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sexta-feira, 30 de março de 2012

Driblando a milicada - tributo a Millôr

O período da ditadura militar, de 1964 até 1985, foi um período assombroso para o país. Politicamente e humanamente falando, foi um desastre para os brasileiros, pois foram cometidas atrocidades, em alguns casos, até piores do que as cometidas pelos fascistas italianos e pelos nazistas alemães. Ou seqüestrar a família de um inocente, que já foi torturado até quase morrer, torturar mulheres e crianças com choques elétricos, violações sexuais, queimaduras, etc, não é uma atrocidade digna dos tempos mais diabólicos de Hitler? Pois então... Psicose dos militares a parte, uma das categorias mais atingidas pela ditadura tupiniquim foi a dos jornalistas. Entretanto, mesmo com as mãos literalmente atadas e a boca amordaçada, alguns jornalistas faziam mágica para driblar a milicada. E um desses craques, infelizmente, morreu nessa semana. Millôr Fernandes. Ele integrou e dirigiu uma das publicações que mais deu trabalho para os milicos conservadores: O Pasquim. Junto com outros craques do pensamento brasileiro, como o santo-angelense Fausto Wolff, Jaguar, Ivan Lessa, Ziraldo, Glauber Rocha, Chico Anysio (que também se foi há pouco) e muitos outros, eles, ao melhor estilo molecada sem limites, bagunçavam a sisudez do sistema. E a criatividade deles não tinha limites. Impedidos pela censura de falar sobre política, eles utilizavam, por exemplo, uma entrevista feita com uma feijoada enlatada (publicada em maio de 1972) fazendo metáforas ao sistema, que tinha um gosto tão ruim quanto o de uma feijoada enlatada. Já em outra edição, após ter diversas matérias censuradas, saiu a capa com os dizeres “162 um número feito nas...” estampado em uma coxa. Em outra capa a ousadia ainda tirou onda com a censura: uma foto de uma mulher nua, virada de costas, pintada de zebra, com um rostinho desenhado dizendo: “deu zebra!!! Outro Pasquim nas bancas!”. Claro que, volta e meia, alguns dos jornalistas do Pasquim eram presos e torturados, mas sempre tinham outros para substituí-los a altura. Pois a fase que o Grêmio vive hoje é semelhante a que os jornalistas viveram nos tempos da ditadura. E mais: está parecendo a vida do Pasquim em tempos de ditadura militar. Ou seja, a fase é ruim, mas os gremistas se divertem. Não ganham título, mas comemoram uma vitória em Gre-Nal ou uma goleada contra o Avenida. E assim como o Pasquim tinha que se virar quando ficava desfalcado por meses devido a uma prisão de algum craque, como o Millôr, o Grêmio também vai ter que abusar da criatividade para suprir as ausências dos lesionados, principalmente do Kleber, que vinha sendo o grande craque do time. Mas, assim como a ditadura militar um dia sucumbiu e a milicada voltou para o seu lugar (os quartéis, de onde nunca deveriam ter saído) a falta de títulos do Grêmio também, um dia vai acabar. E eu espero estar por aqui para ver isso... Assim como espero que esse fôlego da SER não seja paraguaio, e vá até o fim, com o retorno a Série A do Gauchão. Um bom final de semana a todos. *Texto publicado no J Missões deste sábado.

sábado, 24 de março de 2012

Thompson x Filosofia

Nesse semestre, não sei ainda qual está sendo a maior loucura que estou fazendo: a minha imersão total, teoricamente falando, no mundo gonzo de Hunter S. Thompson, ou se a disciplina do curso de filosofia que optei por fazer nesse início de caminhada à lá Caverna do Dragão no doutorado em Comunicação da PUCRS. No curso encontro a turma toda: o Eric, o Bob, o Vingador (ele sempre aparece), ah, e claro!, o mestre dos Magos! Que, obviamente, desconfio que é o Vingador. Enfim, estou andando pela trilha sem saber se vou encontrar o caminho...
O fato é que nessa disciplina de filosofia descobri que não entendo patavinas de filosofia e estou tentando me pré-alfabetizar no assunto. Meu professor ou não responde meus emails, ou responde dizendo para “que eu leia os emails”, ou seja, ele quer dizer que eu não entendo o que leio, o que, em termos de textos teóricos de filosofia, faz sentido...
Mas sobre a outra loucura, a imersão total no mundo gonzo, essa sim, está me enlouquecendo. Em todos os sentidos. Chegou dia desses o livro Gonzo – The life of Hunter S. Thompson, de Jann S. Wenner & Corey Seymour. Em dois dias, após mais ou menos duas horas de trabalho, traduzi aproximadamente cinco páginas do livro. Óbvio que é uma tradução meio porca, mas não tenho como pedir para o meu primo Alemão traduzir tudo pra mim, então, estou traduzindo aos poucos, do meu jeito (totalmente gonzo) e, assim, vou aprimorando meu precário inglês. Aliás, tenho pouco tempo para aprimorar a língua de Thompson, pois, pelo que tudo indica, novidades bombásticas estão à vista na minha perra e emperrada vida....
Além disso, comecei a ler o livro Piravataria Tucana, um puta livro-denúncia, além dos textos normais das disciplinas do doutorado, dos textos das disciplinas que estou ministrando na UFPEL, das revistas que insisto em comprar, mesmo sem ter tempo de lê-las, etc, etc, etc.
O resumo do livro, em tradução minha, está no relato Karen Haymon Long, do Tampa Tribune, sobre a obra: “O livro de Wernner e Seymour’s baseia-se nas memórias de algumas pessoas que melhor conheceram Thompson: amigos de infância, editores, vizinhos, e garçons. Eles lembram todos os tipos de coisas sobre o homem que inventou o jornalismo gonzo”. Enfim, foram 112 entrevistados pelos autores, além da introdução escrita por Johnny Deep (que interpreta o Hunter no filme, baseado no livro, Rum: Diário de um jornalista bêbado, que já tenho aqui na estante, pronto para ser assistido). Bom, vou seguir minhas leituras, pois, em termos de Thompson, ainda sou um baby.
Por hora é isso! Hasta!

terça-feira, 20 de março de 2012

A queda da razão pura - By Ronaldo Fronza Júnior

O poema a seguir, recebi por e-mail do leitor Ronaldo Fronza Júnior. Grande Ronaldo! Ah, e a foto também foi escolhida por ele...

Não tem bits nem bytes
Que codifiquem ou descodifiquem
A beleza das pernas da moça
Não há combinação binária
Nem imagem digital
Que representem a beleza
Real e sensual
Que meus olhos e cérebro
Processam sofregamente

Virtualmente a tenho
Realmente a quero
Essa perna morena e carnuda
Que insiste em se esconder e provocar
Lá dentro de um short jeans rasgado
Paraíso escondido que derruba a razão

Tuas pernas decodificam
A binariedade do meu desejo
Desarma meu pensamento
E me leva para um outro mundo
Formado só por coxas douradas
E todas elas são suas
E minhas

Enquanto teus cabelos pretos
Tem luzes amarelas
Meu membro tem sua boca úmida
Que em pouco tempo estará
Pintada de branco
E depois é a minha vez
De beber seu líquido precioso
Passando a língua em seus lábios baixos
Fazendo-te gemer e derreter
Em tesão e loucura
Que extermina da face da terra
Qualquer indício de razão pura.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Eu quero um clone

Não estou de greve. O meu sumiço de quase uma semana tem várias explicações, sendo que a principal delas se chama doutorado. Além disso, tem as aulas, os projetos de ensino, pesquisa e extensão, leituras para tudo, para o doutorado, para as aulas, para a vida e também leituras de livros infantis para a minha Bilulinha, além, lógico, do pouco tempo que me sobra que uso todo para brincar com ela.
Portanto, malucos leitorinhos, não morri nem estou de greve. Nunca mais apareci no facebook e no twitter e, lá de vez em quando, tenho entrado no MSN, mesmo que só deixo ele “on” virtualmente, pois quase sempre estou fazendo outra coisa ao mesmo tempo. Por isso não chamei ninguém para conversar e por isso quase sempre esqueço até de que ele e outros programas e redes sociais existem. Para terem uma idéia, eu não tinha a mínima noção de que “eles” jogariam na terça-feira contra uns pernas de paus da Bolívia e não faço a mínima idéia de quando será o próximo jogo do Grêmio ou de qualquer outro time. Do jeito que a coisa anda, assim que der, vou ter que fazer um clone para dividir minhas tarefas.
Mas enfim, isso está apenas começando. Ainda bem! Pelo menos assim troco as alienações midiáticas-televisivas pelas alienações livrísticas.
Hasta La vitoria, siempre!

sábado, 10 de março de 2012

O pretendente

Sujeito pede uma audiência com o pretendente da filha. Aliás, eles já estão ficando. Rapaz vai jantar com a família, aquela coisa toda, e quando o rapaz se dirige para sair com a filha para a balada, o sujeito chama o próximo até o seu escritório.
Os dois entram. O clima é tenso:
- Sente-se – diz o pai, apontando para uma cadeira vazia.
O rapaz, todo sem jeito, obedece. Seu rosto começa a empalidecer.
- Você deve ter percebido que eu e minha esposa temos personalidades diferentes.
O rapaz fica mudo, não sabe o que responder.
- Não concorda? – insiste o pai.
- Si-sim – responde sem muita convicção o pretendente-ficante.
- Olha, meu rapaz, como você viu, minha esposa fala bastante. O que quer dizer que se você chatear minha filha ela vai te xingar, brigar contigo, fazer barraco, etc... Mas não precisa se preocupar, porque você só ouvirá desaforos, não irá se machucar...
O pai espera uma resposta, mas o sujeito nem pisca. “Onde esse merda quer chegar?”, ele se pergunta mentalmente. Passam-se 48 segundos de um silêncio ensurdecedor até que o diálogo prossiga.
- Entretanto, como você percebeu na janta, eu quase não falo. Não sou homem de palavras. Sou homem de ação.
Então, o pai se levanta calmamente e chama o rapaz com o indicador. Dirige-se lentamente até um armário e abre a porta mostrando para o rapaz cinco cabeças sem vida que jazem lá dentro. Em seguida, abre a porta do escritório e faz sinal para o rapaz sair. O pretendente-ficante, com as pernas tremulas e sem ar está saindo, quando o pai pergunta:
- Entendido?
O rapaz não consegue explanar nenhum som de sua boca. Fica com ela entreaberta e segue rumo a porta, deixando a filha do sujeito para trás...
O pai murmura para si mesmo: “bom garoto”.
FIM

Estreia duduziana

Estreei ontem no site do Movimento Municipalista, graças a convite da minha ex-colega e amiga Karine Raquel, que se formou comigo em 2006.
O texto completo, com um design profi, está no site: http://movimentomunicipalista.wordpress.com/2012/03/10/a-polemica-do-lixo-pelotense-por-eduardo-ritter/
Publico aqui o texto, sem os mesmos recursos visuais e informações complementares que estão no site do movimento:

A polêmica do lixo pelotense

O novo sistema de coleta de lixo, que está sendo gradativamente implementado no município de Pelotas, está dando o que falar. Desde o início de 2012 foram ampliados o número de containers, com a instalação de centenas de novos equipamentos, apresentando, no máximo, uma distância de 70 a 80 metros entre um container e outro. Os containers servem para a coleta do lixo orgânico. Já o lixo seco é recolhido nas residências nas segundas, quartas e sextas-feiras. Entretanto, por mais que se façam campanhas de conscientização, a população não está se adaptando tão facilmente ao processo e são inúmeros os problemas que estão surgindo e que são percebidos dia a dia nas ruas da área central de Pelotas. E, se o processo pode ser complexo para os moradores, os problemas que estão sendo percebidos são demasiado simples e claros.
O primeiro é o desrespeito a orientação dos containers serem utilizados apenas para lixo orgânico. Nas proximidades da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), por exemplo, onde a redondeza é cercada por bares que vendem latinhas de cerveja e garrafas de litro que são levadas pelos usuários em copos plásticos, todas as manhãs é perceptível: 1) a grande quantidade de lixo na rua e 2) um grande número de lixo seco, como as latinhas e copos plásticos, dentro dos containers. Se já é difícil conscientizar a população sã da cidade, imaginem os bêbados...
Como conseqüência, freqüentemente se vê catadores de material reciclável dentro dos containers atirando o que lhes interessa para fora. Além disso, muitas pessoas colocam o lixo misturado em sacolas e, com isso, os catadores abrem as sacolas para pegar o que lhes interessa. Segundo contam outros, os containers, que são grandes, já foi utilizado até por motel por um casal apaixonado sem dinheiro...
Ainda sobre a coleta do lixo orgânico, alguns moradores também reclamam da distância entre um container e outro. Antes era tudo colocado no lixo do prédio ou residência. Entretanto, agora, dependendo do lugar da residência o morador tem que caminhar até 40 metros até o container mais próximo. O que implica numa dificuldade, principalmente para idosos que moram sozinhos, e que complica ainda mais em dias de chuva.
O mesmo vale para o lixo seco. Alguns prédios lacraram as suas lixeiras e orientaram os moradores a colocar o lixo seco ao lado das mesmas. Como é notório, Pelotas é conhecida pela sua população canina nas ruas centrais. Com isso, além dos moradores de rua e dos catadores, os cães também extraviam boa parte desse lixo por ruas e calçadas.
Ou seja, apesar da idéia ser, na teoria, louvável, na prática é muito difícil que ela venha realmente a funcionar. Uma forma simples para resolver o problema seria não lacrar as lixeiras e dar a opção para a população de poder escolher entre as lixeiras prevendo a separação do lixo e os containers. Entretanto, para a maioria da população desinformada o container é, pura e simplesmente, lugar de lixo. É comum vermos alguém andando na rua, tomando uma latinha de refrigerante, e, sem pensar, jogar essa latinha dentro de um container. Por mais que se invista em educação, a captação da informação de panfletos, matérias jornalísticas e propagandas não dependem de seus emissores, mas sim, da população. Esse é um dos problemas dos brasileiros em geral, pois eles que se acostumaram com um estado paternalista, ou seja, se o lixo não é recolhido defronte da sua casa, eles não vão andar 40 metros para depositar o lixo num container todos os dias. Esse é um problema de educação, mas que poderia ser amenizado dando alternativas à população. Ou seja, além da educação e orientação, manter as lixeiras tradicionais, com lixo orgânico de um lado e seco de outro, seria mais eficiente e evitaria tantos problemas, nesse caso, para os pelotenses.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Desculpas esfarrapadas

Comecemos pelas desculpas esfarrapadas dos colorados. Após levar um banho de bola do Santos, que além dos três gols que fez ainda perdeu, no mínimo, outros três, os colorados querem achar um culpado para a derrota fiasquenta de quarta-feira. Houve até quem quisesse colocar a culpa no pobre do árbitro. Está bem, ele cometeu seus erros, mas a principal reclamação dos colorados não procede: o Índio foi na bola, sim, mas enquanto caía, ele puxava o Borges pelo braço. E, só por ser polêmico, o árbitro já está absolvido.
Outra desculpa esfarrapada é dizer que o Inter perdeu porque o Dagoberto não começou jogando. É sempre assim: um dia é Dagoberto, no outro é o D’Alessandro, num terceiro é o Guiñazu, etc. Meus amigos, clube de futebol não é feito de 11 jogadores. Time vencedor tem que ter elenco e um técnico que saiba trabalhar com esse elenco! Diante das reclamações dos colorados, começo a visualizar uma nova passagem de Celso Roth pela beira do Guaíba...
Bom, mas resumindo, os colorados querem arranjar desculpas para justificar o que o próprio Dorival Júnior profetizou: parar Neymar quando ele está em uma noite inspirada é impossível. Só com falta. Mas como o Inter teve muita auto-confiança e não quis derrubar o guri, deu no que deu...
Desculpas esfarrapadas II – Com o Grêmio, nessa semana, a coisa não foi muito diferente. Jogou mal, perdeu até de levar uma goleada do inexpressível River Plate do Sergipe, que é patrocinado pelo Calcinha Preta. Os três gols no final só livraram o time de Luxemburgo de um vexame histórico e que resultaria em intermináveis piadas relacionando o River com o seu patrocinador exótico. E o Grêmio também está partindo para as desculpas esfarrapadas. Luxemburgo chegou a justificar a derrota para o Caxias nos pênaltis pela ausência do Leo Gago. E ontem foi o campo, foi a qualidade (!?!?!) do River, etc. Querem me matar! A sorte do Grêmio é que os torcedores adotam a filosofia do “você não vale nada mais eu gosto de você”...
Desculpas esfarrapadas III – Por fim, chegamos a nossa SER Santo Ângelo. O cansaço não pode ser desculpa para levar um gol aos 47 minutos do segundo tempo. Time que quer subir tem que estar ligado até na hora de dormir. O torcedor missioneiro conhece bem essa história: em 2007 o time liderou todo o octogonal final e, num único cochilo, perdeu para o Rio Grande, que já não disputava nada, em casa, e ficou de fora. Como diria meu amigo Tiago Beck: Tem que se ligar, cabeção! Nova derrota amanhã e adiós primeirona.
Um bom final de semana a todos, de preferência, sem desculpas esfarrapadas...

*Texto publicado no J Missões de sábado.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Sobre Crime e Castigo

Terminei de ler ontem o Crime e Castigo, do Dostoiévski. Esse era um livro que há muito tempo estava na fila para ser lido, até que, dia desses, unindo o útil ao agradável, terminei por lê-lo. Enfim, é difícil comentar um livro que é um clássico e escrito por um dos autores mais conhecidos da literatura mundial, por isso, vou me limitar a passar as minhas impressões pessoais sobre a narrativa e quem quiser uma opinião mais qualificada, que vá buscar no Google acadêmico...
Resumidamente, a história trata de Raskólhnikov, que também é chamado de Rocka. Vou tratá-lo por Rocka, que é mais fácil de escrever e de o leitor ler. Enfim, Rocka é um ex-estudante miserável e idealista, metido a intelectual, e completamente maluco que vive em São Petersburgo do século XIX, época em que o velho Dost escreveu o livro. Durante a narrativa inteira, o personagem principal passa debatendo idéias e matutando mentalmente uma porrada de teorias humanas, assim como os personagens secundários também discutem às vezes entre si, principalmente sobre o estado de saúde mental de Rocka.
Fazendo um resumo do resumo do miolo da história, Rocka adota a seguinte teoria, já exposta em citação feita dias atrás nesse blog: se ele matar uma velha avarenta e rica, que só faz mal aos outros, e pegar esse dinheiro para sair da miséria e ajudar aos necessitado, ele não estará comentando nenhum crime, moralmente falando. Para além dessa teoria, ele também levanta outra: por que Napoleão (e isso vale para qualquer líder que usa a força e a guerra) pode matar milhões de inocentes e eu não posso matar uma velha rica e inútil à sociedade para partilhar os seus bens?
Enfim, a partir disso, ele traça um plano para cometer o crime perfeito. Mas, tanto na hora da execução, quanto no período pós-crime (sim, ele mata a velhinha) os nervos e o sentimento humano, além das suspeitas psicológicas que passam a ser levantadas contra ele, vão tomando conta do cenário. Apesar de matar a velha, o pouco que ele rouba acaba escondendo embaixo de uma pedra, na qual ele nunca mais a procuraria. Diante do “fracasso” da empreitada, em certo momento ele chega a concluir mais ou menos o seguinte: “toda a ação, se fracassada, parece tola aos olhos dos outros”. E, pensando hoje, essa idéia vale para tudo: o político que perder por um voto de diferença que fatalmente se sentirá um fracassado; o time que jogou melhor, mas levou um gol de pênalti no último minuto (mesmo que não tenha sido pênalti), que também carregará a cruz do fracasso; e assim, sucessivamente.
Nesse sentido da psicologia humana individual e coletiva, são expostas diversas outras teorias. Além das já destacadas por gente como o Larry Rohter, que já citei aqui, que diz que em Crime e Castigo o velho Dost é o primeiro a descrever o princípio de que os seres humanos criam teorias para justificar aquilo que eles sabem estar cometendo de “errado”, e das outras teorias que são citadas nos cursos de Direito (como as provas psicológicas x provas palpáveis), enfim, o ponto principal que quero destacar aqui é a sensação psicológica altamente nervosa de alguém que fez algo escondido que não assumiria publicamente, e que passa permanentemente temendo ser descoberto. Ponto. Isso vale para tudo. E tem tudo a ver com as discussões sobre opinião pública, de Walter Limppmann à Espiral do Silêncio, de Noelle-Neumann, que defende que uma pessoa que tem uma opinião X, quando está diante de pessoas que têm opinião Y, tende a silenciar ou a “fingir” ter a mesma opinião Y.
Mas enfim, como bem conheço a preguiça do vagal leitor, vou parando por aqui, e fica mais uma dica de leitura. Ah, e não indico a edição que eu li, da L&PM, porque está repleta de erros de digitação, repetição de palavras, como por exemplo “o direito direito ao crime”, etc. Nesse ponto, essa edição é horrível.
Hasta!

sábado, 3 de março de 2012

O ovo assassino – Versão pelotense

Pelotas é conhecida como a terra do doce. Como todas as cidades do interior do Rio Grande do Sul, que são a capital de alguma coisa, Pelotas é a capital do doce. Tem a Fenadoce, tem docerias espalhadas por toda a cidade, tem pessoas que vendem doces na rua, e por aí vai. E tem também o MacDonald’s, que não vende doces, mas vende outras guloseimas. Eis que, em uma doceria e no Mac, vivi mais duas peripécias graças a minha alergia a ovo.
A primeira foi na doceria. Fui lá com a família toda, pais Nanas me visitando, nenê e tal, inventei de querer um doce. Fui até o balcão, olhei aquele monte de doces expostos, um mais bonito que o outro, e perguntei à funcionária?
- Em algum deles não vai ovo?
- Como assim?
- Algum deles é feito sem ovo? É que tenho alergia...
- Alergia??
- Sim, a ovo. Não posso comer nada que vá ovo...
Ela me olhou, desconfiada. Respirou fundo, olhou para todos os doces, e respondeu.
- Bem temos esse doce de amendoim, temos esse doce de morango... ah, e temos também o quindim... e o...
- Quindim?
- É, quindim...
- Mas eu quero um doce que não vá ovo...
- Então, no quindim não vai ovo...
Olhei para ela com cara de Garfield. Estaria ela bêbada àquela hora???
Ela olhou para a minha cara de Garfield e então caiu a ficha:
- Ah, você que quer um que não vá ovo? Desculpa, me confundi, achei que fosse leite...
- Bom, esquece, me vê uma porção de fritas e uma Pepsi...
Já a segunda história, foi no Mac.
Vi os lanches que lá estavam expostos no cardápio e me interessei pelo tal do Big Mac. Mas, nos ingredientes, dizia “molho especial do Mac”. Perguntei para a moça que estava no caixa:
- O que vai nesse molho especial?
- Então, esse é o molho especial do Mac.
- Sim, isso eu sei, mas ele é feito de quê?
- É segredo do Mac.
- Mas vai ovo?
- Não posso falar...
Puta merda. Olhei com a pior das caras de Garfield para ela.
- Escuta, moça, eu tenho alergia a ovo, e preciso saber se vai ovo no molho...
- Sei... – disse ela, com uma cara de espertinha, como se duvidasse de mim. Nesse momento, a fila inteira estava de ouvidos ligados, querendo ouvir nossa conversa...
- Você não vai me dizer se vai ovo ou não no molho especial?
- Óbvio que não, é segredo...
Estava a ponto de estrangulá-la! Será que ela pensa que eu sou um espião do Habibs que quer a fórmula da porra do molho especial?
- Minha querida... Ouça com atenção... Eu estou com fome, quero comer essa porra de Big Mac, mas tenho alergia a ovo. Só preciso que você me diga se vai ou não ovo na porra do molho, entendeste?
Ela não falou nada. Ficou me olhando. E pior: ousou usar a minha cara de Garfield! Foi então que desisti. Só de teimoso, pedi a porra do Big Mac, mas antes, avisei:
- Está bem. Você ganhou, pode me trazer um Big Mac, mas se eu passar mal, a culpa será sua! – decretei.
Comi o tal do Big Mac. Não é lá grande coisa. Inclusive, achei o gosto do tal molho especial uma bela porcaria. E era amarelo. Não vomitei, apenas me deu uma boa dor de barriga. E até agora não descobri se ia ovo ou não...

quinta-feira, 1 de março de 2012

Cegueira gremista

Às vezes fico me perguntando se o Odone assiste aos jogos do Grêmio. E o Pelaipe? Sinceramente, acho que não. Qualquer imbecil que assistiu a pelo menos um jogo do Grêmio nesse ano, sabe que o time precisa, antes de qualquer coisa, de no mínimo um meia de qualidade, de preferência para vestir a 10 tricolor. Digo no mínimo, porque na verdade o Grêmio precisa de dois meias que cheguem para serem titulares. E digo dois meias bons, não apostas, como esse argentino que chegou dias atrás e que, pelo que falaram, é mais um meia-atacante do que um meia de criação. Qualquer analfabeto futebolístico sabe que Marquinhos e Marcos Aurélio não dá. É impossível pensar em ganhar sequer um título de turno de Gauchão com um meio-campo desses. E, ao invés de trazer um meia, a direção traz mais um lateral-direito. Agora são três: Gabriel, Mário Fernandes e Pará. Vão montar um time de laterais direitos?
Em entrevista, o Luxemburgo disse que a posição de meia não apresenta muitas alternativas no mercado, e indicou o nome do veterano Alex, 34 anos, ex-Palmeiras e Cruzeiro, e que é ídolo no futebol turco. Acho que valeria a pena investir pesado nele, até porque, time nenhum é campeão sem ter um bom articulador, um cérebro do time. O Inter tem essa figura há tempos: D’Alessandro.
Outra opção, que acho razoável, seria buscar esse meia no futebol do interior. O Grêmio já fez isso no passado e deu muito certo, quando trouxe o Arílson, do Esportivo, e colocou-o ao lado do Carlos Miguel, prata da casa. Foi a melhor dupla de meias da história tricolor. Vendo Novo Hamburgo e Caxias decidindo o primeiro turno do Gauchão, e pensando que houve outros times que deram baile no Grêmio e fizeram melhor campanha, como São José, Cruzeiro e Juventude, fico me perguntando, por que não investir na contratação dos craques desses times? O Novo Hamburgo apresentou para o futebol gaúcho o jovem Clayton. Eis aí, de barbada, uma possível solução para o problema de falta de meia habilidoso no Grêmio. Tem tanta gente boa jogando por aí, no interior, e sendo lançado pelas categorias de base dos clubes que não consigo acreditar que os olheiros do Grêmio não consigam achar, em todo o território nacional, dois meias que joguem mais que os limitadíssimos Marquinhos e Marco Antônio.
CAXIAS – O título do Caxias é a premiação para uma excelente organização. O time da Serra nos últimos anos tem chegado freqüentemente às decisões do Gauchão. Venceu em 2000, foi vice em 2009 e chega novamente na final desse ano. Ou seja, a cada quatro anos, uma decisão, deixando Grêmio ou Inter de fora. Que sirva de inspiração para todos os gestores de clubes do interior.
FUTSAL – Hoje tem teste da Asaf. Fui aluno do técnico Raul nos tempos de colégio e sei que ele vai escolher bem os aprovados. Entretanto, agora sou eu quem dá a dica: Raul, escolha com ousadia.
Um bom final de semana a todos.

* Texto que será publicado no J Missões de sábado se o Grêmio não anunciar a contratação de um meia bom até amanhã.