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sábado, 23 de novembro de 2013

O quebra-cabeça da tese

Já estou em Nova York há quase quatro meses e, confesso, praticamente nunca comentei aqui ou em outro lugar online sobre a minha tese. Bom, não tenho como explicar detalhes aqui, senão a escreveria inteira, mas, resumindo o resumo do resumo, ela trata principalmente sobre o Jornalismo Gonzo.
E nos últimos dias tenho pensado sobre como montar esse quebra-cabeça. Digo isso porque, certamente, será um puta trabalho de reflexão e edição. Tenho mais peças do que poderei usar. Isso que ainda falta um monte de material para levantar. Mas, com o que tenho hoje, creio que seria o suficiente para escrever mais de mil páginas. Não que eu seja um super escritor, ou um pesquisador fora de sério, mas é muito material. E aí entra o trabalho de edição. Lembro de quando ouvi o Fernando Morais falando sobre o livro “Os últimos soldados da Guerra Fri”. Ele disse que tinha material para escrever duas mil e quinhentas páginas, mas não podia. Então, ele teve que catar o principal, e assim ele escreveu um puta livro de aproximadamente 300 páginas. Os acadêmicos de plantão dirão “mas uma tese não é um livro reportagem”. Há controversas.
Bom, só da obra do Thompson, tenho lidos e relidos os seis livros que foram traduzidos para o português (Medo e Delírio em Las Vegas, Hell’s Angels, Reino do Medo, Screw Jack, A grande caçada dos tubarões e Rum: diário de um jornalista bêbado). Além desses, tenho mais dois em inglês aqui comigo: Fear and loathing on the campaign trail 72 e Better than sex. E ainda tem mais meia dúzia que preciso adquirir (e ler) antes de ir embora). A sorte é que nos Estados Unidos livro é barato. Ademais, tem mais os do Foucault, que tratam da parresía (esses estão comprados e lidos), mais os livros biográficos e de correspondências do Hunter Thompson. In addition, tem três filmes baseados em obras dele e mais dois documentários sobre a sua vida e obra. E, claro, tudo o que estou vendo e o que pretendo ver por aqui que tem referência com a sua vida e obra, além dos livros teóricos e dos outros de sua geração, grande parte que estou vendo em uma das disciplina que estou fazendo na NYU (e que está me acrescentando uma puta referência bibliográfica)...
Voltando a mergulhar no mundo gonzo, hoje fui nos outros três prédios que o Hunter Thompson morou aqui em New York City, e que tinham faltado na minha primeira trilha atrás dos rastros de Thompson em NYC, que fiz logo quando cheguei aqui. Saí para a rua gelada catando Morningside Driver. Na verdade, assim que cheguei, lá pela rua 122, reconheci: era o parque que eu cruzei quando fiz o curso em Columbia. É num prédio exatamente ali que ele morou em dezembro de 1957 e janeiro de 1958. Fiquei imaginando Hunter morando ali, num puta inverno com muito frio, na casa dos 20 e poucos anos, maluco, alucinado, chapado, desesperado pela falta de grana, tentando estudar na Columbia Univeristy, correndo atrás do sonho americano, que ele amou e odiou durante a sua vida. O lugar é muito bom, pois o parque de Morningside é ótimo para caminhadas e, como fica nos arredores do campo, o pessoal por ali tem aquela típica cara de universitário americano.


De lá fui para o prédio onde ele foi morar quando deixou esse primeiro: na 113 Street, esquina com Brodway. Nesse lugar ele morou de fevereiro de 1958 até abril do mesmo ano. Pouco tempo. O prédio fica a uma quadra de Columbia e, curiosamente, fica na mesma quadra do Tom’s Restaurant, do seriado Seinfield – que já comentei outra vez. E é um prédio para estudantes da Columbia. A todo momento saíam e entravam estudantes do lugar nos poucos minutos em que fiquei ali, observando, viajando, e tirando fotos.


Por fim, no caminho para o terceiro lugar, que era na 81 Street, mas do outro lado da ilha (no East), cruzei a parte norte do Central Park, onde rendeu boas fotos. De lá, peguei o subway na 110 e saltei na 77 Street. Subi mais quatro quadras até a 81, e de lá foi uma puta caminhada, no frio gelado, até o cruzamento do fim da ilha com o Hudson, na parte East, que é onde ele morou em 1962. São vários prédios iguais, um do lado do outro. Do outro lado da avenida tem o rio, o que deixa tudo gelado. E assim terminei a minha reconstituição dos lugares onde o Hunter S Thompson morou, mesmo que por pouco tempo, em New York City.


Estou traçando os planos para os próximos meses. Antes de eu ir embora, vou ter que passar por Aspen, no Colorado, onde tem a Fundação Gonzo, fundada pela segunda mulher de Thompson, e onde tem o monumento em que foram jogadas as suas cinzas. Também terei que passar pela California, Big Sur, etc. Ah, e óbvio, Lousville, a cidade natal do cara. Mas vou deixar essa última para junho ou julho, quando tem a Gonzofest.
Espero poder fazer tudo antes de voltar. Ainda faltam oito meses e meio. O tempo voa.
Ps: quando comecei a escrever o texto, pensei em escrever justificando porque gosto tanto da obra do Thompson, mas acabei me perdendo, e escrevi de mais, e não imagino que alguém tenha chegado ao fim desse texto. Enfim, essa parte vai ficar para outra hora. Apenas adianto que, porra, o cara tinha coragem de publicar o que ninguém publicava, o que todos sabiam mas ninguém tinha colhões para botar no jornal ou na televisão, tanto em termos de política, quanto de comportamento. Mas deixemos esses pontos para uma das próximas!

3 Comentários:

  • Este comentário foi removido pelo autor.

    Por Blogger Márcio, às 24 de novembro de 2013 às 16:47  

  • Direto de Nova York, onde o professor de jornalismo Eduardo Ritter, que recentemente passou pela UFPel, faz seu estágio doutoral na New York University, traz nesta matéria, preciosas e detalhadas informações da passagem do pai do Gonzo Journalism, Hunter Stockton Thompson em NYC. Um estilo original e inconfundível, que obrigou editores e chefes de redação de jornais nos EUA na década de 1960 a repensarem suas linhas editoriais e jogar no lixo seus empoeirados e até então incontestáveis manuais de redação. Um estilo efervescente que nasceu em plena época de contracultura e movimentos de insatisfação social contra o Sistema, e que tem como técnica inserir o repórter para vivenciar e interagir no ambiente da ação, aproximando assim jornalista e conseqüentemente, o leitor da realidade dos fatos. Um relato imprescindível para os amantes deste gênero que entalhou, de maneira instintiva e definitiva, um estilo único na história do jornalismo do mundo ocidental.

    Por Blogger Márcio, às 24 de novembro de 2013 às 17:50  

  • valew pelas palavras, Márcio! grande abraço!

    Por Blogger Eduardo, às 24 de novembro de 2013 às 20:11  

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