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sexta-feira, 31 de julho de 2009

Você já flanou hoje?

Tenho uma notícia triste para o Arion (zinho): ele fez o curso errado. É verdade, ele se formou em Publicidade e Propaganda, quando na verdade, ele deveria ter feito jornalismo. E sabem como eu descobri isso? Simples, em meio a minha pesquisa sobre o tema Jornalismo e Literatura, descobri o verbo flanar, mencionado por João do Rio, no longínquo 1908. O jornalista coloca o verbo flanar (que vem do francês flâneur) como uma qualidade para o ofício. E, vejam vocês, que a descrição apresentada no livro “A alma encantadora das ruas” bate exatamente com a personalidade do meu nobre amigo:

Flanar! Aí está um verbo universal sem entrada nos dicionários, que não pertence a nenhuma língua! Que significa flanar? Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir por aí, de manhã, de dia, à noite, meter-se nas rodas da populaça, admirar o menino da gaitinha ali à esquina, seguir com os garotos o lutador do Cassino vestido de turco gozar nas praças aos ajuntamentos defronte das lanternas mágicas (...); é estar sem fazer nada e achar absolutamente necessário ir até um sítio lôbrego, para deixar de lá ir, levado pela primeira impressão, por um dito que faz sorrir, um perfil que interessa, um par jovem, cujo riso de amor causa inveja... É vagabundagem? Talvez. Flanar é a distinção do perambular com inteligência. Nada como o inútil para ser artístico. Daí o desocupado flâneur ter sempre na mente dez mil coisas necessárias, imprescindíveis, que podem ficar eternamente adiadas.

No entanto, hoje em dia o verbo flanar está dicionarizado. Conforme o Hoauaiss da Língua Portuguesa, significa: andar ociosamente, sem rumo nem sentido certo; flinear, flainar, perambular.
Tu vês. O meu amigo Arion, como tantos outros, tem o vírus da observação ligado ao da vadiagem. E vejam o que diz sobre tudo isso Marcelo Bulhões, no livro Jornalismo e Literatura em Convergência: “Verifica-se aí certa exaltação da despreocupação, do ócio, como uma apologia da vadiagem, um elogio à inutilidade”. Isso me leva a crer que, talvez, o Arion seja a reencarnação do João do Rio... Muito interessante. Já estou começando até a ter idéias... Acho que vou levar o Arion nas minhas próximas apresentações sobre o tema, acompanhado de um pai de santo, e com isso apresentarei ao mundo a verdadeira face de João do Rio. Ou de Arion Fernandes... Ou dos dois, se é que os dois não são um só... Acho melhor eu dar um tempo nas leituras e flanar um pouco... Aliás, você já flanou hoje?

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Bateria de filmes

Como já mencionei outras vezes, adoro filmes, no entanto, estou longe de ser um especialista em cinema. Vejo o filme e simplesmente gosto ou não gosto. Dependendo do resultado, dou uma pesquisadinha básica no Google para saber algo mais sobre o tema ou sobre o filme em si.
Desde que cheguei a Santo Ângelo, há uma semana, estou tentando tirar os atrasados da lista de filmes que gostaria de ver, já que em Porto Alegre a nossa TV sequer tem entrada para DVD. Assistir filmes no computador então, nem pensar, pois mal funciona o Explorer, MSN e Word. Ligar os três juntos é fora de cogitação. Quanto ao cinema, humpf, com a minha situação financeira atual, é simplesmente sem chance. Portanto, tenho que aproveitar agora, que estou no conforto da casa dos meus pais, com os aparelhos de TV e DVD devidamente conectados, para tirar o atraso cinematográfico. Aliás, meus dias aqui tem sido regado a chá e xarope para a gripe, muitos filmes, namoro com a noiva, fogo na lareira, e vez em quando até substituo o xarope pelo vinho, o que é uma boa para o paladar e para o cérebro, mas não é muito útil para curar minha tosse sem fim.
Mas chega de papo furado e voltemos aos filmes. O primeiro que assisti, logo que cheguei, foi o “Hotel bom pra cachorro”. Explico: assisti junto com a minha filhota de coração, Laura, ou simplesmente Lalá. Ou ainda, Lalainha ou Bebeinho para a Cris e eu. Enfim, achei um bom filme para crianças. Depois, assistimos a “Marley e eu”. Muito bom também. Fechando o ciclo de filmes em família, assisti “Noite de Tormenta”. Trata-se de uma mistura de drama com romance. Pelo título achava que era uma espécie de terror com aventura, mas não é nada disso não. É muito mais uma história de amor e recomeço, no entanto, com um final emocionante, mas triste. Um excelente filme que recomendo a todos os leitores e não leitores desse blog.
Depois que passou o final de semana, aproveitei o tempo livre para pegar alguns filmes que estavam anotados no meio do meu caderno, indicado por professores ou colegas.

O primeiro deles que vi foi “O leitor”. Tenho tanta coisa para falar desse filme que até acho que não vou falar nada, porque as palavras e os pensamentos se perdem em meu cérebro, correndo de um lado para o outro de forma rápida e desenfreada... Mas enfim, vamos contar até três e tentar sistematizar alguma coisa coerente. Quatro considerações rápidas:
- Com certeza está entre os 5 melhores filmes que já vi na vida;
- Aborda com profundidade uma série de temas que me interessam muito, como: amor para a vida toda; momentos curtos, simples e inesquecíveis; fidelidade, no seu sentido mais puro, e não no concebido nos pensamentos massivos e estereotipados; segredo; confiança; decepção; emoção; saudades, com momentos que marcam uma alma para sempre; lembrança; solidão; filosofia; pensamentos; e ainda por cima, aborda um tema histórico que é a Alemanha pós-nazismo. Tem um artigo escrito em conjunto pelo Arion Fernandes e a Júlia Rambo, sobre o livro e o filme, no blog da Usina de Idéias da Unijuí (http://usinacomunica.wordpress.com/page/3/ - é o post do dia 6 de maio) que está melhor escrito, com outros dados, opiniões e tudo o mais, porém, como ainda quero falar sobre os outros filmes, fica a recomendação para a leitura desse texto.
- Para mim, particularmente, é um filme que injeta na veia tudo o que se refere aos mais variados tipos de sentimentos, e, principalmente, à luta contra o preconceito, especialmente quando há um caso de amor envolvido nele. Acho que por isso considero esse um dos melhores filmes que já vi. Talvez outras pessoas não sintam o mesmo, mas como disse, para mim, foi uma dose de sentimentos injetados direto na veia. Inclusive, há várias cenas simplesmente sensacionais. Numa delas, que me ocorre agora, é a que o garoto está sentado na mesa, jantando com a família, e uma série de flashes com imagens dele fazendo amor com a “namorada”, 20 anos mais velha, começa a invadir o seu cérebro. É o amor mais puro que pode existir entre um homem e uma mulher: apesar de todas as diferenças, eles se amam; se sentem bem um com o outro; e não estão nem aí para o resto do mundo, o passado, o presente e o futuro. São só os dois tentando se entender, se amando, um estimulando e MUDANDO a vida do outro e a forma do outro ver o mundo. Algo sensacional, sintético e tocante.
- Imperdível.

Bom, como escrevi além do que esperava, vou falar rapidamente sobre os outros dois filmes que vi, que também são muito bons. Um deles é “A Rainha”, indicação do meu orientador, Antonio Hohlfeldt, sobre o tema opinião pública. Como vou fazer uma disciplina que aborda esse assunto no próximo semestre, tratei de assisti-lo. Além de tratar desse tema de forma espetacular, ainda apresenta magistralmente acontecimentos históricos envolvendo a morte da princesa Daiana.
Por fim, o filme que acabei de ver, que também aborda a 2ª Guerra, é “O Menino do Pijama Listrado”. Limito-me a dizer aqui que esse filme confirma o que sempre digo, que para mim é a verdade das verdades: os maiores filósofos da humanidade são, sempre foram, e sempre serão as crianças. Também considero a maioria dos idosos como grandes filósofos e sábios, mas a forma pura e mágica como as crianças vêem as coisas é algo impressionante, e isso é a base desse filme. Inclusive, é de tirar o chapéu a atuação dos dois atores que interpretam os meninos (ambos de 8 anos), já que eles participam de praticamente todas as cenas dos 94 minutos de filme. Mas a história, que assim como no caso de “O leitor”, é a adaptação de um romance, é simplesmente tocante. Como já me empolguei, contarei aqui, resumidamente, que o enredo é composto a partir do ponto de vista de um garoto, de 8 anos, que é filho de um solado alemão do governo nazista que passa a controlar um dos campos de concentração. O garoto pensa que o campo de concentração é uma fazenda e que os prisioneiros são pessoas que passam o dia inteiro de pijama. Ele acaba conhecendo e ficando amigo de um garoto judeu, que está do outro lado da cerca, dentro do campo. Nenhum dos dois sabe ao certo o que está acontecendo, portanto, os diálogos deles são os mais curiosos possíveis. Mas não vou contar aqui, vou deixar que quem ainda não viu o filme, veja.
Ah, e no meio disso tudo, esqueci de mencionar a “fita” que meu pai ganhou: “Os Intocáveis”, que trata da máfia do tempo da Lei Seca norte-americana, com a ilustre presença de Al Capone. Como já passei da conta, faço um resumo do resumo da minha opinião sobre esse longa: ótimo. E para o final de semana já tenho reserva para ver mais um bom filme, dessa vez ao lado da minha noiva, com um título bem sugestivo: Por Amor.
Como diria o Patolino (ou era o Gaguinho? Ou o Hortolino?): por hoje é isso pessoal!

domingo, 26 de julho de 2009

Quanto vale uma jumenta?

Há pouco estava assistindo um vídeo muito educativo no Terra Viva, principalmente se levarmos em conta a qualidade dos programas da nossa sempre amada televisão brasileira: um leilão de jumentas. Descobri que uma jumenta com 6, 8 até 10 anos, ainda é considerada nova. Tu vês. Eu imaginava que uma jumenta vivesse, no máximo, até os 10, quem sabe 15 anos. Para falar a verdade eu imaginei isso enquanto via o leilão, já que nunca havia pensado sobre esse relevante assunto. E tem mais: as jumentas vivem em média 25 anos, mas podem chegar até os 40! (isso eu descobri agora, pesquisando no Google).
Mas o fato é que após assistir dois quadros daquele reality show A Fazenda, da Rede Record, achei que estivesse preparado psicologicamente para ver um leilão de jumentas. O entusiasmo do locutor do leilão até fez com que eu pensasse um pouco mais nessa espécie: “Essa jumenta tem tudo de bom! Não falta nada nela”, exclamava, enquanto eu observava aquele bicho orelhudo correndo num cercado, sem saber para onde ir. “Mas é uma jumenta”, murmurei, enquanto o narrador continuava berrando: “essa jumenta é para quem entende do assunto”. Confesso que me senti um jumento vendo aquela jumenta sem entender absolutamente nada sobre aqueles quadrúpedes. Fiquei me perguntando: por que aqueles homens ofereciam preciosos reais para levar a jumenta? O que havia de tão misterioso naqueles animais com pelo cinzento, patas de tamanho desproporcional ao resto do corpo, que estavam sendo leiloados por miseráveis 200, 250, 300, no máximo 400 reais? Pobres jumentas. Foi então que entrou no cercado uma jumenta, a Anis, acompanhada duma filhotinha. Você comprava a jumenta e levava a pequena junto. Nesse momento entrou em ação o comentarista do leilão de jumentas. O que leva um homem a ser comentarista de leilão de jumentas do Terra Viva? Sequer imaginava que existisse tal profissão, mas enfim, deve ser melhor do que ser bandeirinhas da Série D do Brasileirão. Pois eis que o comentarista do leilão de jumentas, do alto de sua sabedoria milenar, passou a falar sobre mãe e filha: “Pena que a jumentinha só está correndo atrás e ao lado da jumenta, senão nós poderíamos ver a qualidade que ela ainda vai apresentar na fase adulta. Ah! Parece que me ouviu! Vejam vocês, que jumentinha! A jumenta já é um espetáculo, e isso que tem só seis anos, mas a jumentinha é extraordinária. Não pode sair por menos de 400 reais”. A propaganda do comentarista ajudou, e a jumenta e a jumentinha saíram por 420 reais. “Uma barbada! Uma barbada”, exclamava o locutor. E eu fiquei ali, olhando para o fogo na lareira, tomando um gole de chá em meio ao charme da fumaça que saia da xícara, pensando que nesse momento eu não tenho grana nem para comprar a mais barata das jumentas vendidas naquele leilão. Mas um dia, quando eu estiver muito, mas muito rico, eu voltarei a ligar a TV no Terra Viva e quando o locutor ameaçar bater o martelo para dizer “e dou-lhe três”, eu interromperei o leilão com meu telefone celular e berrarei do lado de cá da linha, entusiasmado por realizar um sonho: “Põe mais dez pra mim! Põe mais dez para mim!”, e assim, comprarei uma jumenta de pedigree, que irá se chamar Norminha, em homenagem a uma personagem qualquer da novela das oito do momento.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Cinco coisas que gostaria de ser, mas não sou

Fui convidado por um canastrão, grande amigo meu, que fica dando em cima da minha irmã e fica muito fulo cada vez que eu divulgo o seu nome verdadeiro aqui no blog, para escrever um texto falando sobre cinco coisas que eu não sou, mas gostaria de ser. No blog desse ser anônimo (http://ababeladomundo.wordpress.com) ele explica que é uma espécie de corrente blogueira que está rolando por aí. Assim como ele, também não costumo participar dessas paradas, mas como o cabeção é gente boa, e ainda por cima faz dias que não vinha inspiração para escrever aqui, aceitei o desafio. Vamos ver o que vai dar... Já sobre o meu convite para os outros blogueiros, não ando com saco de mandar individualmente para cada um, então, quem ler e se inspirar, que faça o mesmo em seu respectivo blog. Já os blogueiros que lerem isso e não fizerem o mesmo, estarão condenados a 50 anos sem trepar. Pronto.

1ª) Jogador de futebol de um grande clube europeu, óbvio. Como todo o jornalista esportivo, sou um ex-candidato a jogador de futebol frustrado. Infelizmente o mundo não descobriu o meu talento. Quem não gostaria de ganhar milhões para correr atrás de uma bola uma vez por semana? Com o que um Kaká da vida ganha em um ou dois meses, terei que ralar durante uns 100 anos como jornalista até juntar esse valor! Então, não me venham com essa de que a carreira de jogador é curta. E depois, para completar, ainda iria atuar de comentarista na Globo, mas só depois que o Galvão batesse as botas ou fosse aposentado por invalidez. Minha trajetória seria mais ou menos a seguinte: começaria nas categorias de base da SER Santo Ângelo, aí faria o gol da vitória contra o Inter, em pleno Beira-Rio, na final do Gauchão. O Grêmio me contrataria e em meu primeiro ano no Olímpico seria campeão estadual, do Brasileirão e da Sul-Americana. No segundo ano eu venceria novamente o estadual e o Brasileirão, e conquistaria ainda a Recopa Sul-Americana, a Libertadores e o Mundial e seria artilheiro em todas as competições, já que eu seria o camisa 9 do tricolor. Também gozaria da minha primeira convocação para a Seleção. No ano seguinte, seria comprado pelo Milan na maior transação da história do futebol mundial, e durante 15 anos conquistaria todos os títulos possíveis com o Milan e com a Seleção. Depois, voltaria para o Grêmio e ficaria mais dois anos dando títulos para o tricolor, até marcar o gol mil, me aposentar e ir morar na beira do mar em uma cidade paradisíaca qualquer do Caribe, onde passaria o resto dos meus dias tomando banho de sunga, água de coco e cerveja gelada, e jogando “golzinho” com os 10 cabeçudinhos feitos nessa trajetória toda.

2ª) Cantor de músicas bizarras. Acabei de descobrir essa música: “toma gostosa, lapada na rachada, você pede e eu te dou, lapada na rachada, e aí? Ta gostoso? Lapada na rachada. Toma toma toma toma! Esse é o sucesso da lapada na rachada! Foi uma linda linda, danada enlouqueceu, macharada ficou doida quando ela apareceu. Sorriso envolvente, jeitinho sensual, para acabar e completar, deu mole no final” (...). Não faço idéia de quem baixou essa música no computador, mas é muito genial. Tenho uma cômica admiração por cantores como Reginaldo Rossi, Falcão, Milionário e José Rico, grupo Molejo, Mano Lima, Sidney Magal... De onde os caras tiram letras tão toscas? De fato, é um processo criativo admirável e uma coragem de se expor ao ridículo sem precedentes. Gostaria de ser como eles... Lapada na Rachada, negona!

3ª) Delegado aposentado, pistoleiro. Sempre achei legal essas histórias policiais, onde um cara usa aqueles óculos escuros antigos, estilo raibã, e fuma um charuto com ar de mafioso. Mas para chegar até aí, eu teria trabalhado durante décadas como delegado de polícia. Saberia como funciona toda a malandragem, desde os esquemas de bandidagem das favelas, até as mutretas que rolam por debaixo dos panos nos tribunais. Seria um Al Capone do novo milênio, porém, mais magro e sarado. No entanto, eu colocaria a mão na massa. Só pegaria clientes onde a vítima merecesse pagar a pena. E ninguém se meteria comigo e eu teria muito dinheiro. Só tomaria destilados importados, sairia do banho, vestiria meu roupão azul marinho, ascenderia um charuto, e minha mulher estaria deitada seminua na minha cama me esperando após mais um dia de torturas ao melhor estilo Cães de Aluguel. Um infeliz tentaria assaltar a minha mansão, na madrugada, mas eu pego a minha metralhadora e digo para os seguranças deixarem o idiota chegar até a cozinha, onde ele dá de cara comigo e se borra nas calças. Eu faço ele pensar que vai sobreviver, apontando a metralhadora para a sua cara com uma mão e um copo de whiskey na outra. Ofereço-lhe um drink e digo que sou do bem, que entendo o seu desespero e sua vontade de me assaltar, e deixo ele sair por uma porta lateral, no entanto, lá está a minha criação de pitt-bulls, que se divertem com aquele traste miserável... enfim, acho que tenho um lado meio psicótico mal resolvido...

4ª) Degustador de cerveja. Preciso explicar?

5ª) Cachorro de rua adotado por um proprietário de restaurante em uma praia nordestina. Não preciso me preocupar com dinheiro, emprego, horários, encheção de saco, cobranças, posso passear a hora que quiser, andar pelas ruas, cheirar as cadelas, caminhar pela praia, virar uma lata de lixo por pura diversão, correr feliz, alegremente, leve e solto atrás dos carros, latindo ferozmente, e quando bate a fome, vou lá para o restaurante onde o proprietário bondoso serve deliciosos restos de comida de seu restaurante. Eu encho o bucho e ainda fico horas roendo os ossos.Os clientes que chegam para almoçar e jantar ainda brincam comigo, passam a mão na minha cabeça, dão sobras de doces, dizem “olha, que bonitinho”. Acordo meio-dia, e, claro, como é no nordeste, nunca passo frio. Para completar, vez em quando aqueles clientes fixos do estabelecimento ainda viram um pouco de cerveja no meu pote de água. Quer vida melhor que essa?

domingo, 19 de julho de 2009

O novo Gre-Nal do século


Bom, como estou embarcando rumo às Missões amanhã e possivelmente só vou postar algo novamente lá por quarta ou quinta-feira, e como também estou cansado e tenho bastante coisa para arrumar (se a Cartolina chega aqui e o meu AP ta bagunçado ela me mata), vou reproduzir aqui a coluna que acabei de enviar para o Jornal das Missões, já que queria escrever sobre o Gre-Nal, e teria muito mais do que isso para dizer, mas por hora é só isso que vai para você, nobre leitorinho tupiniquim. Salve o Máxi!
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Os colorados passaram pouco mais de 20 anos dizendo que haviam vencido o Gre-Nal do século, aquele disputado no início de 1989, mas ainda válido pelo Brasileirão de 88. Mas agora, o Gre-Nal do século não seria o disputado no final de semana em que o clássico realmente completava 100 anos? Além desse atrativo, o jogo também era um divisor de águas para Grêmio e Internacional nas pretensões de ambos no Campeonato Brasileiro. Então, ao menos para os gremistas, esse é o novo Gre-Nal do século, até os próximos 100 anos.
FESTA GREMISTA
Após exatos 10 anos assisti a um Gre-Nal no Olímpico novamente. A última vez em que havia assistido ao clássico ao vivo e a cores, foi exatamente pelo Brasileirão de 1999. Difícil dizer qual foi melhor, já que naquele ano o Grêmio venceu por 1 a 0 com um gol de Zé Alcino aos 44 minutos do segundo tempo, após cobrança de escanteio de Ronaldinho Gaúcho.
Porém, considero que a festa do último domingo foi muito maior. Após o gol de Nilmar, um clima de pânico se instaurou silenciosamente na maioria dos espaços gremistas do Estádio Olímpico. Confesso que imaginei duas coisas: uma nova goleada ao estilo dos 5 a 2 de 1997, e a aposta que fiz e que iria perder impiedosamente. Obviamente, não era dinheiro, até porque não faço idéia por onde ele anda, mas enfim, era algo importante. Pensando agora, concluo que realmente confio no Grêmio...
E talvez por medo de levar outra goleada, ou talvez de perder a aposta, que quando o árbitro marcou a falta no Tcheco, eu, acompanhado de toda a parte azul do estádio, comecei a mimetizar que um gol estaria nascendo naquele momento, num pequeno milagre da humanidade. E a cobrança de Souza com perfeição, mostrou que a fé, mais do que mover montanhas, derruba galáxias e galácticos. O primeiro tempo terminou, e mesmo assim o meia Tcheco saiu de campo esbravejando: “Nem parece que estamos jogando um Gre-Nal! Temos que ir para cima!”. Pelo jeito a conversa no intervalo resolveu, e o Grêmio voltou melhor na etapa final. Apesar disso, o gol teimava em não sair. Achava que ia presenciar algumas dezenas de ataques cardíacos ao meu redor, mas o que vi foi a panela de pressão do estádio Olímpico finalmente explodir em 2009 aos 24 minutos do segundo tempo, com um gol de cabeça de Máxi Lopez. Depois, restaram 20 minutos para a torcida gremista dar seu show particular nas arquibancadas, enquanto 22 homens de azul e vermelho corriam atrás da bola lá embaixo, no gramado verde do Monumental, palco do novo Gre-Nal do século. E graças ao gringo alemão, eu ganhei a aposta! Esse Máxi é o cara!

sábado, 18 de julho de 2009

Uma arma infalível

Com essa onda da gripe dos porcos tive uma pequena arma nos últimos dias. E não me venha com essa merda de Influenza A. É gripe suína para o povo e gripe dos porcos para mim. Mas enfim, ia falando que tive uma arma porque peguei uma baita gripe, provavelmente na segunda-feira, e durante a semana toda fui piorando. Hoje, sábado, é que estou um pouco melhor. Desconfio que não seja a gripe dos porcos porque não tive febre alta. No entanto, foi uma puta gripe. Ficar dois minutos sem tossir como se estivesse morrendo era praticamente impossível. E o narigão então? Mais fácil respirar pelos ouvidos do que pelo nariz. Tudo isso sem contar aquela sensação de mal-estar, de que uma senhora vestida de preto segurando uma foice vai entrar no seu quarto no meio da noite e te levar pelos pés para as profundezas... enfim, no meio dessa porcaria toda, descobri que, ao menos, tinha uma mórbida arma para resolver pequenos impasses do dia-a-dia.
Fui me dar conta disso no mercadinho aqui perto de casa. A caixa, que sempre faz tudo na maior lerdeza, nem aí pro mundo, estava demorando, como sempre, e foi então que comecei a tossir. De início foram tosses compulsivas que vieram naturalmente. Como não conseguia parar de tossir, logo todos na fila me olhavam apavorados. E a caixa, provavelmente louca para se livrar de mim e da minha tosse, tratou de passar tudo bem rápido, e até se agilizou para empacotar minhas compras o mais breve possível, coisa que até então nunca tinha acontecido, em meses de compra naquele recinto.
Depois, o mesmo aconteceu para passar a roleta do busão, na fila para comprar minha passagem de ida para Santo Ângelo, lá na Rodoviária, e na fila para o caixa do banco. Ou seja, para agilizar qualquer atendimento, numa época de gripe dos porcos, basta você começar a tossir compulsivamente e desesperadamente, que tratam de te atender logo para que você desapareça dali. No meu caso isso era infalível, porque além da tosse, meus olhos vermelhos, minha cara de quem morreu e esqueceram de enterrar e tudo o mais, denunciavam que algo não estava bem comigo. Mas se você estiver bem e quiser, por exemplo, que a fila do banco ande, comece a tossir, que tudo se resolverá como num passe de mágica, principalmente se a TV estiver ligada no Jornal Hoje, da Rede Globo. O terrorismo dos meus colegas jornalistas garante a agilidade do processo todo. Esse é um prêmio de consolação para aqueles que, como eu, não estão conseguindo respirar pelo nariz e não têm dinheiro para comprar remédios.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Algumas do Pedrito


Como já falei há vários posts atrás, durante o lançamento do livro dos 45 anos de ZH na livraria Cultura do Bourbon Country, também comprei a Triologia Suja de Havana, do cubano Pedro Juan Gutiérrez. Entre uma leitura e outra de textos acadêmicos, dou uma lida nessa obra meia bukowskiana de Gutierrez, que narra de forma nua e crua a crise que se abateu sobre Cuba durante a década de 90. No entanto, são diversas as passagens que me fazem pensar no nosso país da piada pronta, Brasil.
Vou reproduzir aqui três dessas passagens, mas vale a pena conferir toda a obra:
1) “De tarde eu não tinha nada para fazer. Bom, todo dia era assim. Nunca se faz nada. Eu ainda tinha cinco pesos no bolso e me sentei no chão, encostado na beirada da porta. Estava há vários dias sem tomar um gole, sem dinheiro, esperando. Esperando o quê? Nada. Esperando. Aqui todo mundo espera. Um dia após o outro. Ninguém sabe o que espera. Os dias passam. E o cérebro fica embotado. Isso é bom. Estar com o cérebro embotado é bom para não pensar. Às vezes penso muito e me desespero. Uma vez estudei, fui disciplinado, tinha objetivos para amanhã e para o ano seguinte, fui lutar no mundo. Depois tudo se transformou em sal e água e eu caí nesta pocilga. Alguns têm sarna, outros têm piolhos ou chato. Não há dinheiro, nem comida, nem trabalho, e todo dia chega mais e mais gente. Não sei de onde aparece tanta gente esfarrapada. Vivem como baratas. Dez ou doze num quarto”.
2) “Afinal, vale a pena ter dinheiro. Não só o necessário. É melhor que sobre um pouco para poder embarcar nesse iate e navegar pelo Caribe tomando o melhor bourbon, mastigando amêndoas e com uma garota bem magra e peituda. Ahh, que bom. Assim a gente nem toma conhecimento de que ali na costa as pessoas vivem como baratas. Não. Desse iate só se vêem palmeiras, crepúsculos dourados e belas praias com água azul-turquesa. Você entra nesse iate com muito dinheiro e se esquece de todas as merdas que fez e de todas as pessoas que arrasa e massacra para manter os bolsos cheios. É isso aí. O dinheiro atrai dinheiro e a miséria atrai mais miséria”.
3) “Às vezes Clotilde quer se matar. Pensou em comprimidos, em se queimar com álcool, em se enforcar. Não se atreve. Tem medo. Mas sabe que é só questão de tempo. O medo vai passar. Já tentou de tudo. Foi à igreja. Rezou. Quis arranjar um trabalho, mas não existe. Muito menos para uma velha magra, suja, malvestida, com bafo de fígado podre”.
Nada mais a acrescentar.

Putarias históricas - e outras banalidades

Olhando os últimos posts, cheguei a seguinte conclusão: minha irmã da audiência. Talvez até mais do que xingar o Arion. Vejam só: o texto dela sobre os ruivos rendeu 9 comentários! Um recorde. Claro que um comentário foi meu e outro dela mesma, mas, como diria o meu ex-chefe Teto: não quero papo furado, quero é resultado! E o texto da cabeçuda até que rendeu. Sigo achando que ela não sabe escrever, mas enfim, as massas adoram a banalidade. E se a massa quer a banalidade, é a banalidade que lhe daremos!
Para explicar isso, vou recorrer a sempre eficiente, mas dificilmente admirada, História. Lendo o livro “A Revolução Impressa – A imprensa na França 1755-1800” você acaba entendo todo esse processo. Sinceramente, recomendo essa obra a todos, que é uma coletânea de ensaios sobre a importância da imprensa nos seus mais variados âmbitos antes, durante e depois da Revolução Francesa. Como não quero chatear o impaciente leitorinho tupiniquim, vou me ater ao capítulo dedicado aos panfletos, e aí vocês entenderão como o interesse do povo pelas banalidades e pela putaria sempre foi usado para os mais diversos fins. Está certo que minha irmã não falou sobre putaria, mas estou classificando aqui a putaria como banalidade. E também falo a partir da visão maffesoliana da sociologia compreensiva, que considera o banal como fundamental para a História e a Sociologia. Mas chega de embromação, e vamos lá:
No caso da França revolucionária, como era difícil massificar a informação pró ou contra-revolução, apelava-se para o quê? Para a pornografia, óbvio. Quanto mais sujo, melhor. Depois acusam os brasileiros de ter a mente poluída, mas os franceses foram professores nisso.
Durante a Revolução, mais especificamente entre 1789 e 1792, foram publicados na França diversos panfletos pornográficos, sempre mostrando os patriotas como viris, garanhões e sexualmente bem sucedidos e dotados, e os aristocratas como homossexuais, broxas, cornos, e por aí afora. Um exemplo disso são os títulos de alguns desses panfletos, como “Segundo ano da Revolução Copulatória”, e a cidade onde se passavam as histórias, como “Obscenópolis”, por exemplo. Imagina você morar em Obscenópolis. Mas tem uma cidade fictícia com um nome ainda mais curioso: “Heliocopulópolis”. Vejam vocês.
Outra denúncia da época, que muita gente pensa que é um problema contemporâneo, eram os escândalos sexuais envolvendo padres. Um panfleto chamava um padre de “Dom Pederasta”, fazendo referência a sua homossexualidade.
Além disso, os panfletos ainda apresentavam manuais práticos e listas e descrições das prostitutas e casas de diversão parisienses da época. Agora, vejam só o título de dois best-sellers da época: “As Imagens dos Hábitos Morais nas Diferentes Épocas da Vida” e “A Ciência Prática das Mulheres da Vida”. E vejam uma das frases publicadas contra o rei: “uma jovem e amorosa rainha, cujo augusto Esposo para nada servia na cama”. Frase essa, que se referia a insaciável rainha Maria Antonieta, na qual o pobre rei Luís XVI não conseguia dar conta do recado, segundo as más línguas, obviamente.
Outra característica dos panfletos era a retratação do rival como um portador de doenças venéreas: “Meu corpo estava todo cheio de pústulas; meu pau reluzia como se estivesse coberto de pérolas; minhas pernas, apodrecendo do osso para fora, não mais me sustentavam; mal podia abrir minha boca ulcerada, tanta era a dor; meu corpo exsudava uma supuração purulenta; meu hálito era sepulcral”.
Mas descrever o pobre do inimigo como um ser podre não era suficiente. Eles queriam mais: “não nos esqueçamos de convidar para nossos embates amorosos as mais belas das mulheres dos deputados, e ter com elas o nosso prazer bem na frente de seus maridos”. Putaria como palavra de ordem na Revolução. Agora, óbvio que sempre tinha aquelas pessoas preocupadas com o bem estar geral da nação. Uma dessas pessoas foi Restif de la Bretonne, que em Pornographe, propunha regras de higiene e moralidade nos puteiros: “Uma garota que está doente não deve trabalhar. (...) Uma prostituta deve ganhar tanto quanto conseguir, mas através de uma conduta honesta e não pela trapaça”. No entanto, vejam vocês o que segue, e tirem suas próprias conclusões: “a idade da aposentadoria é fixada aos 40 anos, mas 35 para as loiras, que estiolam mais rápido que as morenas”. Tu vês. Fui ver no dicionário o que é estiolar e lá está: atrofiar. As loiras atrofiam antes do que as morenas? Quer dizer, todo o corpo, ou só algumas partes? Que cosa. Dá até uma tese de doutorado.
Mas enfim, escrevi tudo isso para mostrar que tanto as banalidades e putarias davam ibope na França revolucionária, quanto as bobagens e putarias dão no Brasil pós-moderno. E isso tudo quer dizer alguma coisa? Possivelmente não, pois como disse certa vez o filósofo Dadá Maravilha: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. E se não entenderam, façam o que certa vez sugeriu um técnico de futebol qualquer: vocês devem fazer a inversão da dinâmica do somatório. E tenho dito.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O drama de Dari

Dari olhava para aquela borboleta que pousava numa pequena planta em sua frente. Olhou com curiosidade para aquele bicho estranho, com duas asas em formato de coração, toda colorida e com duas anteninhas finas penduradas na ponta da cabeça. Pensou em pegá-lo, mas sentiu pena do bichinho, tão bonito, tão pequeno, tão inofensivo. Ficou olhando com ar curioso, observando o que o pequeno animal faria. De repente, um pássaro miudo se aproximou da planta e começou a bicar, catando alguns restos de comida que estavam ali pelo chão. Lembrou-se que na sua infância gostava de caçar passarinhos. No entanto, vendo aquele outro bichinho inofensivo, tão sereno, bicando o chão com tanta vontade, descartou atacá-lo. Lembrou-se de sua mãe, que sempre brigava ao vê-lo caçando passarinhos e outros bichos. Sentiu saudades dela, fazia uns dois anos que havia falecido. Coitada, pensou por um minuto. Engravidou e foi abandonada pelo marido. Dari sequer conhecia o pai. Ouvia histórias sobre ele, de que se tratava de um cara esperto, audacioso, corajoso, que não tinha medo de ninguém e botava os outros para correr. Ouvira dizer, certa vez, que o pai teria matado um vizinho e por isso teria fugido, evitando represálias dos amigos do defunto. Já outro, conta que ele se meteu com uma tipa comprometida, a mulher e o corno descobriram, e com isso teve que deixar a cidade. Um terceiro diz que ele gostava de jogar e teria fugido, com medo dos credores. Ainda ouvira que ele era completamente maluco, e batia na mulher, e por isso, ela o teria colocado para correr. Porém, ele não fazia idéia de qual dessas histórias era a correta. Chegou a cogitar perguntar para a mãe, mas não criava coragem. Sempre via um ar triste em seus olhos quando se referia ao pai de Dari. Ele sentia que algo grave realmente havia acontecido, mas nunca juntava forças suficientes para indagar a mãe. “Azar, agora é tarde”, se lamuriava ao se dar conta que a mãe estava morta. No entanto, tinha orgulho das histórias heróicas envolvendo o pai. Ficava imaginando como ele seria. Era parecido com ele? Talvez...
Divagava sobre tudo isso, quando de repente o passarinho comeu a borboleta. Um gato, que estava por ali, aproximou-se para pegar o passarinho. “Gato, não!”, indignou-se Dari. Gato era demais! Não resistiu aos seus instintos, e saiu correndo atrás do gato. Seu dono, que estava sentado na garagem, ouviu a correria e saiu atrás deles, grigando: “Dari! Dari! Já pra casa Dari!”. Dari não foi, e quando voltou levou uma surra de chinelo, foi acorrentado, e dormiu lá, no fundo de sua casinha, tentando imaginar como era o seu pai, vendo a escuridão da noite que se exibia do lado de fora, em mais um inverno gelado de Moscou.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Direto do circo

Olha, tem pessoas que tem o dom de me irritar. Como diz meu irmão, não sei porque não nasceram mudas, e vou mais longe, não sei nem porque nasceram. Ficassem lá, nos testículos de seus pais, até serem jogadas literalmente pelo ralo do chuveiro. Uma delas, é o tal do excelentíssimo respeitadíssimo e conhecidíssimo deputado Jair Bolsonaro. No momento em que escrevo, ainda está rolando o debate no programa do Lobão sobre a questão da maioridade penal, e o referido deputado está ali, descarregando merda nos ouvidos de milhões de brasileiros, como se fossem penicos. Ele deve ser algum filho perdido de Hitler que veio parar aqui no Brasil. Como um político fala tanta bobagem em tão pouco tempo em rede nacional impunimente e ainda é reeleito de quatro em quatro anos? O cara defende a ditadura, a pena de morte, a redução da maioridade penal para 16 anos, chama os caras de “vagabundos”, “marginais”, generaliza tudo, reproduz estereótipos, preconceitos, e ainda fala como se tivesse alguma moral. Porra, ouvindo tanta porcaria, mandei um e-mail para o endereço disponibilizado pelo site do nosso deputado, mas, como o cara não é honesto nem no próprio site, o meu mail retornou. Vejam o site do cabra: http://www.bolsonaro.com.br/jair/
E agora, leiam o e-mail, que no final das contas o infeliz não pôde ler:
“Que papelão em rede nacional, heim deputado? Poucas vezes ouvi tanta bobagem em tão pouco tempo. Pois fique sabendo que eu tenho muito, mas olhas, muuuito mais respeito pelos que o Sr. chama de vagabundos, jovens moradores de rua que fumam crack, do que por vocês, que mamam nas tetas do governo, fazem uma cagada atrás da outra, sugam os cofres do nosso país, vocês mesmos se julgam e se absolvem, falam asneiras até não poder, e ainda querem chamar os outros de vagabundos? Se nosso país fosse minimamente sério, os presídios, de fato, estariam cheios de "vagabundos", e te garanto, que metade desses "vagabundos" seriam políticos da laia do Sr.
Cresça e apareça, nobríssimo e excelentíssimo deputado. Tu já está no lugar certo: no circo, que é onde os palhaços devem estar”.
É difícil. Mas, como algum filósofo falou alguma vez num desses bares dessa vida: cada povo tem o governo que merece.

sábado, 11 de julho de 2009

Espécie em extinção

Depois de muito insistir, finalmente a minha irmã, Cartolina, digo, Carolina, escreveu um texto falando sobre como é ser uma pessoa ruiva. No entanto, lendo e revisando o texto que se segue (a pedido dela mesma), lembrei-me do meu orientador mostrando as correções que ele faz dos textos, dizendo: “mas tu tem que se decidir, ou tu usa assim ou tu usa assado. Não pode ficar aqui de um jeito, e aqui de outro”. E foi isso que minha irmã fez no referido texto: às vezes ela botava parágrafo, às vezes não, às vezes dava espaço depois do ponto, às vezes não, e por aí afora.. Bom, vou deixar para comentar como leitor, depois que estiver publicado. Como vocês poderão perceber, na minha família cada um tem o seu carma: um é alergia a ovo, outro é ruivo, outro é colorado, por aí vai... Chega de papo e segue o texto:

Quero ser mãe. O Dudu disse pra começar assim meu texto. Estava falando a ele que gostaria de ser mãe. De duas meninas: a Maria Flor e a Lis. E de um menino: Rafael ou Matheus, ainda não decidi. Disse também que seriam chocolatinhos, para o desespero tanto do Dudu quanto do Fábio - meu outro irmão. Ambos adorariam ter sobrinhos ruivinhos. Mas eu não deixaria aos meus filhos este legado.
Como sofrem os ruivos. Cabelo de fogo, cenourinha, laranjinha, moranguinho, são alguns dos mimosos apelidos que me acompanham desde a infância. Sem contar com meus adoráveis irmãos, que até hoje, quando vêem um ruivo, apontam e começam a rir: “Olha ali um ruivo hahahaha é teu namorado”. Acho que por isso prefiro os morenos. Traumas.
Esses dias estava tomando um chima na redenção e vi um hippie vendendo brincos lindos. Resolvi comprar:
- Ah este combina com seu cabelo- disse o hippie.
- Obrigada - respondi educadamente.
- Sabe que tem um amigo meu que morava na Irlanda, e ele contou que lá as ruivas são muito brabas.
- Ah é?! - “não só lá” pensei com meus miolos.
- Elas batem em seus maridos.
Bom, além de cenourinha, foguinho, etc, etc, etc, agora somos acusadas de cometer violência conjugal. Eu mereço! Ah! E tem as perguntas que me fazem: “só seus cabelos de cima são ruivos?”, “É natural? É tão raro!”, “Quem da tua família é ruivo?”. Nessas horas penso que sou adotada.
Outro dia, em um show da banda gaúcha Ultramen, também aconteceu um fato engraçado. Não lembro ao certo porque cargas d’água fomos (eu e minhas amigas) no camarim depois do show. Entrando lá, o vocalista grita:
-Meu Deus, você é ruiva???
- Sim – respondi, meio sem jeito.
- Tenho que te apresentar o fulano (não sei o que ele era da banda, baterista, baixista, algo assim), ele também é ruivo! Vocês têm que procriar a espécie! Seus filhos terão pedigree!
Pedigree? Agora viramos cachorros!
Tá bem... vou ser mais compreensiva já que os ruivos estão em extinção. Vendo uma entrevista no Jô, um menino ruivo afirmou que a previsão é de que em 2060 não haja mais ruivos naturais no mundo, e que mesmo um ruivo se casando com outro, não significa que os filhos nascerão ruivos. Isto é, os próximos seres humanos não sofrerão com os preconceitos enfrentados pelos cabeças laranjas.
Mas, ainda existimos. Estamos aqui, vivenciando a cada dia inúmeros preconceitos. Afinal, porque ninguém comenta “olha ali um loiro!”, ou “meu Deus, você é moreno!”? Daí seria racismo... então, tendo em vista a nossa sofrida existência, convoco todos os ruivos leitores desse blog (se é que exista mais algum leitor ruivo além de mim), para mobilizar-nos contra o preconceito e a favor da inclusão social dos ruivos! Viva La revolución! Ah, e meus filhos serão morenos, não que eu tenha preconceito comigo mesma, mas afinal não estou escolhendo nomes para serem substituídos por laranjinha.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Injustiças


Eu sempre critico as injustiças, no entanto, confesso que muitas vezes sou cruelmente e inconscientemente injusto. Dei-me conta de uma injustiça que cometi recentemente, quando publiquei aqui o post “Professores dessa vida”. Tudo o que escrevi, segue valendo, no entanto, esqueci de uma professora que também foi fundamental, principalmente no que se refere ao meu ingresso e andamento no mestrado.
Estava eu deitado, com a TV ligada na minha frente para fazer barulho, uma pilha de livros equilibrados ao lado do meu colchão, que agora está jogado no meio da sala, pensando e lembrando quais disciplinas da graduação foram mais importantes para mim. E foi então que lembrei de uma professora que, além de ter dado duas disciplinas de uma forma que deve ser dada, ou seja, com qualidade e exigindo o que tem que ser exigido dos alunos, também sempre me incentivou e me informou sobre os melhores caminhos para que eu chegasse aonde cheguei, ou seja, no mestrado. Trata-se da Ângela Zamin, obviamente. Além disso, ela foi uma chefa muito boa (no bom sentido) no período em que fiz estágio na antiga ACS da Unijuí, e sempre foi uma baita amiga, sempre mandando mails e informações sobre vagas, cursos, congressos, prazos e hotéis disponíveis para os eventos, como aquele lá de São Bernardo. E certamente, ela também foi fundamental para a formação do meu espírito crítico, inclusive, ainda guardo todos os xérox de textos e livros que ela deu nas duas disciplinas (Rádio algum número e Redação IV), e muitos deles, ou pelo menos a bibliografia, eu cheguei a usar em alguns artigos no mestrado.
Agora, para não cometer mais injustiças relacionadas a esse assunto (de professores), quero deixar claro que todos os professores da graduação também foram fundamentais para mim, e além da Ângela, não posso deixar de citar o Paulinho, que além de bom professor ainda é um baita parceiro.
Mas chega de embromação e puxação de saco, que estou começando a achar esse post muito cheio de frescura... Enfim, na foto a Ângela é a única de óculos (sempre me confundo nessas de 1° a direita, 2° a esquerda, e o diabo a quatro). No resto, eu sou eu, a minha noiva Cris é a minha noiva Cris, a Carol é a Carol, o traste do Arion é o traste do Arion, a Aline Benso é a de branco e a Ceres (ou Séries Iniciais, como preferirem) é a que sobrou. E para não cometer mais uma justiça, se não me falha a memória, foi o Reges, marido da Ângela, que tirou a foto.
Pronto, agora me considero um homem mais justo e realizado.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Viva a vagabundagem, viva o Brasil-sil-sil! E viva a chinelagem das Havaianas!

Que o Brasil é uma comédia de país, todo mundo sabe. Luis Fernando Veríssimo, José Simão, Juremir Machado da Silva, Diogo Mainardi, é uma festa! Além dos escritores, que se deitam nisso, todos os políticos também tem consciência desse fato. Só assistir ao noticiário, ver o Sérgio Moraes dizendo para o seu comparsa do castelo mágico, Edmar Moreira, sair de um depoimento no conselho de ética de cabeça erguida, sem sentir vergonha de nada que fez. Cospem na cara do brasileiro, que dá risada, bate palma, chama os engravatados de “dotô” e ainda vota no sujeito na próxima eleição. O Brasil vai virar depósito de lixo da Europa. E daí? Quem liga... Sérgio Moraes tem razão numa coisa: quem vai se lixar para a opinião do povo num país como o nosso? Não tem como. Todo mundo fica olhando tudo abobadamente, como se fossem um bando de pingüins acéfalos. Quem vai ligar para a opinião de pingüins acéfalos? Uma comédia que nem Shakespeare e Cervantes poderiam escrever.
Não se pode levar nada a sério num país como o nosso, onde tudo pode, tudo vale, tudo é piada e alegria! Tudo é carnaval e futebol! Galera quebra tudo quando falta ingresso pro jogo do Curintia e não ta nem aí pra falta de apoio a educação, corrupção, falcatruas envolvendo os órgãos de segurança, policiais matando inocentes e tudo o mais. Curintia sendo campeão, ainda mais se for com Ronaldo, ta tudo beleza. O Lulinha que o diga.
Outro dia, conversando com um grupo de amigos, a minha colega Sandra falou que quem protesta hoje em dia é ridicularizado. É praticamente visto como um Dom Quixote e um Sancho Pança lutando contra os moinhos de vento no meio do deserto. Lunáticos, loucos, de mal com a vida, revoltados, rebeldes sem causa, vagabundos que só sabem bagunçar, marginais, terroristas, e por aí vão os adjetivos e os estereótipos colados em quem protesta e sonha em mudar alguma coisa.
Se dando conta disso, é lógico que os espertos e atentos publicitários que fazem os comerciais das Havaianas, bolaram esse comercial que está rodando aí, na Rede Globo: está todo mundo pagodeando, cantando, bebendo, feliz da vida, quando chega uma mulher revoltada, colocada no meio da história exatamente como uma legítima “mala” dizendo, “que é isso pessoal, nós vivendo uma crise mundial e vocês aí, festejando?”. E então, o grupo começa a cantar “por favor vai embora...”. Ou seja, pra quê protestar? Os publicitários apenas chuparam para o seu comercial esse sentimento comodista do povo. O povo quer, eles dão. É assim que se vendem candidatos aos montes! Mas eu tenho uma idéia para o próximo comercial das havaianas, que certamente será um sucesso: um bando de pingüins acéfalos caminhando em uma praia, com as havaianas, latinhas de cerveja numa asa e bandeira do Curintia na outra, caminhando rumo ao castelo mágico do Edmar Moreira, seguindo o líder Sérgio Moraes. Será um sucesso! E viva a vagabundagem! E viva a corrupção! E viva as Havaianas! E viva o Brasil!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Eduardo Ritter, o poeta

Esses dias, meu primo Gérson, que mora na Itália, descobriu um homônimo meu. Eduardo Ritter Aislan, poeta panamenho. Não consegui descobrir se o sujeito é vivo ou não. Mas caso seja, está com 93 anos, segundo os cálculos do meu primo, que é bancário, entre outras coisas. Eu, como sou ruim de matemática e estou com preguiça de calcular, só sei que nasceu em 1916, em uma data significativa: 11 de setembro.
Lendo um site sobre o meu xará, descobri que ele é formado em História e Filosofia. Depois ele foi para Bogotá, na Colômbia, e fez doutorado em Filosofia. Tu vês. Mas, como a vida não pára, honrando o meu nome, ele foi para os Estados Unidos, onde deu aulas em um universidades de Washington e Jefferson, e também foi professor de línguas em Howard. Além disso, o cara foi jornalista não diplomado, e, por fim, trabalhou como ministro da Educação no Panamá, foi embaixador do Panamá na Colômbia e representante de seu país na O.E.A. e na ONU. Que cosa.
O site ainda informa que Ritter ganhou quatro prêmios do concurso Ricardo Miro. Além disso, ele admira o trabalho de poetas como Juan Ramón Jiménez y Rabindrannath Tagore. Vou ter que descobrir quem são esses caras...
O texto completo sobre o mais famoso dos Eduardos Ritters, pode ser visto em espanhol no site: http://www.angelfire.com/nb/ritter/
Coloco aqui uma de suas poesias, mas sem tradução, até porque meu espanhol é limitado e não quero perder a magia das palavras de um Eduardo Ritter mais antigo que eu. No referido site, tem mais.

La Ola
Borra su afán bajo la densa bruma
un esquema de sal y de quimera
mientras sorbe el anchor de la ribera
las sensuales caricias de la espuma.

Es la espada del mar que se perfuma
con perfume de brisa lisonjera
y, sin exordio de piedad, lacera
la propia entraña que su ser esfuma.

Símil exacto de galante muerte
el destino menguado de la ola
cuando la gema de la orilla advierte;

Ciégale el brillo de falaz aureola,
tiende sus brazos a la arena inerte
y, en gesto inútil, su pasión inmola.

domingo, 5 de julho de 2009

Criatividade humana

Agora que estou tendo uma aliviada nas aulas temporariamente, tenho mais tempo para pensar acerca de coisas importantes da vida, como por exemplo, a criatividade do ser humano. Existe um sem-número de exemplos de criatividade em todas as situações e manifestações da vida humana (e dos outros bichos também, como diriam os Mamonas). Por exemplo, vejo criatividade em filmes, livros, letras de música, nos gritos dos panfleteiros no centro, na forma como cada um faz para sobreviver, em jogos de futebol com os jogadores e a torcida, nos programas de televisão, nos cachorros que tentam pegar as cadelas no cio, nas cadelas tentando fugir dos cachorros, nas declarações de amor, nas cantadas, nas verdades, nas mentiras, nas brincadeiras de crianças, enfim, são infinitos os exemplo, mas é claro que não são em todas as situações que aparece a criatividade das pessoas e dos bichos. Existem músicas toscas, filmes toscos, cantadas toscas, cachorros toscos, times toscos, e por aí vai pelo infinito afora.
No entanto, lembro de um artigo, escrito por alguma professora, em algum livro, em que ela criticava a hierarquização da cultura, mas que eu transferiria, ou melhor, estenderia, para a questão da criatividade. Esclareço de cara que essa não é a minha área, nem minha especialidade, estou falando aqui apenas como um cara que acabou de chegar de um estádio de futebol após ver seu time golear o Atlético-PR por 4 a 1, que tem 9 pila na carteira que devem durar uma semana, e que está tomando o resto de um vinho barato que sobrou de ontem, numa noite de domingo qualquer.
Tanto é, que o que me fez pensar nisso tudo foi a descoberta de parte da letra daquela música “Maria, Maria”, do Molejo. Já tinha ouvido a referida música várias vezes, na rádio, na academia, na TV, mas, além do refrão, nunca tinha prestado atenção na letra. E o pior que o refrão é um desses que fica na tua cabeça o dia inteiro, mesmo que você deteste pagode. Eu, particularmente, gosto de alguns pagodes. Sempre digo que tenho o gosto mais eclético possível para música: por exemplo, acabou de tocar Gun’s no meu MP3 e começou Fernando e Sorocaba. Aquela: “Criminosa, não posso olhar dentro do seu olhar, bala de prata certa pra matar, virei seu refém e não quero escapar. Bandida, você atirou em minha direção, e acertou bem no meu coração...” e por aí vai. Mas voltando à letra da música do Molejo, como disse, eu já conhecia o refrão, porém, esses dias, indo de ônibus de um lugar para outro nessa Porto Alegre desperucada, um grupo de caras com pinta de pagodeiros, e que realmente eram pagodeiros, começaram a batucar e a cantar a “Maria, Maria”. E foi então que entendi o que a letra diz, e, confesso, achei muito criativo. Vejam vocês:

“Maria vai ter um bebê
mas eu sou estéril, ela não sabe
Uhhh que merda
Maria da Universal
Aleluia irmão
essa igreja faz milagre”.

Que cosa. Fiquei imaginando a situação. Alguém alguma vez na vida deve ter passado por isso. Pensem só: o cara estéril, a mulher não sabe, anos de casado, e ela aparece grávida e diz: “amor, olha só que coisa boa, estou grávida! Você vai ser papai!”. Dá um romance, um filme, sei lá, pelo menos uma novela mexicana! Realmente, a criatividade humana é uma coisa infindável.

sábado, 4 de julho de 2009

Um dia quase de sorte

Tem algumas coisas inexplicáveis nessa vida. Uma delas aconteceu hoje. Estava voltando do caixa eletrônico do campus da PUC, fazendo as contas dos centavos para ver o quanto eu poderia gastar no supermercado, calculando que teria que sobrar R$4,60 para o busão de amanhã, já que irei almoçar na minha tia, e de lá irei ao Olímpico ver o renascimento do meu time das cinzas, enfim, estava pensando: “como vou almoçar na minha tia amanhã, posso comer um xis coração sem ovo e sem maionese ou uma pizza, no entanto, isso não chega, portanto terei que pegar dois pãezinhos, e talvez sobre dinheiro para um vinhozinho... só que se comprar o vinho, não vou poder comprar a Zero Hora e nem a Coca...”, estava refletindo sobre isso tudo, quando de repente, na curva da saída do estacionamento da PUC avistei três notas de dinheiro voando em minha direção, como se tivessem sido jogadas pelo Sílvio Santos no Topa Tudo por Dinheiro. Saí meio abestalhado atrás delas, e logo vi que se tratavam de valiosos 17 reais. Uma nota de R$10, uma de R$5 e outra de R$2. Senti-me como se tivesse ganhado na Mega. Estava resolvido meu problema! Iria comprar tudo! Eu disse TUDO! O xis, os pães, o vinho, a Zero Hora, e ainda sobraria dinheiro para uma Coca! Iria até comprar aquela grandona, de 2,5 litros! Segui caminhando, feliz da vida, mas então eu vi aquela mulher.
Ela ia caminhando na minha frente, com uma bolsa. Só estávamos nós caminhando naquela direção, portanto, calculei que o dinheiro pudesse ser dela. Mas como ter certeza? Se eu chegasse e dissesse: “ei, moça, esse dinheiro é seu?”, primeiro, ela pensaria que sou louco, segundo, obviamente aceitaria. Ou se ofenderia, afinal, vocês sabem como as mulheres se ofendem com facilidade. Pensaria bobagem, vá saber. Então, guardei o dinheiro no bolso, e segui andando. Alguns passos depois, ela começou a mexer nos bolsos, olhou na jaqueta, e começou a voltar, olhando para o chão, procurando algo. Bom, não me restaram dúvidas de que, sim, o rico dinheiro que salvaria a minha vida, era dela. O que fazer? Nesse instante, apareceu um duduzinho fantasiado de capeta, com garfinho e tudo no meu ombro, dizendo: “olha para ela, está bem vestida, carregando uma bolsa, com certeza os R$17 não lhe farão falta. Fique com eles e compre o vinho!”. Já no outro ombro, apareceu um duduzinho fantasiado de santo, com argolinha em cima da cabeça, asinhas e tudo, dizendo com voz e testa franzida de seu Nabuco (meu pai): “o dinheiro não é teu, guri, devolve para ela. Veja a tua situação: imagina se você perde esse dinheiro que acabou de sacar, estaria completamente fudido (o santo era desbocado). Devolva para a moça”. O diabinho, então, deu uma garfada no santo, que pegou a argola e bateu na cara dele, e os dois ficaram brigando, enquanto a dona moça se aproximava. Não resisti e perguntei: “tu que perdeu esse dinheiro?”. Ela confirmou que sim, e eu devolvi a grana. E assim, se esvaiu a minha riqueza em poucos segundos. Não sei se devolvi aquelas notas porque sou bonzinho, honesto, ou porque a moça se parecia muito com alguém do passado na qual eu dera um ursinho de pelúcia certa vez, e que nunca mais vi na vida, mas enfim, fiquei com a sensação de dever cumprido.
Entrei na Rua dos Cubanos, passei em frente ao Edifício Havana (onde moro), pensei “viva la revolución”, e fui para o super. No fim, acabei comprando uma pizza da promoção, dois pãezinhos e o vinho, também da promo. Afinal, eu merecia o vinho.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Uma forma de me sentir melhor

Bom, como faz quase uma semana que não posto nada aqui, e já está tarde, reproduzo aqui o mesmo texto que será publicado no Jornal das Missões desse sábado (04/07), para me sentir menos vadio, principalmente depois do baque do jogo de quinta-feira, no Olímpico. Segue o texto, sem alterações:

Lembro-me de um episódio do Arquivo-X, onde o agente Molder vivia diversas vezes o mesmo dia. Senti-me o próprio agente Molder na quarta e na quinta-feira. Saí de casa exatamente no mesmo horário, 18h, e no caminho, atravessando a PUC, encontrei o mesmo colega, e parei para conversar com ele exatamente os mesmos 3 minutos e 24 segundos. Peguei o mesmo T1 do outro lado da Ipiranga, e no caminho comprei uma latona de cerveja, após achar algumas escassas moedas em meus bolsos, e segui caminhando em meio à massa rumo ao acesso da imprensa dos respectivos estádios. Em ambos, fui encaminhado para as cadeiras. E em ambos, fiquei atrás do gol de onde saíram todos os gols. E em ambos, houve brigas. No Beira-Rio, entre a própria torcida, na arquibancada inferior (um pequeno grupo ficou os primeiros 10 minutos de jogo brigando incessantemente), e no Olímpico, da torcida no lado de fora com PMs. No segundo caso, foram mandando torcedores para as cadeiras, e não havia mais espaço, e por um momento temi uma tragédia maior do que a que ocorreu dentro de campo.
Fora isso, as coincidências foram essas que todos sabem: 2 a 0 para os adversários no primeiro tempo, os dois precisando fazer 5 gols na etapa final, e ambos chegando ao 2 a 2 aos 29 do 2° tempo. Além disso, D’Alassandro, expulso pelo Inter, e Adílson, pelo Grêmio. E, para completar: nos dois jogos eu estava chegando próximo ao portão de saída, quando aconteceram os gols de empate.
No entanto, como eu não sou o agente Molder, houveram algumas diferenças. No caso da final da Copa do Brasil, o Corinthians jogou melhor no 1° tempo e fez por merecer o 2 a 0. Já no caso do Grêmio, o time de Autuori teve um impedimento mal marcado do Maxi Lopes e um pênalti claríssimo não marcado quando o jogo estava 0 a 0, e caso o árbitro Oscar Ruiz marcasse, certamente seria uma outra partida. Também senti diferenças nas torcidas. Pelo lado do Inter, os colorados literalmente fizeram tremer o Beira-Rio antes do jogo e nos primeiros minutos, e cheguei a pensar que a arquibancada superior fosse despencar, de tanto que tremia. Por outro lado, no Grêmio, o apoio foi durante os 90 minutos, inclusive quando o Cruzeiro vencia por 2 a 0. Ninguém saiu do estádio Olímpico com voz após o término do jogo.
Por fim, a maior das diferenças: a classificação de ambos no Brasileirão. Enquanto o Inter divide a liderança, com 17 pontos, o Grêmio está em 14°, com 9. Porém, o que vai prevalecer no Gre-Nal do dia 19, no Olímpico? O grito da torcida gremista, ou a vantagem na tabela colorada? Pelo jeito a peleia está só começando.