.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Small tip, man! – E o dia em que fui suspeito de terrorismo

Seguindo a minha reconstituição particular dos acontecimentos da minha vida (para eu consultar quando não lembrar mais quem sou), na sequência do que foi narrado no texto anterior, na sexta-feira, Eliseu e eu tínhamos duas missões: 1) passar no escritório da XP em Nova York, que é a empresa em que ele trabalha no Brasil. E 2) Ir para o Jersey Garden, em New Jersey.
A ideia era sairmos cedo de casa, descer no início do Central Park para pelo menos ele conhecer o trajeto West-East da parte sul. Acabamos nos atrasando, e logo percebi que atrasaríamos ainda mais, pois toda a hora parávamos para uma foto. Cavalos de passeio: foto;
FAO (a loja do Esqueceram de mim): foto; loja da Ferrari: foto. E assim foi. Até que, lá por onze da manhã chegamos no escritório. Lá, conhecemos um cara gente fina, mas que já esqueci o nome, e que ficou conversando em códigos de economês com o Eliseu. Eu fiquei ali, tirando fotos, pensando na vida, enquanto eles falavam “mas pra você conseguir operar na mesa você tem que fazer o vinte alguma coisa na PET 1367”, etc (os códigos aqui não fazem sentido, pois não lembro de nenhum específico – mas era algo parecido). Depois de quase duas horas (mas que, pelo que percebi, renderam bastante para o Eliseu) partimos para a rodoviária de Nova York, na 42 Street com 8 Avenue. Na frente, uma foto no prédio do New York Times.
Aí começou a loucura. No balcão de informações não havia ninguém, apenas um cara com o mesmo estilo dos flanelinhas de Pelotas (mal vestido, boné, roupa velha, barba por fazer, etc). Olhamos para o balcão de informações vazio e ele, percebendo o nosso jeitão de turista perdido, já veio nos atender:
- Information, sir?
Falamos aonde queríamos ir. Ele nos levou ao balcão de compra de passagens. No caminho, ele me disse, como se fosse um agente do FBI: “be careful with your câmera”, e ia indicando fotos para tirarmos. Olhei para o Eliseu e disse “ih, esse cara vai querer tip... tem um dólar?”. Ele não tinha. Então, quando chegamos lá, fiz sinal para o carinha esperar a compra da passagem, pois o Eliseu iria trocar uma nota mais alta ao pagar as passagens...
Quando fomos pagar o tip, o carinha vendo a grana na nossa mão, disse “I’ll take you there, at the gate”. Fomos seguindo o cara. Pior que o troço é gigante. São mais de 400 portões, cada um com uma porrada de paradas. Enfim, quando chegamos, o Eliseu estendeu três dólares para o cara, que começou a gesticular e a falar “this is small tip, man. Small tip!”, dizia, apontando para o dinheiro. “I need to eat. This is small tip. It’s not a good tip, man!”. No fim, ele me largou essa “Jesus is seeing”. Aos poucos o Eliseu ia se acostumando com a cambada de maluco que tem em Nova York. Na fila do ônibus, vimos duas crias jogando pedra-papel-tesoura em inglês. Então, aconteceu o seguinte:
Uma senhora gorda, vó das duas crias, tinha comprado um conjunto de joias por 10 dólares. O Eliseu ofereceu 15. A mulher falou, em espanhol, sobre a oferta para a guriazinha, que ficou braba com o Eliseu, pois as joias eram pra ela... No fim, a velha não fez o negócio. A guriazinha era americana, mas como a família é latina, ela fala fluente inglês e espanhol. E o Eliseu se impressionou que ela faz mandarim no colégio, e fala um pouco de chinês e alemão. Ou seja, a cria de sete anos fala, pelo menos, quatro línguas. E a pirralha ainda corrigia o nosso inglês. Perguntei:
- Are you Brothers?
A guria e o guri se olharam, franzindo a testa, como se perguntassem “what do you mean, cara pálida?”. E, numa interrogação, soltaram:
- Brothers?
- Owwwww, sorry! – corrigi – Are you siblings?
- Yes.
E seguiram jogando pedra, papel, tesoura tirando nós pra bobos e rindo do nosso inglês e portunhol...
Lá por duas e meia da tarde embarcamos. Pela primeira vez em três meses estava saindo de New York City. Está certo, só passamos por New Jersey dentro do ônibus, pois o Jersey Garden, um famoso Outlet que tem aqui, fica totalmente isolado de tudo.
E o troço é gigante. Minha missão era comprar uma jaqueta, uma bota para a neve e o presente de aniversário da Larissa. Mas, no fim, ficamos lá até às nove da noite (hora que fechou) e acabei comprando umas cositas mas. Na volta, estávamos podres.
No sábado, a missão era comprar a passagem do Eliseu para Boston, o colchão inflável e dar uma banda. Primeiro, compramos o colchão. Lá pelas tantas, fomos no Hard Rock Café. Mas como estava fechado o café (apenas a loja estava aberta), e lá dentro estava muito quente (e eu não aguentava mais ficar tirando e colocando a jaqueta a cada lugar que entrávamos) disse pro Eliseu: “vou esperar lá fora”.
Estava lá eu, bobeando com a sacola com o colchão, quando vi um cara vestido de folha de maconha, pregando pela legalização. Eu fui ali, me afastei um pouco da sacola por, no máximo, 20 segundos. Click! Click! Click!
O carinha me viu e veio atrás de mim “One dólar, sir! One dólar!”. Eu me desculpei, mostrei os bolsos vazios e disse “I’m really sorry”. Ele voltou para o seu posto. Fiquei olhando uma gordinha tirando foto. Quando ele viu, saiu atrás da gordinha, grigando “Hey there, one dólar!”. A gordinha entrou correndo e rindo dentro da loja do Hard Rock, onde o homem-maconha não podia entrar...
Nisso, estava eu com cara de paspalho por ali, e veio um policial, atravessando a rua, reto na minha direção....
- Hey! – disse ele.
- Hello!
- Did you leave this bag alone?
Eu pensei por um segundo e confirmei:
- Yes, but, just for a second... I took pictures there and...
O policial me interrompeu e disse:
- Here, in the Unitade States, this is a suspicious attitude.
E aí sofri um pequeno interrogatório: de onde eu era, o que fazia nos US, o que eu realmente tinha na sacola...
Por fim, ele perguntou:
- Can you do something for me?
- Sure.
- Don’t leave this bag alone again.
- Absolutely!
E assim ele partiu. Parece cena de citycon. Assim que o policial foi embora chegou o Eliseu. Contei o que aconteceu e concluímos que a partir de agora a Polícia de Nova York estaria nos vigiando pelas câmeras de segurança, pois éramos dois suspeitos...
E assim seguimos o nosso caminho, até tirarmos mais uma foto dos fantasiados de Times Square sem dar tip. E então, nesse momento, ao ver a Mulher Maravilha correndo atrás de nós dois gritando “one dólar! One dólar!” os policias finalmente concluíram: sim, não se trata de terroristas. Eles são realmente e definitivamente brasileiros!

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home