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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Dos 13 aos 70

Quando eu tinha 13 anos, lembro que tive que fazer fisioterapia devido a uma lesão na virilha. A fisioterapeuta, uma mulher de menos de 30 anos, morena, baixinha, fazia um pouco de massagem na virilha, e depois colocava uns aparelhinhos que ficavam ali, massageando, fazendo as minhas coxas balançarem. Depois ela voltava e fazia mais massagem, com os dez dedos calientes de suas mãos. Agora, aos 70 anos, fico pensando nesse momento feliz da minha vida.
Quando eu tinha 13 anos eu comecei a sentir muita dor jogando bola. Eu era bom, jogava nas categorias de base do Xavante. Uma promessa. Meio-campo, habilidoso, camisa 10. O médico do clube recomendou a fisioterapia. E aí começou o meu fim.
Quando eu chegava, a fisioterapeuta erguia meu calção, deixando ele no formato de uma sunga, e começava a massagear. Eu tentava me controlar, mas ele começava a ficar duro. Ela passava as mãos vagarosamente por cada centímetro da minha coxa e quando eu me dava conta, ele estava ali, querendo saltar pra fora, duro feito uma rocha. Ele já sabia o que queria antes do meu cérebro se dar conta do negócio. Eu não tinha defesa. Era o toque da mão dela nas minhas coxas e ele ganhava vida própria. Ficava duro, quente, duro, implorando pelo toque das mãos dela, habilidosas e ágeis.
Depois que ela colocava os aparelhos, ele se acalmava. Era um tratamento de choque. Porém, como numa tortura, ela voltava, tirava os aparelhos das minhas virilhas, e massageava mais um pouco. Foram três sessões com a mesma rotina: eu ali, respirando com dificuldade, enquanto ele agia sozinho. Até que na quarta sessão, ele endureceu para um lado. Ficou caído na direita, como um ponteiro, e ela não tinha como massagear no lado direito com ele ali. Ele é malandro. Deu uma de Garrincha e ficou ali, endurecido, se parando de louco, como dizem nas Missões. Eu não tinha nada a ver com o negócio. Eles que se entendessem! E ela tomou a iniciativa. Com as pontas dos dedos, pegou NELE, e colocou no CENTRO. Foram apenas segundos, mas ele quase explodiu. Cada veia ficou saltada como os meus braços quando eu comecei a fazer academia, anos mais tarde. Foi a minha apoteose em 13 anos de vida. Parecia que ele farejava o cheiro da sua amiga, umedecida, que estava ali por perto... Mas os cérebros meu e da dona da amiga dele estavam tentando fingir que nada daquilo lhes dizia respeito. Os cérebros tentavam fazer uma coisa, mas eles queriam outra. Eles tinham vida própria. Eles queriam se encontrar. Ele estava quente, duro, e clamava por ela, molhadinha, húmida, latejante.... Até que na décima e última sessão, ele dominou todo o meu corpo. Ele assumiu o controle de tudo, das mãos, das pernas, do cérebro... Quando ela começou a massagear nos arredores da marca do pênalti, ele conseguiu assumir o controle das minhas mãos... e minha mão colocou a mão dela em cima dele. Ela só olhava para ele. Era como se eu não estivesse ali. E ela fez a massagem nele. E, sem me olhar, a amiga DELE tomou conta do corpo dela também. E ela abaixou meu calção e lambeu ele, durinho e quentinho, como se fosse um pirulito da terra do nunca. Um pirulito com vida própria. Ela lambia, passava a língua, querendo o Leite Condensado que estava no recheio. Mas a amiga DELE não estava conformada. Ela queria ELE só pra ELA. E, assim, ela, que era dona DELA, tirou o seu uniforme branco e subiu NELE. Eu assistia a tudo.
Era tudo sensacional. Era como num filme. O mágico é que os dois chegaram às suas apoteoses orgásticas ao mesmo tempo. E eu não tinha o controle de nada. Apenas urgi um AHHHHHH, enquanto ouvia um OHHHHHHH. Quando os dois ficaram satisfeitos, ela levantou e se vestiu, como se a sessão de massagem tivesse terminado normalmente. Eu me levantei e me vesti, com a mesma postura. Assinei o cartão, confirmando que eu fiz a última sessão, e fui embora.
Hoje, aos 70 anos, depois de 50 anos trabalhando como pintor, fico pensando... Ela não me curou da minha lesão. Eu não fui jogador, mas tive esse momento mágico. Talvez eu esteja errado, mas foi melhor do que ter feito qualquer gol em qualquer estádio do mundo.
E agora, aos 70 anos, semana que vem começo uma nova sessão de fisioterapia. Não espero curar a minha dor, mas espero que ele volte a se sentir da mesma forma de quando tinha 13 anos...

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Where the buffalo roam

Quando você olha a previsão do tempo de noite e vê que no outro dia a máxima é de -1ºC, você não coloca muitas atividades outside your place. Cada vez estou entendo mais porque algumas traduções do inglês para o português ficam idiotas se traduzidas ao pé da letra em nossa língua-mãe... mas enfim. Foi o que aconteceu comigo na virada do domingo para a segunda-feira. A previsão era exatamente essa, menos um, e eu não tinha nenhuma obrigação fora de casa. Então, elaborei um schedule at home, que contou com o filme “Where the buffalo roam” durante a tarde.
O filme é muito foda. Encontrei completo no youtube, mas sem legendas. É como eu sempre digo, quando estou meio down, em crise com a minha tese, é só entrar em contato com a obra do Thompson, seja por livro ou por filme, que me reanimo. Explicando um pouco sobre o filme, trata-se de uma comédia baseada na biografia do Hunter Thompson. O filme é de 1980 (o Thompson morreu em 2005, ou seja, ele estava em plena produção jornalística e literária) e, de uma certa forma, traz uma caricatura do Thompson e de seu advogado maluco, que é o mesmo personagem do Medo e Delírio em Las Vegas. Vale muito a pena. Se você leu algum livro do Thompson e gostou, então, é obrigatório.
Mesmo sendo um filme cômico, com cenas exageradas (os produtores dizem que foi fifty-fifty, ou seja, metade do filme é ficção e outra metade é baseada na biografia do Thompson), eu parei pra pensar e lembrei, em certos momentos, o que eu estou fazendo aqui, nos States Thompsianos. Mais especificamente, a minha reflexão ocorreu no momento em que o filme mostra um julgamento de hippies que foram pegos fumando maconha. Um deles é condenado e então o juiz lê a sentença. O Hunter pergunta para o advogado: “o que ele está fazendo?”, já que é um amontoado de palavras sem sentido. O advogado responde “lendo a lei”. E, ao fim, o juiz pergunta para o réu: “Entendeu a sua pena?”. E ele, com uma puta cara de adolescente perdido no mundo, balança a cabeça negativamente e murmura “não”, ao que o juiz retruca e aumenta a pena: “cinco anos de prisão”. Ou seja, aí está, entenderam!!!??? Aí está a indignação! Aí está a minha paixão pelo jornalismo gonzo! Aí está a esperança, a indignação contra coisas absurdas que acontecem com o aval de uma lei... sem sentido!!!! E que, teoricamente, teria o aval da sociedade!
O guri foi condenado a 5 anos por fumar maconha e dizer que não entendeu a lei no tribunal (ou seja, foi condenado por ser sincero! É absurdo demais!) E o Hunter Thompson, em meio a um monte de jornalistas que acham isso normal, se indignava! Ele dizia “caralho, isso é muito absurdo! Como vocês ficam quietos diante disso???”. E isso acontece todos os dias! E no Brasil também! E pior: acontece com os jornalistas presenciando cenas absurdas muito piores que essa (eu mesmo, tenho muitas histórias nesse sentido, em que, por exemplo, narrei o que vi no jornal e no outro dia tinha vereador ligando pro dono do jornal pedindo a minha cabeça! É muito revoltante!). E é disso que o jornalismo gonzo trata! De se revoltar contra as coisas absurdas que acontecem todos os dias, principalmente aquelas que ocorrem com o aval da lei, da “Justiça” e da sociedade, e que o jornalista vê, e na maioria das vezes, ele não conta – por motivos diversos, menos os de sua real função!
Eu já participei de processo judicial. E é exatamente assim. O juiz é um deus – ele crê nisso, e todos na sala acreditam. Se você falar alguma coisa sem a sua permissão você pode passar anos na cadeia. É ridículo demais! É absurdo demais! E o juiz decide o que quer, os juris podem ser uns imbecis, e eles decidem que você, mesmo inocente, vai passar o resto da vida na cadeia, ou que, um assassino psicopata vai ficar solto! E isso acontece sempre, todos os dias, e com a concordância da imprensa!!!!
Eis minha indignação.... Eis como eu me sinto ao recuperar a obra e a biografia de Hunter Thompson. Ele se indignava. Tudo bem, na maioria das vezes chapado, bêbado, etc, mas se indignava, porra! Se levantava contra aqueles que tem o aval da sociedade para decidir! E mostrava no jornal, na revista, os absurdos que eram cometidos, pela polícia, pelos juízes, pelos políticos... Mas não era algo vazio, algo como as choradeiras do Facebook, como “José Genoíno é ladrão e quer tratamento médico”. Não, ele ia muito além disso. Ele fugia do lugar comum. Ele pegava os questionamentos pequenos e transformava em grandes questões. Ele deixava louco os leitores, os donos dos jornais, os outros colegas jornalistas, as fontes, os políticos, os empresários que dependiam das falcatruas envolvendo povo-imprensa-empresa, enfim, ele deixava todo mundo louco, porque ele escancarava as suas vísceras diante dos olhos de todos! Foi assim que ele derrubou candidatos à presidência dos Estados Unidos!
E, creio eu, essa é uma das funções do jornalismo. O jornalismo, por natureza, deveria fazer isso.Entretanto, os poucos que fazem isso, entram para a história da profissão. Deveria ser o contrário. Mas não é. E eis, aqui, nesse humilde blog, a justificativa para a minha tese, e, de certa forma, a aplicação do conceito de parresía (recuperado por Foucault, e que quer dizer, a grosso modo: dizer a verdade contra a autoridade no espaço público correndo algum risco – de vida, de ser preso, etc) ao jornalismo gonzo. Sei que outros jornalistas fizeram isso, inclusive no Brasil, como o Tim Lopez, que pagou com a vida a vontade do dizer a verdade no espaço público contra poderosos... mas creio que o jornalismo gonzo, na parte do jornalismo literário, pode abrir os olhos de muitos estudantes e jornalistas formados medíocres que se contentam em simplesmente se adaptar as regras do status quo, que eles sequer entendem como funciona, como já apontou Bourdieu... Mas, enfim, aí ampliamos muito mais o campo da discussão.. por hora chega! Hasta!

sábado, 23 de novembro de 2013

Nostalgia novecentessista

Saudades da Paraíba! Saudades de Jampa, que eu nunca vi! Saudades de 1995, ano do título da Libertadores, Grêmio campeão da América, Inter não ganha de ninguém! Festa no colégio, festa na turma, ensaio de sete de setembro na rua, bandeira do Grêmio e ela também de camisa do Grêmio! E todo mundo veste a camisa do Grêmio! Saudades de 1994, gol do Nildo na final da Copa do Brasil, eu assistindo com meu pai, em casa, comemorando o título sem imaginar o que estava por vir. O Inter nem preocupava. E eu ia pro colégio e ficava lá, olhando de longe, viajando longe, pensando longe... Acreditando que um dia eu ia chegar lá!
Jogo no campinho do Sepé. Campo torto pra um lado. Lança a bola, ela está indo em linha reta, e quando você menos espera... slapt! Ela escorrega pela lateral. Saudades do final dos anos 1990, outra turma, outras pessoas... Cruzamento do Beiço do meio de campo, o Nêgo escora de cabeça e CATAPUF! Golaço de voleio! Eu, o desacreditado, o eterno reserva, termino campeão e artilheiro do campeonato!
Saudades dos anos 1990, time C da turma vai fazer amistoso contra o time A na educação física, e metemos 3 a 2 nos caras, três gols do Jorge chileno! Sentimo-nos orgulhosos de nossas proezas, imaginamos uma matéria do Régis Riesling no Globo Esporte do outro dia – no tempo em que ainda existia o jornalismo esportivo minimamente envolvente e sério. Pensamos que elas estão nos olhando, vibrando com nossas glórias, mas elas estão nem aí pra nós, que somos os vilões da história, pois batemos em seus príncipes, acéfalos, loiros e de olhos azuis... e elas vão lá consolar os heróis derrotados...
E nós seguimos em frente, lutando contra a regra da vida, lutando contra tudo, lutando contra o sistema, contra a natureza, ou como disse o Vilso Santi na defesa da sua tese doutoral “estou aqui num lugar onde o sistema não me permitiria estar”. Ok, as palavras não são essas, mas a ideia, creio eu, é a mesma.
E pela lógica de todos, eu sou do povo, eu sou um zé ninguém... um jogador mediano, o cara que não pegava geral no colégio e que ainda por cima não ia bem nas notas... Quem apostaria em mim? Quem aposta, hoje? Talvez o Jimbo, meu cachorro, meu melhor amigo durante 15 anos... Agora olho pela janela o rio Hudson e penso: porra Jimbo, onde você está, meu amigo de fé, meu irmão camarada!?
E estou aqui. No trabalho ninguém achava que eu fosse muito longe. No mundo acadêmico sou o eterno patinho feio, o gauche, o flanador que está por aí, sem pesquisar internet, redes sociais e a porra toda... vindo do interior, perdido na capital. E volta e meia eu retorno para as arquibancadas do Calistão, nosso eterno ginásio, demolido por um defunto que está se revirando embaixo da terra, enquanto eu lembro dos golaços que fiz em conversas memoráveis com meu melhor amigo dos anos 1990 (e um dos melhores amigos da atualidade em mi perra vida) na praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, um dia antes de embarcar para a dita capital do mundo... E vou atrás dos rastros de um cara foda, que também nunca se conformou com o sistema, que também passou por poucas e boas e se ferrou bastante até conseguir firmar suas pernas nesse planeta maluco... E enquanto a Terra gira, o tempo vai e vem, e enquanto espero a neve fico andando pra frente e pra trás, lembrando de coisas que poderiam ter sido, mas não foram, mas que, quem sabe, um dia serão.
Lembro da pele branca, na saia jeans, do cabelo liso, até as costas, que mesmo na derrota do Grêmio me fazia crer, por poucos momentos, que o mundo era belo, e que, como diria o Renato Russo, me faziam crer ao menos uma vez que todas as pessoas são felizes.... Eu olhava, gravava a imagem, e ia pra casa... sonhando em ter coragem de um dia dizer tudo o que sentia, tudo o que sonhava, tudo de bom que ela me causava... mesmo sem fazer nada... apenas estando ali, linda e perfeita... e... E, depois disso, eu ia pra casa, e numa época que nunca mais vai voltar, o Grêmio ia lá, e vencia. Vencia bonito, com raça, com garra, jogando bem, pressionado... Era vitória certa, sempre. Paulo Nunes, Jardel... Espetáculo. Vitória em campo e esperança no amor platônico...
Vitória para se comemorar hoje, 20 anos depois, com uma Bud em New York City...
E pelo céu, e pelo mar, vou por aí... a procurar....
E, parafraseando algum cantor de rock gaúcho, a minha vontade é ser bonito... mas sempre volto atrás!
Laaaaaaaaaaaaaaaaa, la laiaaaaaaaaaaaaaaaaa!

O quebra-cabeça da tese

Já estou em Nova York há quase quatro meses e, confesso, praticamente nunca comentei aqui ou em outro lugar online sobre a minha tese. Bom, não tenho como explicar detalhes aqui, senão a escreveria inteira, mas, resumindo o resumo do resumo, ela trata principalmente sobre o Jornalismo Gonzo.
E nos últimos dias tenho pensado sobre como montar esse quebra-cabeça. Digo isso porque, certamente, será um puta trabalho de reflexão e edição. Tenho mais peças do que poderei usar. Isso que ainda falta um monte de material para levantar. Mas, com o que tenho hoje, creio que seria o suficiente para escrever mais de mil páginas. Não que eu seja um super escritor, ou um pesquisador fora de sério, mas é muito material. E aí entra o trabalho de edição. Lembro de quando ouvi o Fernando Morais falando sobre o livro “Os últimos soldados da Guerra Fri”. Ele disse que tinha material para escrever duas mil e quinhentas páginas, mas não podia. Então, ele teve que catar o principal, e assim ele escreveu um puta livro de aproximadamente 300 páginas. Os acadêmicos de plantão dirão “mas uma tese não é um livro reportagem”. Há controversas.
Bom, só da obra do Thompson, tenho lidos e relidos os seis livros que foram traduzidos para o português (Medo e Delírio em Las Vegas, Hell’s Angels, Reino do Medo, Screw Jack, A grande caçada dos tubarões e Rum: diário de um jornalista bêbado). Além desses, tenho mais dois em inglês aqui comigo: Fear and loathing on the campaign trail 72 e Better than sex. E ainda tem mais meia dúzia que preciso adquirir (e ler) antes de ir embora). A sorte é que nos Estados Unidos livro é barato. Ademais, tem mais os do Foucault, que tratam da parresía (esses estão comprados e lidos), mais os livros biográficos e de correspondências do Hunter Thompson. In addition, tem três filmes baseados em obras dele e mais dois documentários sobre a sua vida e obra. E, claro, tudo o que estou vendo e o que pretendo ver por aqui que tem referência com a sua vida e obra, além dos livros teóricos e dos outros de sua geração, grande parte que estou vendo em uma das disciplina que estou fazendo na NYU (e que está me acrescentando uma puta referência bibliográfica)...
Voltando a mergulhar no mundo gonzo, hoje fui nos outros três prédios que o Hunter Thompson morou aqui em New York City, e que tinham faltado na minha primeira trilha atrás dos rastros de Thompson em NYC, que fiz logo quando cheguei aqui. Saí para a rua gelada catando Morningside Driver. Na verdade, assim que cheguei, lá pela rua 122, reconheci: era o parque que eu cruzei quando fiz o curso em Columbia. É num prédio exatamente ali que ele morou em dezembro de 1957 e janeiro de 1958. Fiquei imaginando Hunter morando ali, num puta inverno com muito frio, na casa dos 20 e poucos anos, maluco, alucinado, chapado, desesperado pela falta de grana, tentando estudar na Columbia Univeristy, correndo atrás do sonho americano, que ele amou e odiou durante a sua vida. O lugar é muito bom, pois o parque de Morningside é ótimo para caminhadas e, como fica nos arredores do campo, o pessoal por ali tem aquela típica cara de universitário americano.


De lá fui para o prédio onde ele foi morar quando deixou esse primeiro: na 113 Street, esquina com Brodway. Nesse lugar ele morou de fevereiro de 1958 até abril do mesmo ano. Pouco tempo. O prédio fica a uma quadra de Columbia e, curiosamente, fica na mesma quadra do Tom’s Restaurant, do seriado Seinfield – que já comentei outra vez. E é um prédio para estudantes da Columbia. A todo momento saíam e entravam estudantes do lugar nos poucos minutos em que fiquei ali, observando, viajando, e tirando fotos.


Por fim, no caminho para o terceiro lugar, que era na 81 Street, mas do outro lado da ilha (no East), cruzei a parte norte do Central Park, onde rendeu boas fotos. De lá, peguei o subway na 110 e saltei na 77 Street. Subi mais quatro quadras até a 81, e de lá foi uma puta caminhada, no frio gelado, até o cruzamento do fim da ilha com o Hudson, na parte East, que é onde ele morou em 1962. São vários prédios iguais, um do lado do outro. Do outro lado da avenida tem o rio, o que deixa tudo gelado. E assim terminei a minha reconstituição dos lugares onde o Hunter S Thompson morou, mesmo que por pouco tempo, em New York City.


Estou traçando os planos para os próximos meses. Antes de eu ir embora, vou ter que passar por Aspen, no Colorado, onde tem a Fundação Gonzo, fundada pela segunda mulher de Thompson, e onde tem o monumento em que foram jogadas as suas cinzas. Também terei que passar pela California, Big Sur, etc. Ah, e óbvio, Lousville, a cidade natal do cara. Mas vou deixar essa última para junho ou julho, quando tem a Gonzofest.
Espero poder fazer tudo antes de voltar. Ainda faltam oito meses e meio. O tempo voa.
Ps: quando comecei a escrever o texto, pensei em escrever justificando porque gosto tanto da obra do Thompson, mas acabei me perdendo, e escrevi de mais, e não imagino que alguém tenha chegado ao fim desse texto. Enfim, essa parte vai ficar para outra hora. Apenas adianto que, porra, o cara tinha coragem de publicar o que ninguém publicava, o que todos sabiam mas ninguém tinha colhões para botar no jornal ou na televisão, tanto em termos de política, quanto de comportamento. Mas deixemos esses pontos para uma das próximas!

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Nada a declarar

Porra, eu me sentia na obrigação de escrever algo aqui, já que faz dias que não escrevo, mas nada me ocorre. É quase uma da manhã, estou assistindo Seinfield na TV e olhando o Hudson no escuro, do outro lado da janela.... E nada me ocorre... Acho que a falta de leituras está atrofiando meu cérebro. Quer dizer, tenho lido alguma coisa em inglês, mas é um duplo trabalho: ler e entender. Enfim, a inspiração, nessa semana, esteve por baixo... Sei lá, talvez é uma depressão última-semana-de-aula-de-inglês... Ou, sei lá, quase quatro meses aqui... Não sei se quer dizer alguma coisa ou não... Ainda restam mais ou menos oito meses... tem tanta coisa pra fazer...
será que vai dar tudo certo??? Será que vou sobreviver??? Estou esperando a neve, a família até fevereiro, depois, quem sabe, a California... E penso, porra, um dia vou ter que voltar para o Brasil... O meu país... A porra do meu país... A merda do meu país... Mas pode ser melhor... Pode ser bom... Morar no Brasil... tem coisas que sinto falta do Brasil, como por exemplo, enfim, não posso falar aqui... O Brasil é um paraíso inseguro... É um paraíso em que você pode ser morto na próxima esquina...
Enfim, já falei muita merda. Citando o meu primo Gérson Alemão Italiano com veia panambiense, eu também comecei a pensar em escrever apenas quando tenho algo muito importante a dizer... ou seja, às vezes eu penso "porra, tenho que escrever na merda do blog", mas nada me ocorre... então, nesses casos, creio que o melhor é não escrever... é ficar quieto mesmo... é sair para a rua e viver a vida em New York City... às vezes não cai a ficha de que estou em New York City, a cidade mais badalada do mundo... às vezes eu penso que a ficha só vai cair quando eu voltar para o Brasil e começar a olhar as fotos que tirei nesse um ano.... Enfim... Budweiser, futebol americano, Madison Square, Time Square e o caralho a quatro... Um dia tudo termina... a viagem termina... a grana termina... o tesão termina em gozo... e a vida termina em morte... e aí??? E então, como diria o Renato Russo, a culpa é de quem?????
Sei lá, não fui eu nem você, nem foi a máquina de escrever... Talvez foi o Fábio ou a Carolina! Até!

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

American Football – A cara da cultura americana

Se o futebol diz muito a respeito do Brasil, depois de assistir a um jogo do New York Giants no MetLife Stadium, posso dizer o mesmo na relação entre Estados Unidos e futebol americano. Na verdade, a maioria das pessoas aqui dizem que o baseball é o esporte mais popular, pelo menos aqui em Nova York. Mas, na minha humilde opinião, após assistir ao vivo ao baseball, ao basquete e ao futebol americano, eu creio que o último é o que melhor representa a cultura americana. Explico-me.
Primeiro, para ir ao jogo, tive que ir até a rodoviária pegar um busão, pois o MetLife Stadium, onde jogam os Giants e os Jets e os times de futebol (soccer), como o Cosmos e o Red Bulls, fica em New Jersey. Então, lá fui eu de novo para a rodô nova-iorquina. Comprei a passagem e o cara disse para pegar o ônibus dois ou sete. Pelo menos foi o que eu entendi. “Two or seven”. E lá fui eu para o portão sete. Depois de 15 minutos esperando, perguntei para um carinha com uniforme da empresa de ônibus se era ali que pegava o ônibus para o MetLife. Resolvi perguntar porque via um monte de gente passando com camisa dos Giants e dos Packers (adversário do time de Nova York naquela tarde). O carinha disse que não, que o que ia pra lá era no portão 207. Foi então que entendi. O carinha da venda disse “two nil seven” e eu entendi “two or seven”. Por essa e por outras que sempre saio bem cedo para meus compromissos por aqui...
Na fila, já conheci uns americanos, torcedores do Packers, o que depois vai me levar a apresentar algumas conclusões preliminares sobre o comportamento das pessoas, não só aqui, mas no mundo...
Enfim, cheguei no estádio, e eis porque eu acho que o futebol americano é a cara da cultura americana: o estacionamento é um big acampamento, com trailers, barracas de todos os tipos, churrasqueiras improvisadas, cadeiras de abrir, vans, carros com o porta mala abertos, muita cerveja, etc... São milhares de carros e pessoas fazendo churrasco, comendo muito e tomando muita cerveja do lado de fora do estádio. É um espetáculo a parte incomparável com qualquer coisa que eu já tenha visto antes...
Olhando aquela americanada toda comendo e bebendo pensei “porra, vou ter que achar uma boca por aí...”. Então vi um casal de torcedores do Packers que me pareceram gente fina. Na verdade, eles estavam todos fardados de Packers, com uma “banquinha” só com produtos do Packers, inclusive o tal do queijo (espécie de símbolo do time).
Pedi para tirar uma foto deles, e o carinha disse que “no problem”. Resolvi perguntar aonde ele conseguiu cerveja, e ele foi me indicar mas me olhou e disse “ei, toma uma aqui com a gente!”. E assim, depois de dizer que era brasileiro e que não entendia quase nada de futebol americano, fiquei lá bebendo e comendo cachorro quente de linguiça (que me fez lembrar do 19 de Outubro). Nisso, chegou um outro torcedor do Packers, já bêbado, e conversamos bastante, então ele me convidou para jogar bola (de futebol americano) e eu disse que nunca tinha jogado. Assim, virei uma atração naquele mini-acampamento... Um brasileiro de meia-idade jogando futebol americano pela primeira vez... Só faltou dar autógrafos...
Enfim, o casal, o carinha e o filho do casal (um guri de mais ou menos 15 anos que tirou as fotos em que estou jogando) e mais uns outros torcedores do Packers foram muito, mas muito atenciosos, e fizeram a maior festa quando eu disse que era brasileiro. Sem exageros, parecia que eu era um convidado de honra. Depois, apareceu um cara que reconheceu a camisa do Grêmio que eu vestia. O cara era de Porto Alegre, mas morava aqui há anos, e estava com o filho americano que não fala nada de português. Os dois se disseram gremistas e ambos vestiam a camisa do Giants. Mas, foi só. Disseram isso e partiram. Já o pessoal do Packers seguiu lá, me tratando como um astro. E diziam para todos os do Packers que passavam por ali uniformizados “Esse cara é brasileiro e vai torcer para os Packers!”. E fizeram eu prometer que ia torcer para o Packers lá dentro. Infelizmente não adiantou, pois os Giants venceram por 27 a 13.
Agora, faço uma pausa na narrativa. Aí que está. Ainda não saí de Nova York, mas começo a identificar aqui algo que acontece no mundo inteiro. As pessoas das metrópoles, principalmente aqueles que nasceram e cresceram nas grandes cidades, não estão nem aí pra ninguém. Se você chegar e disser “eu vim de Marte”, vão te olhar e dizer “hm, legal”, e vão dar as costas e partir. Já as pessoas do interior são muito mais receptivas, amigáveis, agradáveis, etc.
É assim aqui, no Brasil, no Rio Grande do Sul, em São Paulo, em todo o lugar. Definitivamente. O Packers é um time forte aqui (já ganhou o Super Bowl algumas vezes, a última, pelo que disseram, em 2010 – não chequei no Wikipedia, mas enfim..). E é de uma cidade pequena, num estado que nem lembro o nome (pode checar aí no Mr. Google). E, possivelmente por isso, fizeram-me sentir em casa, convidaram-me para sentar, tomar uma cerveja, comer um churrasco e bater uma bola, como se eu fosse da família. O carinha até zoou com o estádio MetLife, que, segundo ele, custou dois bilhões de dólares: “esse estádio aqui? É um ar condicionado...”. E olhei e, realmente, por fora e por dentro ele parece um ar condicionado.... Ou seja, assim como o gaúcho do interior convida o estrangeiro para “sentar e tomar um mate”, enquanto o porto-alegrense nem liga, o americano do interior te recebe e te trata bem, enquanto o nova-iorquino está literalmente cagando e andando para você...
Resumindo, esse foi um perfeito fim de semana americano... cerveja, churrasco, estádio, futebol americano... Dentro do estádio, também não tem comparação: a torcida do Giants faz muito mais barulho (mesmo com o time meia-boca no campeonato) do que a dos Knicks ou a dos Yankees... Mas mesmo assim está longe de chegar perto das torcidas de futebol pelo mundo... (com cantos, barulhão ensurdecedor, etc). Entretanto, mesmo assim, vale, e muito, a pena. Tudo é um espetáculo, e o jogo é muito melhor do que o baseball – mas o basquete da NBA é incomparável, em termos de jogo, jogadas, etc.
Na volta pra casa, ouvi alguém falar em rebaixamento. Puxei conversa, e era um pessoal de Manaus (acho que três ou quatro casais). Voltei com eles, no mesmo ônibus, conversando. Contei da minha expectativa acompanhando o jogo do Grêmio contra o Flamengo no celular: o Flamengo empatou aos 40 do segundo tempo e a internet caiu. 20 minutos depois, já sofrendo, pensando que o Grêmio tivesse caído para o quinto lugar, fui ver que o Maxi Rodriguez salvou a pátria no final (depois vi os dois golaços).
Enfim, foi um final de semana em que aprendi muito sobre a cultura americana. Teria muito mais a comentar sobre o jogo, a torcida e os americanos, mas vou ficando por aqui.
Para fechar, cada vez mais aprendo mais o óbvio: o comportamento das pessoas não depende tanto da nacionalidade. Aqui tem muita gente burra, idiota, preconceituosa, etc. Como o meu ex-professor de inglês do cursinho, que esgotou a minha paciência com tanto preconceito contra todas as nacionalidades, principalmente brasileiros. Provavelmente eu volte a falar disso outra hora. Além do preconceito, a metodologia dele era a pior possível (imaginem uma aula do segundo grau para terem uma ideia...). Por essa e por outras troquei de turma, nessa minha última semana de cursinho. Mas, por outro lado, os professores na universidade (o cursinho de inglês não tem nada a ver com a universidade) são ótimos, as pessoas lá são show de bola, assim como os colegas no cursinho... E, claro, assim como esses torcedores dos Packers, tem muita gente fina aqui. Ou seja, tem idiotas e ignorantes brasileiros e americanos, assim como tem gente fina e inteligente brasileiros e americanos e de todas as nacionalidades. Enfim, são tópicos a serem comentados em outro post, pois escrevi demais e já está tarde...
Como diz o Gaguinho: po-por hoje é i-isso pe-pessoal!

sábado, 16 de novembro de 2013

A morte do futebol brasileiro

Encontrei dia desses uma máquina do tempo. Entrei nela, e voltei para os anos 1980. Não sei exatamente o ano, mas fui parar nas proximidades do Maracanã, onde torcedores do Flamengo e do Fluminense deixavam o estádio. Um Flamenguista viu eu chegando e tomou um susto. Eu fiz sinal com o dedo para ele fazer silêncio e não contar o que viu para ninguém. Ele concordou, desde que eu sentasse na mesa de um bar para contar de onde eu vinha. E foi então que ocorreu o seguinte diálogo:
- Putaquepariu?? O que é você, mehmão?? Você é um ET??
- Não. E fala baixo, porra! Eu vim do ano de 2013. Sim, uma máquina do tempo. Estou fazendo um teste e vim parar aqui.
- Putaquepariu!! Quantos títulos o mengão ganhou???? Contaí!
- Cacete, que que importa?? Não vou contar nada. Se eu contar como é 2013, você nem vai se importar com quantos títulos o mengão ganhou...
- O quê você quer dizer?
- Talvez você possa mudar o futuro! Vou te contar tudo. Quem sabe elaboramos uma estratégia para salvar o futebol...
- Calma, calma. Me explica direito essa merda. O que você quer dizer?? Não vai existir futebol em 2013??
- Vai, vai. E um furo só pra ti: a Copa de 2014 vai ser no Brasil...
- No Brasillll!!! Porra, que do caralho!!! O Brasil é muito foda, mehmãoo!!!! Toca aqui!
- Toca aqui o cacete! Vai ter protesto, gente morta, ferida, milhões nas ruas, bombas, a porra toda... O Brasil vai tá uma merda e o povo vai se revoltar...
- Como assim??
- Caralho, não tenho muito tempo. Deixa eu te contar sobre o futebol...
Olho ao redor e aponto para um negão sem dentes, com a camisa desbotada do Flamengo, tomando uma cachaça no balcão. Ele está emocionado pelo que viu e conta a todos as jogadas feitas por Zico e Cia como se ele fosse um dos caras em campo...
- Ta vendo aquele cara ali? – pergunto.
- Quem, o Buiú?
- Sim, ele mesmo.
- Claro, o que tem ele? Vai morrer???
- Sei lá, porra. O fato é que pessoas como ele vão ser excluídas dos estádios...
Os olhos do cara parecem que vão saltar do rosto. Ficamos uns 20 segundos em silêncio. Vejo que ele está pasmado. Então, resolvo falar.
- Esse cara, pessoas como ele, que não tem grana, que trabalham de gari, de faxineiro, de flanelinha, de pedreiro, não vão poder entrar no estádio...
- Por que não, porra?
- Porque o ingresso vai ser muito caro! O mais barato é maior do que o salário dele! Ta ligado a geral do Maraca? – e nisso entra um homem vestido de urubu no bar.
Ele faz que sim com a cabeça. E eu faço o sinal da guilhotina. Prrrrrrrrr. Já era! Nunca mais!
- Você é um maluco. Bebeu o quê antes de chegar aqui?
Eu suspiro.
- O futebol vai se elitizar. Pobres não vão mais ter lugar. Vão construir estádios com cadeiras. Isso que você viu hoje, o estádio inteiro de pé, cantando e pulando! Pffffff! Já era também!
Ele ri, nervoso. Entra um casal de esfarrapados com a camisa do Flamengo, rasgada, velha, dançando e cantando, comemorando a vitória no Fla-Flu. O sujeito olha pra eles já nostálgico. Eu dou o golpe de misericórdia:
- Aproveita agora.... Isso que você está vendo... nunca mais! Não dentro do estádio!
Os dois estão bêbados. Então lembro de mais uma:
- Conhece esses dois? – pergunto.
- Claro!
- Estão bêbados? Saíram do estádio agora?
- Claro! Olha só a cara deles! Parece que foi ela que marcou o gol do Mengão! – os olhos dele voltam a brilhar por um segundo.
- Então se prepara: vai ser proibido vender bebida alcoólica dentro de estádio de futebol no Brasil...
Os olhos dele se enchem de lágrimas. Não quer acreditar...
- Você é um mentiroso!! Por que veio aqui fazer isso comigo???? Você é um lunático, um farsante!!
- É mesmo?? Você viu de onde eu vim, não viu??? O que você acha que eu sou? Um fantasma, um marciano ou um cara do futuro???
- Sei lá, porra! Preferia não ter te visto nunca na minha vida... Até parece que o Mengão perdeu....
- Pois é... Mas não te contei a pior. Vou te contar um segredo: eu sou gremista. Lembra o título que o Flamengo ganhou em 82, contra o Grêmio no Olímpico?
Os olhos dele brilharam novamente. Ganharam vida. Parecia que era ele que tinha voltado no tempo e estava no Olímpico naquela final, jogando junto com Nunes e Zico.
- Lembro!!!!!!!!!!!!! Meu Mengão!!! Que título!!! Que final!!! Bom, desculpa, lamento por ti, mas foi muito bom!!!! Olha aqui, olha aqui! – ele começou a gritar, mostrando-me o braço – chego a me arrepiar só de lembrar!
- Calma, calma. Olha, fico culpado de te falar isso. Mas... Não tenho coragem....
- O quê? Fala, o quê???
- Não, não... Não posso fazer isso com o senhor...
- Fala! Por favor, fala! Eu prometo salvar o futebol, mas fala!!
- Ok.... Em 2013... o campeonato brasileiro não vai mais ter final...
- Não entendi...
- Vai ser por pontos corridos. Todos contra todos, turno e returno, quem fizer mais pontos é campeão...
- Você é um mentiroso... Fala sério, o que você ia falar...
- É isso, porra! No campeonato de 2013, inclusive, o campeão vai levantar a taça faltando quatro jogos para terminar o campeonato... A TV não vai estar transmitindo... e vai ganhar porque o outro time perdeu... Os jogadores vão saber no intervalo, no vestiário, que são campeões... Não vai ter festa de fim de jogo... Não vai mais ter gol do título no final... Estádio lotado, país parado para ver a final... isso já era...
Lágrimas começam a escorrer.... Eu olho para ele, e tento reanima-lo:
- Você tem uma missão, meu amigo!
Ele está em estado de choque: sem o povão, sem bebidas e sem final. É o fim! Não tem mais futebol...
Depois de dois minutos em transe, ele sai do choque, me olha novamente e pergunta, estatelado:
- Por quê????
Eu não tenho coragem de responder, senão ele se suicidaria ali mesmo. Apenas me levanto e vou embora...

O dia em que odiei New York City

Sei que é um puta lugar comum, mas todo mundo vezemquando tem aqueles dias em que o melhor era nem ter saído da cama. Pois é, hoje foi um dia desses. E tudo conspirou contra as minhas missões por New York City nesse ensolarado sábado de sol (o melhor era ter alugado um caminhão pra leva a galera pra comer feijão...).
Como não tinha aula de manhã, aproveitei para tirar o atrasado da semana e dormi até quase uma hora. Minha missão era simples: ir para Dowtown e imprimir o ticket para ir no jogo do futebol americano (Giants) amanhã. Depois disso, pegar o metrô para o Brooklyn onde estava rolando uma confraternização de final do curso de conversação em inglês com alguns dos estudantes estrangeiros da NYU.
Tudo friamente calculado, peguei o subway aqui na 145 e desci na 14 Street. Era cinco da tarde. Bom, comecei a andar à procura de um lugar para imprimir meu ticket. Nada.
Andei mais um pouco e achei uma lojinhas onde estava escrito “print”. Entrei. Vi umas máquinas típicas de xerox, impressoras, computador e tudo o mais e pedi pro cara para imprimir. Quando disse que era do meu email, o filho da puta simplesmente respondeu que tinha que ser em pen drive. O caralho! Fiquei puto com o cara, que me indicou uma outra loja, umas cinco quadras longe. Fui lá. Sequer faziam impressão. Então, o cara me indicou uma outra loja, mais umas cinco quadras longe. Estava fechada. Para quem conhece Nova York, para ter uma ideia da minha andança atrás de uma lan house ou papelaria ou coisa que o valha para imprimir um mísero ticket, eu desci na 14 com a Sétima e acabei parando nos arredores da NYU, perto de Washington Square, lá pela 8 com a Terceira. Ou seja, para quem não conhece, caminhei pra caralho (uma hora) até achar um estabelecimento que fizesse impressão. Cheguei lá esbaforido, tirando o casaco. Mandei imprimir e o chinesinho, que deve ser o dono do negócio, ainda me deu uma mijada porque eu teria que ter avisado ele antes de mandar a impressão (!?!?!). Estava tão cansado para articular uma resposta em inglês que só suspirei e balancei a cabeça, com a minha veia do pescoço saltando, tentando me controlar para não estrangular o chinesinho. Estava mandando de novo quando ele veio com o papel balançando, todo feliz “it’s here!”. Quase disse pra ele enfiar no cu. Mas paguei os 25 cents e me fui.
Mais uma caminhada de meia hora de volta até a parada da 14 Street com a Sétima para pegar o J train rumo ao Brooklyn.
Ia caminhando, pensando “só uma boa gelada, bem sentado, descansado, pra relaxar agora e mandar o estresse pra puta que o pariu”. Doce ilusão. Cheguei na estação, de novo esbaforido. Desci as escadas e vi um cartaz na parede “no J train this weekend”. O caralho! Em baixo tinha um monte de alternativas, uma mais confusa que a outra. Resolvi perguntar para o pessoal que estava ali nos trilhos, trabalhando sei lá em quê, como se chegava na rua em que eu tinha que ir. O carinha disse que nenhum trem parava lá perto. Ou eu pegava um ônibus ou eu pegava um metrô até um lugar X e de lá pegava outro rumo ao lugar Y, de onde desceria e andaria mais um pouco. Pro caralho New York City! Fiquei muito puto, pois andei uma hora e meia pra achar um lugar pra imprimir nessa porra e depois, por causa sei lá eu do quê, não consegui pegar o metrô pra onde eu precisava ir, considerando que eu já estava atrasado!
Acabei, indignado, voltando pra casa. Liguei para o pessoal dizendo que não ia mais. Depois de três meses, pela primeira vez meu relacionamento com NYC passou por uma crise. Agora estou aqui, em casa, sábado à noite, graças ao SUPER MODERNO E REFERÊNCIA NO MUNDO metrô de New York City!
Enquanto vinha pra casa, ainda pensava “que saudades do polentão de Ijuí. Levava meia hora pra chegar, mas pelo menos chegava...”.
That’s it.

PS: no exato momento em que fui postar a porra desse texto, caiu a minha internet... caralho! Negócio é dormir e torcer para que amanhã seja um dia melhor...

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O velho safado em NYC

Achei esse texto raro do Bukowski em inglês num livro que encontrei num sebo. Tentei traduzir para o português. Vamos ver se ficou compreensível... É sobre uma das passagens do velho safado por NYC.

Eu tinha acabo de perder o emprego em um mercadinho. Estava trabalhando como organizador de produtos nas prateleiras, limpando privadas, essa porra toda. Uma chatice. Até que uma senhora ficou me provocando com uma saia curtíssima e eu perdi a cabeça e passei a mão nela... Ela tentou me dar um tapa e foi correndo chorar para o gerente, que me chamou no seu escritório. Entrei lá, ainda de pau duro, e ele perguntou:
- Buk, uma cliente veio aqui falar comigo dizendo que você passou a mão nela. É verdade?
- Ééééééé!
E foi isso. Fiquei sem emprego novamente. Pelo menos me pagaram o valor proporcional pelos dias que trabalhei. Ou seja, tinha alguma grana no bolso. Não conheço Nova York muito bem, mas sei que há alguns pontos em que, com sorte, pode-se achar uma boa boceta. E fui atrás de uma. Tinha enchido a cara em casa até a uma da manhã. Resolvi pegar o metrô aleatoriamente e desci numa região cheia de bares. Tomei mais algumas num bar em que um cara cubano, que insistia em falar comigo com um puta sotaque espanhol, ficava me prometendo todos os tipos de mulheres. Conheço esse tipo. Na verdade ele quer que eu fique ali a noite inteira, gastando todos os trocados que tenho, para depois me chutar do bar como um filha da puta. Tomei duas doses e uma cerveja e voltei pra rua.
Ia andando a esmo, quando vejo na frente do bar uma morena. Quando você está perto dos 60 você imagina comer toda a mulher minimamente sexy que está pela frente. Mas pensar em comer uma mulher de 20 anos naquelas condições era algo que estava longe das minhas expectativas para aquela noite. O normal seria eu voltar para casa, bater uma punheta e dormir. Eu vinha pensando nas pernas brancas de uma moça ruiva que conheci em Los Angeles, antes de vir para cá. Era a filha de um grande amigo meu. Eu estava imaginando ela me chupando, de joelhos, quando vi aquela morena, que grudou os olhos em mim como se eu fosse o Richar Nixon aos 25 anos.
- Hello baby!
A conversa fluiu. Ela era diferente das outras. Estava com uma roupa casual, quase vulgar, como se estivesse a procura de algo mais do que sexo e romance. Acabamos entrando no bar. Tomamos algumas, entre uma risada e outra e algumas apalpadas pelas partes baixas. Ela não acreditou que eu era um famoso escritor americano, mas pelo menos entrou no clima: disse que era filha de um camponês falido de Seattle que veio para Nova York para tentar ser atriz na Brodway. Em resumo, o plano estava falhando e ela estava falida. Meu pau estava duro, e acho que ela percebeu, pois ela botou a mão nele e me perguntou se eu tinha um lugar para irmos. Eu estava alugando um quarto no Brooklyn. Fazia duas semanas que fugia da velha dona do troço para não pagar o aluguel... Agora tinha o dinheiro do aluguel no bolso, mas aquela puta segurava meu pau enquanto perguntava: “o que você me dá para me comer?”. Fiquei tão tonto que cometi a burrice de perguntar quanto ela queria.
- 150.
- 100?
- 120...
- Ok.
Fomos para casa. A vagabunda não queria andar de ônibus ou trem, então tive que pagar um taxi. Mas no final das contas, valeu a pena, pois ela veio pegando no meu pau, passando a mão e me beijando como se eu fosse o astro ganhador do último Oscar. Tentei colocar a boca dela no meu pau, mas ela não deixou, ali, no banco de trás do carro. O taxista tentou dar umas voltas a mais, e ela xingou a mãe e a bisavó do desgraçado. Quando chegamos, fomos direto para o quarto. Eu temia que a filha da puta da dona do apartamento tivesse trocado a fechadura ou estivesse acordada me esperando para cobrar o aluguel. Mas não, estava tudo vazio. Fomos para o quarto e ela começou a chupar devagar. Meu pau estava explodindo. De repente ela parou e pediu água. Ok. Fui na cozinha e busquei um copo de água. Fui pelado, de pau duro. Se a velha aparecesse na minha frente, fodia ela junto. Estava louco, queria foder todo mundo. A velha, a morena, até a cadela que estava dormindo no sofá. Olhei para o bicho, balancei meu caralho e disse “vai uma dose?”. O bicho fechou os olhos e continuou dormindo. Voltei para o quarto e a puta estava pelada de pernas abertas na minha cama. A quanto tempo sonhava com aquela cena! Chupei toda a boceta dela, com mordidinhas pelas cochas... Meu pau estava quase saltando do meu corpo. Meti nela com vontade, como se fosse a última foda da minha vida. Botei uma, dez, 30, 100, mil vezes! Rápido, devagar, em todos os ritmos possíveis e imagináveis.
A cadela estava curtindo. Ela não queria apenas os 120 dólares, ela queria minha pica. E queria de todos os jeitos. Quando ela sentia que eu ia gozar, ela pedia para mudar de posição. E assim comi ela de quatro, de frente, de lado, de pé, de joelhos, fiz candelabro italiano, chinês, japonês, espanhol e todos os candelabros possíveis e imagináveis. Com quase 50 anos, achei que aquela seria a minha última noite nesse planeta. Morrer ali, num quarto vagabundo do Brooklyn, com uma puta levando o meu dinheiro. No outro dia a velha me acharia morto e chamaria a polícia. Diria: “o filha da puta morreu sem pagar duas semanas de aluguel!”, e ficaria com todos os meus pertences. Mas não morri. Enchi o rabo dela de porra. Ela levou minhas 120 pratas e foi embora. Eu fui no banheiro e limpei meu pau com a camisola da velha que estava no cesto de roupa suja. Fui para o quarto e dormi.
No outro dia a velha veio me cobrar o aluguel logo cedo. Eu estava sonhando com a ruiva de pele branca e estava de pau duro. Mostrei meu pau para a velha babona e paguei ela do meu jeito. No dia seguinte fui embora, pois sabia que a velha ia querer mais. Não quero boceta chorando ao redor do meu pau. Depois de mais duas semanas trabalhando para uma empresa de mudanças, carregando sofás e geladeiras nas costas, desisti e voltei para LA, de onde escrevo essas linhas no aguardo do pagamento pelos últimos textos que foram publicados na capital mundial do filhos da puta.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Os loucos do subway

O metrô, ou subway, de Nova York é uma atração a parte na cidade. Na verdade, não tem nada de moderno ou luxuoso (o único trem “chic” é o do aeroporto JFK). Nos horários de pico é aquela amontoação de gente. Às vezes quem está esperando na estação nem pode entrar, de tão lotado, e tem que esperar o próximo. Essa é uma vantagem de morar em Uptown: geralmente quando o metrô passa ainda tem lugar. Quanto mais pra baixo da ilha vai indo, mais lotado vai ficando. Mas a visita do Eliseu, que citei nos últimos textos, me chamou a atenção para as criaturas que pegam o subway. Na verdade já tinha visto vários malucos. No entanto, o problema é que quanto mais o tempo vai passando, mais você se acostuma com tudo, e os loucos aos poucos se tornam normais.
Então, chega ao ponto que pode entrar alguém pelado no metrô e você nem liga mais. Porém, quando pegamos o metrô, o Eliseu ficava impressionado com as loucuras e me mostrava, e eu ria muito, como ri (pelo menos por dentro) assim que cheguei.
Lembro de um dos trens que pegamos em que só havia figura: um japonês com jeito afeminado com uma loira toda apaixonada, que ficava abraçando e beijando ele – que permanecia com cara de tédio; uma guria gordinha com cara de ressaca tomando dois litros de água no bico; outra guria com cara de quem tava voltando da casa do namorado (pois era de manhã) com a meia-calça toda rasgada e um chinesinho maluco que estava dormindo. Antes do chinesinho acordar, o japonês desceu e a loira apaixonada ficou sozinha. Na estação seguinte entrou um africano e começou a trovar ela. Dali a pouco o chinesinho subitamente levantou a cabeça e começou a filosofar para todo mundo: “thousands years ago....”. Dali a pouco ouvi até ele falar em Shakespeare. E ele tinha cara de psicopata, e começou a falar olhando nos olhos do Eliseu, que estava apavorado enquanto eu quase me mijava nas calças de rir. O chinês ainda estava divagando sobre a humanidade, quando entrou um old black singer cantando com aquela típica voz de cantor de rua americano. Ele cantou e cantou e depois pediu os tradicionais Tips e se foi.... Esse é o subway de New York City.
Já vi várias coisas bizarras nesses três meses, como a mulher negra e obesa que não deixou sentar ao seu lado uma francesa, ou a mulher gorda que ficou brava com o homem gordo que sentou ao seu lado. Na verdade, os dois juntos ocupavam três bancos no metrô, só que a mulher se estressou com o cara, pois para aquelas duas bundas gordas seria necessário quatro lugares. Quando vi, o cara começou a gritar “take easy! Calm down!”. A mulher não se acalmou e o cara começou a xingar ela em espanhol. Ela disse: “I don’t understand your language. Speak Enslih if you are man!”. E ele explodiu de vez: “Fuck you and your English!”, e saiu do metrô....
Tem também um velhinho africano que sempre entrava nos trens da linha 6 batucando com a bengala e cantando muito, mas muito bem mesmo. Se eu tivesse dinheiro sobrando dava uns Tips bons. Aquele cara merecia, pois era voz de cinema. E hoje, estava uma mulher com uma cria do tamanho da Larissa e a cria dormiu e ficou escorada no meu ombro. Tive que chamar a mulher para eu poder descer na minha parada...
E tudo isso sem contar as vezes em que você está pegando o metrô quando o carinha que fala mega rápido no sistema de som avisa que o trem não vai parar nas próximas três ou quatro estações, então você desce quase um quilômetro longe do seu destino... Na verdade, quando acabei de comentar isso com o Eliseu, o carinha do alto falante pediu para todo mundo descer e pegar o próximo trem...
Enfim, são só três meses, certamente vou ver ainda muita loucura no subway, então, provavelmente esse é apenas o primeiro texto sobre o assunto.
So, see you in the next train!

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Small tip, man! – E o dia em que fui suspeito de terrorismo

Seguindo a minha reconstituição particular dos acontecimentos da minha vida (para eu consultar quando não lembrar mais quem sou), na sequência do que foi narrado no texto anterior, na sexta-feira, Eliseu e eu tínhamos duas missões: 1) passar no escritório da XP em Nova York, que é a empresa em que ele trabalha no Brasil. E 2) Ir para o Jersey Garden, em New Jersey.
A ideia era sairmos cedo de casa, descer no início do Central Park para pelo menos ele conhecer o trajeto West-East da parte sul. Acabamos nos atrasando, e logo percebi que atrasaríamos ainda mais, pois toda a hora parávamos para uma foto. Cavalos de passeio: foto;
FAO (a loja do Esqueceram de mim): foto; loja da Ferrari: foto. E assim foi. Até que, lá por onze da manhã chegamos no escritório. Lá, conhecemos um cara gente fina, mas que já esqueci o nome, e que ficou conversando em códigos de economês com o Eliseu. Eu fiquei ali, tirando fotos, pensando na vida, enquanto eles falavam “mas pra você conseguir operar na mesa você tem que fazer o vinte alguma coisa na PET 1367”, etc (os códigos aqui não fazem sentido, pois não lembro de nenhum específico – mas era algo parecido). Depois de quase duas horas (mas que, pelo que percebi, renderam bastante para o Eliseu) partimos para a rodoviária de Nova York, na 42 Street com 8 Avenue. Na frente, uma foto no prédio do New York Times.
Aí começou a loucura. No balcão de informações não havia ninguém, apenas um cara com o mesmo estilo dos flanelinhas de Pelotas (mal vestido, boné, roupa velha, barba por fazer, etc). Olhamos para o balcão de informações vazio e ele, percebendo o nosso jeitão de turista perdido, já veio nos atender:
- Information, sir?
Falamos aonde queríamos ir. Ele nos levou ao balcão de compra de passagens. No caminho, ele me disse, como se fosse um agente do FBI: “be careful with your câmera”, e ia indicando fotos para tirarmos. Olhei para o Eliseu e disse “ih, esse cara vai querer tip... tem um dólar?”. Ele não tinha. Então, quando chegamos lá, fiz sinal para o carinha esperar a compra da passagem, pois o Eliseu iria trocar uma nota mais alta ao pagar as passagens...
Quando fomos pagar o tip, o carinha vendo a grana na nossa mão, disse “I’ll take you there, at the gate”. Fomos seguindo o cara. Pior que o troço é gigante. São mais de 400 portões, cada um com uma porrada de paradas. Enfim, quando chegamos, o Eliseu estendeu três dólares para o cara, que começou a gesticular e a falar “this is small tip, man. Small tip!”, dizia, apontando para o dinheiro. “I need to eat. This is small tip. It’s not a good tip, man!”. No fim, ele me largou essa “Jesus is seeing”. Aos poucos o Eliseu ia se acostumando com a cambada de maluco que tem em Nova York. Na fila do ônibus, vimos duas crias jogando pedra-papel-tesoura em inglês. Então, aconteceu o seguinte:
Uma senhora gorda, vó das duas crias, tinha comprado um conjunto de joias por 10 dólares. O Eliseu ofereceu 15. A mulher falou, em espanhol, sobre a oferta para a guriazinha, que ficou braba com o Eliseu, pois as joias eram pra ela... No fim, a velha não fez o negócio. A guriazinha era americana, mas como a família é latina, ela fala fluente inglês e espanhol. E o Eliseu se impressionou que ela faz mandarim no colégio, e fala um pouco de chinês e alemão. Ou seja, a cria de sete anos fala, pelo menos, quatro línguas. E a pirralha ainda corrigia o nosso inglês. Perguntei:
- Are you Brothers?
A guria e o guri se olharam, franzindo a testa, como se perguntassem “what do you mean, cara pálida?”. E, numa interrogação, soltaram:
- Brothers?
- Owwwww, sorry! – corrigi – Are you siblings?
- Yes.
E seguiram jogando pedra, papel, tesoura tirando nós pra bobos e rindo do nosso inglês e portunhol...
Lá por duas e meia da tarde embarcamos. Pela primeira vez em três meses estava saindo de New York City. Está certo, só passamos por New Jersey dentro do ônibus, pois o Jersey Garden, um famoso Outlet que tem aqui, fica totalmente isolado de tudo.
E o troço é gigante. Minha missão era comprar uma jaqueta, uma bota para a neve e o presente de aniversário da Larissa. Mas, no fim, ficamos lá até às nove da noite (hora que fechou) e acabei comprando umas cositas mas. Na volta, estávamos podres.
No sábado, a missão era comprar a passagem do Eliseu para Boston, o colchão inflável e dar uma banda. Primeiro, compramos o colchão. Lá pelas tantas, fomos no Hard Rock Café. Mas como estava fechado o café (apenas a loja estava aberta), e lá dentro estava muito quente (e eu não aguentava mais ficar tirando e colocando a jaqueta a cada lugar que entrávamos) disse pro Eliseu: “vou esperar lá fora”.
Estava lá eu, bobeando com a sacola com o colchão, quando vi um cara vestido de folha de maconha, pregando pela legalização. Eu fui ali, me afastei um pouco da sacola por, no máximo, 20 segundos. Click! Click! Click!
O carinha me viu e veio atrás de mim “One dólar, sir! One dólar!”. Eu me desculpei, mostrei os bolsos vazios e disse “I’m really sorry”. Ele voltou para o seu posto. Fiquei olhando uma gordinha tirando foto. Quando ele viu, saiu atrás da gordinha, grigando “Hey there, one dólar!”. A gordinha entrou correndo e rindo dentro da loja do Hard Rock, onde o homem-maconha não podia entrar...
Nisso, estava eu com cara de paspalho por ali, e veio um policial, atravessando a rua, reto na minha direção....
- Hey! – disse ele.
- Hello!
- Did you leave this bag alone?
Eu pensei por um segundo e confirmei:
- Yes, but, just for a second... I took pictures there and...
O policial me interrompeu e disse:
- Here, in the Unitade States, this is a suspicious attitude.
E aí sofri um pequeno interrogatório: de onde eu era, o que fazia nos US, o que eu realmente tinha na sacola...
Por fim, ele perguntou:
- Can you do something for me?
- Sure.
- Don’t leave this bag alone again.
- Absolutely!
E assim ele partiu. Parece cena de citycon. Assim que o policial foi embora chegou o Eliseu. Contei o que aconteceu e concluímos que a partir de agora a Polícia de Nova York estaria nos vigiando pelas câmeras de segurança, pois éramos dois suspeitos...
E assim seguimos o nosso caminho, até tirarmos mais uma foto dos fantasiados de Times Square sem dar tip. E então, nesse momento, ao ver a Mulher Maravilha correndo atrás de nós dois gritando “one dólar! One dólar!” os policias finalmente concluíram: sim, não se trata de terroristas. Eles são realmente e definitivamente brasileiros!

domingo, 10 de novembro de 2013

A espera

Aconteceram tantas coisas nos últimos dias, que não tive nenhum tempo para escrever nada, nem para o blog, nem para qualquer outro lugar. De quinta até hoje, recebi a visita do meu amigo Eliseu Manica, de Santo Ângelo, que veio para os States para fazer um curso em Boston. Aliás, da vinda dele pude conhecer a fundo o aeroporto JFK. A princípio, teve uma confusão no horário de chegada dele em Nova York. Indicava três e meia da tarde a chegada, porém, a gente não sabia se era pelo horário daqui ou pelo horário do Brasil. Na dúvida, como eu tinha aula até a uma, resolvi adotar o meio termo: eu chegava as duas e meia e, se a chegada dele fosse pelo horário daqui, eu esperaria um pouco, e se fosse pelo de lá, ele esperaria.
Parti para o metrô ao meio dia, por segurança. Na verdade são praticamente duas horas de metrô entre a 34 Street, lado West, e o aeroporto (tem que pegar dois metrôs). Então, cheguei lá às duas da tarde. Assim que entrei no trem (que é classe A – bom se todos os da cidade fossem como os do aeroporto) recebi uma mensagem da namorada do Eliseu dizendo que ele ia chegar as cinco da tarde, pelo horário nova-iorquina. Putialavida, man! Se eu voltasse pra casa, seriam mais quatro horas de metrô (duas pra ir, e mais duas pra voltar), além de um gasto de 10 dólares, pois cada viagem no metrô do aeroporto era cinco dólares. Então, conclui que não valia a pena... Mas vamos lá, encarar uma tarde no JFK! Andei de trem pelas dez plataformas do aeroporto, sentei na sala de espera, fiz meus temas do inglês atrasados, presentes e futuros, zanzei pela plataforma oito (cada plataforma é muito pequena, então, não tem muito o que fazer), e aproveitei para estudar as alternativas que teríamos para ir do aeroporto para casa. Então, como o Eliseu estava pensando em alugar um carro, fui nas empresas que prestam esse serviço dentro do aeroporto. Para resumir, visitei as cinco que tem lá, e numa delas discuti com a atendente. Pois é, ela disse que não poderia me alugar um carro porque a região onde moro não tem cobertura da empresa. Então, sei lá porque diabos eu me irritei muito, respirei fundo e mandei ver, em inglês, com a veia do pescoço saltando de bravo:
- Você quer dizer que eu não posso alugar um carro aqui por que eu moro no Harlem??
- Yes, sir.
Motherfucker. Preconceito do caralho! Saí de lá bufando de bravo. Acabei voltando para a sala de embarque, onde esperei até quase oito horas da noite o Eliseu. O atraso se deu pelo fato de que tem todo o processo de desembarque, que leva quase duas horas. Na verdade, eu nem lembrava disso, porque quando eu cheguei aqui estava tão chapado de Rivotril que não faço ideia se levou dez minutos ou duas horas. Enfim, apresentei as opções de ida para casa ao Eliseu, e decidimos alugar o carro. Ele disse que tinha visto um carro barato, adivinhem em que empresa??? Na Herz, a da mulher com quem eu briguei. Mas fiquei tranquilo, disse pra ele “isso foi de tarde, agora são oito da noite. Ela nem deve estar mais lá”. Chegamos na empresa e, adivinhem de novo?? lá estava a gorda sentada com cara de cu. Era ela e um atendente, mas o outro cara estava ocupado. O Eliseu teve a ideia de fingir que estava falando no celular até o outro atendente se desocupar, mas a mulher começou a repetir como um papagaio “next! Next!”. Então, acabamos cedendo à pressão. Chegamos lá, e ela, obviamente, me olhou com aquela cara de quem não tem muita paciência, olhos por cima dos óculos, como se dissesse “o que você quer aqui de novo???”.
Argumentamos e persuadimos ela a alugar o carro, mas ai, sem reservas, o negócio ficava caro demais. Fomos numa outra empresa, que tinha preços mais razoáveis, mas então, como a nossa ideia era ir no outro dia no Jersey Garden, em New Jersey, concluímos que, como a probabilidade de nos perdermos no caminho era de 1000% era mais seguro e econômico fazermos tudo pelo transporte público. E, assim, finalmente, lá por nove da noite, deixamos o aeroporto rumo ao meu apartamento no Harlem.
No outro dia, pela primeira vez desde que cheguei nos Estados Unidos, saí de Nova York, pois fomos para New Jersey. A ideia era resumir tudo num texto, mas já vi que me estendi demais, então outro dia falo sobre a nossa ida ao Jersey Garden e sobre a vez em que a polícia de Nova York achou que eu era um terrorista.
Hasta!

sábado, 2 de novembro de 2013

Invadindo geral

A missão de hoje era simples: sair para o Central Park fotografar as belíssimas imagens proporcionadas pelo outono em Nova York. Missão cumprida, mais de 500 clicks incluindo, de quebra, a abertura da pista de patinação no gelo...
Estava pronto para ir para casa quando vi um prédio, no lado West do Central Park, que me chamou a atenção. Fui lá conferir, até porque tinha bastante gente na frente, e percebi que era o Museum of History Natural of New York. Ou seja, o Museu de História Natural, aquele mesmo em que o Ross, personagem dos Friends, trabalhava no seriado. Em todos os lugares em que li sobre o museu consta que o ticket deve ser comprado. Tirei algumas fotos da frente e resolvi entrar. O guardinha que revistou minha sacola disse "não vale a pena entrar, você terá apenas 10 minutos". Então, fiquei ali pelo saguão, me parando de mosca morta, tirando fotos dos dois esqueletos de dinossauros. Nos alto-falantes, começaram a anunciar que o museu estava fechando.
O lugar em que vendem os tickets nem aberto estava. Então, resolvi ir indo, indo, indo... até que fui. Entrei dentro do museu. Fiz cara de quem estava procurando alguém, de preocupado, sério, com a testa franzida... Entrei numa sala cheia de animais selvagens empalhados e comecei a tirar fotos e fotos. Pra variar, as vozes dos últimos a saírem eram, na maioria, de brasileiros falando português. Dei uma zanzada, o troço já estava esvaziando, quando vi um casal parado na frente do elevador. Resolvi parar ali do lado deles. Eles me olharam, desconfiados. Eu retribui o mesmo olhar desconfiado, apesar de ter sacado que eles eram turistas. De repente, passa um cara e pergunta, ofegante, falando: "o museu está fechando, aonde vocês estão indo?" e o cara respondeu "vamos tentar subir".
Entramos no elevador, o casal, eu e uma funcionária do museu. Eu estava rindo por dentro, pois eles nem imaginavam que eu também era brasuca. Foi então que resolvi me identificar:
- Vocês são brasileiros?
- Ah, eu sim, ela não. Você também?
- Não, sou chinês mas falo português fluente...
Chegamos no segundo andar. Estava vazio. Era apenas nós três, enquanto no alto falante falavam em todas as línguas (menos português) que o museu estava fechando. O cara era do Mato Grosso, mas mora aqui há 10 anos. E ela, que falava português com um sotaque estranho (o que me fez pensar que fosse americana) na verdade era cubana. Eu e ela estávamos com máquinas fotográficas, então, nós clicávamos a cada segundo. Chegamos na frente de uma porta de vidro fechada. No lado de dentro estava cheio de animais empalhados e esqueletos. O cara tentou abrir e... abriu! A essa hora imaginei que algum guardinha estaria nos observando pelas câmeras de segurança... Mas enfim, éramos apenas nós três naquela sala gigante cheia de bicho empalhado. Imaginei o Ross trabalhando ali, principalmente no tempo em que o Joy fazia uma espécie de estágio no museu... Voltei ao mundo real e fomos indo, tirando fotos, enquanto eu pensava "puta merda, vão fechar o museu e vamos ter que posar aqui". Lembrei do filme de terror "uma noite no museu". Ou seria "uma noite no cemitério?". Enfim, enquanto clicava, excitado como uma criança que está fazendo arte, ria comigo mesmo por dentro ao imaginar um guardinha chegando, prendendo nós, e nos levando a uma sala de interrogatório. "Nós não falamos inglês", disse o cara ao responder indagação nesse sentido da mulher. "E se disserem que o museu está fechando em português", retrucou ela. "Alegamos que falamos apenas tupi-guarani", respondi, entre um clique e outro, que inclui essa clicada do meu carão de fugitivo.
Parecíamos criminosos fugitivos num prédio gigante e deserto. Ao tentar sair, eram corredores imensos, vazios, e ao ouvir barulhos de passos, a gente desviava para outro lugar. Senti-me num filme, entre uma caminhada a passos largos e uma corridinha e outra. Só faltou ligarem o infravermelho de segurança exigindo malabarismos cinematográficos da nossa parte para a fuga final...
Mas, enfim, andamos, dobramos e descemos escadas, até que chegamos no primeiro andar, onde ao avistar uma mulher uniformizada ainda teimei em invadir mais uma sala para tirar uma última foto "hey! Go away!". Ok, thank you!
O carinha brasileiro disse que na verdade eles cobram apenas uma doação, mas por via das dúvidas, valeu a pena a aventura, pois o valor (que não sei se é sugerido ou cobrado) é de mais ou menos uns U$25. No fim, do lado de fora, fui em direção ao metrô me sentindo um 007 brasuca em solo americano...

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Happy Halloween

Acabei de chegar da festa de Halloween. Na verdade, até poderia estar lá ainda, mas aconteceu uma série de acontecimentos que fizeram com que eu voltasse mais cedo pra casa. Primeiro, suei pra caralho de tarde fazendo a minha “mudança” de apartamento. Tive que fazer o troço em duas vezes (e para cada ida, tive que pegar dois metrôs). Quando terminei, “almocei” as quatro da tarde e parti para o Halloween. Na verdade, como tudo na vida, o Halloween nova-iorquino pontos positivos e negativos. Então, como esse provavelmente venha a ser meu único Halloween em solo americano, vou fazer uma “narrativa comentada” desse dia 31 de outubro de 2013.
Primeiro, gostei de ver as crianças saindo com cestinhas de abóbora, todas fantasiadas, atacando todos os tipos de estabelecimentos comerciais e residenciais de Nova York atrás de doces. Isso sim, pra mim, é Halloween. E as lojas e prédios ficam todos preparados com muuuuito doce, pois a cada segundo aparece uma fila de crias, sem exagero, de todas as idades (de menos de um ano no carrinho de bebê até 10 ou 12 anos). Mas a maioria são os pequerruchos, de 3 a 6 anos, e eles tornam o troço muito divertido. E em meio às crias, durante todo o dia 31 de outubro, os normais são os fantasiados, e quem está sem fantasia se sente deslocado. Para a minha sorte, me preveni, e fiz valer a pena os dólares que gastei para comprar minha fantasia de hippie.
Mas, enfim, esse, pra mim, foi o ponto mais alto do Halloween: ver uma multidão de crias fantasiadas tomando conta da cidade. E isso começou no Harlem, e daqui, agora da 150 Street com a Brodway, parti para Downtown, onde nos arredores da rua 22 com a 9 Avenue, as casas e prédios fazem uma super-produção para esperar as crias, que, pra variar, invadem geral atrás de doce. As cenas são sensacionais, pois você vê crias de três anos fantasiada de Batman ou de Moranguinho conferindo a quantidade de doces que está dentro do potinho de abóbora.
No entanto, para não me estender muito, quero chegar na principal atração do Halloween nova-iorquino: o desfile de rua. Eu chamo de desfile, pois para os americanos é “festa”, “parade”, ou algo assim. Mas, na verdade, é um desfilão mesmo. As ruas são fechadas, com grades, policiais e milhares de pessoas de público. Tive que andar muitas quadras para achar o início do troço (quase uma hora de caminhada, vestido de hippie, calçando Havainas). E foi aí que a minha sorte no Halloween começou a terminar. Primeiro, porque eu coloquei minhas lentes de contato (que não me adaptei) para poder usar o meu óculos de hippie (e com ele não conseguia enxergar quase nada). E a porra da lente começou a incomodar pra caralho. Meu olho começou a coçar e a arder. Segundo, todas as pessoas que eu tinha combinado de encontrar estavam em pontos distantes de Manhattan.
Os únicos que estavam pelas redondezas eram um casal de cariocas que também estão fazendo o doutorado sanduíche aqui. Terceiro, começou a chover. Quarto, acabou a bateria da minha máquina. Na hora fiquei puto, mas agora, analisando friamente, foi importante para entender um pouco melhor o que é essa festa de Halloween. Esse desfile, na minha humilde opinião, tem no seu lado fotogênico a principal atração: as fantasias são as melhores do mundo – mas para serem fotografadas e filmadas, nada além disso. E tem de tudo mesmo: pênis com testículos, vagina, astronauta, artistas famosos, heróis tradicionais e antigos (como a She-Ra), chapeuzinhos vermelhos e brancas de neve que parecem terem saído do último filme pornô do Caribe, demônios, capetas, anjos, vampiros, esqueletos, bolhas, etc. Até tinha um cara com uma fantasia gigante de milharal andava por lá! Inacreditável. Mas é isso. As pessoas vão fantasiadas para serem filmadas e fotografadas. Então, no desfile, não acontece nada além das pessoas posarem para as fotos e... tirarem fotos! E eu ali, sem a minha máquina, fiquei olhando tudo. Até fica tocando uma música pra dançar, mas o pessoal não dança... E, para piorar, não tem bebida alcoólica! Então, é tudo super comportado, a não ser meia dúzia de loucos e alguns brasileiros que bebem Vodka antes de ir pra festa e que passam gritando “uhuuuuuu!”. Mas, mesmo assim, os loucos não são loucos, querem é aparecer em fotos e filmagens como loucos. Na hora que não tem ninguém filmando ou fotografando, são normais... É uma representação irritante pra quem não pode fotografar... Ou seja, as pessoas não estão ali para CURTIR e sim para APARECER. E, por essa e por outras, numa tosca comparação, sou muito mais carnaval brasileiro....
Ou talvez eu simplesmente estou ficando velho e chato... Depois do desfile, conversando com os cariocas, num barzinho lotado, a gente olhou ao nosso redor e concluiu: “essas pessoas estão aqui, bebendo sua long neck, conversando seriamente. A única diferença é que estão fantasiadas.. mas elas agem como se estivessem de terno e gravata”. E a cena mais comum é alguém pedir para tirar foto da Mulher Maravilha gostosa ou do Super Homem galã. Ou seja, é tudo imagem e pose para depois compartilhar no Facebook...
Da minha parte, prefiro a pureza e a inocência das crianças, que estão ali, num mundo particular, acreditando que elas são os personagens das roupas que estão vestindo, atrás de um simples doce. Pena que um dia elas vão crescer e, possivelmente, vão ficar igual aos chatos dos adultos, que querem se fantasiar para aparecer nas redes sociais, e não para se sentir no mundo da imaginação de cada personagem...
Bom, esse foi meu Halloween por aqui. Tão irritante, quanto inesquecível. Possivelmente hoje, na hora em que começou a chover, meu olho começou a arder e acabou a bateria da minha máquina, eu fui o Hippie mais estressado da história da irmandade.
* Texto escrito para o Meu Bairro de Poa.