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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Putarias históricas - e outras banalidades

Olhando os últimos posts, cheguei a seguinte conclusão: minha irmã da audiência. Talvez até mais do que xingar o Arion. Vejam só: o texto dela sobre os ruivos rendeu 9 comentários! Um recorde. Claro que um comentário foi meu e outro dela mesma, mas, como diria o meu ex-chefe Teto: não quero papo furado, quero é resultado! E o texto da cabeçuda até que rendeu. Sigo achando que ela não sabe escrever, mas enfim, as massas adoram a banalidade. E se a massa quer a banalidade, é a banalidade que lhe daremos!
Para explicar isso, vou recorrer a sempre eficiente, mas dificilmente admirada, História. Lendo o livro “A Revolução Impressa – A imprensa na França 1755-1800” você acaba entendo todo esse processo. Sinceramente, recomendo essa obra a todos, que é uma coletânea de ensaios sobre a importância da imprensa nos seus mais variados âmbitos antes, durante e depois da Revolução Francesa. Como não quero chatear o impaciente leitorinho tupiniquim, vou me ater ao capítulo dedicado aos panfletos, e aí vocês entenderão como o interesse do povo pelas banalidades e pela putaria sempre foi usado para os mais diversos fins. Está certo que minha irmã não falou sobre putaria, mas estou classificando aqui a putaria como banalidade. E também falo a partir da visão maffesoliana da sociologia compreensiva, que considera o banal como fundamental para a História e a Sociologia. Mas chega de embromação, e vamos lá:
No caso da França revolucionária, como era difícil massificar a informação pró ou contra-revolução, apelava-se para o quê? Para a pornografia, óbvio. Quanto mais sujo, melhor. Depois acusam os brasileiros de ter a mente poluída, mas os franceses foram professores nisso.
Durante a Revolução, mais especificamente entre 1789 e 1792, foram publicados na França diversos panfletos pornográficos, sempre mostrando os patriotas como viris, garanhões e sexualmente bem sucedidos e dotados, e os aristocratas como homossexuais, broxas, cornos, e por aí afora. Um exemplo disso são os títulos de alguns desses panfletos, como “Segundo ano da Revolução Copulatória”, e a cidade onde se passavam as histórias, como “Obscenópolis”, por exemplo. Imagina você morar em Obscenópolis. Mas tem uma cidade fictícia com um nome ainda mais curioso: “Heliocopulópolis”. Vejam vocês.
Outra denúncia da época, que muita gente pensa que é um problema contemporâneo, eram os escândalos sexuais envolvendo padres. Um panfleto chamava um padre de “Dom Pederasta”, fazendo referência a sua homossexualidade.
Além disso, os panfletos ainda apresentavam manuais práticos e listas e descrições das prostitutas e casas de diversão parisienses da época. Agora, vejam só o título de dois best-sellers da época: “As Imagens dos Hábitos Morais nas Diferentes Épocas da Vida” e “A Ciência Prática das Mulheres da Vida”. E vejam uma das frases publicadas contra o rei: “uma jovem e amorosa rainha, cujo augusto Esposo para nada servia na cama”. Frase essa, que se referia a insaciável rainha Maria Antonieta, na qual o pobre rei Luís XVI não conseguia dar conta do recado, segundo as más línguas, obviamente.
Outra característica dos panfletos era a retratação do rival como um portador de doenças venéreas: “Meu corpo estava todo cheio de pústulas; meu pau reluzia como se estivesse coberto de pérolas; minhas pernas, apodrecendo do osso para fora, não mais me sustentavam; mal podia abrir minha boca ulcerada, tanta era a dor; meu corpo exsudava uma supuração purulenta; meu hálito era sepulcral”.
Mas descrever o pobre do inimigo como um ser podre não era suficiente. Eles queriam mais: “não nos esqueçamos de convidar para nossos embates amorosos as mais belas das mulheres dos deputados, e ter com elas o nosso prazer bem na frente de seus maridos”. Putaria como palavra de ordem na Revolução. Agora, óbvio que sempre tinha aquelas pessoas preocupadas com o bem estar geral da nação. Uma dessas pessoas foi Restif de la Bretonne, que em Pornographe, propunha regras de higiene e moralidade nos puteiros: “Uma garota que está doente não deve trabalhar. (...) Uma prostituta deve ganhar tanto quanto conseguir, mas através de uma conduta honesta e não pela trapaça”. No entanto, vejam vocês o que segue, e tirem suas próprias conclusões: “a idade da aposentadoria é fixada aos 40 anos, mas 35 para as loiras, que estiolam mais rápido que as morenas”. Tu vês. Fui ver no dicionário o que é estiolar e lá está: atrofiar. As loiras atrofiam antes do que as morenas? Quer dizer, todo o corpo, ou só algumas partes? Que cosa. Dá até uma tese de doutorado.
Mas enfim, escrevi tudo isso para mostrar que tanto as banalidades e putarias davam ibope na França revolucionária, quanto as bobagens e putarias dão no Brasil pós-moderno. E isso tudo quer dizer alguma coisa? Possivelmente não, pois como disse certa vez o filósofo Dadá Maravilha: “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. E se não entenderam, façam o que certa vez sugeriu um técnico de futebol qualquer: vocês devem fazer a inversão da dinâmica do somatório. E tenho dito.

2 Comentários:

  • Concordo contigo. No ínicio, meu blog era voltado pra assuntos mais... relevantes, digamos - Literatura, Cinema, Música e Opinião. Hoje, graças às contigências do destino, falo sobre Literatura, Cinema, Música, Opinião e... Putaria! Os posts que mais renderam comentários, foram exatamente os que tratavam de safadeza. Juro por Deus (Ih, melhor deixar o Cara fora dessa! Uahahhaaaaaaa!)!

    Nunca li esse tal de “A Revolução Impressa – A imprensa na França 1755-1800”, mas na facul li "Edição e Sedição" do Robert Darnton, que fala basicamente da mesma coisa. Depois dá uma conferida. Leitura que vale a pena...

    E deixa de ser chato, rapá! O texto da sua irmã ficou legal...

    Abração!

    Marcelo
    www.marcelo-antunes.blogspot.com

    Por Blogger Marcelo A., às 17 de julho de 2009 às 12:21  

  • a diferença è que no brasil a putaria existe para manter o poder nas maos de quem jà està com ele

    Por Blogger Zaratustra, às 19 de julho de 2009 às 05:38  

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