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sexta-feira, 3 de abril de 2009

Jornalismo x Academia


Sei que ainda tem muita bola pra frente na minha vida (acadêmica e profissional) mas essa rivalidade entre os profissionais do jornalismo (jornalista diplomado, diga-se de passagem) com o meio acadêmico me deixa intrigado. Por isso as mães têm um papel fundamental na vida de todos. Nesse caso, se profissionais e acadêmicos fossem irmãos, a mãe iria pegar-lhes pelas orelhas e, com dedo em riste, diria de forma enfática: “nada de brigas! Vocês têm que ser amiguinhos, entenderam? A-mi-gui-nhos!”. Mas, como não há uma mãe em comum para toda essa cambada, as brigas e discussões estão aí, às vezes de forma explícita e às vezes apenas no “falar-mal” dos corredores das empresas de comunicação e universidades.
No meio profissional, os acadêmicos são acusados de viverem em um mundo irreal. Ficam lá, discutindo idéias, hipóteses, falando como o mundo deveria ser, como seria a imprensa ideal, ou observando como os profissionais trabalham, fazendo levantamentos que não levam a lugar nenhum, apontando todos os tipos de defeitos imagináveis. Agora, vejam bem o que eu disse antes: isso é o que é falado, não o que realmente acontece! E, no meio acadêmico, muitos dizem que a imprensa vive num mundo hiper-real, onde impera o capitalismo e o servicionismo dos jornalistas, que geralmente enxergam um mundo real, mas real apenas para eles, para os patrocinadores, para os políticos e para os donos das empresas. E, no meio disso tudo, ainda há a disputa entre os grupos (como se fossem representantes de torcidas organizadas). Além disso tudo, eles ficam falando deles mesmos, como se picuinhas internas da profissão interessasse ao público. Como diria o Baudrillard, é a realização perfeita da ideia de o meio é a mensagem de MacLuhan, já que nesse caso a mensagem é simplesmente engolida pelo meio, que de fato, se torna a mensagem. Quero frisar que aqui também não estou afirmando que seja assim, mas, é o que dizem, como naquela música gaúcha “andam dizendo por aí, de boca em boca...”.
E, no meio desse entrevero, os jornalistas não querem ir para o meio acadêmico (ou não querem voltar, por que foi de lá que eles teoricamente saíram) e os pesquisadores também não querem mais voltar para o matar-um-leão-por-dia das redações, onde os acontecimentos muitas vezes devem ser inventados para cumprir o espaço reservado no jornal, no rádio ou na televisão. Você tem três páginas de esporte, que precisam ser preenchidas, mas você só tem conteúdo de qualidade para uma e meia. Joga-se um anúncio em outra meia, e sobra ainda uma para o não-acontecimento, para a cobertura da lesão do jogador reserva do São José de Cachoeira. E os acadêmicos olham aquilo, e criticam o jornal, e o jornalista critica a crítica do acadêmico, dizendo que ele não sabe nada sobre o cotidiano de uma redação e que ele nunca fez nada de representativo para o jornalismo local, regional, estadual, nacional e internacional! E assim, os irmãozinhos vão indo, brigando e trocando farpas, sem nenhuma mãe para puxar-lhes as orelhas e passar o chinelo.
Dentro dessa discussão, lembro da fala da professora Christa Berger, do PPGCom da Unisinos, citando o jornal El País, destacando que esse é um dos poucos jornais (se não o único) onde os professores universitários são os mesmos jornalistas que produzem o diário.
De fato, esse afastamento acaba intrigando, mesmo sabendo que, na maioria dos casos, os professores tiveram uma longa e conceituada passagem pela imprensa. E, apesar de um não querer saber do outro, da mesma forma do casal que termina e os dois estão loucos para voltar, mas nenhum quer dar o braço a torcer (ou, numa linguagem mais de torcida de arquibancada mesmo: fazendo cu doce), um não vive sem o outro, e o outro não vive sem o um.
Essas são reflexões iniciais, que devem mudar com o tempo, já que, no mundo Pós-Moderno, é mais do que normal mudar de opinião sobre determinado assunto várias vezes por dia. Você acorda pensando uma coisa. Durante a manhã, no trabalho, alguém te dá uma informação nova sobre essa coisa, e você já começa a mudar de ideia. No almoço, sua mulher lembra algo que aconteceu há muito tempo sobre esse assunto, que você nem lembrava mais, e você leva em consideração essa lembrança. Na parada de ônibus, você ouve duas pessoas falando sobre esse mesmo assunto, e você já acha que o pensamento inicial da manhã estava completamente equivocado. De tarde, na aula, um colega seu diz outra coisa, sobre a mesma parada, e você começa a ficar na dúvida. Na volta para casa, ouve outra conversa dos dois estudantes que estão sentados no banco da frente do ônibus, e você começa a achar que é exatamente da forma que você pensou ao acordar de manhã. Mas (sempre tem o mas) antes de dormir, você vê no noticiário a última sobre o assunto, e então você forma uma idéia sobre aquilo que não tinha nada a ver com o que você pensou durante o dia inteiro! No entanto (também sempre tem o no entanto) você acredita que o sonho que você teve foi uma premonição, e acorda achando que encontrou a chave para a questão! Pronto, você é um gênio. Só falta o resto do mundo descobrir isso. Vai se passar um ano, e você ainda não vai saber qual dos pontos de vista é o certo, e vai começar a achar que está louco por isso, enquanto a sua mulher estará brigando com você por ter esquecido de buscar as crianças na escola. E enquanto ela fala, você está ali, parado, olhando para o nada, pensando se tudo o que você está pensando sobre aquele mesmo assunto faz sentido ou não. Até que você ouve, ao fundo: “eu não agüento mais, eu vou embora. Vou para a casa da mamãe”. E então, você descobre que o primeiro pensamento era o mais próximo do que você julga ser o correto. Mas e é correto mesmo?

3 Comentários:

  • Uma das coisas que se torna insuportavel no jornalismo è como tu disse: a profissao virar assunto de si mesma. Nenhum assinante de jornal quer saber porque jornalsta tem diploma ou nao ou outras picuinhas quaisquer. Querem apenas as materias e ponto final. Isso quando querem...

    Agora o final do texto foi apoteòtico, eheh. O vinho (àlcool em geral) sempre faz isso com a gente. Principalmente quande se abre sem o saca rolha

    Por Blogger Zaratustra, às 4 de abril de 2009 às 07:38  

  • engraçada essa sua aflição. desisti de pensar nessas coisas lá pela metade da faculdade. jornalismo é negócio, comunicação é menos "ciência" do que gostaria de ser e "pós-modernidade" é algo um conceito que paira no ar há umas 4 décadas, mas ninguém consegue explicar o que é. mas acho que como acadêmico, você vai se ocupar dessas coisas por um bom tempo ainda. eu fico aqui, com meu diletantismo cético. abraços do amigo ababelado. http://ababeladomundo.wordpress.com

    Por Blogger ababeladomundo, às 4 de abril de 2009 às 20:33  

  • Ahhhhhhhh!
    Eu demorei mas apareci neh! Depois de insistentesss pedidas... quando o Eduardo desistiu.. heheh eu apareciiiiiii!!!!!

    Por Blogger Ceres Avila, às 4 de abril de 2009 às 21:19  

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