.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Você já flanou hoje?

Tenho uma notícia triste para o Arion (zinho): ele fez o curso errado. É verdade, ele se formou em Publicidade e Propaganda, quando na verdade, ele deveria ter feito jornalismo. E sabem como eu descobri isso? Simples, em meio a minha pesquisa sobre o tema Jornalismo e Literatura, descobri o verbo flanar, mencionado por João do Rio, no longínquo 1908. O jornalista coloca o verbo flanar (que vem do francês flâneur) como uma qualidade para o ofício. E, vejam vocês, que a descrição apresentada no livro “A alma encantadora das ruas” bate exatamente com a personalidade do meu nobre amigo:

Flanar! Aí está um verbo universal sem entrada nos dicionários, que não pertence a nenhuma língua! Que significa flanar? Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir por aí, de manhã, de dia, à noite, meter-se nas rodas da populaça, admirar o menino da gaitinha ali à esquina, seguir com os garotos o lutador do Cassino vestido de turco gozar nas praças aos ajuntamentos defronte das lanternas mágicas (...); é estar sem fazer nada e achar absolutamente necessário ir até um sítio lôbrego, para deixar de lá ir, levado pela primeira impressão, por um dito que faz sorrir, um perfil que interessa, um par jovem, cujo riso de amor causa inveja... É vagabundagem? Talvez. Flanar é a distinção do perambular com inteligência. Nada como o inútil para ser artístico. Daí o desocupado flâneur ter sempre na mente dez mil coisas necessárias, imprescindíveis, que podem ficar eternamente adiadas.

No entanto, hoje em dia o verbo flanar está dicionarizado. Conforme o Hoauaiss da Língua Portuguesa, significa: andar ociosamente, sem rumo nem sentido certo; flinear, flainar, perambular.
Tu vês. O meu amigo Arion, como tantos outros, tem o vírus da observação ligado ao da vadiagem. E vejam o que diz sobre tudo isso Marcelo Bulhões, no livro Jornalismo e Literatura em Convergência: “Verifica-se aí certa exaltação da despreocupação, do ócio, como uma apologia da vadiagem, um elogio à inutilidade”. Isso me leva a crer que, talvez, o Arion seja a reencarnação do João do Rio... Muito interessante. Já estou começando até a ter idéias... Acho que vou levar o Arion nas minhas próximas apresentações sobre o tema, acompanhado de um pai de santo, e com isso apresentarei ao mundo a verdadeira face de João do Rio. Ou de Arion Fernandes... Ou dos dois, se é que os dois não são um só... Acho melhor eu dar um tempo nas leituras e flanar um pouco... Aliás, você já flanou hoje?

3 Comentários:

Postar um comentário

<< Home