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terça-feira, 5 de maio de 2009

O Inspetor Santana

Novamente peço desculpas aos nobres leitorinhos tupiniquins pelo meu sumiço no blog, já que não posto nada aqui há uma semana. Isso ocorreu porque fui para Santo Ângelo no feriado, e com isso, acumulou um monte de leitura para as próximas aulas do mestrado, já que não consegui ler muito em solo missioneiro.
Por esse motivo também tentarei ser breve agora. Acabei de chegar de uma palestra do Paulo Santana e do diretor de redação de Zero Hora, Ricardo Stefanelli, no auditório do prédio 9 da PUC. O Santana começou meio morno, fazendo algumas piadas prontas, mas depois que engrenou, ficou bonito de ver. Já o Stefanelli pareceu ser aquele típico jornalista de jornal impresso, com jeito tímido e olhar sério. Mas sei que é bem receptivo. Foi graças a ele que a minha alergia a ovo foi divulgada em todo o Rio Grande (ver post antigo, de quando saiu a matéria na ZH sobre a minha alergia e a impossibilidade de ser vacinado contra a febre amarela em uma região de risco).
Enfim, da fala do Santana vou destacar apenas duas histórias, por uma questão de espaço e tempo. Mas antes disso, quero dizer o seguinte: muita gente adora, mas também muita gente odeia ele (a maioria jornalistas). Inclusive um colega meu, quando lhe informei sobre a palestra, disse: “bah, então vou poder xingá-lo pessoalmente!”. Muitos jornalistas formados odeiam o Santana. Mas não estou entre eles, pois foi justamente na minha adolescência, quando eu tinha uns 13, 14 anos, que peguei gosto pela leitura de jornal impresso, em especial da ZH, através da sua coluna. O mesmo ocorria com a TV. Eu era gremista fanático, e me identificava com ele, e foi através desse contato, ou dessa admiração inicial, do seu texto e da sua fala, que, entre outros fatores, foi despertada em mim a vontade de fazer jornalismo. Com o tempo, minha admiração por ele deixou de ser aquela coisa de tiete, e agora o admiro mais pela sua história e pela forma como ele conseguiu se manter na grande mídia (pelo menos a gaúcha), do que pelo que ele escreve ou diz.
Bom, vou contar rapidamente aqui duas histórias relatadas pelo Santana. Na primeira, ele revelou como ingressou na RBS. Eu lembrava que ele tinha sido inspetor de polícia, mas não sabia, ou pelo menos não recordava, como havia sido a sua entrada no grupo. Em resumo, ele contou que um dia estava visitando a ZH, na mesma época em que nascia o programa Sala de Redação, que vai ao ar até hoje na Rádio Gaúcha. Na época, o programa era apresentado da própria redação da ZH, daí o nome Sala de Redação. E eis que o Santana estava visitando o jornal naquele dia, quando de repente, ele viu o apresentador lhe chamando com o dedo, no meio do programa, e lhe convidou para um bate-papo ao vivo. Ele conta que só falava em Grêmio, Grêmio, Grêmio... “Hoje me envergonho de tanto fanatismo”, brincou. Como deu audiência, no outro dia o apresentador lhe convidou para ir novamente ao programa. E no outro dia de novo, e no outro de novo, e assim sucessivamente, até que, um mês depois, ele foi contratado para integrar o programa para escrever na ZH. E foi assim que o Santana entrou no grupo RBS para se tornar, não diria o melhor jornalista gaúcho de todos os tempos, como ele mesmo modestamente se autodenominou, mas provavelmente o mais popular (pelo menos da atualidade).
Já a segunda história foi contada a partir da pergunta de um aluno: se ele tinha total liberdade para escrever as suas colunas? Ele respondeu que sim, mas que com o tempo aprendeu a lição sobre o que podia e o que não podia escrever, e recordou de certa vez, logo que lançaram o Fiat Uno, que ele escreveu uma coluna inteira falando mal do carro. “Eu disse que era apertado, que não tinha espaço, que tínhamos que se espremer para entrar nele, enfim, questionei como poderiam considerar aquilo um carro”. E eis que no dia seguinte, às 7h da manhã, o representante da Fiat na América Latina liga para a ZH para falar com o chefão do jornal para perguntar “você viu o quê o seu colunista fez no jornal de hoje?”. O Santana conta que na hora tinha certeza de que seria demitido, aliás, qualquer um teria, já que a Fiat era o maior anunciante do grupo RBS naquela época. No entanto, segundo o colunista, a direção lhe enviou uma carta dizendo que aquele episódio não afetaria em nada a relação entre ele e o jornal. Porém, no outro dia, ao invés de sair a sua coluna, saiu uma nota da Fiat, em uma espécie de direito de resposta. E a Fiat acabou ficando um ano sem anunciar no Grupo RBS (isso nas palavras do Stefanelli), mas, como com o tempo a empresa viu que ela também estava perdendo com a “briga”, acabou voltando atrás, e com isso, voltou a anunciar, e todos viveram felizes para sempre.
Por fim, queria fazer uma mescla de uma fala do Stefanelli, com a figura do Santana. O diretor de redação disse que existe um nível médio entre os jornalistas, mas que cada um pode ver no que é acima de média, e investir nisso. Por exemplo: o cara pode ser um expert em internet, ou em rádio, ou em TV, ou em planejamento gráfico, ou em texto, ou em foto, etc. Mas, entre os milhares de jornalistas que passaram pela ZH nos seus 45 anos de histórias, celebrados na última segunda-feira, quais são lembrados até hoje e se destacam dos demais, como é o caso do Santana? Simples: aqueles que se diferenciaram por pensar melhor do que a média. Ou, se não pensaram melhor, pelo menos tiveram mais coragem do que os demais e disseram, coerentemente, aquilo que pensam, e, na maioria dos casos, de forma polêmica.

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