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segunda-feira, 6 de abril de 2009

Amigos

Nesse momento, minha barriga ainda está doendo de tanto rir. Acabei não saindo no CQC, como você, nobre leitorinho tupiniquim pôde constatar (não usaram as entrevistas com o Fernando Carvalho, nem com o cara que fica vestido de Gorila nos jogos do Beira-Rio, tampouco da galera pulando abraçada gritando "CQC!CQC!") mas, consegui me manter na mídia, sendo tema do último texto do blog do Anônimo. Inicialmente, quando ele disse que iria escrever sobre a minha pessoa, eu pensei em indicar o link do blog dele para que você, nobre leitorinho, pudesse ler o texto. E até faço isso agora, o blog é: http://ababeladomundo.wordpress.com/
Porém, após ler o texto, me matar de rir e me emocionar, não pude tomar outra atitude a não ser reproduzi-lo aqui, quase que na íntegra. Na parte inicial do texto, que cortei, mas que você pode ler no original do site, ele fala de um amigo dele lá do Rio (ele mora na capital carioca) que mencionou o também santo-angelense Fausto Wolf, um dos grandes escritores da contemporaneidade, que faleceu, se não me engano, no ano passado. Bom, tem nesse texto histórias que nem eu lembrava mais e detalhes que, lendo o texto, me vieram à memória como se tivessem acontecido ontem. Ah, e repeti nesse post o mesmo título que o Anônimo usou no seu blog. Mas, chega de papo furado, e vamos ao texto:

"Ontem conversava com um grande amigo santo-angelense (o único, na verdade), o Eduardo. Conheci-o em 93, mas ficamos amigos mesmo em 94. Nossas conversas giravam basicamente em torno do Grêmio e do maravilhoso Fifa 94, que jogávamos em nossos respectivos computadores. Costumávamos conversar nos intervalos, dando voltas na pista olímpica da escola. Aos poucos, começamos a freqüentar um a casa do outro. Na minha, assistíamos filmes como Forrest Gump. Na dele, jogávamos Superstar Soccer e, no domingo, batíamos bola na garagem até a hora de seu Nabuco, pai dele, nos levar à AABB, para a pelada de domingo. Tornamo-nos grandes amigos e, certa vez, no auge da puberdade, colaborei com R$ 5,00 reais para que ele comprasse uma Playboy da Carla Perez. É certo que ele penhorou uma camisa do Grêmio, caso não quitasse a dívida (naquela época, R$ 5,00 era muito dinheiro). Mas quitou. E me é grato até hoje.

Quando mudei para Guarapari, em 96, lembro de termos trocado algumas ligações ainda. Uma delas, memorável, quando o Grêmio conquistou o campeonato brasileiro, em meio a uma emoção avassaladora que só a cumplicidade futebolística é capaz de estabelecer entre dois camaradas.

Depois disso, não nos falamos mais e achei que aquela amizade ficaria no passado, como ficaram todas as outras, incluindo a das gêmeas, já mencionadas há algum tempo neste Ababelado.

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Mas aí surgiu o Orkut, em 2004, e em meio àquela euforia inicial despertada pelo site, resolvi ir atrás de velhos amigos que não via há décadas, só pra matar a curiosidade. Vasculhei um pouco o sistema de buscas e lá estava o Eduardo, com a mesma cara, mas, aparentemente, muito mais bem quisto entre as mulheres (pelo menos, era o que se podia adivinhar pelas fotos e recados). Não quis mandar recado ou e-mail. Acreditei que o tempo já tinha feito crescer demais as distâncias.

Então aconteceu de eu ir para Porto Alegre em 2005. Tinha acabado a faculdade e decidir prestar um concurso para a Assembléia Legislativa, na capital gaúcha. Não estava muito certo se queria realmente voltar para o Rio Grande do Sul, mas precisava de dinheiro e, na pior das hipóteses, faria uma visita aos meus tios e aproveitaria para curtir um pouco a cidade, a única que me interessa lá. Veio então um feriado de páscoa e meus tios decidiram visitar o resto da família que ainda estava em Santo Ângelo. Fiquei entre aceitar o convite ou ir para Caxias, visitar uma madrinha. Acabei ficando na primeira opção.

Em Santo Ângelo, a casa de meus outros tios, onde por um bom tempo viveram meus avós, ficava próximo à antiga casa de Eduardo. Em meio ao tédio, pensei: “Não custa nada, vou passar lá para ver se os pais dele estão e perguntar como anda o cidadão”. Qual não foi minha surpresa quando o Eduardo, em pessoa, me recebeu com um sonoro: “Mas bá!”. Conversamos um bocado naquela tarde e combinamos de sair para beber à noite. No posto (de gasolina), que era onde bebiam os santo-angelenses, matamos umas boas garrafas cerveja e relembramos histórias como se nunca tivéssemos estado tanto tempo longe. No dia seguinte, passei mal.

No carnaval, ele apareceu em Guarapari. E a amizade se restabeleceu de vez.

***

A melhor maneira de começar a descrever o Eduardo é pelo que há de mais pitoresco nele: sua alergia a ovo. Acreditem: isso existe. Quando o Rio Grande do Sul foi assolado por um surto de febre amarela, no final do ano passado, o cabra virou até personagem de matéria no Zero Hora. É que os portadores dessa alergia não podem tomar a vacina, baseada na mesma substância à qual o organismo dos ditos cujos reage negativamente. Por conta dessa anomalia, toda vez que Eduardo chega a um restaurante, ou visita pela primeira vez a casa de alguém, vê-se obrigado a perguntar, diante de um prato desconhecido: “Vai ovo?”. A frase, em si, já é uma piada pronta. Mas mais hilariantes são os imbróglios nos quais o camarada se vê envolvido por conta dessa característica.

Outro elemento definidor do caráter do Eduardo é a distração. Digamos que ele é um tanto quanto sonso (no bom sentido, claro, pois a “sonseria” é qualidade nos homens de bom coração). Quando esteve em Guarapari, por exemplo, deixei-o na Praia do Morro, para passar a tarde, enquanto eu ia para a labuta no jornal onde eu trabalhava. Marquei de encontrá-lo às seis, no mesmo quiosque em que o havia deixado. Esperei um pouco e logo avistei sua figura, vindo em minha direção, com um passo de orangotango e um sorriso de orelha a orelha. Sua primeira frase foi: “Perdi meu chinelo!”. Fiquei me perguntando onde estava a graça e não demorei muito a perceber que ele era do tipo que ri da própria desdita. Havia perdido o chinelo numa caminhada pelo Morro da Pescaria. Teve de andar um bom trecho a pé e, pra ajudar, não sabia dizer o nome do morro, que chamava ou de morro do pescador oude montanha da pescaria. Enfim, uma figura.

Em casa, ele saiu para tomar um banho, enquanto eu preparava alguma coisa para comer, enquanto meus pais não chegavam. Foi quando Eduardo apareceu com outra notícia bombástica: “Tu não vai acreditar! Perdi meu cartão!”. Era o cartão que ele utilizava para movimentar sua conta. Sem ele, ficaria limitado a fazer pequenos saques na boca do caixa.
Isso, por si só, já seria um transtorno, mas, obviamente, não parou por aí. O lance é que havia um salário a ser depositado e uma passagem a ser comprada. Resumo da ópera: meu pai teve de emprestar-lhe uma grana para a passagem de volta e o carnaval acabou sendo meio pobrinho, animado com cerveja barata e jogos de imagem e ação (que ele chamava, sabiamente, de “imagination”). O bom é que pra ele todo programa seria genial se atendesse à seguinte interrogação: “Tem praia?”.

Pelo que me consta, ele curtiu a viagem, no melhor estilo “vagabundo iluminado”. Prova disso é que a foto que ilustra seu blogue foi tirada por mim, na Pedra da Cebola, em Vitória.

***

Eduardo é jornalista, leitor de Bukowski e, mais recentemente, estudante de mestrado. Tem uma irmã de belos cabelos ruivos e um pai que atende pelo curioso nome de Nabucodonosor. Da mãe dele, o que lembro, é que tinha tendinite e preparava copos de Nescau de meio litro, que ele bebia entre uma partida e outra de Superstar Soccer.

Formou-se em Ijuí, mora atualmente em Porto Alegre, formou-se em Ijuí e namora uma menina de Santo Ângelo. Sua monografia de conclusão de curso foi um livro reportagem sobre as putas pobres das Missões. Já venceu um concurso de contos e já deu carona ao Jorge Furtado. Um de seus passatempos preferidos é xingar o Arion, que acredito ser uma espécie de alter-ego que ele criou para destilar seu ódio do mundo.

De Santo Ângelo, foi o único amigo que restou. É uma das pessoas mais divertidas que conheço para dividir uma mesa de bar. Acho que se daria bem com o Fausto Wolf. Gostar do Rio ele já gosta".

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