A verdade, o homem, o amor
Entre os integrantes desse grupo, está Alice Baroni, mestre em Comunicação pela PUC do Rio de Janeiro e que brevemente será (ou já é?) doutoranda por uma universidade da Austrália. Enfim, publico aqui um texto dela, que tem a ver com as reflexões que fiz aqui no post anterior, do que é o amor e tudo o mais. Porém, ela apresenta uma visão bem mais racional do que a minha emocional. Segue o texto, na íntegra:
Ao nascer o homem rompe com o fluir de pura vida, o ignorar de si, para ser lançado em um mundo hostil. Viver, em um primeiro momento, acontece como ruptura e separação de uma unidade primordial no ventre materno, quando necessidade e satisfação se harmonizam, perfeitamente. Nascer e morrer acontecem como experienciações profundas da solidão. Nesse intervalo que transcorre entre o nascer e o morrer se desenvolve o viver do homem. Lançado no espaço/ tempo que acontece entre o nada e o tudo, a vida e a morte, intervalo de seu acontecer no real, o homem emerge como questão. Mas não é o homem que tem as questões ou as coloca, as questões é que o tem. Mas o que isso quer dizer? Significa dizer que as grandes questões perpassam a história do homem sobre a Terra, se re-apresentando, insistindo, em todos os tempos e épocas. As questões são maiores que o homem, o que quer dizer que não há como o homem compreendê-las, encerrá-las. As questões abrem-se para novas perguntas sobre a vigência do homem no real.
O Real, o Homem, a Verdade, o Tempo, o Amor, são questões. São questões porque não sabemos o que é isto o real, a verdade, o homem, o tempo, o amor. O homem por não-saber o que ele é, quem ele é, se pergunta, se procura. Inventa, se inventa e é inventado. Assim, é na palavra, pela palavra, que o ser se realiza. “Contra el silencio y el bullicio invento la Palabra, libertad que se inventa y me inventa cada día” (PAZ, 2004: 16). Platão, Aristóteles, pensaram as grandes questões. Mas o platonismo e o aristotelismo, não as pensaram. Constituíram-se, sim, a partir da produção de conceitos, aristotélicos e platônicos.
Há o belo pensamento de Manuel Antônio de Castro (2008) que diz: “a Modernidade se equivoca quando acha e afirma e procede como se o homem fosse livre porque tem vontade. Não. Só tem vontade porque é livre”. Mas a liberdade de que fala Castro não diz nada a respeito dessa vontade enquanto manifestação de poder, “ser livre é ser o que é próprio como destino destinado” (Id, 2008). Que pode nos conduzir a equívocos caso reflitamos sobre o “destino destinado” pelo viés metafísico, ocidental. Não. Me parece que devemos iniciar a travessia do des-saber, mas o que significa isso? Significa que é preciso abandonar os nossos conceitos sobre o mundo, o destino, o real, que recebem as mais variadas respostas, dependendo de seu suporte, para podermos nos abrir para o grande mistério das questões que se perguntam: o que é isto o Destino? O que é isto o Pensar? O que é isto o Amor?
"le pedimos al amor – que, siendo deseo, es hambre de comunión, hambre de caer y morir tanto como de renacer – que nos dé un pedazo de vida verdadera, de muerte verdadera. No le pedimos la felicidad, ni el reposo, sino un instante, sólo un instante, de vida plena, en la que se fundan los contrarios vida y muerte, tiempo y eternidad, pacten" (PAZ, 2004: 213).
No humano se dá o pacto, que parece se realizar como plenitude de sentir, pela irradiação do amar. O amor parece acontecer como experienciação de comunhão de contrários, vida e morte, tempo e eternidade, como um momento de vida plena, verdadeira, de realização do ser, pois, o eu busca o tu que ainda não é, des/ velamento, que é o entre, amor. “El hombre es nostalgia y búsqueda de comunión. Por eso cada vez que se siente a sí mismo se siente como carencia de otro, como soledad” (PAZ, 2004: 211). Segundo Castro (2008), “não há dúvida de que a questão do amor gira em torno de três perguntas essenciais: O que é isto- o real? O que é isto – o homem? O que é isto – o amor? Na dobra de todas elas está a morte”.
Alice Baroni
1 Comentários:
Cara eu queria saber escrever coisas do tipo, nesse estilo clàssico sèrio e tal.
Belo trecho da moça.
Por Zaratustra, às 20 de março de 2009 às 16:05
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