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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Happy Halloween

Acabei de chegar da festa de Halloween. Na verdade, até poderia estar lá ainda, mas aconteceu uma série de acontecimentos que fizeram com que eu voltasse mais cedo pra casa. Primeiro, suei pra caralho de tarde fazendo a minha “mudança” de apartamento. Tive que fazer o troço em duas vezes (e para cada ida, tive que pegar dois metrôs). Quando terminei, “almocei” as quatro da tarde e parti para o Halloween. Na verdade, como tudo na vida, o Halloween nova-iorquino pontos positivos e negativos. Então, como esse provavelmente venha a ser meu único Halloween em solo americano, vou fazer uma “narrativa comentada” desse dia 31 de outubro de 2013.
Primeiro, gostei de ver as crianças saindo com cestinhas de abóbora, todas fantasiadas, atacando todos os tipos de estabelecimentos comerciais e residenciais de Nova York atrás de doces. Isso sim, pra mim, é Halloween. E as lojas e prédios ficam todos preparados com muuuuito doce, pois a cada segundo aparece uma fila de crias, sem exagero, de todas as idades (de menos de um ano no carrinho de bebê até 10 ou 12 anos). Mas a maioria são os pequerruchos, de 3 a 6 anos, e eles tornam o troço muito divertido. E em meio às crias, durante todo o dia 31 de outubro, os normais são os fantasiados, e quem está sem fantasia se sente deslocado. Para a minha sorte, me preveni, e fiz valer a pena os dólares que gastei para comprar minha fantasia de hippie.
Mas, enfim, esse, pra mim, foi o ponto mais alto do Halloween: ver uma multidão de crias fantasiadas tomando conta da cidade. E isso começou no Harlem, e daqui, agora da 150 Street com a Brodway, parti para Downtown, onde nos arredores da rua 22 com a 9 Avenue, as casas e prédios fazem uma super-produção para esperar as crias, que, pra variar, invadem geral atrás de doce. As cenas são sensacionais, pois você vê crias de três anos fantasiada de Batman ou de Moranguinho conferindo a quantidade de doces que está dentro do potinho de abóbora.
No entanto, para não me estender muito, quero chegar na principal atração do Halloween nova-iorquino: o desfile de rua. Eu chamo de desfile, pois para os americanos é “festa”, “parade”, ou algo assim. Mas, na verdade, é um desfilão mesmo. As ruas são fechadas, com grades, policiais e milhares de pessoas de público. Tive que andar muitas quadras para achar o início do troço (quase uma hora de caminhada, vestido de hippie, calçando Havainas). E foi aí que a minha sorte no Halloween começou a terminar. Primeiro, porque eu coloquei minhas lentes de contato (que não me adaptei) para poder usar o meu óculos de hippie (e com ele não conseguia enxergar quase nada). E a porra da lente começou a incomodar pra caralho. Meu olho começou a coçar e a arder. Segundo, todas as pessoas que eu tinha combinado de encontrar estavam em pontos distantes de Manhattan.
Os únicos que estavam pelas redondezas eram um casal de cariocas que também estão fazendo o doutorado sanduíche aqui. Terceiro, começou a chover. Quarto, acabou a bateria da minha máquina. Na hora fiquei puto, mas agora, analisando friamente, foi importante para entender um pouco melhor o que é essa festa de Halloween. Esse desfile, na minha humilde opinião, tem no seu lado fotogênico a principal atração: as fantasias são as melhores do mundo – mas para serem fotografadas e filmadas, nada além disso. E tem de tudo mesmo: pênis com testículos, vagina, astronauta, artistas famosos, heróis tradicionais e antigos (como a She-Ra), chapeuzinhos vermelhos e brancas de neve que parecem terem saído do último filme pornô do Caribe, demônios, capetas, anjos, vampiros, esqueletos, bolhas, etc. Até tinha um cara com uma fantasia gigante de milharal andava por lá! Inacreditável. Mas é isso. As pessoas vão fantasiadas para serem filmadas e fotografadas. Então, no desfile, não acontece nada além das pessoas posarem para as fotos e... tirarem fotos! E eu ali, sem a minha máquina, fiquei olhando tudo. Até fica tocando uma música pra dançar, mas o pessoal não dança... E, para piorar, não tem bebida alcoólica! Então, é tudo super comportado, a não ser meia dúzia de loucos e alguns brasileiros que bebem Vodka antes de ir pra festa e que passam gritando “uhuuuuuu!”. Mas, mesmo assim, os loucos não são loucos, querem é aparecer em fotos e filmagens como loucos. Na hora que não tem ninguém filmando ou fotografando, são normais... É uma representação irritante pra quem não pode fotografar... Ou seja, as pessoas não estão ali para CURTIR e sim para APARECER. E, por essa e por outras, numa tosca comparação, sou muito mais carnaval brasileiro....
Ou talvez eu simplesmente estou ficando velho e chato... Depois do desfile, conversando com os cariocas, num barzinho lotado, a gente olhou ao nosso redor e concluiu: “essas pessoas estão aqui, bebendo sua long neck, conversando seriamente. A única diferença é que estão fantasiadas.. mas elas agem como se estivessem de terno e gravata”. E a cena mais comum é alguém pedir para tirar foto da Mulher Maravilha gostosa ou do Super Homem galã. Ou seja, é tudo imagem e pose para depois compartilhar no Facebook...
Da minha parte, prefiro a pureza e a inocência das crianças, que estão ali, num mundo particular, acreditando que elas são os personagens das roupas que estão vestindo, atrás de um simples doce. Pena que um dia elas vão crescer e, possivelmente, vão ficar igual aos chatos dos adultos, que querem se fantasiar para aparecer nas redes sociais, e não para se sentir no mundo da imaginação de cada personagem...
Bom, esse foi meu Halloween por aqui. Tão irritante, quanto inesquecível. Possivelmente hoje, na hora em que começou a chover, meu olho começou a arder e acabou a bateria da minha máquina, eu fui o Hippie mais estressado da história da irmandade.
* Texto escrito para o Meu Bairro de Poa.

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