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sexta-feira, 30 de março de 2012

Driblando a milicada - tributo a Millôr

O período da ditadura militar, de 1964 até 1985, foi um período assombroso para o país. Politicamente e humanamente falando, foi um desastre para os brasileiros, pois foram cometidas atrocidades, em alguns casos, até piores do que as cometidas pelos fascistas italianos e pelos nazistas alemães. Ou seqüestrar a família de um inocente, que já foi torturado até quase morrer, torturar mulheres e crianças com choques elétricos, violações sexuais, queimaduras, etc, não é uma atrocidade digna dos tempos mais diabólicos de Hitler? Pois então... Psicose dos militares a parte, uma das categorias mais atingidas pela ditadura tupiniquim foi a dos jornalistas. Entretanto, mesmo com as mãos literalmente atadas e a boca amordaçada, alguns jornalistas faziam mágica para driblar a milicada. E um desses craques, infelizmente, morreu nessa semana. Millôr Fernandes. Ele integrou e dirigiu uma das publicações que mais deu trabalho para os milicos conservadores: O Pasquim. Junto com outros craques do pensamento brasileiro, como o santo-angelense Fausto Wolff, Jaguar, Ivan Lessa, Ziraldo, Glauber Rocha, Chico Anysio (que também se foi há pouco) e muitos outros, eles, ao melhor estilo molecada sem limites, bagunçavam a sisudez do sistema. E a criatividade deles não tinha limites. Impedidos pela censura de falar sobre política, eles utilizavam, por exemplo, uma entrevista feita com uma feijoada enlatada (publicada em maio de 1972) fazendo metáforas ao sistema, que tinha um gosto tão ruim quanto o de uma feijoada enlatada. Já em outra edição, após ter diversas matérias censuradas, saiu a capa com os dizeres “162 um número feito nas...” estampado em uma coxa. Em outra capa a ousadia ainda tirou onda com a censura: uma foto de uma mulher nua, virada de costas, pintada de zebra, com um rostinho desenhado dizendo: “deu zebra!!! Outro Pasquim nas bancas!”. Claro que, volta e meia, alguns dos jornalistas do Pasquim eram presos e torturados, mas sempre tinham outros para substituí-los a altura. Pois a fase que o Grêmio vive hoje é semelhante a que os jornalistas viveram nos tempos da ditadura. E mais: está parecendo a vida do Pasquim em tempos de ditadura militar. Ou seja, a fase é ruim, mas os gremistas se divertem. Não ganham título, mas comemoram uma vitória em Gre-Nal ou uma goleada contra o Avenida. E assim como o Pasquim tinha que se virar quando ficava desfalcado por meses devido a uma prisão de algum craque, como o Millôr, o Grêmio também vai ter que abusar da criatividade para suprir as ausências dos lesionados, principalmente do Kleber, que vinha sendo o grande craque do time. Mas, assim como a ditadura militar um dia sucumbiu e a milicada voltou para o seu lugar (os quartéis, de onde nunca deveriam ter saído) a falta de títulos do Grêmio também, um dia vai acabar. E eu espero estar por aqui para ver isso... Assim como espero que esse fôlego da SER não seja paraguaio, e vá até o fim, com o retorno a Série A do Gauchão. Um bom final de semana a todos. *Texto publicado no J Missões deste sábado.

3 Comentários:

  • Eram nossos heróis; em época de mordaça e silêncio O Pasquim rompia com todo "status quo". "Livre pensar é só pensar" bradava o jornal, como os milicos iam nos impedir de pensar?
    Recolheram todos os da casa do estudante onde eu morava, fichados no DOPS. Eu escapei porque estava no banheiro, mijando; quando saí estranhei a casa toda aberta e vazia.
    Duas horas depois voltaram, assustados e intimidados.

    Por Blogger Marcos, às 2 de abril de 2012 às 03:29  

  • maior absurdo é saber que tem gente que ainda fala q nada disso aconteceu e que eram bons temposs...bons tempos de tortura,endividamento nacional, desigualdade social??!!!

    Por Blogger Carolina, às 3 de abril de 2012 às 18:47  

  • Porra alemao, vai pros states? precisa de um tradutor? eheh

    Por Blogger Zaratustra, às 11 de abril de 2012 às 14:56  

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