.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Conversa de bar – O retorno

Após uma hora catando livros na biblioteca da PUCRS (estou com oito aqui, não achei dois que precisava: um terei que comprar e outro terei que dar um jeito, não sei como), dia desses, achando que a profecia da nossa ex-governanta lá da casa dos meus pais (a Dona Maria), em Santo Ângelo, iria se concretizar (de que quem lê muito fica louco) acabei indo até a Venâncio, tomar umas no bar do tio. No entanto, conversando com um amigo meu, que foi até lá para trocarmos uma idéia, lhe disse que ler certos livros, em certa quantia, tinha um efeito parecido com o de beber destilados e afins. Ou seja, você nem precisa beber para ficar meio maluco, ou maluco completo, enfim.
Ainda tomava o primeiro copo, quando resolvi sair do balcão e me acomodar em uma mesa, onde eu, meu amigo, e os outros clientes (quatro), e o tio (do outro lado do balcão), formávamos uma espécie de mesa redonda. Na verdade eu fiquei mais ouvindo as conversas, do que propriamente dando palpites. E as discussões eram as mais filosóficas possíveis. Eis que, em meio a discussão sobre o próximo presidente do Brasil, um diz, dedo indicador da mão direita em riste, enquanto um copo de conhaque é segurado na mão esquerda:
- Não adianta se preocupar com isso. Nós estamos atrasados. Daqui alguns anos não vai mais ter essa de presidentes. Vai ser um presidente só. Para o mundo todo. É o Estado Único! E sabe qual vai ser esse presidente? – perguntou em tom desafiador para o outro, que também com um copo de conhaque na mão, respondeu:
- Não.
- O presidente do futuro se chama Globalização!
- Psssss. Mas a gente não vai ta vivo pra vê isso – disse o outro.
- Ta, mas isso não nos impede de discutir o negócio.
E seguiram com a discussão.
Já um senhor, que deve ter mais de 70 anos, cabelo bem branco, e voz de locutor de rádio, estava indignado com os comunistas.
- Eles são que nem barata. Todo mundo pensa que sumiram, mas ficam ali, embaixo, no subterrâneo, e quando menos se espera eles voltam! E pior que quem não conhece a história acredita no papo deles. Matar eles é como matar o corpo. Mas a alma fica! E eles voltam! – dizia em tom de profecia para o meu tio, que sem muita paciência, com a testa franzida caracteristicamente balançava a cabeça como se concordasse, mesmo sem estar se lixando para as pirações do velho, que em outros tragos em outros dias, xingava e ameaçava os negros que passassem na frente do bar. No entanto, quando ele deu uma declaração racista, o outro cliente, que é uma mistura de Eduardo Bueno (o Peninha) com algum integrante da banda Ramones (mesmo estilo de cabeço, narigudo, alto e magro) disse:
- Cuidado com essa posição de ditador que quer exterminar quem está fora do sistema. Um dia alguém toma conta da situação e não vai com a cara do senhor, e aí é o senhor quem vai para a guilhontina.
O velho ficou olhando para o interlocutor, como se estivesse na dúvida se quebraria a garrafa na sua cabeça, ou mandaria à merda. Mas não fez nada. Volta e meia o velho repetia “são que nem baratas! Você mata o corpo, mas a alma fica! Não tem como exterminar essa praga do comunismo!”. Lembrei da minha amiga revolucionária, terrorista, Lara Nasi. Ainda bem que ela não estava ali, senão haveria a terceira guerra mundial naquele bar. Aliás, a terceira guerra foi outro tema debatido.
- A terceira guerra vai ser dos americanos contra a China!
- Mas a China não tem cacife para os americanos.
- Mas daonde? Os viatnamitas colocaram os gringos pra correr.
- Mas a gente não vai ta vivo pra ver isso – insistia o outro.
- Vai ser contra o Japão – disse um senhor que estava sentado em outra mesa.
- Vai ser contra o Brasil – brincou meu amigo.
- O Brasil não tem exército. Uma vergonha um país desse tamanho, com todas as riquezas, não ter exército que preste.
- Aqui em Porto Alegre, diz que dão sopão com azeite quente e baratas mortas pra milicada, um cara me contou outro dia.
- O exército é um mal necessário – disse o velho, que olhando para os lados, completou, como se estivesse em plena ditadura militar – sei que se entra um milico aqui ele me prende, mas é verdade. O exército é uma porcaria que tem que existir. Mas do jeito que está, não fizemos frente nem para o Uruguai.
- Para o Uruguai? – indagou o clone do Peninha – aí o senhor está avacalhando. Para a Argentina até pode ser, mas o Uruguai não existe.
E assim seguiram as discussões, até que o clone do Peninha percebeu que eu só observava e dava risada.
- Esse guri aí, fica quieto só rindo....
- Esse é jornalista. Cuidado que ele põe tudo no jornal amanhã – disse o outro senhor, que me conhecia.
- Ah, então é por isso. Ele deve estar pensando “que que essa velharada bêbada fica falando bobagem?” – e se matou de dar risada, tomando mais um gole de canha.
- Sou sobrinho do seu Ritter – expliquei.
- Ah. Mas é jornalista... então, o que tu acha da terceira guerra?
- Eu não sei de nada.
- E dos comunistas ?– perguntou-me o velho.
- Não sei de nada e não conheço nenhuma Lara Nasi – retruquei.
Um pouco depois, começaram a discutir a origem da humanidade.
- E o que adianta saber de onde a gente veio? Não vai mudar nada, se foi do Adão e Eva, ou se foi da evolução do macaco.
- Da evolução do macaco eu sei que não foi! – bradou o velho.
- E do Adão e Eva também não, isso é literatura, mitologia, sei lá eu.
- Então, se não foi nem do Adão e nem do macaco, de onde viemos? – indagou filosoficamente outro.
- E eu vou saber? Não sei nem de onde veio esse negócio que estou tomando...
- Eu sei que bíblia é metáfora. – falou professoralmente o irmão perdido do Peninha – Não me venham com essa de Moisés que abriu o Mar Vermelho. O único cara que abriu o mar vermelho foi um comandante da BM. Lembro como se fosse hoje: era grenal, e um cara da torcida do Inter foi atirar uma daquelas bixiguinhas de mijo na torcida do Grêmio e acertou a cabeça do comandante. Aí ele foi lá, e literalmente abriu o mar vermelho para prender o maluco.
E assim seguiu a conversa por mais algum tempo, até que fui embora, antes que perdesse o último ônibus para o Partenon. E você, já viu alguém abrir o mar vermelho, além do comandante da BM? E o que acha da terceira guerra? E dos comunistas???

4 Comentários:

  • Fala Dudu. Definitivamente para nós que trabalhamos na área, há uma definição sobre o pensamento das outras pessoas, sobre nosso oficio.
    Além de sermos Jornalistas, temos que saber História também.
    É Buuuuucha
    Abraços amigo, e o blog soudeijui não é meu não ....

    Por Blogger BritoAJ, às 16 de maio de 2009 às 15:29  

  • Cara, opiniao formada sonre tudo isso aì ainda nao tenho, precisaria tomar umas no bar do teu tio.

    Mas me lembro que nas minhas conversas de bar, ja criei multinacionais e fiquei rico o suficiente pra dar vida boa a meus ancestrais atè a terceira guerra.

    mas isso tb nao importa

    Por Blogger Zaratustra, às 16 de maio de 2009 às 15:29  

  • Eu só sei que não sei de nada e tb não conheço nenhuma Lara Nasi de sobrenome sugestivo.
    vai ver q é uma barata!!!!

    Por Blogger Simone de Beauvoir, às 18 de maio de 2009 às 10:35  

  • genial essa conversa! fiquei torcendo pra versão peninha do Joey Ramone dar uma porrada nesse velho nazista do caralho aê! e tu, vê se desce do muro, rapá!

    Por Blogger ababeladomundo, às 22 de maio de 2009 às 06:57  

Postar um comentário

<< Home