o texto do JM:

A cura pelo palavrão
Eu sou um desbocado em potencial. Na verdade já desconfiava disso, mas confirmei essa hipótese na noite de quarta-feira, no estádio Olímpico, assistindo e xingando o árbitro Jailson Macedo Freitas durante pelo menos uns 80, dos mais de 90 minutos de jogo. Desde o início, a ilustre personagem marcava todos os tipos de faltas para o São Paulo e nada para o Grêmio. Ele só não deu um jeito de anular o gol do Grêmio, porque não havia como. Mas, já no primeiro tempo, eu e todo o estádio descarregávamos a nossa raiva contida do dia-a-dia naquela criatura que errava como poucos erraram na história do futebol brasileiro. Uma terapia, praticamente. A cura pela fala de Nietzsche. No caso, a cura pelo palavrão. O São Paulo empatou e veio o intervalo. O assunto nas arquibancadas era um só: o árbitro. Havia três hipóteses: ou ele tinha sérios problemas de vista, ou era ladrão, ou era são-paulino. Não vou ser hipócrita e inocentar o cara, dizendo que quero acreditar que ele é honesto e blá, blá, blá, até porque o consenso geral foi o de que ele era um *&#@¨$~&¨%¨$#&!
Enfim, a bola rolou para o segundo tempo e a situação só piorou. Após não marcar um pênalti claro para o Grêmio e de seguir marcando faltas inexistentes para o São Paulo, o seu Jailson Macedo Freitas resolveu expulsar três jogadores do tricolor paulista, sendo que o terceiro foi nos acréscimos. Ou seja: que tempo teria o Grêmio para usufruir dessa vantagem numérica, ainda mais se considerarmos que o seu Jailson deixou o Rogério Ceni deitar e rolar na demora para cobrar faltas e tiros de meta?
E, apesar de tudo o que aconteceu, o Paulo Autuori ainda inocentou o árbitro dizendo que não se deve criar uma cultura de reclamação no Olímpico. Ou seja, a solução para isso, para ele, é entrar em campo e jogar bola. Agora, usando essa fórmula, o time terá que correr muito mais em campo do que correria em uma situação onde não houvesse uma influência tão direta e tão visível do árbitro. É como se eu não tivesse que ter corrido do Olímpico até a Ipiranga feito um louco para pegar o T1 a meia-noite. Mas, como a Carris não tem o bom-senso de disponibilizar ônibus até mais tarde em dias de jogos da dupla, eu tenho que seguir reclamando e correndo atrás do prejuízo. Quem lucra com isso? No caso dos ônibus, os taxistas, já que é impossível ir a pé do Olímpico para o Partenon. E no caso do futebol, é o São Paulo, que segue firme rumo ao tetra.
Inter – Se o Grêmio deixou definitivamente da luta por uma vaga no G-4, o Inter, depois de perder em casa para o Botafogo, trocou a briga pelo título para ficar apenas na corrida pelos quatro primeiros lugares, que garantem uma vaga Libertadores. Confesso que depois do último domingo, acredito que teremos boas possibilidades de termos um Gre-Nal na Copa do Brasil ou na Sul-Americana...