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domingo, 12 de abril de 2009

O Divã, o casal e a Feliciana

Vi no Fantástico a matéria sobre o filme baseado no livro da Martha Medeiros, Divã. Fiquei curioso para ver o filme, que se não me engano, entra em cartaz comercial no dia 17, sexta-feira. Parece bem interessante, apesar de que, pelo que entendi, a mulher resolve fazer psicanálise, ou algo parecido. Esses dias, andei pensando sobre isso: você vai ao psiquiatra, psicólogo, psicanalista, ou algo do gênero, fala por um bom tempo, ele fica ali, te ouvindo, e quando você espera que ele diga algo inteligente, ele apenas fala: acabou a sessão. Aí, caso você seja uma pessoa que não se conforma em pagar caro por um ouvido, e reclamar da atitude dele, ele acrescenta em sua ficha: “resistência ao tratamento”. Muito espertos, os psicanalistas. Claro, essa é uma reflexão baseada apenas no meu imaginário do que seja uma análise, já que nunca passei por uma.
Outra coisa que eu estava pensando, ainda relacionado à psicanálise, é que todos os clientes assíduos do bar do meu tio, em Porto Alegre, poderiam ser belos psicanalistas. Vou dar um exemplo claro disso. Imaginem a seguinte situação:
Homem chega, senta de frente para o interlocutor, e passa a reclamar da mulher. Diz que não aguenta mais e despeja todas as queixas possíveis sobre a pafúncia. Além disso, ele se julga jovem, bonito e bem sucedido, enquanto ela está engordando e só se queixa da vida. No entanto, ele dedica valorosos minutos falando mal dela. Quando termina, o interlocutor diz: “Olha, você já pensou em deixá-la e procurar outra pessoa, que não te irrite tanto?”.
Agora eu pergunto: essa cena se passou na mesa do bar do tio, ou num consultório de psicanálise? Eu respondo: nos dois. No consultório de psicanálise eu sei que sim, porque essa história foi extraída de um relato de uma pessoa que passou por isso num lugar desses. E no bar do tio também, já que não precisa ser muito esperto para deduzir que essas histórias e conversas acontecem todos os dias por lá.
Agora, passando para a questão dos relacionamentos, lembrei-me de outro caso. Todo mundo, em algum momento da vida, já se questionou se todos os relacionamentos são iguais, se nada muda, se o amor é possível, inclusive, tentando encontrar alguma fórmula mágica de fazer o relacionamento dar certo. Um professor meu do mestrado certa vez disse que a maioria dos casamentos terminam porque depois de quatro anos a pessoa descobre que se casou com outra pessoa, e não com ela mesma. Quer dizer: as pessoas querem se casar com elas mesmas, não com uma criatura diferente, que tem hábitos e visões de mundo diferentes. Mas enfim, a questão é que existe uma lista de coisas que, com o tempo, tornam os relacionamentos insustentáveis. Claro que a gente sempre acredita e faz o máximo para que isso não aconteça, seja lá quem você for, mas, implacavelmente, algumas discussões sempre acontecem. Seja sobre a hora de levantar, seja sobre quem está ajudando mais na limpeza ou na manutenção da casa, seja pela distração do outro que esqueceu de algo que você julgava ser de fundamental importância, seja pela falta de paciência com a família da outra pessoa, enfim, existem N problemas em comum em todos os relacionamentos. Mas chega de embromação, e vamos à historinha, rapidamente, porque eu sei que você, nobre leitorinho tupinquim brasileiro, não gosta muito de ler textos longos. Principalmente na tela do computador, como é o meu caso, portanto, agora sim, vamos à historinha...
Bom, pensando nisso tudo, lembrei-me de um casal que certa vez, ia se separar. Já tinham programado tudo. O carro e a casa seriam vendidos e cada um ficaria com a metade do dinheiro. Ele sabia que tinha pagado mais, mas já não aguentava mais discussões. Inclusive, foi ele quem sugeriu que a partilha fosse meio a meio para esses dois itens. Os móveis foram divididos sem muita briga, coisa rara nos últimos meses de relacionamento. O mesmo aconteceu com os eletrodomésticos, os quadros, as louças e tudo o mais. No entanto, havia algo que nenhum dos dois queria abrir mão: a Feliciana. Era a cadelinha yorkshire do casal.
Ferdinando (nome fictício dele) dizia que a Feliciana havia sido presente de casamento de um amigo seu, portanto, era direito dele ficar com ela. Ferdinanda (nome fictício dela) protestou, bateu o pé, alegando que fora ela quem havia batizado a cusca de Feliciana. Ferdinando dizia que era ele quem dava comida para a dita cuja. Já Ferdinanda esperneava que era ela quem levava a Feliciana para passear todos os dias e era ela quem bancava todas as despesas com tosa e salão de beleza para cachorros (ou cadelas). Enfim, para todos os argumentos de Ferdinando, Ferdinanda apresentava um contra-argumento à altura. Até que Ferdinando, não sabendo mais o que dizer, derramando uma gota de lágrima em seu rosto de bebê chorão, bradou:
- Eu amo a Feliciana!! Está entendendo??!! Eu amo ela!! Eu não posso viver sem ela!!
Ferdinanda, emocionada, também começou a chorar, e soluçando retrucou:
- Eu também amo muito a Feliciana!!! – enquanto os dois discutiam, Feliciana estava escondida dentro da sua casinha, com as orelhas baixas e o rabo entre as pernas – Eu simplesmente não tenho vontade de fazer nada se não estiver com ela todos os dias!!!
E, graças a Feliciana, os dois entraram em comum acordo de que era melhor continuarem juntos, amando a cadela, que acabou fazendo com que eles voltassem a se amar como no início do namoro! Tudo isso durou até a morte de Feliciana, no entanto, o luto do casal, fez com que em um momento de perda eles crescessem e se amassem ainda mai!!!
E eis mais uma linda história de amor (claro, com o final modificado para agradar às massas) e que renderia até um filme no maior estilo pastelão hollywoodiano.

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