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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Algumas do Pedrito


Como já falei há vários posts atrás, durante o lançamento do livro dos 45 anos de ZH na livraria Cultura do Bourbon Country, também comprei a Triologia Suja de Havana, do cubano Pedro Juan Gutiérrez. Entre uma leitura e outra de textos acadêmicos, dou uma lida nessa obra meia bukowskiana de Gutierrez, que narra de forma nua e crua a crise que se abateu sobre Cuba durante a década de 90. No entanto, são diversas as passagens que me fazem pensar no nosso país da piada pronta, Brasil.
Vou reproduzir aqui três dessas passagens, mas vale a pena conferir toda a obra:
1) “De tarde eu não tinha nada para fazer. Bom, todo dia era assim. Nunca se faz nada. Eu ainda tinha cinco pesos no bolso e me sentei no chão, encostado na beirada da porta. Estava há vários dias sem tomar um gole, sem dinheiro, esperando. Esperando o quê? Nada. Esperando. Aqui todo mundo espera. Um dia após o outro. Ninguém sabe o que espera. Os dias passam. E o cérebro fica embotado. Isso é bom. Estar com o cérebro embotado é bom para não pensar. Às vezes penso muito e me desespero. Uma vez estudei, fui disciplinado, tinha objetivos para amanhã e para o ano seguinte, fui lutar no mundo. Depois tudo se transformou em sal e água e eu caí nesta pocilga. Alguns têm sarna, outros têm piolhos ou chato. Não há dinheiro, nem comida, nem trabalho, e todo dia chega mais e mais gente. Não sei de onde aparece tanta gente esfarrapada. Vivem como baratas. Dez ou doze num quarto”.
2) “Afinal, vale a pena ter dinheiro. Não só o necessário. É melhor que sobre um pouco para poder embarcar nesse iate e navegar pelo Caribe tomando o melhor bourbon, mastigando amêndoas e com uma garota bem magra e peituda. Ahh, que bom. Assim a gente nem toma conhecimento de que ali na costa as pessoas vivem como baratas. Não. Desse iate só se vêem palmeiras, crepúsculos dourados e belas praias com água azul-turquesa. Você entra nesse iate com muito dinheiro e se esquece de todas as merdas que fez e de todas as pessoas que arrasa e massacra para manter os bolsos cheios. É isso aí. O dinheiro atrai dinheiro e a miséria atrai mais miséria”.
3) “Às vezes Clotilde quer se matar. Pensou em comprimidos, em se queimar com álcool, em se enforcar. Não se atreve. Tem medo. Mas sabe que é só questão de tempo. O medo vai passar. Já tentou de tudo. Foi à igreja. Rezou. Quis arranjar um trabalho, mas não existe. Muito menos para uma velha magra, suja, malvestida, com bafo de fígado podre”.
Nada mais a acrescentar.

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