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sábado, 23 de novembro de 2013

Nostalgia novecentessista

Saudades da Paraíba! Saudades de Jampa, que eu nunca vi! Saudades de 1995, ano do título da Libertadores, Grêmio campeão da América, Inter não ganha de ninguém! Festa no colégio, festa na turma, ensaio de sete de setembro na rua, bandeira do Grêmio e ela também de camisa do Grêmio! E todo mundo veste a camisa do Grêmio! Saudades de 1994, gol do Nildo na final da Copa do Brasil, eu assistindo com meu pai, em casa, comemorando o título sem imaginar o que estava por vir. O Inter nem preocupava. E eu ia pro colégio e ficava lá, olhando de longe, viajando longe, pensando longe... Acreditando que um dia eu ia chegar lá!
Jogo no campinho do Sepé. Campo torto pra um lado. Lança a bola, ela está indo em linha reta, e quando você menos espera... slapt! Ela escorrega pela lateral. Saudades do final dos anos 1990, outra turma, outras pessoas... Cruzamento do Beiço do meio de campo, o Nêgo escora de cabeça e CATAPUF! Golaço de voleio! Eu, o desacreditado, o eterno reserva, termino campeão e artilheiro do campeonato!
Saudades dos anos 1990, time C da turma vai fazer amistoso contra o time A na educação física, e metemos 3 a 2 nos caras, três gols do Jorge chileno! Sentimo-nos orgulhosos de nossas proezas, imaginamos uma matéria do Régis Riesling no Globo Esporte do outro dia – no tempo em que ainda existia o jornalismo esportivo minimamente envolvente e sério. Pensamos que elas estão nos olhando, vibrando com nossas glórias, mas elas estão nem aí pra nós, que somos os vilões da história, pois batemos em seus príncipes, acéfalos, loiros e de olhos azuis... e elas vão lá consolar os heróis derrotados...
E nós seguimos em frente, lutando contra a regra da vida, lutando contra tudo, lutando contra o sistema, contra a natureza, ou como disse o Vilso Santi na defesa da sua tese doutoral “estou aqui num lugar onde o sistema não me permitiria estar”. Ok, as palavras não são essas, mas a ideia, creio eu, é a mesma.
E pela lógica de todos, eu sou do povo, eu sou um zé ninguém... um jogador mediano, o cara que não pegava geral no colégio e que ainda por cima não ia bem nas notas... Quem apostaria em mim? Quem aposta, hoje? Talvez o Jimbo, meu cachorro, meu melhor amigo durante 15 anos... Agora olho pela janela o rio Hudson e penso: porra Jimbo, onde você está, meu amigo de fé, meu irmão camarada!?
E estou aqui. No trabalho ninguém achava que eu fosse muito longe. No mundo acadêmico sou o eterno patinho feio, o gauche, o flanador que está por aí, sem pesquisar internet, redes sociais e a porra toda... vindo do interior, perdido na capital. E volta e meia eu retorno para as arquibancadas do Calistão, nosso eterno ginásio, demolido por um defunto que está se revirando embaixo da terra, enquanto eu lembro dos golaços que fiz em conversas memoráveis com meu melhor amigo dos anos 1990 (e um dos melhores amigos da atualidade em mi perra vida) na praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, um dia antes de embarcar para a dita capital do mundo... E vou atrás dos rastros de um cara foda, que também nunca se conformou com o sistema, que também passou por poucas e boas e se ferrou bastante até conseguir firmar suas pernas nesse planeta maluco... E enquanto a Terra gira, o tempo vai e vem, e enquanto espero a neve fico andando pra frente e pra trás, lembrando de coisas que poderiam ter sido, mas não foram, mas que, quem sabe, um dia serão.
Lembro da pele branca, na saia jeans, do cabelo liso, até as costas, que mesmo na derrota do Grêmio me fazia crer, por poucos momentos, que o mundo era belo, e que, como diria o Renato Russo, me faziam crer ao menos uma vez que todas as pessoas são felizes.... Eu olhava, gravava a imagem, e ia pra casa... sonhando em ter coragem de um dia dizer tudo o que sentia, tudo o que sonhava, tudo de bom que ela me causava... mesmo sem fazer nada... apenas estando ali, linda e perfeita... e... E, depois disso, eu ia pra casa, e numa época que nunca mais vai voltar, o Grêmio ia lá, e vencia. Vencia bonito, com raça, com garra, jogando bem, pressionado... Era vitória certa, sempre. Paulo Nunes, Jardel... Espetáculo. Vitória em campo e esperança no amor platônico...
Vitória para se comemorar hoje, 20 anos depois, com uma Bud em New York City...
E pelo céu, e pelo mar, vou por aí... a procurar....
E, parafraseando algum cantor de rock gaúcho, a minha vontade é ser bonito... mas sempre volto atrás!
Laaaaaaaaaaaaaaaaa, la laiaaaaaaaaaaaaaaaaa!

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