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quarta-feira, 15 de julho de 2009

O drama de Dari

Dari olhava para aquela borboleta que pousava numa pequena planta em sua frente. Olhou com curiosidade para aquele bicho estranho, com duas asas em formato de coração, toda colorida e com duas anteninhas finas penduradas na ponta da cabeça. Pensou em pegá-lo, mas sentiu pena do bichinho, tão bonito, tão pequeno, tão inofensivo. Ficou olhando com ar curioso, observando o que o pequeno animal faria. De repente, um pássaro miudo se aproximou da planta e começou a bicar, catando alguns restos de comida que estavam ali pelo chão. Lembrou-se que na sua infância gostava de caçar passarinhos. No entanto, vendo aquele outro bichinho inofensivo, tão sereno, bicando o chão com tanta vontade, descartou atacá-lo. Lembrou-se de sua mãe, que sempre brigava ao vê-lo caçando passarinhos e outros bichos. Sentiu saudades dela, fazia uns dois anos que havia falecido. Coitada, pensou por um minuto. Engravidou e foi abandonada pelo marido. Dari sequer conhecia o pai. Ouvia histórias sobre ele, de que se tratava de um cara esperto, audacioso, corajoso, que não tinha medo de ninguém e botava os outros para correr. Ouvira dizer, certa vez, que o pai teria matado um vizinho e por isso teria fugido, evitando represálias dos amigos do defunto. Já outro, conta que ele se meteu com uma tipa comprometida, a mulher e o corno descobriram, e com isso teve que deixar a cidade. Um terceiro diz que ele gostava de jogar e teria fugido, com medo dos credores. Ainda ouvira que ele era completamente maluco, e batia na mulher, e por isso, ela o teria colocado para correr. Porém, ele não fazia idéia de qual dessas histórias era a correta. Chegou a cogitar perguntar para a mãe, mas não criava coragem. Sempre via um ar triste em seus olhos quando se referia ao pai de Dari. Ele sentia que algo grave realmente havia acontecido, mas nunca juntava forças suficientes para indagar a mãe. “Azar, agora é tarde”, se lamuriava ao se dar conta que a mãe estava morta. No entanto, tinha orgulho das histórias heróicas envolvendo o pai. Ficava imaginando como ele seria. Era parecido com ele? Talvez...
Divagava sobre tudo isso, quando de repente o passarinho comeu a borboleta. Um gato, que estava por ali, aproximou-se para pegar o passarinho. “Gato, não!”, indignou-se Dari. Gato era demais! Não resistiu aos seus instintos, e saiu correndo atrás do gato. Seu dono, que estava sentado na garagem, ouviu a correria e saiu atrás deles, grigando: “Dari! Dari! Já pra casa Dari!”. Dari não foi, e quando voltou levou uma surra de chinelo, foi acorrentado, e dormiu lá, no fundo de sua casinha, tentando imaginar como era o seu pai, vendo a escuridão da noite que se exibia do lado de fora, em mais um inverno gelado de Moscou.

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