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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Valeu a pena!

Mais uma do Jornal das Missões (essa sai amanhã):

Estava começando a escrever um e-mail para o editor de esportes do Jornal das Missões, o Pedro, dizendo que não enviaria a coluna dessa semana porque meu cérebro pifou, quando de repente, uma súbita inspiração tomou conta do meu ser e resolvi abrir o editor de texto e começar a escrever as linhas que se seguem, reagindo a minha derrota física e mental, da mesma forma que o Grêmio do Felipão sempre reagia diante do Palmeiras do Luxemburgo nos seus tempos áureos. Mas, como estava falando, meu cérebro, realmente, está próximo de pifar. Quando você trabalha praticamente ininterruptamente nos turnos da manhã, tarde e noite, e chega em casa, após um happy hour, sem saber se são 22h, 23h ou 2h da manhã, e acorda, se veste automaticamente, sem pensar na roupa em que vai vestir, sem tomar café, e vai correndo para o trabalho, sem se dar conta que está chovendo e que você está ficando todo molhado, sem olhar para a loira torneada de mini-saia que passa por você, sem ouvir o pedido de esmola do moloque na sinaleira, se tudo isso acontecer, é porque você realmente está perto de ter uma pane cerebral. E geralmente você se da conta disso quando se olha no espelho num início de noite de quinta-feira, como é o caso, e se da conta de que você não faz a barba desde o final de semana. Nesse momento, você olha para o espelho, enxerga aquela figura cansada, acabada, detonada fisicamente, semi-barbuda, mas que no fundo é muito feliz e morre de vontade de sair e agitar com o mundo, e pergunta: eí cara, quem é você?

Enfim, alguns podem chamar isso de crise de identidade, outros podem achar que estou virando veado, outros que, numa inversão nesse sentido, posso um dia acabar torcendo pelo Inter, mas acho que não é nada disso. Acredito que tudo o que está acontecendo tem um sentido, bem como, acredito que a seca e a má fase do Grêmio (que, se pensarmos em termos de títulos, já dura anos) um dia isso tudo vai passar, e quando os gremistas estiverem erguendo novamente um troféu atrás de outro, vão olhar para trás, lembrar de tudo o que passou, e soltar uma sonora e saborosa gargalhada, e, recuperando o ar, suspirarão: "ah! bons tempos!". E eu, nesse momento, estarei tomando uma caipirinha, de frente para uma praia paradisíaca, e, saudosista, lembrarei do tempo na qual eu trabalhava na mesma proporção em que eu morria de rir numa redação de rádio da Serra Gaúcha, e, como um bom gremista, beberei demoradamente um gole da caipirinha mais gelada e, como diria Dom Quixote, direi de mim para mim: valeu a pena!

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