Divagações sobre as divagações
Mas, depois de entrar no Orkut, clicar no link e entrar no blog, tudo passou a funcionar normalmente no meu super-computador. E é só agora que, aos poucos, estão voltando à minha mente as ideias que invadiam o meu cérebro antes de acontecer tudo isso que eu acabei de contar. Vamos a elas:
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As pessoas se queixam cada vez mais que a família está desagregada, que as pessoas são cada vez mais solitárias, que os relacionamentos são cada vez mais instáveis, que ninguém mais dá conversa para ninguém, que todo mundo desconfia de todo mundo, no entanto, o que mais vejo são pessoas juntas, reuniões, jantares, festas, aniversários, casamentos, velórios, formaturas e todo o tipo de comunhão sendo feita. As pessoas querem estar juntas. O que mudou, no meu ponto de vista, é a forma como elas passaram a estar juntas. Ao mesmo tempo em que você diz que as pessoas preferem ficar sozinhas, elas estão amontoadas nos bares todos os dias. Ao mesmo tempo em que você diz que as pessoas não casam mais, você recebe o convite ou a notícia de que o Fulano vai casar com a Ciclana. Ao mesmo tempo em que você diz que a família está desagrada, você marca uma viagem para a sua cidade, e as pessoas brigam e ficam com ciúmes se você ficar menos tempo na casa de um do que na casa de outro, e na verdade você vai lá, visita todo mundo, e todo mundo fica insatisfeito, reclamando que você ficou mais na casa do Ciclano do que na da Fulana. Ao mesmo tempo em que você diz que as pessoas não se comunicam mais, milhares de pessoas estão conversando em todos os tipos de chats possíveis. Ou seja, as pessoas seguem buscando a mesma coisa que sempre buscaram: amor, paixão, diversão, sexo, sonhos, emoções, aventuras, dinheiro, risadas, conversas e tudo o mais o que faz a vida de todos os dias, mas o que mudou foi a forma como as pessoas passaram a buscar tudo isso.
Vou dar um exemplo bem simples: na idade das pedras o sujeito estava afim da moça. Ele pegava a sua clava, batia com ela na cabeça da próxima, a arrastava até as cavernas, e lá a possuía (não encontrei termo melhor no momento), e depois disso, ele saía assoviando alguma música do tempo das cavernas (tipo aquela, dos Flinstones). Depois, como diz o David Coimbra, a mulher viu que o homem só queria sair para caçar (não só comida) e inventou a civilização, tentando fazer com que ele tenha responsabilidades, e sempre volte ao aconchego do lar. Como, segundo a minha irmã, as mulheres sempre se enchem de ver todos os dias a mesma cara (ela diz que às vezes tem vontade de me matar, mesmo sem eu ter feito nada) o homem, muito ingênuo, começa a não entender essas coisas, e então, ele resolve voltar ao tempo das cavernas, e começa a querer sair por aí, ver o que se passa no mundo. E isso foi evoluindo, de uma forma ou de outra, de uma maneira cíclica mesmo, como diria o sociólogo francês, Michel Maffesoli. E por fim, hoje em dia, as pessoas seguem buscando aquilo que o homem das cavernas queria lá no início da conversa, só que de forma diferente. Nesse tempo todo surgiu o romantismo, foi criada a idéia de família nuclear, onde a mulher é representada por Maria, ou seja, a mãe da família deve ser a santa. Se não for, é execrada pela sociedade. É condenada. É apedrejada.
Mas enfim, eu fiz essa volta toda para dizer que é justamente isso, a civilização, a sociedade, as comunidades, seguem andando em círculos. As tecnologias, as invenções, desde a roda, passando pela carroça e pela escrita, até chegar no rádio, na televisão e na internet, mudam as sociedades, e, conforme a minha irmã (há uma discussão entre nós entre essa idéia) essas invenções são feitas sempre por necessidade. Já eu não digo que é feito necessariamente por necessidade. Hoje em dia as invenções podem ser feitas para suprir um pequeno prazer de um determinado grupo. Mas o prazer não é uma necessidade? – questionaria prontamente a carrasca Cartolina. Então, eis aí uma importante questão jogada pela minha irmã na cara da humanidade.
Outro ponto sempre reclamado pelas pessoas, que, analisando os tempos passados, não consigo entender: as criaturas sempre reclamam da falta de tempo. Mas como não tem tempo? Nunca houve na história da humanidade tantos aparatos para que o ser humano tivesse cada vez mais tempo para ele mesmo. Há a máquina de lavar roupa, lavar louça, aspirador de pó, aparelho de barbear e tudo o mais. Daqui uns dias inventam até um aparelho para limpar a bunda. Isso quando você já não tem uma empregada, para fazer tudo, menos limpar a bunda e fazer a barba, óbvio. Isso sem falarmos no deslocamento. Você paga contas de banco, faz transferência e outras movimentações financeiras pela internet, ou pelo telefone. Você manda e-mail, e instantaneamente a outra pessoa recebe a mensagem. Você não só marca, como também realiza reuniões e até entrevistas para emprego pelo MSN! Você fica sabendo na hora que o Fulano se separou da Ciclana (eles vivem terminando e voltando) pelo Orkut deles! Aparece lá, nas últimas atualizações de seus amigos! Ao invés de você ir até um bar para jogar conversa fora, cada um abre uma latinha de cerveja no seu computador e você fica ali, papeando com seu primo que mora na Itália, ou com seu amigo que foi embora para o Rio de Janeiro há 15 anos durante horas! Você manda o trabalho para o professor por e-mail! Você faz um curso inteiro com teleconferência! E as pessoas reclamam que não tem tempo, quando na verdade tempo é o que elas mais deveriam ter!
Mas aí entra outra questão: o negócio não são as invenções, ou a economia de tempo. O negócio está em você dizer que não tem tempo. É bonito. As pessoas gostam de dizer: “estou atucanado, não deu tempo nem para ir no banheiro hoje”. Pois eu sinto prazer quando posso responder: “que pena, mas eu dormi até o meio-dia e só agora vou começar a pensar na vida”. No entanto, admito que raramente estou em condições de dizer isso. Já outros enchem os pulmões para falar com prazer: “faz oito anos que eu não tiro férias”. Literalmente copiando o que foi dito pelo professor Juremir em certa aula de Sociologia da Comunicação, eu também tenho prazer quando posso dizer: “coitado de ti, mas eu quando posso tiro até dois meses de férias por ano”. Ou seja, por mais que as pessoas não tenham o que fazer, elas procuram sarna para se coçar. Elas querem se sentir úteis. Mas elas não se sentem úteis estudando, lendo um livro, ou simplesmente lendo o meu blog. Não, isso é perca de tempo. Tempo útil quer dizer fazer alguma coisa de útil, que na concepção delas é fazer um trabalho braçal. Trabalho braçal eu gosto de fazer é na academia, ou jogando bola, ou fazendo isso mesmo que você está pensando.
Olha, meu primo Gérson já falou várias vezes que eu ainda vou escrever livros de auto-ajuda, e já admiti que cogito essa possibilidade, no entanto, seguindo essa linha, vou citar um filme que possivelmente tenha sido ferrenhamente criticado pelos experts de plantão, mas que, a grosso modo, representa bem o que estou tentando dizer. O nome do filme é “Em busca (ou à procura?) da felicidade”, com Will Smith. Não vou procurar o nome certo do filme no Google, pelo simples fato de que esse computador trancaria se eu tentasse fazer isso, e certamente só terminaria esse texto amanhã de manhã. Mas voltando à vaca fria, por mais que tenha os seus defeitos na visão dos críticos (aliás, os críticos só servem para criticar mesmo) esse longa mostra bem como um ser, que estava na visão do trabalho utilitarista manual e braçal-capitalista do ter-para-poder-comprar-desesperadamente, pode deixar essa condição, ralando pra caralho mesmo e estudando muito, para se tornar um dos homens mais bem sucedidos dos Estados Unidos. Aliás, exemplos nesse sentido não faltam. O próprio Erico Verissimo chegou a trabalhar lavando vitrines em Porto Alegre antes de se tornar o maior escritor da história do Rio Grande do Sul. Então, a meu ver, tudo está na questão da visão de mundo. Ou você vê o mundo duma forma compreensiva, que, como defende o Maffesoli, busca a compreensão, não a explicação, e muito menos o dever-ser, e passa a fazer a sua vida fazendo parte do mundo, tendo consciência disso, pensando por si mesmo; ou você vai simplesmente integrar uma utopia massificada e vai andar junto com a corrente, junto com a massa, em direção a lugar algum, que é para onde a humanidade tem ido. Aliás, ela não sabe com certeza de onde veio, mas aí, já é outra discussão... Por isso eu recomendo: compreenda, não explique e não julgue. E seja o melhor que você puder ser.
(agradecimento especial ao meu primo Gérson, e, só para responder o comentário dele do último post, eu não vou gastar todo o dicionário de xingamentos que ele fez pelo simples motivo de que eu o esqueci em Santo Ângelo, e mesmo que lembre de trazer ele na minha próxima ida à capital missioneira – aigaletê porquera! – eu vou usá-lo moderadamente).
Agora sim, para finalizar: se for beber, não dirija. Fique em casa escrevendo um monte de divagações na esperança de que alguém um dia lerá! Gracias.
IMPORTANTE!
A imagem da Oficina de Loucurinhas foi retirada do seguinte blog, que eu achei por acaso, e que é muito bom por sinal, recomendo à todos:
http://basicovital.blogspot.com/
Confiram! É muito bom mesmo!
2 Comentários:
Cara voce passou da auto-ajuda dos outros textos pra anàlises sociologicas complexas neste!
Parabens!
Se bem que nao sei se os sociologos ganham tao bem quanto uma auto-ajuda.
OigalE!
Por Zaratustra, às 28 de março de 2009 às 07:38
uma interesante analise pós moderna de nosso amor liquido- será??
achei muito bom esta teoria estrutural eh boa hem??interessante esta visao de macro micro e mafessoli homens mulheres e viva as cavernas!!bjo
Por sissa, às 31 de março de 2009 às 19:10
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