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domingo, 31 de maio de 2009

De volta!

Bom, podem parar de chorar, leitorinhos tupiniquins desse imenso universo, porque estou de volta! Depois de três (ou quatro?) dias no retiro espiritual acadêmico em Blumenau (Intercom Sul) estou de volta. No entanto, terei que ser breve, já que tem uma pilha de livros e de xérox a minha espera, me olhando de canto, aqui do lado. Quando vejo toda essa papelada, meus neurônios entram em parafuso, e começam a correr desordenadamente e a se bater, um querendo ficar à frente do outro, e então, não consigo pensar direito. Enfim, terei que organizar tudo isso (os papéis e os neurônios). Fora que tenho prazos e mais prazos para entregas de artigos, inscrições de trabalhos em eventos, e por aí a fora. E no meio disso tudo, brevemente terei que encontrar algum meio remunerado de sobreviver, além dos jogos da dupla em seus respectivos estádios.
Mas vamos ao Intercom Sul. Participando desse evento, e ficando em um hotel onde tinha pessoas de Ijuí, Lajeado, Santa Maria, Caxias do Sul e Porto Alegre, em meio as palestras e andanças, concluí mais uma vez que os seres humanos, assim como os animais dos Mamonas Assassinas, também tem uns bicho interessante, que fazem muitas coisas engraçadas e formam alguns pequenos fenômenos de convivência social. Um deles é o fato de que nesses congressos fica todo mundo andando em pequenos grupos, como se fossem animaizinhos da selva africana. Forma-se um pequeno grupo, não sei como (não há nenhum estudo sociológico, nem psicológico sobre isso), e ele vai indo, e toda hora entram e saem pessoas dele. Você está num pequeno grupo, mas aí você vai ao banheiro, e na saída encontra outro pequeno grupo, e aí você anda mais um pouco com esse outro pequeno grupo, até que você resolve ir a uma palestra X, mas aí só uma pessoa desse pequeno grupo vai com você na mesma palestra, e na saída da sala de aula acaba se formando um novo pequeno grupo. E assim você vai indo, migrando de pequenos grupos para pequenos grupos. O interessante desses pequenos grupos, é que as pessoas sempre estão em um estado psicológico indescritível e admirável. Em um momento elas estão olhando para o nada, para o vazio, aí alguém diz alguma coisa do além, e todos dão risada. Depois do silêncio filosófico e reflexivo do pequeno grupo, alguém pergunta algo como “será que chove?” e outro responde “não sei, mas estamos indo lá”, e apesar do cansaço, todo mundo segue sempre em frente, bem disposto e dando muita risada, não sei se afetados pelas palestras ou pelo líquido alucinógeno que bebem.
Outro fenômeno dos congressos é que sempre tem o cara que é adotado pelos grupos, que é o sujeito que vai sozinho, e acaba se enturmando com a galera das excursões. Dessa vez eu estava com o pessoal da Unijuí, mas tem um cara, que agora não lembro o nome, acho que é Rogério ou Roberto, que inclusive o apelidaram de “meu irmão”, porque, segundo a galera, ele era parecido comigo, e dessa vez foi ele o adotado pelo grupo. Eu já fui adotado em outros eventos, ou em outras situações, como na vez em que eu trabalhei de mensageiro num hotel em Camboriu, em 2002. Naquela vez andei com várias excursões. É engraçado porque você se torna uma espécie de mascote do grupo, e sempre tinha alguém pra perguntar “cadê o Gaúcho?”. Dessa vez, o adotado era o sujeito que chamavam de “meu irmão”. Quando queriam saber do cara, me perguntavam “ e teu irmão?”. Outro dado interessante, é que quase toda a excursão tem o casalzinho. Tipo, a galera toda lá, livre, leve e solta, mas sempre tem o casal que, geralmente, fica mais afastado do grupo maior. Apesar do isolamento temporário, o pessoal, na maioria das vezes, vê o casalzinho com simpatia. No entanto, dessa vez, não lembro de nenhum casalzinho na excursão da Unijuí, mas vi nas outras excursões. (...)
Bem, a pilha de papéis segue de olho em mim e já não estou conseguindo pensar direito. E isso que nem falei da viagem de ônibus de linha que fiz de ida e volta entre Porto Alegre e Blumenau com o Augusto, e de todas as pessoas que revi, e outras que conheci nesse encontro. Em outros posts vou contando, na medida em que tiver algum tempo ou for lembrando, mas enfim, encerro mandando um grande abraço a toda a galera da Unijuí que estava lá! Adoro a todos e tenho muito orgulho de ter saído dessa universidade. Até Curitiba, bybes!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Não chorem... eu volterei!

Comunico aos milhões de leitores desse espaço que estou indo para um retiro acadêmico (Intercom Sul), que nesse ano acontece em Blumenau-SC, e que começa na quinta-feira de manhã e segue até o sábado. Como vou pegar o busão na quarta às 21h30, e como durante o dia terei aula, receberei a sagrada visita da minha mãe e terei que assistir a Manchester x Barcelona para conhecer o adversário do Grêmio na final do Mundial de Clubes, em Dubai, provavelmente só voltarei a escrever aqui do domingo em diante. Mas, levando em consideração as perdas que tive, mencionadas no último post, e considerando ainda que não resolvi os referidos problemas wordianos, e que estou fazendo o "ommmmm" de 5 em 5 minutos para não ter um acesso de fúria contra esse aparelho na qual estou digitando essas palavras, provavelmente voltarei a escrever aqui somente no domingo à noite.
No entanto, para que ninguém fique órfão desse que vos escreve e para que ninguém se atire no Arroio do Dilúvio, nem no Rio Ijuí, e muito menos no Tietê, recomendo que aproveitem esses dias para ler outros textos qualificados, como os que eu sugiro no perfil do meu orkut, ou podem ler ainda os meus textos antigos (esse está sendo o post de número 202), isso irá ajudar vocês a controlar as saudades, que tenho certeza que serão enormes. Até a volta desse humilde, feliz e desempregado jornalista.

Raiva, alfa e pênalti

Estava eu, escrevendo um dos quatro artigos que tenho que entregar no final de junho, quando apareceu aquele famoso “enviar relatório de erros – não enviar”. Para ser mais exato, estava escrevendo a página 12. Sem revisar. E, depois disso, não consigo mais escrever na porra do arquivo. Digito qualquer coisa, e aparece a mesma merda, e fecha tudo. Uma bosta. Comecei então, a continuar o trabalho, em outro arquivo, e estou pensando em depois juntar tudo, sei lá eu como. Na pior das hipóteses, terei que imprimir e digitar tudo de novo, em um arquivo limpo em outro computador, onde não haveria o risco de acontecer essa merda, que possivelmente seja um vírus. Só que, estava eu nesse segundo arquivo, descrevendo animadamente o desastroso Lucas Faia, de Incidente em Antares, quando o incidente wordiano aconteceu novamente. Fiquei fulo novamente. Queria jogar o computador pela janela, mas minha irmã teve o bom-senso de não deixar. Dei alguns socos no maldito, que se acha muito mais esperto do que eu, mas também não resolveu. Então, fui relinchando para a cozinha, fazer um lanche, ouvindo U2 no MP3. Estava comendo, quando vi um caroço de azeitona, da pizza que comi ontem, em cima da mesa. A cesta de lixo estava do outro lado da cozinha, a uma distância, sei lá, de uns 4 metros. Eu olhei para aquele maldito caroço, e depois para a cesta. Atirei com fúria o caroço, que caiu dentro do lixo igualzinho caiam as bolas de basquete arremessadas por Michael Jeffrey Jordan, nos bons tempos de Chicago Bulls, na NBA. E daí de lembrei de certas coisas que aconteceram em momentos de fúria da minha vida, alguns bons, outros ruins...
Lembro-me que, quando trabalhava na Rádio Jornal da Manhã, em Ijuí, quando eu estava zen, feliz da vida, calmo, ia para o estúdio, e algumas vezes não conseguia dar a entonação que queria para a voz, ou errava uma ou outra palavra, e assim ia. No entanto, quando eu estava fulo da vida (e isso acontecia com certa freqüência) eu entrava naquele estúdio, nem olhava para o operador, ia em direção a mesa, fazia sinal com o dedo indicador em riste para que o microfone fosse aberto, e lia num tiro. Parecia o Domingos Martins. O mesmo acontece quando vou apresentar algum trabalho. Se estou calmo, me atrapalho, faço alguma piada sem graça, me perco... É como aquele time que entra em campo achando que vai ganhar fácil, e se aperta todo. Já quando estou grilado, com aquela vontade de matar, vou lá e tchan, vai tudo facinho facinho. Mas isso às vezes também acontece quando estou em alfa, mas aí é outro patamar. De qualquer modo, isso funciona assim, em vários aspectos da vida do cidadão. Lembro de uma vez, em um campeonato do colégio, onde o goleiro ficou me zoando enquanto eu me preparava para cobrar um pênalti. Ele batia no peito e berrava “vai, chuta que eu vou pegar”. Respirei fundo, olhei para a cara do maldito, tomei uma distância razoável (não demasiada, já que quem toma muita distância sempre dá um bago para fora), e pensei: “vou te matar agora, seu filho da puta”. Concentrei toda a força que existia no meu ser em minha perna direita, corri para a bola e BUM! Uma cacetada a lá Rivelino. O goleiro nem viu a bola. Só teve um problema: a merda da pelota esbarrou na trave direita defendida pelo maldito. O goleiro filho duma égua saiu comemorando, como se tivesse defendido. Aquilo me deixou mais fulo. No lance seguinte, a bola já tinha passado por ele, mas mesmo assim dei um carrinho por trás no desgranido. Uma tesoura mesmo. Virei as costas para o infeliz, e ia voltando para o meu campo, quando o árbitro, o professor Raul, me mostrou o cartão vermelho. “Ih, fudeu”, pensei. E fudeu mesmo, já que meu time acabou perdendo por 3 a 1 e foi eliminado daquele campeonato.
Por fim, depois de todas essas histórias, chego as seguintes conclusões: não tem raiva que supere vírus de computador e goleiros malditos com sorte.
PS: se você sabe a solução para o meu problema wordiano, diga-me qual é, e ganhe um brinde das lojas Dudu Mania.

domingo, 24 de maio de 2009

Eu na Máquina


Aprendi com o Monteiro Lobato: o negócio é estar na mídia (mesmo levando em conta que esse conceito ainda não existia no tempo dele). Antes de entrar na história desse post propriamente dita, coloco aqui a frase de Lobato, literalmente chupada do livro Pena de Aluguel, da professora Cristiane Costa:
“Isto é como eleitorado. Escrevendo no Estado, consigo um corpo de 80 mil leitores, dada a circulação de 40 mil do jornal e atribuindo a média de dois leitores para cada exemplar. Ora, se me introduzir num jornal do Rio de tiragem equivalente, já consigo dobrar meu eleitorado. Ser lido por 200 mil pessoas é ir gravando o nome – e isso ajuda(...). Para quem pretende vir com livro, a exposição periódica do nomezinho equivale a bons anúncios das casas de comércio – em vez de pagarmos aos jornais pela publicação dos nossos anúncios, eles nos pagam – ou prometem pagar”.
Muito bom, nunca esqueci essa lição do Lobato. Bom, Paulo Coelho, o rei da picaretagem, já assumiu as suas intenções comerciais dentro da literatura publicamente, e outros escritores também se aproveitam do prestígio nos respectivos jornais onde trabalham para vender seus livros. E, como questionaria o Lipovétsky: o que tem de mal nisso? O próprio David Coimbra, além da polêmica Martha Medeiros, faz isso. E eu? Eu não trabalho na ZH. Nem no Estadão. Nem na Folha. Nem no Globo. Nem no Correio. Nem no Sul. Nem no Diário de Santa Maria, muito menos no de Santa Catarina. Como fico eu, nobres leitorinhos tupiniquins?
Eu tenho que me virar. E assim a vou indo, tentando aparecer de Robert no CQC, escrevendo uma coluninha aqui, outra ali, me parando de leitão vesgo pra mamar em dois tetos...
A última aconteceu hoje, no jogo entre Grêmio e Botafogo. Eu já tinha visto a Sabrina, da Pop Rock, em outros jogos do Grêmio, circulando pelas cadeiras do Olímpico. Mas, desde que saí de Santo Ângelo, nunca mais tinha ouvido o pessoal do Cafezinho. E dessa vez, antes de começar o jogo, a vi escorada em um canto do Olímpico, conversando com uma loira baixinha, um pouco gordinha, que devia ser sua conhecida. Foi então que resolvi sintonizar na Pop Rock para ouvir a transmissão da Máquina do Cafezinho.
Só que, o problema de fazer isso no Olímpico, ou no meio de qualquer torcida, é que muitas vezes quando o time adversário está atacando, alguém fala uma bobagem no ar, e você começa a rir. E o pessoal que está do lado fica te olhando meio desconfiado. No entanto, ouvindo as entrevistas da Simone com a torcida, percebi que 99% dos torcedores que estão nas cadeiras, não ouvem a Máquina, mas sim, as rádios AMs. E eu estava ouvindo a Máquina! Portanto, pensando nisso, e naquilo que o Monteiro Lobato falou lá em cima, vi que a Simone tava por ali, dando bobeira, parei do lado dela, e apontei para o fone de ouvido: “estou ouvindo”. Aí começamos a conversar e disse que era de Santo Ângelo, e tal, aí ela pediu para me colocar no ar... Hmmmm, ok, ok, admito, fui eu quem pediu para entrar no ar... e o que se sucedeu foi mais ou menos o seguinte:
- Olha rapaziada, eu to com um cara aqui que quer mandar um recado, diz aí:
- Então (não lembro se comecei a frase com então, mas enfim)... Então, meu nome é Eduardo Ritter, quero mandar um abraço pra galera de Santo Ângelo, que ouve em peso o Cafezinho, e mandar um beijo pra minha noiva Cristiane, que está lá ouvindo vocês... – nesse momento, os caras começam a me zoar no estúdio, dizendo “aê, um beijo pra noiva! Um beijo pra noiva!”.
- Mas e aí, o que está achando do jogo? – perguntou a Sabrina.
- Ta bom. O foda é que a gente fica ouvindo a transmissão da Pop Rock, e no primeiro tempo teve alguns momentos em que vocês fizeram piadas e o Botafogo atacava, e eu comecei a rir sozinho, e o pessoal do lado ficava me olhando atravessado...
- Esse cara deve ter problema – disse um lá do estúdio.
- Ele está ouvindo vocês – retrucou a Sabrina.
- Imagina você vendo o jogo, o Botafogo ataca, e o cara do lado começa a rir. Esse cara só pode ter problema...
E assim, fui para o banheiro, resolver meus problemas, enquanto discutiram por mais algum tempo se eu tinha problema ou não, até que voltei para o segundo tempo, e, para resolver os meus problemas, o Jonas e o Fábio Santos fizeram dois gols e o Grêmio ganhou por 2 a 0, e eu tive assim alguns segundos de fama no microfone da Pop Rock.

Passos desconhecidos

Sujeito está andando pela rua à noite, quando um guri, aparentando ter aproximadamente uns 15 anos, se aproxima:
- O meu, sabe onde tem mulheres?
- Bah cara, tem tanto pra lá, quanto pra cá – responde o sujeito, apontando para os dois lados.
- Posso andar contigo?
- Claro.
Os dois passam por uma rodinha formada por prostitutas e travestis. Elas cumprimentam animadamente o mais velho com um longo e oferecedor “oiiiiiiiiii”.
- Oi – responde o mais velho.
O guri começa a pular ao redor do cara, falando animadamente:
- Você conhece elas? Você conhece elas?
- Só de vista.
- Hmmmmm.
- Que foi? – pergunta o sujeito ao guri.
- É que antes passei por aqui, ofereci cinco pila, mas elas não quiseram nada comigo. Azar o delas né?
- É.
- A não ser que tu convença uma delas a me dar por 5 pila. Tu tem moral.
- Eu não.
- Tem sim. Vai lá, trova pra elas me darem por 5 pila.
- Eu não.
- Tem sim.
- Sim, eu tenho, mas não vou lá trovar elas.
- Por quê?
- Porque não. Só se tu quiser um travesti.
- Eu não. Eu heim, não entendo esses loco, invés de serem homens né?
- Acho que ficam melhor como mulheres.
- Pois é. Será que um deles me dá por cinco pila?
- Acho que não.
- Por quê?
- Uma: porque tu é muito novo. Outra: porque tu é muito feio. E por fim: porque tu é muito chato e não cala a boca.
O guri baixa a cabeça, frustrado. Parece que vai chorar.
- Ta bom, não quis dizer isso.
- Mas disse.
- Olha, ali tem um bar que está cheio de mulheres.
- Mas nenhuma vai me da por cinco pila.
- Escuta guri. Eu fui com a tua cara. Tu é gente boa, tem entusiasmo, está na flor da idade. Eu até te daria dinheiro, mas só tenho uma nota de 50, aí não posso...
- 50...?
- Sim, 50. Se tivesse uns 10 trocados te dava.
Nesse momento, o sujeito acha que o moleque vai puxar uma arma e assalta-lo ali mesmo. Começa a suar frio. Por quê diabos tinha que ter falado que tinha 50 reais? Maldita boca. Deixasse o guri se ferrar, ele que fosse pra casa tocar uma, tomar banho e dormir. Diabos.
- Olha, eu vou ter que atravessar – disse o sujeito nervosamente para o guri.
- Ta bom. Boa noite.
E, ao colocar um pé na pista, o sujeito se choca com o T1. O guri se aproxima do corpo e, antes que se forme o tradicional bolinho, faz o sinal da cruz, beija o indicador e o polegar da mão direita unidos, e pega os 50 reais do sujeito, e assim, vive a mais louca noite de sua vida.

sábado, 23 de maio de 2009

Crônica de confusões anunciadas

Acho que a vida está me sugando. E tenho certeza de que estou com saudades da minha namorada. E acho que uma coisa tem a ver com a outra. E que isso se reflete aqui, nobre leitorinho tupiniquim, nesse espaço. Vou tentar explicar. Às vezes sento aqui, querendo escrever, e nada, apesar de ter seguido o conselho do professor Juremir, de me expor o máximo possível a estímulos externos para ganhar inspiração. E agora conclui: ela (a inspiração) não vem porque a vida está me sugando. Ou seja, leio uma porção de livros, vou à aula e discuto-os com os colegas, escuto os professores, vejo as apresentações sobre os temas, chego em casa, discuto mais sobre o assunto com minha irmã, com meu primo, com os bêbados do bar do meu tio, aí vou na academia para aliviar a cabeça, e fico pensando sobre um monte de coisa ao mesmo tempo, no passado, no presente e no futuro, aí vou nos jogos de Grêmio e Inter, e vejo uma porção de outras coisas, uma mais louca que a outra, aí vou ler alguma coisa diferente dos textos acadêmicos, como o livro do Pedro Juan Gutierrez, aí discuto isso tudo com colegas, amigos, parentes e afins, mas mesmo assim, parece que quando sento aqui, na frente do computador, querendo escrever algo super-inteligente, me dá um branco. Parece um trauma, como naquela historinha onde a personagem é condenada a ser jornalista com a seguinte sentença: você está condenado a escrever todos os minutos, horas, dias, meses e anos da sua vida, tendo ou não assunto para abordar. Nem eu entendo o que acontece. Aí penso em mil coisas que poderia escrever, só que aí lembro aquelas frases perdidas, ditas em algum lugar por alguém, ou lidas em algum livro, revista, jornal ou e-mail, do tipo “hoje qualquer um escreve o que quer, ninguém está nem aí pra nada, ser escritor é fácil, até meu cachorro pode ter um blog, postar suas fotos, fazer um diário dizendo que hoje ele roeu um osso, brincou com o paninho, fez vuco-vuco na almofada, etc”, e isso me dá uma angústia. E no meio disso tudo, fico morrendo de saudades da minha namorada, sinto falta de, nesses momentos, e em outros também, abraça-la, olhar nos seus olhos e ficar ali dentro, pelo resto da vida, pouco me lixando para tudo o que se passa fora deles. (......)
Bom, mas para compensar, tenho minha irmã aqui, e ela está brigando para que eu saia do computador, e assim paro de ficar viajando nisso tudo. Vou abrir uma long neck e ver se ta dando o Fudêncio na MTV.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Secagem

Bom, resolvi não postar aqui o mesmo texto que mandei para os jornais sobre o jogo do Inter, simplesmente porque, como diz meu primo Gérson, escrever sobre futebol nesse espaço não dá audiência, o que quer dizer que somos escravos dos leitorinhos tupiniquins. E outra: lá tenho a limitação do espaço, portanto, muita coisa ficou de fora.
Aqui vou contar as graças e desgraças que aconteceram na noite de quarta. Saí de casa por volta das 19h30, e quando estava na fila para entrar no Beira-Rio achei que era aproximadamente 20h30, mas já era 21h20. Porém, antes de chegar na fila do portão 16, passei pela torcida do Flamengo, que estava se preparando para entrar no estádio do outro lado. E foi nesse momento que decidi que torceria para o Mengão perder aquele jogo. Não vou colocar aqui o que os torcedores do Flamengo falaram dos gaúchos, mas nem mesmo com alguns colorados dizendo “nós somos parceiros! Que que é isso? Inter e Flamengo são irmãos. O nosso negócio é com Grêmio e Vasco” os flamenguistas deixaram de xingar os gaúchos. Enfim, a única coisa que pensei foi “ah é? Preparem-se para perder, seus *&*&$%#%#(*$&#”. Só não imaginava que o Inter seria tão cruel com o Flamengo. Mas mereceram.
Subi para a parte superior do estádio, e de lá acompanhei a partida, que foi nervosa dentro e fora do campo. No entanto, olhando friamente, como observador mesmo, concluo: se o time do Inter ficou devendo em campo, a torcida ficou devendo mais ainda fora dele. O estádio só incendiou em três momentos: quando o Inter entrou em campo, quando Taison fez 1 a 0, e quando Andrezinho marcou de falta. Novamente estava atrás do gol onde Andrezinho marcaria. No dia 28 de janeiro desse ano, eu estava fotografando atrás do gol defendido pelo São Luiz, em Ijuí, quando Andrezinho marcou, também de falta. Só que dessa vez foi pior: eram 43 minutos do segundo tempo, e ninguém no estádio ficou no chão. Literalmente vi o Beira-Rio tremer, enquanto a minha máquina digital era espatifada no o cimento da arquibancada. Não sabia qual era a maior tragédia: a do Flamengo ou a minha. Porém, não me contive, e como estava novamente no meio da torcida do Inter, e não poderia ficar parado naquela ocasião, eu berrei, dessa vez com toda a vontade, dando socos no ar: “voltem para o Rio seus %#&*%¨*#&¨*%*$¨*¨#*¨@($*¨*#&¨*&@! Voltem para o Rio! Perderam a viagem! Rárárárárááá!”. Bom, tenho vários amigos cariocas, adoro o Rio de Janeiro, inclusive, esse blog está vinculado a um jornal do Rio, mas enfim, o futebol põe tudo abaixo. Tanto é que o próprio Andrezinho foi revelado pelo Flamengo, e estava se lixando para isso.
Depois do jogo dei uma bela caminhada até a parada do Praia de Belas, onde haviam algumas dezenas de torcedores esperando o ônibus. Passou-se meia hora, e nada. Já era quase uma da madruga quando eu e outros dois resolvemos pegar um táxi. Na verdade quase fiquei sem condução mesmo.
- O meu, tu vai praonde? – perguntou-me um rapaz de abrigo preto da Adidas.
- Até a PUC, e tu?
- Até o Bourbon, e tu? – perguntou para um terceiro.
- Também até um Bourbon.
- Então vamos rachar um táxi? – perguntou o de abrigo.
- Só tem um problema – disse eu, tomando o último gole da minha latona – eu só trouxe minha carteirinha de estudante e sobraram só dois reais. A não ser que o taxista tope esperar eu subir no AP e pegar o dinheiro da minha parte.
Quando passou um táxi, falei com o motora, e deu tudo certo. Na real, foi o taxista mais gente boa que conheci até hoje. O cara foi conversando na boa o trajeto inteiro. Com o troco, resolvi ir até o posto de conveniência pegar mais umas latinhas. Chegando lá, havia um maluco, de uns 20 anos, morador de rua, parado na porta.
- Senhor, me dá uma moeda na volta?
- Pódexa – respondi.
O cara era a lata do Andrezinho, só que sem aquela bagagem toda no cabelo. Resolvi pegar uma Sol, da promoção, para o cara. Deve beber, calculei. Quando sai, lhe entreguei:
- Tó.
O cara murmurou um “valeu” com os olhões arregalados, feliz da vida, enquanto outro morador de rua já se aproximava para pedir um gole. “Azo negão, ganho uma GELADA, me da um gole aê meu?”. Eu dei risada e gritei, já de longe:
- Essa é pelo Andrezinho.
E o cara ergueu a garrafa, como se oferecesse um brinde, e tomou com sôfrego prazer um belo e longo gole.
FIM

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Sorry...

Bom, to me coçando pra postar aqui o texto que escrevi após chegar da vitória do Inter sobre o Flamengo por 2 a 1, no Beira-Rio, mas como tenho compromissos com alguns jornais, deixarei para postá-lo apenas no sábado à tarde. Só posso dizer que aconteceram muitas coisas loucas nessa noite e que a minha máquina fotográfica não é mais a mesma...
Abraço a gremistas, colorados etc e tal!

terça-feira, 19 de maio de 2009

Um belo poema de minha autoria


Eu queria escrever a melhor poesia
Eu queria ir para a África dentro de uma bacia
Queria ser artista quando jovem
Mas não fui cantor nem ator
No entanto, nunca desisto de ser escritor
Escrevo crônicas, contos, piadas
Romances, histórias infantis e cartas de amor
Fora as cartas de amor, não sei se tenho leitores
Ou leitoras, mas sei que tenho três cachorros
A Pretinha, a Pipoca e o Jamelão
Que se pudesse, colocaria os três num avião
E mandaria todos para o Japão
Para que não me acordem de manhã cedo
Ainda mais quando eu vou dormir bêbado
De cerveja, de sorvete e de amor
Mas agora, aqui nesse fim de mundo metropolâneo
Eu fico fazendo a contagem regressiva, dia-a-dia
Para saber quando eu embarcarei
Rumo a África dentro de uma bacia.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Questões


Li o Estação Carandiru, do Drauzio Varela, provavelmente em 2003 ou 2004. Recordo-me que estava na graduação, e que pensei muito sobre aquele livro na época. Inclusive, escolhi para apresentá-lo na aula de Redação e Expressão Oral. De cara, considerei essa obra um livro-reportagem, tema que pesquiso desde os tempos da graduação, e que tem uma matéria super-interessante na Revista da Livraria Cultura, revista na qual mencionei no post anterior.
Enfim, li o livro, e de lá para cá frequentemente penso sobre tudo o que aconteceu. Além disso, também acompanhei por alto a trajetória do Drauzio Varela, que na verdade, pelo papel que ele exerce hoje na Globo, me põe a questionar sobre a rigidez na obrigatoriedade do diploma para exercer funções que, a priori, são de jornalistas. Ele tem comandado bons trabalhos dentro da Globo, e o próprio livro-reportagem escrito por ele só foi possível graças a sua profissão de médico. E mais: nenhum jornalista conseguiria ter a confiança dos presos como ele teve. E mais ainda: ele mesmo conta no livro que os presos detestavam a imprensa.
Mas tudo isso me veio à mente novamente porque ontem de madrugada passou na própria Globo o filme Estação Carandiru. Lembro-me que até assistir a esse filme, eu tinha um imenso preconceito contra as adaptações de bons livros para o cinema. Pergunte ao Pó, de John Fante, é um ótimo exemplo de como se estragar um bom livro. Enfim, vendo o filme e me lembrando do livro, foi que fiquei me questionando: mas e se a polícia não tivesse invadido? Uma, a imprensa provavelmente cairia em cima, dizendo que “correram” dos presos. Outra, a população reprovaria a atitude do governador, já que, como um preso fala no fim (do livro e do filme), era véspera de eleições. Enfim, seria uma espécie de “desmoralização” pública da Tropa de Choque da polícia paulista e do próprio governo. E, agora a pouco, lendo o livro “Metamorfoses da cultura liberal”, do francês Gilles Lipovetsky, deparei-me com o seguinte trecho, onde ele está refletindo sobre esse crescente liberalismo pós-moderno que coincide com uma vontade cada vez maior de querer “doar”, “ajudar ao próximo” e “fazer ações comunitárias”: “vemos bem os limites da ação humanitária, que não elimina os massacres e que, com freqüência, serve de álibi à nossa impotência política”. O cara é francês, mas ele, no meu entendimento, explicou exatamente o que ocorreu no episódio do Carandiru. Uma ação política, em uma situação dificílima, pois se não invadissem, haveria a execração da época. E invadindo, houve a condenação histórica, registrada por Drauzio Verela no livro, e massificada pelo cinema e pela Globo.

sábado, 16 de maio de 2009

Palestras e outros causos

Antes de entrar no texto propriamente dito, quero fazer três considerações:
1°) Não estou recebendo absolutamente nada da livraria Cultura, aliás, não tenho a mínima idéia de quem seja o dono do negócio;
2°) Também não escrevi o texto a seguir para puxar o saco de ninguém e não tenho nenhuma promessa de emprego no grupo RBS e, na minha situação atual, tendo como concorrentes adolescentes com muito mais condições financeiras do que eu, que com 21 anos falam três línguas e já fizeram intercâmbio em cinco países, e sabem muito dos programas técnicos de edição e de planejamento gráfico, sei que estou em tremenda desvantagem em relação a eles a uma vaga de foca no mesmo grupo. Portanto, os elogios a seguir, são totalmente espontâneos e voluntários.
3°) Se você não acreditar em nenhuma das considerações anteriores, não faz mal, porque meu objetivo aqui é literário e não jornalístico, portanto não me sinto comprometido em dizer a verdade neste espaço.
Agora, vamos à história.
Como foi divulgado em vários lugares, entre eles, no blog do David Coimbra, hoje aconteceu na livraria Cultura, no shoping Bourbon Country, em Porto Alegre, uma palestra com seis dos jornalistas que escreveram matérias selecionadas para o livro “45 Reportagens que fizeram história”, lançado nesse ano. Entre os palestrantes, estava o próprio David Coimbra.
Bom, após ir no Carrefour e comprar a janta de hoje, o almoço e a janta de amanhã (ou seja, três pizzas), 2,5 litros de Coca (também não recebo nada da Coca, mas se a Pepsi quiser me pagar algo, posso trocar de produto, e assim, divulga-la nesse espaço para os milhões de leitores desse blog que estão espalhados pelos quatro cantos do mundo – o mundo é quadrado?) e algumas latinhas de cerveja, lá pelas 15h30, fui para a parada pegar o bus rumo ao Bourbon. E se você não gosta de frases longas, vá ler histórias em quadrinho, deixa eu curtir o meu momento de infidelidade com a objetividade jornalística. Bem, cheguei ao Bourbon cedo, já que a palestra era só às 18h. E pior: estava com dinheiro no bolso. Eu, com dinheiro, em uma livraria, é como mulher em loja de roupa. Querem levar tudo que acham bonito. Eu queria levar tudo que achava interessante. Comecei comprando o próprio livro da ZH. Aí, o vendedor me convenceu a fazer um cartão, que além de me dar descontos, também me possibilita acumular bônus para ganhar R$10 de desconto a cada R$200 gastos. Enfim, se considerar tudo que gasto com livros durante um ano, é uma boa promoção, apesar de saber que o dinheiro da “promoção” já está embutido no valor dos livros. Mas é a vida do mundo capitalista, fazer o quê? A revolução, óbvio. Porém, enquanto isso, vamos pagando mais. Pelo menos no caso da compra de um livro, considero uma boa causa.
Então, estava eu com a sacola com o livro de ZH dentro, e aquele cartão, cercado por milhares de obras sedutoras. Comecei a olhar nas estantes. Logo na primeira, meus olhos já se cruzaram com a bela capa do livro “Trilogia Suja de Havana”, do cubano Pedro Juan Gutiérrez. Já tinha ouvido falar muito bem desse autor através do meu primo Gérson, que sei que tem um faro fino para a boa literatura (afinal, ele lê meu blog!). Não resisti, e comprei essa obra de 350 páginas, e que estou salivando para lê-la. Depois disso, lembrei da minha filhota Laura, que também é uma mini-devoradora de livros. Eu dei para ela dois volumes daquela coleção “Querido diário, otário”, sendo que cada uma é de mais de 100 páginas. A primeira, dei no Natal. Ela não queria jantar para ler. Ficava com o livrinho ali, escondido embaixo da mesa, lendo toda disfarçada. No outro dia já tinha lido tudo. Uma semana depois, já tinha lido outras duas vezes. Depois, na Páscoa, a mesma coisa. Dei o volume 3, que foi devorado em menos de dois dias. E agora estou aqui, com o volume 2 (Tem um fantasma na minha calça) a espera dela. Isso que ela tem 8 anos, imaginem quando tiver a minha idade. E quando tiver a idade da bisa então, nem se fala! Vai ter devorado toda a Biblioteca Nacional. Com certeza, um exemplo a ser seguido, a minha filhota. Méritos para a minha noiva: Cris.
Assim como a Laura, a Livraria Cultura também é um exemplo a ser seguido. Comprando lá, ganhei ainda a Revista da Cultura. Sinceramente, a maioria das revistas atualmente são vendidas, as mais baratas, a R$8, R$9. Essa eu ganhei de graça. E não fica em nada atrás das outras. Só matérias boas, entrevistas interessantes, textos inteligentes. Até a publicidade é de tirar o chapéu. Vejam só essa, da Alvorada Seguros, toda em letras de jornal, com a cartola “Política”:
- Há 30 anos, ninguém apostaria num ator para presidente dos Eua.
- Há 5 anos, ninguém apostaria num negro para presidente dos Eua.
- Hoje, ninguém apostaria num gay para presidente dos Eua.
- O futuro do mundo é previsível. O seu não. Faça um plano de previdência.
Quase gastei o resto do saldo do meu celular para fazer um seguro com os caras. Só que, no momento, infelizmente não posso. Bem, depois de ter gasto o que não podia, pra variar, comprando livros, fiquei no andar superior, próximo ao auditório onde ocorreriam as palestras, lendo o livro “Aula”, de Roland Barthes, que retirei da biblioteca da PUCRS para a produção de um dos quatro artigos que tenho que terminar até o final de junho.
Lá pelas tantas, abriram o auditório. Palestraram: Carlos Etchichury, Carlos Wagner, David Coimbra, Dione Kuhn, Humberto Trezzi e Nilson Mariano, com a mediação do diretor de redação de ZH, Ricardo Stefanelo. Uma belíssima iniciativa. Não posso contar aqui todas as histórias que ouvi, por uma questão de espaço, e, admito, de falha de memória. Algumas estão no livro, outras não. No total, contando as perguntas, a palestra durou cerca de duas horas. Também assumo aqui que, quando terminou a palestra, após um cara que estava na minha frente fazer uma pergunta, quando percebi que ninguém mais questionaria nada e que o papo, que estava tão bom, se encerraria, ergui a mão para fazer uma pergunta. Confesso que foi mais no sentido de tentar explorar o conhecimento dos seis que estavam no palco e evitar que o evento se encerrasse, do que qualquer outra coisa.
- Bom, meu nome é Eduardo, também sou jornalista, mas estou desempregado. Gostaria de saber como cada um de vocês entrou em ZH e se já haviam trabalhado em outros jornais anteriormente?
Não vou colocar as respostas, até porque não lembro de todas. Mas depois, outras pessoas fizeram outras perguntas, e, modéstia parte, graças a minha pergunta a palestra durou mais uns 40 minutos, pelo menos. Ah, e pela segunda vez me identifico como desempregado. Da outra vez, num seminário da ARI, em 2007, fiz uma pergunta parecida. Dias depois, quando fui começar a o estágio na Rádio Gaúcha, falei para o Zé Aldo Pinheiro:
- Eu estava naquele seminário que você falou.
- É mesmo?
- Sim. Eu perguntei tal e tal coisa.
- Ah, tu é o desempregado. Mas como tu veio parar aqui?
Enfim. Mas dessa vez a situação é diferente. Falei desempregado, mas omiti que estou fazendo mestrado. Lembro que a resposta do Carlos Wagner foi como se estivesse falando para um estudante do 1° semestre da graduação. No entanto, foram valiosos os conselhos que ele me deu.
Já depois da palestra, teve a famosa sessão de autógrafos. Tentei lembrar antes se já tinha entrado em fila de sessão de autógrafos, e acho que essa foi a primeira vez. Legal. Conheci uma galera engraçada. Até contei para um gordinho daquela vez que eu e o Arion Moreira tomamos um porre sem querer na UPF, num coquetel que entramos de furo na Jornada Nacional de Literatura de 2005. Aliás, dessa vez também tinha bebida, só que o primeiro garçom trouxe uma bandeja que só tinha água. E sem gás! Como um garçom oferece água sem gás num coquetel? Depois que chegou outro com vinho, comentei com o gordinho: agora sim estamos falando a mesma língua.
E quando chegou a minha vez, contei para o David que escondi aquele livro da “Cris, a fera”, onde ele escreveu junto ao autógrafo “Eduardo, cuidado, todas as Cris são fera”, fazendo uma referência a minha noiva, obviamente. “Escondi aquele livro. Ta loco, vai que ela goste da idéia”, comentei. O Humberto Trezi ficou rindo, comentando “o cara escondeu teu livro da namorada!”. Meio sem jeito, o David explicou: “é que a Cris do livro literalmente matava os caras”.
Para encerrar, o Carlos Etchichury, ou o Carlos Wagner, sei lá, não da pra entender a letra, escreveu: “boa leitura e não desista da reportagem”. Certamente não desistirei. Isso é pior que cachaça. Já o Humberto Trezzi foi mais otimista, e escreveu a seguinte dedicatória: “Ao futuro emprego!”. E que assim seja.

Foto: Genaro Joner, www.zerohora.com
PS: Por favor, seu Joner, não me processe. Se você fizer isso, serei preso, já que não tenho como lhe pagar pelos direitos autorais. Não passo de um pobre jornalista desempregado metido a escritor que está na luta por um lugar ao sol. Thanks.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Conversa de bar – O retorno

Após uma hora catando livros na biblioteca da PUCRS (estou com oito aqui, não achei dois que precisava: um terei que comprar e outro terei que dar um jeito, não sei como), dia desses, achando que a profecia da nossa ex-governanta lá da casa dos meus pais (a Dona Maria), em Santo Ângelo, iria se concretizar (de que quem lê muito fica louco) acabei indo até a Venâncio, tomar umas no bar do tio. No entanto, conversando com um amigo meu, que foi até lá para trocarmos uma idéia, lhe disse que ler certos livros, em certa quantia, tinha um efeito parecido com o de beber destilados e afins. Ou seja, você nem precisa beber para ficar meio maluco, ou maluco completo, enfim.
Ainda tomava o primeiro copo, quando resolvi sair do balcão e me acomodar em uma mesa, onde eu, meu amigo, e os outros clientes (quatro), e o tio (do outro lado do balcão), formávamos uma espécie de mesa redonda. Na verdade eu fiquei mais ouvindo as conversas, do que propriamente dando palpites. E as discussões eram as mais filosóficas possíveis. Eis que, em meio a discussão sobre o próximo presidente do Brasil, um diz, dedo indicador da mão direita em riste, enquanto um copo de conhaque é segurado na mão esquerda:
- Não adianta se preocupar com isso. Nós estamos atrasados. Daqui alguns anos não vai mais ter essa de presidentes. Vai ser um presidente só. Para o mundo todo. É o Estado Único! E sabe qual vai ser esse presidente? – perguntou em tom desafiador para o outro, que também com um copo de conhaque na mão, respondeu:
- Não.
- O presidente do futuro se chama Globalização!
- Psssss. Mas a gente não vai ta vivo pra vê isso – disse o outro.
- Ta, mas isso não nos impede de discutir o negócio.
E seguiram com a discussão.
Já um senhor, que deve ter mais de 70 anos, cabelo bem branco, e voz de locutor de rádio, estava indignado com os comunistas.
- Eles são que nem barata. Todo mundo pensa que sumiram, mas ficam ali, embaixo, no subterrâneo, e quando menos se espera eles voltam! E pior que quem não conhece a história acredita no papo deles. Matar eles é como matar o corpo. Mas a alma fica! E eles voltam! – dizia em tom de profecia para o meu tio, que sem muita paciência, com a testa franzida caracteristicamente balançava a cabeça como se concordasse, mesmo sem estar se lixando para as pirações do velho, que em outros tragos em outros dias, xingava e ameaçava os negros que passassem na frente do bar. No entanto, quando ele deu uma declaração racista, o outro cliente, que é uma mistura de Eduardo Bueno (o Peninha) com algum integrante da banda Ramones (mesmo estilo de cabeço, narigudo, alto e magro) disse:
- Cuidado com essa posição de ditador que quer exterminar quem está fora do sistema. Um dia alguém toma conta da situação e não vai com a cara do senhor, e aí é o senhor quem vai para a guilhontina.
O velho ficou olhando para o interlocutor, como se estivesse na dúvida se quebraria a garrafa na sua cabeça, ou mandaria à merda. Mas não fez nada. Volta e meia o velho repetia “são que nem baratas! Você mata o corpo, mas a alma fica! Não tem como exterminar essa praga do comunismo!”. Lembrei da minha amiga revolucionária, terrorista, Lara Nasi. Ainda bem que ela não estava ali, senão haveria a terceira guerra mundial naquele bar. Aliás, a terceira guerra foi outro tema debatido.
- A terceira guerra vai ser dos americanos contra a China!
- Mas a China não tem cacife para os americanos.
- Mas daonde? Os viatnamitas colocaram os gringos pra correr.
- Mas a gente não vai ta vivo pra ver isso – insistia o outro.
- Vai ser contra o Japão – disse um senhor que estava sentado em outra mesa.
- Vai ser contra o Brasil – brincou meu amigo.
- O Brasil não tem exército. Uma vergonha um país desse tamanho, com todas as riquezas, não ter exército que preste.
- Aqui em Porto Alegre, diz que dão sopão com azeite quente e baratas mortas pra milicada, um cara me contou outro dia.
- O exército é um mal necessário – disse o velho, que olhando para os lados, completou, como se estivesse em plena ditadura militar – sei que se entra um milico aqui ele me prende, mas é verdade. O exército é uma porcaria que tem que existir. Mas do jeito que está, não fizemos frente nem para o Uruguai.
- Para o Uruguai? – indagou o clone do Peninha – aí o senhor está avacalhando. Para a Argentina até pode ser, mas o Uruguai não existe.
E assim seguiram as discussões, até que o clone do Peninha percebeu que eu só observava e dava risada.
- Esse guri aí, fica quieto só rindo....
- Esse é jornalista. Cuidado que ele põe tudo no jornal amanhã – disse o outro senhor, que me conhecia.
- Ah, então é por isso. Ele deve estar pensando “que que essa velharada bêbada fica falando bobagem?” – e se matou de dar risada, tomando mais um gole de canha.
- Sou sobrinho do seu Ritter – expliquei.
- Ah. Mas é jornalista... então, o que tu acha da terceira guerra?
- Eu não sei de nada.
- E dos comunistas ?– perguntou-me o velho.
- Não sei de nada e não conheço nenhuma Lara Nasi – retruquei.
Um pouco depois, começaram a discutir a origem da humanidade.
- E o que adianta saber de onde a gente veio? Não vai mudar nada, se foi do Adão e Eva, ou se foi da evolução do macaco.
- Da evolução do macaco eu sei que não foi! – bradou o velho.
- E do Adão e Eva também não, isso é literatura, mitologia, sei lá eu.
- Então, se não foi nem do Adão e nem do macaco, de onde viemos? – indagou filosoficamente outro.
- E eu vou saber? Não sei nem de onde veio esse negócio que estou tomando...
- Eu sei que bíblia é metáfora. – falou professoralmente o irmão perdido do Peninha – Não me venham com essa de Moisés que abriu o Mar Vermelho. O único cara que abriu o mar vermelho foi um comandante da BM. Lembro como se fosse hoje: era grenal, e um cara da torcida do Inter foi atirar uma daquelas bixiguinhas de mijo na torcida do Grêmio e acertou a cabeça do comandante. Aí ele foi lá, e literalmente abriu o mar vermelho para prender o maluco.
E assim seguiu a conversa por mais algum tempo, até que fui embora, antes que perdesse o último ônibus para o Partenon. E você, já viu alguém abrir o mar vermelho, além do comandante da BM? E o que acha da terceira guerra? E dos comunistas???

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Pingos de amor

Ontem, ao ir assistir a Grêmio e San Martin no Olímpico, fiquei pensando nos meus pais. Primeiro vou contar o que aconteceu, e em seguida, explicarei porque pensei no seu Nabuco e na Dona Nara, que estão de donos do campinho lá em Santo Ângelo. É praticamente uma Hermenêutica de Profundidade. Em miniatura e hiper-simplificada, diga-se de passagem. Pronto, já estou fazendo piadinha acadêmica, tinha medo que isso um dia fosse acontecer comigo. Mas enfim.
Como foi amplamente divulgado pelos meios de comunicação, caiu um toró de água por volta das 18h. Mesmo reduzindo a intensidade, a chuva prosseguiu até umas 22h. Apesar disso, por volta das 20h, saí do meu apartamento rumo ao Olímpico, com um guarda-chuva meio capenga, daqueles que protege praticamente só a cabeça. Peguei o T1 em frente da PUC e desci na frente do prédio da RBS, o que quer dizer que dei mais uma bela caminhada, pisando em poças d’água e em lajotas soltas, até o estádio Olímpico. Cheguei lá com o sapato encharcado, bem como as calças até o joelho. Mas que nada. A torcida do Grêmio, mesmo faltando mais de uma hora para o jogo, pulava e cantava: Vamos ser... outra vez nós dois. Vai chover... Pingos de amor! Laia-laia-laia-laia-laia. Grêmio, Grêmio! Laia-laia-laia-laia-laia. Grêmio, Grêmio!
E é aí que eu queria chegar. Sentado nas cadeiras do estádio Olímpico, todo encharcado, mas feliz da vida por estar ali, é que pensei nos meus pais. Primeiro pensei na minha mãe, a dona Nara. Certamente, se ela me visse, não entenderia a minha alegria por estar lá, e diria algo como: “mas o que tem de mais? É só um estádio como qualquer outro. Que tem de mais na torcida cantando? É igual a todas as outras”. Explico que ela é colorada. E acrescentaria: “vai pegar uma gripe, guri”. Já meu pai, o seu Nabuco, diria algo parecido com: “tu é bobo guri? Andar a pé nessa chuva para ver 22 marmanjos, que não te dão nada, correr atrás da bola. Eu é que não faço isso”. Mas, apesar do discurso, e de encher a boca para dizer “eu não sou gremista fanático”, sei que meu pai é fanático sim, e já fez coisas parecidas com isso. E ele também acrescentaria: “vai pegar uma gripe, guri”. Mas é por isso que eles são meus pais. E também é por isso que (olha o clichê) eu amo eles, e acho graça dessas preocupações. Porque só quem ama se preocupa se você vai pegar uma gripe, ou se você vai pegar o ônibus de volta para casa depois da meia-noite e vai andar por ruas desertas e escuras até chegar ao seu apartamento, e pensa na possibilidade de dar uma briga na torcida e te pegarem, enfim, só quem ama pensa nisso tudo. E só quem ama para, apesar das advertências, compreender isso tudo...

terça-feira, 12 de maio de 2009

Quem procura acha


Esses dias estava procurando meu radinho de pilha para ir no jogo do Grêmio, e não achava, no entanto, encontrei o cabo da máquina para baixar fotos, que estava desaparecido há algumas semanas. Depois, fui procurar um xérox para a aula do outro dia, e também não encontrei, mas por outro lado, achei o radinho. Aí, dias depois, procurando um livro que preciso ler para fazer um dos quatro artigos desse semestre, achei o xérox, contudo, o livro ficou para outra hora. Mas o pior foi dia desses, quando procurava minha samba-canção azul marinho quadriculada e achei o dito livro! Agora preciso achar o MP3, porém, tenho a leve impressão de que vou achar a cueca samba-canção...
No exato momento em que acabo de escrever essas linhas, chega a minha irmã revirando a pilha de livros e xérox que estão espalhadas por todo o quarto, procurando pelo celular. O tal aparelho ela não encontrou, por outro lado, a guria achou o MP3 dela, que também estava desaparecido. Agora ela pegou o meu telefone e ligou (a cobrar, porque estou sem saldo há alguns meses) para o número dela. Pronto, achou. Coisas que acontecem com quem pensa demais na humanidade... Se meu pai (seu Nabuco) estivesse aqui, certamente ele diria "se vocês não arrumarem, vou jogar tudo pela janela!".

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Eternas diferenças

Jogo entre Grêmio e Santos no último domingo. Público total: 44 mil pessoas. Homens: 24 mil (pagantes). Mulheres: 20 mil (não pagantes). Antes de pular para o próximo texto, já adianto que não vou falar de futebol, mas sim, da infinita discussão entre as “manias” de homens e mulheres. E, por incrível que pareça, foi nesse público feminino recorde em um estádio de futebol que pude perceber diversas diferenças entre homens e mulheres, que não há revolução feminista nem machista que mude.
Ia começar falando da minha irmã, Cartolina, mas as proezas dela nesse jogo merecem um espaço mais destacado, no final do texto. Vou começar por uma história inocente. De mãe, afinal, domingo era Dia das Mothers. Estava eu, sentado na minha cadeirinha azul na parte superior do Monumental, louco para estar na geral, pulando com todo mundo, quando de repente, após mais um erro do árbitro, quando a torcida começava a homenagear a mãe do árbitro com o tradicional “filho da puta”, ouço uma voz de criança: “isso é nome feio, né mamãe?”. Tratava-se de uma garotinha, que devia ter, no máximo, quatro anos. A mãe, meio sem jeito, explicou: “é sim, minha filha. Nunca diga isso”. E a garotinha seguiu olhando para o campo, tentando entender porquê o estádio inteiro berrava em coro “filho da puta” se aquilo era um nome feio. Será que as mamães daqueles grandalhões não iriam brigar com eles também? Nem a teoria da complexidade de Edgard Morin conseguiria explicar a lógica (ou não lógica?) da situação praquela criança. Muito interessante.
Depois, outra mãe, mais nervosa, não conseguindo fazer o barrigudinho de uns 5 anos parar quieto na cadeira, acabou berrando: “se tu não parar, nós vamos pra casa agora!”. Santa cascatinha. Eu nunca perdoaria a minha mãe se ela fizesse isso comigo. Ficaria traumatizado. Mesmo que fosse dia das mães. Ser levado embora do estádio no meio do jogo? Nem com 5, nem com 95 anos. Já do outro lado, um senhor, com o filho de mais ou menos uns 7 anos, incentivava o moleque a cantar junto: “Inter cagão! Inter cagão!”. Diferença de gêneros já na infância.
Mas o mais interessante aconteceu com a minha irmã, que estava na geral, com a amiga Jaque e o namorado, Joãozinho. Explicar-me-ei: é que, como eu vou com a credencial da imprensa, fico nas cadeiras, enquanto eles tiveram que ir para a geral. No entanto, ela me contou que, de início, não sabia o que fazer. Então, ela ficava observando os outros, aí depois que todo mundo fazia o tradicional “uuuuuuuhhhhh” após um gol perdido, é que ela berrava “uuuhhhhh!”. Meio Mr. Been isso, mas tudo bem. Agora, o auge do negócio ocorreu quando fomos fazer um lanche. Eu e o Joãzinho estávamos projetando animadamente quem o Grêmio pode pegar na semifinal da Libertadores (considerando que Cuencas e Caracas não são adversários que se prezem para as quartas-de-final), comentando que é preferível pegar o São Paulo do que o Cruzeiro, e minha irmã começa a conversar com a Jaque sobre “molho madeira”. Eu comecei a rir, e ela achou que eu tava rindo do que ela contava, e arregalou os olhos e disse “mas era molho madeira mesmo”. Enfim, só a mulherada mesmo pra falar em molho madeira após sair de um jogo em um estádio de futebol. No entanto, a noite não havia acabado, e quando estávamos indo embora, eu comentando com o Joãozinho que o Rui Cabeção não acerta um mísero cruzamento, a minha irmã me olha com ar curioso e com a testa franzida pergunta: “quem é Rui Cabeção??”. Definitivamente minha irmã entende de futebol tanto quanto eu de molho madeira...
* Na foto: eu, Joãozinho e Cartolina, fotografados por Jaque.

Eu não confio neles


Lancherias, restaurantes, supermercados, minimercados e laboratórios de informática. Eis um conjunto de estabelecimentos que, se não fosse pela necessidade, eu sempre passaria longe. Atravessaria a rua para não ter que encará-los, inclusive. Comecemos pelos dois primeiros: lancherias e restaurantes. Lancherias, no gauchês. Da fronteira com Santa Catarina para cima, lanchonete. Não sei porquê, mas para mim lanchonete sempre me soou a marca de margarina. Enfim...
Já desisti de contar quantas vezes recorri aos serviços de lancherias e restaurantes e acabei me frustrando. Você fala com todas as letras “eu quero A + B sem ovo e nem maionese”, e os caras trazem C + D, e pior, ou com ovo, ou com maionese, ou com os dois! Pensei até em encomendar com a minha amiga terrorista Lara aquelas plaquinhas que ela usou na formatura para identificar quais eram os doces “sem ovo”. Antes de ir a um restaurante, eu colocaria um boné e penduraria em cima a plaquinha “sem ovo”. Mas daí é possível que pensem que eu não tenho ovos, melhor não... Realmente, essa ideia da plaquinha não foi uma boa ideia. No entanto, não cometerei injustiças. Existem alguns poucos restaurantes e lancherias (e incluem-se aí também as pizzarias e afins) que entendem português e capricham no cardápio sem ovo e sem maionese. E por isso que eu me torno freguês assíduo desses estabelecimentos, como por exemplo, uma lancheria aqui perto de casa que faz X sem ovo e sem maionese. Eu chego lá, o cara me olha e já diz: “já sei: X de coração sem ovo e sem maionese”. Ou senão, a Padaria Pão Sul, lá de Santo Ângelo, onde compro desde os, sei lá, 10 anos. Essa questão parece simples, mas não é. Em outra lancheria, aqui perto mesmo, depois de eu ter dito umas 20 vezes que NÃO POSSO COMER NADA COM OVO NEM NADA QUE VÁ OVO PORQUE TENHO ALERGIA, esses dias fui pegar uma a la minuta SEM OVO E SEM MAIONESE. Só que quando cheguei em casa, abri o tal do pote, e em cima do bife e do arroz não tinha ovo, porém, havia resquícios do ovo. Ou seja, tinham colocado, aí, sei lá, imagino que tenham lembrado que era sem ovo, e tiraram a merda do ovo de cima da comida. No fim, só comi o que estava abaixo da linha do ovo. Para você, leigo em alergia a ovo, explico: se tiver resquícios de ovo, também faz mal, inclusive, já aconteceu diversas vezes de não ter ovo, por exemplo, no X, mas só de fritar o dito cujo na mesma chapa da carne, já está criado o quadro catastrófico. Mas chega de falar em lancherias e restaurantes.
Vamos agora ao segundo grupo: super e mini-mercados. Eu chego no dito estabelecimento, pego aquelas cestinhas, bem “inhas” mesmo, encho-as com 4 pãesinhos, dois litros de Coca, um pacote de batata palha, e me dirijo para a menor fila do caixa. É só eu me fixar em uma fila, que algo acontece. Ou o cliente que está sendo atendido briga com a atendente, ou tranca a maquininha, ou a pessoa que está sendo atendida esqueceu alguma coisa e pede para a avó, de 80 anos, ir procurar, e depois de meia hora ela volta, e por aí vai. E enquanto isso, eu fico vendo as filas gigantescas dos caixas ao redor andarem, até que elas ficam menor do que a minha. Isso tanto nos grandes mercados, como Carrefour, Nacional ou Zaffari, quanto no mercadinho ali da esquina.
E por fim, chegamos ao laboratório de informática. Em especial, o da universidade. Quando preciso imprimir algo, chega a me dar um frio no estômago. Hoje descobri que tinha um problema na minha conta. Explicarei-me-ei: nós, estudantes, podemos imprimir 20 cópias por dia. Só que, às vezes eu ia imprimir umas 15 páginas, chegava num ponto X, e não ia mais. E eu, como sempre, ia lá pedir para o laboratorista me ajudar, e todo esse processo, que inicialmente era para ocupar uns 10 minutos, acaba ocupando no mínimo meia hora. E hoje descobri que havia um problema na minha conta: meu cadastro estava limitado a 10 páginas. O porquê disso, não faço a mínima idéia. Mas disseram que vão corrigir. No entanto, hoje fui imprimir faltando 15 minutos para a aula, e disseram aquela frase mágica “o sistema está fora do ar e vai demorar a voltar”. Pffffff.
Restaurantes, super-mercados, laboratórios de informática, lancherias e mini-mercados: sempre acontece algo estranho nesses lugares.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O sanduíche assassino

Esse post era para ser sobre a Sociedade do Espetáculo, do Guy Debord, influenciado e emplogado pela última aula do professor Juremir, mas como meu computador demora demais para abrir cada programa, enquanto esperava alguns minutos até abrir o Word, acabei lembrando de alguns acontecimentos que queria ter comentado em outras oportunidades, e que acabaram ficando para trás, portanto, deixarei o Debord para outro post, e vou tratar desses casos mal resolvidos.
Primeiro, acordei hoje com uma mensagem da minha ex-colega Shirley no celular. Como vocês perceberão, ela, que se formou comigo, não lê o meu humilde e modesto blog. Saquem só o que dizia a referida mensagem: "Dudu! Não faz a vacina contra a Febre Amarela! Diz que quem tem alergia a ovo não pode tomar!". Vejam vocês, nobres leitorinhos. A Shirley sempre foi minha amiga, e agradeço por demais a preocupação dela, porém, se eu dependesse do caridoso aviso, já estaria morto há aproximadamente uns 5 ou 6 meses, quando estourou o caso lá em Santo Ângelo... Mas nunca é demais lembrar...
Outro caso que me veio à memória, ocorreu no início de março, quando ainda estava indo nas aulas da Unisinos, pois não sabia do resultado das bolsas da PUC. Um dia fui mais cedo a São Léo, e resolvi fazer um lanche no campus. Dessa vez não queria salgadinho, bolacha recheada, chocolate, essas coisas artificiais que nem sei como se fazem. Queria algo mais natural. Foi então que avistei aquela fila de sanduíches, que pareciam muito apetitosos. Achei que não seria nada demais perguntar se havia ovo ou maionese.
- Escuta, esses sanduíches, vocês só tem prontos ou tem como fazer um?
- Não, é só esses prontos - respondeu-me a moça.
- Hmmmmm. E algum deles é sem ovo ou maionese?
- Como assim?
- Tipo, sem ovo e sem maionese, saca?
A mulher não estava entendendo. Acabou chamando um cara, que parecia ser o chefe, e os dois ficaram confabulando em voz baixa em um canto do bar. Por fim, veio o cara falar comigo:
- Qual o problema?
- Nada não, só queria saber se tem algum sanduíche que não vá ovo ou maionese.
- Como assim?
- Tipo, sem ovo e sem maionese...
- Hmmmmm.
E o cara saiu. Em pouco tempo, todos os cozinheiros do bar (uns 6) a mulher e o chefe estavam em um círculo confabulando. Entre os zunzunzuns deles, algum rosto voltaemeia me olhava desconfiado. Senti-me um terrorista. Comecei a imaginar uma sirene tocando, helicópteros descendo, homens mascarados invandindo o prédio com metralhadoras, berrando: "mãos na cabeça! Devagar! Vai se deitando com as mãos na cabeça, man!". Comecei a suar frio. Os outros clientes me olhavam com desconfiança. Eu com os olhos arregalados, pele pálida, suando o sovaco, a testa, o tornozelo, as nádegas... lembrei-me daquela piada sem graça que sempre faziam no verão (inclusive eu, na bobalidade da adolescência): "como sua bunda no verão, né?". Quase ri, mas quando voltei a ver aquelas pessoas confabulando misteriosamente sobre o meu pedido, acabei ficando apreensivo novamente. Após alguns minutos, que para mim pareceram horas, dias, meses, anos, séculos (!) o cara com cara de chefe voltou.
- Olha. Temos esse aqui - e me mostrou um sanduíche com cara e jeito de sanduíche - que, pelo que disseram os cozinheiros, não vai ovo.
Olhei para o sanduíche. Suspeito. Muito suspeito.
- Olha, vocês tem absoluta certeza de que não vai ovo nem maionese? - aí tive que confessar - é que... sou alérgico a tudo que vai ovo, e se tiver, eu vou parar no hospital... - disse timidamente.
O cara me olhou com olhar grave, como se descobrisse que eu era um extraterrestre, uma aberração ou exilado do regime Sadan Hussein, e respondeu:
- Só mais um minuto.
E por mais algum tempo eles ficaram lá, confabulando, até que ele voltou.
- É, não vai nada não. Pode comer.
Então, convencido de que não tinha ovo nem maionese, comprei o referido sanduíche. No entanto, ao sentar, eu abri e fui dar a tradicional espiadinha, de canto de olho. Arrá! Tinha uma gosma, tipo maionese, manjam? Fui lá cheio de razão, como se tivesse descoberto um plano do Arion e da Lara para me matar.
- Ei, tem maionese nesse sanduíche - falei astuciosamente para a moça. Ela ergueu uma sombrancelha e disse:
- Ãh?
- Tem maionese aqui, girl! Vocês disseram que não tinha maionese, mas veja só, tem sim, olha aqui ó - e apontei para a gosma.
Ela riu. Pasmem, ela riu!! Na minha própria cara, ela humilhantemente riu da tragédia que se aproximava!
- Não é maionese, seu moço. É requeijão.
Requeijão. Meu mapa mental, talvez afetado pelos dois mestrados que fazia em março, não me trouxe nenhuma imagem do tal requeijão. Requeijão, requeijão, requeijão... sei lá, só me lembrava a queijo. Mas será que vai ovo nesse troço? Pra não ficar na dúvida, acabei perguntando:
- Mas vai ovo nisso?
Ela riu de novo. Gostava de rir de mim, aquela garota. Riu, e respondeu:
- Não seu moço.
O seu era pela minha velhice, e o moço pela minha jovialidade. Muito bom. Acabei comendo, e não morri, como vocês percebem. Mas enfim, depois dessa, nunca mais peço sanduíche pronto!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Palavras (e alma) à venda


“A maioria dos homens, neste Vale de Lágrimas, move-se por dinheiro, fama ou poder. A grande maioria. Alguns poucos não. Alguns poucos, o que lhes importa é o que carregam na alma, o que acreditam, suas crenças, suas ideias, seus sentimentos. E isso é intangível, e é poderoso”.
Cara, acabei de copiar, na base do control C + control V, exatamente às 1h42 da madrugada, essa frase do blog do David Coimbra. Caralho, eu achei que estava sozinho no mundo, mas agora vejo que não. Graças ao bom sei lá o quê, existem almas que não estão submetidas ao capitalismo. Como já disse, não que ter dinheiro seja ruim, longe disso. Adoraria ganhar milhares de reais por mês, poder trabalhar anonimamente e caridosamente em prol de causas beneficentes, mas não me submeto a todo o tipo de coisa por isso (ganhar dinheiro). Não me submeto às vontades do meu cachorro, dos meus “amigos”, dos meus “parentes” e muito menos dos meus “chefes” temporários por conta desse pedaço de papel que compra a moral e a alma das pessoas. Tem gente que coloca tudo à venda pelo dinheiro: a família, os amigos, o cachorro, o pai, a mãe, o marido, o passarinho, a esposa, o peixe do aquário, o presente do namorado ou da namorada, e, acreditem, até o filho ou a filha por conta disso. Parece inacreditável, mas existe, juro pelo Jimbo. É como se fossem levar para a cova a porra do dinheiro que acumulam. Mas eu, meus amigos, podem me chamar de idiota, de babaca, de imbecil, do diabo a quatro, mas eu, EU não estou à venda, nem aqui, nem no Afeganistão. Tudo o que tenho feito nesses 27 anos de vida tem sido com o objetivo de ser feliz e fazer aqueles que vivem ao meu redor, felizes. De uma forma, ou de outra. E no dia que eu perceber que não poderei mais ser feliz, e que ninguém mais ao me redor poderá ser feliz às minhas custas, eu, como um bom suicida, suicidarei-me-ei (conforme ensinou-me gramaticalmente meu primo Gérson). Mas fiquem tranqüilos que isso não ocorrerá, já que sei que pelo menos a felicidade dos meus cachorros, mesmo estando longe deles nesse momento, está ligada à minha sobrevivência. E a da minha irmã, apesar dela brigar comigo diariamente, também.
No entanto, em um mundo onde as pessoas optam por fazer tal curso de graduação porque vai lhe render tanto, e depois, no mestrado, algumas pessoas estão lá porque vão ganhar mais do que se tiverem apenas o canudo de formado, e no meio disso tudo você vê um cara dando golpe até na sombra pra tentar garantir uma vida tranqüila (e será tranqüila, sabendo que foi conquistada na base de um golpe?), e no meio disso tudo, você vê algumas pessoas que você admira ovacionando a amiga ou amigo que deu o golpe do baú no velho rico ou na velha rica... cacetada, e no meio dessa porra toda, você vê um padre dizendo que se você não pagar o dízimo você está roubando de Jesus, meu, sinceramente, dá vontade de voltar para a barriga da minha mãe, e ficar lá, no quentinho, sem me estressar com a podridão dessa ganância que cega o ser humano e o transforma igual ao cachorro, que mata a própria mãe para comer a sobra do churrasco do dono. Por favor! Ainda bem que existem as palavras... que aliás, todos querem compra-las.... R$50 por linha ta na mão!

terça-feira, 5 de maio de 2009

O Inspetor Santana

Novamente peço desculpas aos nobres leitorinhos tupiniquins pelo meu sumiço no blog, já que não posto nada aqui há uma semana. Isso ocorreu porque fui para Santo Ângelo no feriado, e com isso, acumulou um monte de leitura para as próximas aulas do mestrado, já que não consegui ler muito em solo missioneiro.
Por esse motivo também tentarei ser breve agora. Acabei de chegar de uma palestra do Paulo Santana e do diretor de redação de Zero Hora, Ricardo Stefanelli, no auditório do prédio 9 da PUC. O Santana começou meio morno, fazendo algumas piadas prontas, mas depois que engrenou, ficou bonito de ver. Já o Stefanelli pareceu ser aquele típico jornalista de jornal impresso, com jeito tímido e olhar sério. Mas sei que é bem receptivo. Foi graças a ele que a minha alergia a ovo foi divulgada em todo o Rio Grande (ver post antigo, de quando saiu a matéria na ZH sobre a minha alergia e a impossibilidade de ser vacinado contra a febre amarela em uma região de risco).
Enfim, da fala do Santana vou destacar apenas duas histórias, por uma questão de espaço e tempo. Mas antes disso, quero dizer o seguinte: muita gente adora, mas também muita gente odeia ele (a maioria jornalistas). Inclusive um colega meu, quando lhe informei sobre a palestra, disse: “bah, então vou poder xingá-lo pessoalmente!”. Muitos jornalistas formados odeiam o Santana. Mas não estou entre eles, pois foi justamente na minha adolescência, quando eu tinha uns 13, 14 anos, que peguei gosto pela leitura de jornal impresso, em especial da ZH, através da sua coluna. O mesmo ocorria com a TV. Eu era gremista fanático, e me identificava com ele, e foi através desse contato, ou dessa admiração inicial, do seu texto e da sua fala, que, entre outros fatores, foi despertada em mim a vontade de fazer jornalismo. Com o tempo, minha admiração por ele deixou de ser aquela coisa de tiete, e agora o admiro mais pela sua história e pela forma como ele conseguiu se manter na grande mídia (pelo menos a gaúcha), do que pelo que ele escreve ou diz.
Bom, vou contar rapidamente aqui duas histórias relatadas pelo Santana. Na primeira, ele revelou como ingressou na RBS. Eu lembrava que ele tinha sido inspetor de polícia, mas não sabia, ou pelo menos não recordava, como havia sido a sua entrada no grupo. Em resumo, ele contou que um dia estava visitando a ZH, na mesma época em que nascia o programa Sala de Redação, que vai ao ar até hoje na Rádio Gaúcha. Na época, o programa era apresentado da própria redação da ZH, daí o nome Sala de Redação. E eis que o Santana estava visitando o jornal naquele dia, quando de repente, ele viu o apresentador lhe chamando com o dedo, no meio do programa, e lhe convidou para um bate-papo ao vivo. Ele conta que só falava em Grêmio, Grêmio, Grêmio... “Hoje me envergonho de tanto fanatismo”, brincou. Como deu audiência, no outro dia o apresentador lhe convidou para ir novamente ao programa. E no outro dia de novo, e no outro de novo, e assim sucessivamente, até que, um mês depois, ele foi contratado para integrar o programa para escrever na ZH. E foi assim que o Santana entrou no grupo RBS para se tornar, não diria o melhor jornalista gaúcho de todos os tempos, como ele mesmo modestamente se autodenominou, mas provavelmente o mais popular (pelo menos da atualidade).
Já a segunda história foi contada a partir da pergunta de um aluno: se ele tinha total liberdade para escrever as suas colunas? Ele respondeu que sim, mas que com o tempo aprendeu a lição sobre o que podia e o que não podia escrever, e recordou de certa vez, logo que lançaram o Fiat Uno, que ele escreveu uma coluna inteira falando mal do carro. “Eu disse que era apertado, que não tinha espaço, que tínhamos que se espremer para entrar nele, enfim, questionei como poderiam considerar aquilo um carro”. E eis que no dia seguinte, às 7h da manhã, o representante da Fiat na América Latina liga para a ZH para falar com o chefão do jornal para perguntar “você viu o quê o seu colunista fez no jornal de hoje?”. O Santana conta que na hora tinha certeza de que seria demitido, aliás, qualquer um teria, já que a Fiat era o maior anunciante do grupo RBS naquela época. No entanto, segundo o colunista, a direção lhe enviou uma carta dizendo que aquele episódio não afetaria em nada a relação entre ele e o jornal. Porém, no outro dia, ao invés de sair a sua coluna, saiu uma nota da Fiat, em uma espécie de direito de resposta. E a Fiat acabou ficando um ano sem anunciar no Grupo RBS (isso nas palavras do Stefanelli), mas, como com o tempo a empresa viu que ela também estava perdendo com a “briga”, acabou voltando atrás, e com isso, voltou a anunciar, e todos viveram felizes para sempre.
Por fim, queria fazer uma mescla de uma fala do Stefanelli, com a figura do Santana. O diretor de redação disse que existe um nível médio entre os jornalistas, mas que cada um pode ver no que é acima de média, e investir nisso. Por exemplo: o cara pode ser um expert em internet, ou em rádio, ou em TV, ou em planejamento gráfico, ou em texto, ou em foto, etc. Mas, entre os milhares de jornalistas que passaram pela ZH nos seus 45 anos de histórias, celebrados na última segunda-feira, quais são lembrados até hoje e se destacam dos demais, como é o caso do Santana? Simples: aqueles que se diferenciaram por pensar melhor do que a média. Ou, se não pensaram melhor, pelo menos tiveram mais coragem do que os demais e disseram, coerentemente, aquilo que pensam, e, na maioria dos casos, de forma polêmica.