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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Imã de maluco


O que aconteceu agora há pouco, minutinhos atrás, juro que é verdade. Tocou meu celular da área 51 e atendi:
- Alô.
- Alô – disse uma voz de mulher – quem está falando?
- Com quem quer falar? - retruquei.
- Quem está falando? - insistiu a mulher.
Eu não ia falar o meu nome, mas, como pensei que poderia ser alguma proposta de emprego de um daqueles currículos que mandei no ano passado, acabei respondendo:
- É o Eduardo.
- Daonde?
- Escuta, minha senhora, com quem quer falar?
- Daonde você está falando?
- Com quem quer falar? A senhora ligou para esse número, tem que saber com quem quer falar!
- É que eu tenho o registro desse número, que ligou aqui.
- Eu não linguei pra ninguém aí. Nem crédito tenho para ligar...
- Ligou sim.
- Liguei não.
- Ligou sim.
- Liguei não!
- Ligou sim! Quer dizer, você não ligou. Uma “muié” ligou desse número... para o meu marido...
“Não acredito nisso”, pensei comigo mesmo.
- Escuta, minha senhora, esse número é meu e garanto que nenhuma mulher ligou desse número para o seu marido.
- Ligou sim. Uma “muié”, não sei quem, mas uma “muié” ligou desse número para o meu marido.
Não me aguentei e comecei a rir. Cheguei a pensar em falar algo como “minha senhora, eu sou gay e moro com outros dois homens, portanto, não tem nenhuma mulher próximo a mim que tenha acesso ao meu celular para ligar para o marido da senhora. E eu lhe garanto que eu também não liguei”, mas me contive. Respirei fundo e respondi:
- Minha senhora, pela última vez, nenhuma mulher ligou para o seu marido desse número.
- Ligou sim. De onde tu fala?
Olhei para o meu colega de rádio, que me observava com ar curioso, e desatei a rir.
- Minha senhora, só lhe digo que trabalho em uma rádio e que esse número é particular e que nenhuma mulher teve acesso ao meu celular, que sequer tem crédito, para ligar para o seu marido.
- Se é particular, eu não sei, mas que uma “muié” ligou para o meu marido desse número, ah ligou!
E desligou.
Esse episódio confirma o que meu amigo Anônimo, que me hospedou no Rio, disse: que sou um imã de maluco. Para completar, uma rapidinha: quando estávamos num bloco na praia do Flamengo, um senhor com pinta de mendigo parou no nosso bolinho e ficou do meu lado querendo falar sobre a rivalidade do Botafogo da Paraíba com o Campinense. E ficou ali, dizendo que torcia para o Botafogo na Paraíba, para o Flamengo no Rio e, para piorar, para o Inter no Rio Grande do Sul. De fato, acho que realmente tenho o dom de atrair malucos.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Cagaço no ar

Descobri o óbvio: para escrever, precisa-se de clima. Aliás, como tudo na vida. Estou louco para escrever sobre o Carnaval no Rio, o avião parado em frente de uma serra na chegada no aeroporto em Curitiba, Jesus me chamando para o além do outro lado, as festas nos blocos, as fantasias todas, as conversas malucas que tive, as cenas bizarras que vivenciei, os cantos animados das marchinhas, enfim, tem muita coisa que quero contar, mas, falta clima. Aliás, tem duas coisas que ajudam no clima: bebida e música. É o melhor. Ah, e a solidão. Para escrever, é preciso estar sozinho consigo mesmo. Há pouco o pessoal saiu aqui de casa para a gandaia e eu fiquei, e meu colega disse “o editor não tem espírito de grupo”. De fato, eu gosto do espírito de grupo, às vezes até me esforço para me enturmar mais, mas, para escrever, no meu caso, é preciso estar só. Completamente só. Se tiver alguém ao redor falando, perguntando, conversando, etc, não rola. É broxante. É como você estar lá, fodendo, e a mina falar “goza logo que não posso demorar”. Ou, você estar lá trabalhando e ela falar “não posso dormir tarde porque tenho médico amanhã de manhã”. Broxante, broxante. Acho que só conseguia escrever com alguém por perto quando morava com a minha irmã... Pensando bem, acho que não. Quando eu estava escrevendo, mandava ela ficar quieta, e depois que terminava o texto, enchia o saco para que ela lesse todas as baboseiras recém escritas.
Mas agora, falando sobre os dois elementos da inspiração (além da própria inspiração), estou aqui em Bento sem bebida e sem grana para comprar a bebida. Já em relação a música, consegui dar um jeito. Como estou escrevendo no note sem internet (agora é noite de sexta-feira), não posso colocar nenhuma música no youtube ou algo assim. No entanto, está passando o Laboratório MTV, com uns clipes meia boca. Quebra o galho. Mas ainda falta a inspiração e a bebida para eu voltar para o Rio. Ou para o avião. Parado. Simplesmente parado em frente a uma serra. E eu olho pela janela, e vejo a serra parada na frente do avião, e o avião parece estar olhando para a serra, e olho para baixo e vejo um monte de arvorezinhas, que parecem tão pequenas e inofensivas, mas tento calcular o impacto que um avião caindo daquela altura pode ter ao se chocar com elas, e meu estômago parece que vai sair pela boca, e meus olhos se arregalam, e eu fico branco, suando frio, pensando “agora vou descobrir como é o além. Será que vou morrer aqui e imediatamente nascer na China?”, imagino minha família em meu velório, me pergunto se meus amigos que moram longe se darão ao trabalho de viajar para acompanhar meu enterro, fico me questionando com quem meu amor platônico vai casar, quem vai cuidar do Jamelão, enfim, um turbilhão de coisas passa pela minha cabeça enquanto aquele avião está parado na frente da serra, e olho para a frente e vejo um monte de cabeças se erguendo e olhando para os lados, perguntando “que porra é essa?”, como aqueles animaizinhos africanos de pescoço cumprido, e olho para trás e o casal que está sentado lá me olha com a mesma cara de pavor, e eu sinto um nó na garganta, até que o avião começa a se mexer lentamente, e começa a virar para a esquerda, bem devagarinho, e o motor dá umas falhadas como aqueles fuscas antigos, e quando eu não vejo mais a porra da serra e o avião volta a andar, o estômago volta para o lugar, minhas pernas seguem trêmulas, e prometo a mim mesmo: “ de hoje em diante, serei um homem melhor”. Mas ao chegar em Porto Alegre ligo para meu amigo Cristiano e marco de passar lá para tomarmos um trago, afinal, é feriado de terça de Carnaval, e o Carnaval que eu tive merece um trago para comemorar, bem como o cagaço que levei no avião também merece um trago para aliviar! Ixi, até que rendeu a porra do texto...

Uma festa inesquecível


Texto publicado no JM de sábado
Uma festa onde só é proibido estar vestido “normal”, ficar parado ou apático. Uma festa onde anjos pulam ao lado de diabinhas, que andam de mãos dadas com o Bob Esponja, que se diverte com o Bob Marley que anda com um cone na cabeça e passa pulando de braços dados com a Branca de Neve cantando “Cidade Maravilhosa”, enquanto um autêntico homem das cavernas beija a Amy Winehouse e ao mesmo tempo um cara igual ao Wagner Love, com um nariz de palhaço que pisca, fala algo colado no ouvido de uma loira de barbas, e enquanto tudo isso acontece um homem vestido de fada convida uma mulher vestida de “Meu pintinho amarelinho” para dançar, observados por um gari que está abraçado na Cinderela, acompanhados por um monge que ostenta um toco de cigarro na ponta da boca, uma clava na mão direita e uma latinha de cerveja na mão esquerda. Essa é apenas uma pitadinha do que se vê nos blocos no carnaval do Rio de Janeiro, que tem uma programação de 24 horas em vários pontos da cidade durante todos os dias de folia.
Tive a felicidade de passar esse carnaval lá nesse ano, o segundo de minha vida (o primeiro foi em 2005), e, de fato, tive a comprovação: é uma festa inigualável. A cidade toda entra no clima e o calor insuportável não causa desanimo nem preguiça, muito pelo contrário, a impressão que se tem é que quanto mais calor se faz, mais as pessoas querem pular (talvez por terem mais sede e consequentemente beberem mais). Quando saia do prédio do meu amigo na praia do Flamengo, já via em todas as ruas pessoas e mais pessoas, de todas as idades, todas fantasiadas, com colar de havaiana, chapéu branco, nariz de palhaço, vestidas de Chávez, de Chiquinha, de Mônica, de Michel Jackson, de Barack Obama, de Madona, enfim, como disse no início do texto, a única coisa que não se via eram pessoas com calça, sapato, camisa, etc (a não ser o Obama ou o Lula). E quando eu ia de um bairro para o outro, no ônibus, no metrô, no trem, praticamente todas as pessoas estavam indo ou vindo de algum bloco (tem bloco de manhã, de tarde, de noite, de madrugada, enfim, 24 horas). Ou seja, a cidade respira o carnaval. Cariocas, turistas de todo o Brasil, estrangeiros, todos se divertem, dão gargalhadas, cantam marchinhas em pequenos grupos, que aos poucos vão aumentando, e em pouco tempo uma pequena multidão está cantando em uma só voz: “se você pensa que cachaça é água, cachaça não é água não...”, e, no meio da folia, eu e o meu amigo ainda lembramos, na beira da praia em Copacabana, das piadas dos tempos de Sepé Tiaraju, em Santo Ângelo, e vamos tentando lembrar os nomes dos colegas, e eu tento puxar do escaninho do meu cérebro o que cada um está fazendo (ou imagino que esteja fazendo, porque a maioria eu nunca mais ouvi falar).
Mas enfim, após esse parêntese santo-angelense, o que quero passar é justamente isso: o carnaval do Rio é o maior do mundo e é inigualável e incomparável (talvez apenas Salvador esteja no mesmo nível) por causa dessa dedicação espontânea da cidade toda, que contagia quem chega de fora e nos faz voltar loucos para voltar no próximo ano. E é isso que está faltando ao Grêmio, e, indo um pouco mais longe, é o que tem faltado há SER Santo Ângelo desde que ela caiu para a Série B. Enquanto não houver uma convicção de que todos estão no mesmo barco e enquanto todos não respirarem aquilo que almejam nas competições na qual disputam, o sucesso ficará à mercê da sorte, e isso é quase igual ao fracasso. Por outro lado, pelo que senti no Rio de Janeiro e pelo que vejo aqui no Rio Grande do Sul, Flamengo e Inter estão respirando e transpirando a Libertadores. E é por isso que o Inter teve uma década de sucesso, com títulos de todos os tipos, e é por isso também que o Flamengo ganhou o Brasileirão do ano passado. E é por isso que repito uma última vez: gremistas e santo-angelenses se espelhem no carnaval carioca e simplesmente deixem rolar que o gozo da vitória virá automaticamente!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Voando no Rio - e descansando (trabalhando) na Serra

Para escrever sobre tudo o que rolou no Rio, desde a saída de Bento Gonçalves na quinta-feira, até voltar para Porto Alegre na terça-feira de Carnaval, vou precisar de pelo menos uma tarde de folga e algumas latinhas de cerveja. Infelizmente as condições que tenho aqui para escrever no blog não são as melhores, pois estou sempre trabalhando, ou cansado, ou bebendo longe do computador. A única coisa que adianto é que tem algumas fotos do Carnaval no meu orkut e tenho vários vídeos aqui para serem postados algum dia em algum lugar. Quando tento organizar meus pensamentos, enquanto estou fazendo as outras coisas, vários flashes passam pela minha cabeça, como por exemplo, a briga pela cerveja em um bloco no bloco Sassaricando (que foi uma briga justa e saudável, em ritmo de folia, e que está filmada), o banho de mar na madrugada de segunda para terça-feira em Copacabana, nós subindo e descendo ruas nos blocos do Flamengo e das Laranjeiras, o avião parado em frente a uma serra na chegada de Campinas para Curitiba (e eu vendo Jesus me esperando de braços abertos do outro lado), eu perdendo o bilhete do porta-bagagem na rodoviária de Porto Alegre e tendo de preencher uma ficha para pegar a bagagem na hora do ônibus sair, e, pior, tendo que dizer o que tinha na minha mala para o cara (azinha de fada, chapéu branco, óculos azul gigante, bermuda florida, chapéu de chinês, colar indígena, cueca suja azul celeste, etc), nós cantando "guantanamera" a todo o momento em vários cantos da Zona Sul, enfim, são flashes e mais flashes sendo que cada um deles rende uma história a parte que, um dia, pretendo contar.

Mas, para contar, vou precisar de tempo e estar um pouco mais descansado, pois não dormi de segunda para terça, cheguei em Bento na terça à meia-noite e trabalhei hoje o dia inteiro (até às 21h). Ah, e o Anônimo, que viabilizou minha ida para o Rio (é um daqueles que tem vergonha de se identificar nesse blog), também prometeu escrever um texto para esse humilde espaço falando sobre a minha passagem por lá. Voltaremos!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Decepção e CarnaRio

Estou decepcionado com os leitorinhos tupiniquins, bem como sei que os leitorinhos tupiniquins (se é que eles existem e não são fruto da minha imaginação) também estão decepcionados comigo. Eu não tenho escrito nada aqui, em contrapartida, quando escrevo, ninguém comenta, o que me leva a deduzir que até o meu primo Gérson, leitor fiel desse blog, também me tratou como um suíno e depois desapareceu, como já diriam os Mamonas.
O fato é que, além de eu estar podre e sem tempo, está tudo conspirando contra eu escrever. Falta tempo, equipamento, inspiração, enfim, está difícil, mas prometo que em março provavelmente eu volte a escrever um pouco mais aqui.
Agora, aproveito para despedir-me temporariamente dos meus leitores, pois na quinta-feira estarei embarcando para Porto Alegre, para de lá seguir para o Rio de Janeiro, passar o Carnaval. Quem quiser acompanhar alguma coisa dessa viagem pode entrar no site da rádio (www.leouve.com.br/carnaval2010), porém, essa será a cobertura oficial, os bastidores eu deixo para a volta! Um bom Carnaval a todos os meus leitorinhos imaginários! Gosto muito de todos (em especial todas) vocês.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Valeu a pena!

Mais uma do Jornal das Missões (essa sai amanhã):

Estava começando a escrever um e-mail para o editor de esportes do Jornal das Missões, o Pedro, dizendo que não enviaria a coluna dessa semana porque meu cérebro pifou, quando de repente, uma súbita inspiração tomou conta do meu ser e resolvi abrir o editor de texto e começar a escrever as linhas que se seguem, reagindo a minha derrota física e mental, da mesma forma que o Grêmio do Felipão sempre reagia diante do Palmeiras do Luxemburgo nos seus tempos áureos. Mas, como estava falando, meu cérebro, realmente, está próximo de pifar. Quando você trabalha praticamente ininterruptamente nos turnos da manhã, tarde e noite, e chega em casa, após um happy hour, sem saber se são 22h, 23h ou 2h da manhã, e acorda, se veste automaticamente, sem pensar na roupa em que vai vestir, sem tomar café, e vai correndo para o trabalho, sem se dar conta que está chovendo e que você está ficando todo molhado, sem olhar para a loira torneada de mini-saia que passa por você, sem ouvir o pedido de esmola do moloque na sinaleira, se tudo isso acontecer, é porque você realmente está perto de ter uma pane cerebral. E geralmente você se da conta disso quando se olha no espelho num início de noite de quinta-feira, como é o caso, e se da conta de que você não faz a barba desde o final de semana. Nesse momento, você olha para o espelho, enxerga aquela figura cansada, acabada, detonada fisicamente, semi-barbuda, mas que no fundo é muito feliz e morre de vontade de sair e agitar com o mundo, e pergunta: eí cara, quem é você?

Enfim, alguns podem chamar isso de crise de identidade, outros podem achar que estou virando veado, outros que, numa inversão nesse sentido, posso um dia acabar torcendo pelo Inter, mas acho que não é nada disso. Acredito que tudo o que está acontecendo tem um sentido, bem como, acredito que a seca e a má fase do Grêmio (que, se pensarmos em termos de títulos, já dura anos) um dia isso tudo vai passar, e quando os gremistas estiverem erguendo novamente um troféu atrás de outro, vão olhar para trás, lembrar de tudo o que passou, e soltar uma sonora e saborosa gargalhada, e, recuperando o ar, suspirarão: "ah! bons tempos!". E eu, nesse momento, estarei tomando uma caipirinha, de frente para uma praia paradisíaca, e, saudosista, lembrarei do tempo na qual eu trabalhava na mesma proporção em que eu morria de rir numa redação de rádio da Serra Gaúcha, e, como um bom gremista, beberei demoradamente um gole da caipirinha mais gelada e, como diria Dom Quixote, direi de mim para mim: valeu a pena!