Seleção em Porto Alegre - Parte 3 - Festa de Gala
Já sobre a torcida, tenho várias considerações a fazer. Em 1999 eu assisti naquele mesmo Beira-Rio ao amistoso entre Brasil e Argentina, que o Brasil venceu por 4 a 2 com gols de Rivaldo e Ronaldo, ambos no auge da carreira. Além disso, o recém-revelado e sensação Ronaldinho Gaúcho também estava começando a aparecer como estrela. Na Argentina, nada mais nada menos que Ortega, Simeone, Crespo e cia. E o ingresso, R$15. Não sou economista, mas mesmo levando em consideração a inflação do período, não sei se o valor corrigido pode saltar para os mais de R$100 cobrados para a parte superior do Beira-Rio, que foi onde fiquei naquela oportunidade. E, pode parecer óbvio, a torcida torcia. Aliás, não só torcia, como também cantava, xingava, fazia a “ola” e tudo mais, e além disso, bebia. Havia uma mistura de classes, de torcedores de Grêmio e Inter, de gaúchos de Porto Alegre, com gaúchos do interior, com torcedores de outros estados. Faixas de Campinas, de torcidas organizadas do Corinthians, do Atlético-PR, do Botafogo, de times de todo o país estavam espalhadas pelo Beira-Rio naquela oportunidade em que mais de 5 mil torcedores ficaram de fora do estádio com ingresso na mão.
Mas dessa vez, com as grandes estrelas em decadência, sem serem substituídas a altura pelas novas, contra um time fraco e que está na lanterna das Eliminatórias e com ingressos sendo vendidos a valores exorbitantes (R$70 o mais barato), a situação se inverteu.
O Beira-Rio parecia mais um salão de festa de gala. Torcedores e torcedoras (aliás, tinha muitas torcedoras) chegavam em carrões importados, com legítimas roupas de festa. Era um desfile de mulheres muito bem vestidas com torcedores usando somente camisas oficiais da Seleção, do Grêmio, do Inter, do Milan, do Barcelona e de outros clubes europeus. Algo bem diferente daquela misturança de 99. Senti-me um estranho no ninho com a camisa amarela do bloco Entrosados, de Santo Ângelo. Mas é a vida. Os cambistas estavam ali para me ajudar. E, em meio a eles e ao povo (ou a elite?) também havia centenas de policias, que estavam em viaturas, a pé, a cavalo, de moto, enfim, do jeito que você imaginar. Tudo para garantir a segurança da burguesia.
Mas no meio disso tudo, eis que uma mudança no quadro econômico do comércio informal de venda de ingressos mudou o rumo da nossa noite. Do microfone da Rádio Gaúcha, ou, mais precisamente, da voz de Luciano Périco, ficamos sabendo que o estádio estava longe de ficar lotado e que havia centenas de cambistas tentando vender os ingressos desesperadamente.
Faltando uma hora para o início do jogo, um cambista nos ofereceu ingressos para arquibancada inferior a R$50 cada. Fiquei tentado, porém, não tinha dinheiro na mão naquela hora. Confesso que, se tivesse, teria comprado. Nesse meio tempo, tentamos nos informar onde havia caixa eletrônico, e nos disseram que o mais próximo ficava no Shoping Praia de Belas. Não daria tempo de irmos a pé até lá e voltarmos ao estádio. O “até a pé nós iremos” também tem o seu limite. Porém, calculei que um táxi até o shoping não sairia caro. Já para voltar, poderíamos adotar novamente o lema do hino gremista. E foi o que fizemos. O táxi deu R$6, e voltamos ao estádio a pé. Na chegada, um cambista nos atacou. Aquele era um cambista diferente da maioria, tinha pinta de playboy, surfista, sei lá o quê. Disse que tinha somente dois ingressos, mas o valor era tentador: R$20. Eu tinha me preparado para gastar até R$40, se precisasse. Era a metade do que eu tinha planejado. Lembrei-me, no entanto, de certa vez que comprei um ingresso falso em um jogo do Grêmio. Falei para o cara que só comprava se ele nos levasse até o portão do estádio. Como ainda restava uma caminhada de pouco mais de cinco minutos, o cara resistiu. A resistência dele chegou a fazer com que eu desconfiasse ainda mais, mas, depois de certa negociação e dele se ofender com a minha desconfiança, ele topou ir junto. Chegando lá, o Lucianinho da Gaúcha estava informando que não havia mais espaço na arquibancada inferior, e que quem tivesse ingresso para esse espaço deveria ir até o portão 2, para ficar nas sociais, que estava longe de ficar lotada. Foi o que fizemos. O cambista nos acompanhou até o portão, e, depois de passarmos pelas roletas, ainda abanamos bestialmente para ele. O que parecia impossível no início da noite aconteceu: entramos no Beira-Rio para assistir Brasil e Peru. No entanto, o preço que pagamos pelos ingressos acabou sendo apenas justo para o jogo que vimos. Já a apatia da torcida nem de longe lembrava a torcida convencional, beberrona, cantora, fanática e empolgada, que é e sempre foi formada pelas massas.
Pelo jeito, slogans como Clube do Povo e Torcida da Geral estão ficando apenas na fachada mesmo, porque o verdadeiro torcedor tem ficado de fora da festa. O resultado disso: gente perguntando se aquele jogo estava sendo válido por algum campeonato... Quando ouvi isso, tive que me controlar para não invadir pelado o campo...
3 Comentários:
se tu tivesse invadido pelado talvez o cqc te entrevistasse...
Por Zaratustra, às 3 de abril de 2009 às 05:27
huahuahauhau eu tb fazia perguntas idiotas vendo o jogo em casa...teve mais sorte do q juizo...burguesia...elite, festa de gala... sua veia esquerdista está aflorando!
Por Carolina, às 3 de abril de 2009 às 11:48
que bom que viu o jogo! digo mais pelo contexto, pela farra... porque o jogo, em si, foi uma bosta. não sei o que é pior, se o dunga ou o roth. mas entre a seleção e o grêmio, sou mais grêmio. abraços. http://ababeladomundo.wordpress.com
Por ababeladomundo, às 4 de abril de 2009 às 20:36
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