.

sábado, 29 de outubro de 2016

Desprestígio intelectual paterno

Dias atrás aconteceu em Frederico Westphalen, cidade de difícil pronúncia localizada quase na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina no oeste dos dois estados, a Feira do Livro. Por mais que eu participe de dezenas de outras feiras do livro da cidade, essa certamente foi inesquecível. Principalmente a noite de abertura. Primeiro, a minha pequena Lary subiu no palco para a apresentação do grupo de ballet da qual ela faz parte. Cinco anos e dando show para um grande público na praça central de FW. Depois, tive a oportunidade de mediar um debate com quatro personagens importantes do esporte e do jornalismo esportivo gaúcho, numa mesa que foi chamada de Grenal Literário: Paulo Brito (narrador), Cléber Bertoncello (jornalista e biógrafo), Léo Gerchman (jornalista e gremista) e Luciano Davi (dirigente do Inter e futuro presidente do arquirrival). Não vou comentar esses eventos em profundidade, mas sim, contar uma breve história que envolveu a minha pequena e eu, antes do início da feira.
Após o ensaio na noite anterior à abertura da feira, a Lary estava muito feliz por poder se apresentar em um palco de verdade. Então, resolvi contar que eu subiria ao palco depois da apresentação dela, achando que isso seria motivo para se orgulhar do pai. Porém, ela não acreditou no que eu disse e justificou: “ah pai, tu nem faz ballet...”. Não me dei por vencido e perguntei:
- E sabia que o papai escreveu um livro?
- Mentira pai... tu nem é escrevedor de livros... – e impaciente, me advertiu – E pai, para de querer me enganar!
Que cosa. Pensei, vou dar tempo ao tempo e amanhã ela vai ver que não estou mentindo... Não sei por qual motivo essas criaturinhas do sexo feminino sempre querem que a gente prove que não está mentindo... É uma coisa incessante... Elas partem do princípio de que você é um mentiroso e, então, você tem que provar que não é... Mas enfim. Vivendo essa situação, lembrei-me do trecho de um livro do Erico Verissimo, que se chama “A volta do gato preto”. Nessa obra ele fala sobre os dois anos em que morou com a família na Califórnia em período concomitante com a Segunda Guerra Mundial. Recupero aqui o trecho em que Erico e Mafalda, recém chegados aos Estados Unidos, vivenciam o seguinte diálogo com os filhos Luis Fernando (que tinha cerca de 6 anos na época) e Clarissa (dois anos mais velha):

“Começam a crivar Mafalda de perguntas.
- De onde vieram os índios? São amigos ou inimigos dos americanos? Por que esta parte dos Estados Unidos é um deserto?
- Perguntem ao pai de vocês – sugere Mafalda, fazendo um sinal na minha direção.
Luís me lança um olhar oblíquo e diz:
- Ele não sabe.
Abro um olho, como única resposta. Não sei a causa de meu desprestígio intelectual junto dessas criaturinhas. Lêem as histórias que escrevo, as absurdas aventuras de bichos e gentes, e depois, como único comentário, dizem sorrindo:
- Esse pai é um bola!
Quando têm de fazer perguntas, de pedir informações, recorrem à mãe”.


E aqui em casa, é mais ou menos assim. A minha pequena Lary muitas vezes não me da credibilidade intelectual. Mas, valeu a pena esperar. Na noite da apresentação, ela foi espetacular. Fiquei emocionado ao vê-la dançando no palco vestida de bailarina. Quando desceu, após receber os cumprimentos, eu disse:
- Agora é a vez do papai.
E então, ela pediu para ficar para me ver. E quando eu estava lá em cima, com o microfone na mão, eu a vi me olhando. E os seus olhinhos brilhavam. Quando passei a palavra para o Paulo Brito, olhei para ela, que me mirava hipnotizada. Senti que eu era o seu herói. Abanei lá de cima e ela, emocionada, sorriu e balançou as mãozinhas vagarosamente, como se não acreditasse no que via. Aquele sorriso, aqueles três segundos, fizeram tudo valer a pena. No outro dia, em casa, eu disse:
- Viu como o papai subiu no palco?
Ela sorriu meigamente e fez que sim com a cabeça. Dei um beijo na testa dela e disse:
- Agora vem, vou mostrar o livro que o papai escreveu.
Entreguei uma cópia e mostrei meu nome na capa. Ela pegou, admirada. Porém, começou a folhear e logo sentenciou:
- Que chato, não tem desenhos.
Pois é, nada é perfeito. Mas é essa imprevisibilidade que faz com que eu ame essa criaturinha linda cada dia mais!

Desprestígio intelectual paterno

Dias atrás aconteceu em Frederico Westphalen, cidade de difícil pronúncia localizada quase na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina no oeste dos dois estados, a Feira do Livro. Por mais que eu participe de dezenas de outras feiras do livro da cidade, essa certamente foi inesquecível. Principalmente a noite de abertura. Primeiro, a minha pequena Lary subiu no palco para a apresentação do grupo de ballet da qual ela faz parte. Cinco anos e dando show para um grande público na praça central de FW. Depois, tive a oportunidade de mediar um debate com quatro personagens importantes do esporte e do jornalismo esportivo gaúcho, numa mesa que foi chamada de Grenal Literário: Paulo Brito (narrador), Cléber Bertoncello (jornalista e biógrafo), Léo Gerchman (jornalista e gremista) e Luciano Davi (dirigente do Inter e futuro presidente do arquirrival). Não vou comentar esses eventos em profundidade, mas sim, contar uma breve história que envolveu a minha pequena e eu, antes do início da feira.
Após o ensaio na noite anterior à abertura da feira, a Lary estava muito feliz por poder se apresentar em um palco de verdade. Então, resolvi contar que eu subiria ao palco depois da apresentação dela, achando que isso seria motivo para se orgulhar do pai. Porém, ela não acreditou no que eu disse e justificou: “ah pai, tu nem faz ballet...”. Não me dei por vencido e perguntei:
- E sabia que o papai escreveu um livro?
- Mentira pai... tu nem é escrevedor de livros... – e impaciente, me advertiu – E pai, para de querer me enganar!
Que cosa. Pensei, vou dar tempo ao tempo e amanhã ela vai ver que não estou mentindo... Não sei por qual motivo essas criaturinhas do sexo feminino sempre querem que a gente prove que não está mentindo... É uma coisa incessante... Elas partem do princípio de que você é um mentiroso e, então, você tem que provar que não é... Mas enfim. Vivendo essa situação, lembrei-me do trecho de um livro do Erico Verissimo, que se chama “A volta do gato preto”. Nessa obra ele fala sobre os dois anos em que morou com a família na Califórnia em período concomitante com a Segunda Guerra Mundial. Recupero aqui o trecho em que Erico e Mafalda, recém chegados aos Estados Unidos, vivenciam o seguinte diálogo com os filhos Luis Fernando (que tinha cerca de 6 anos na época) e Clarissa (dois anos mais velha):

“Começam a crivar Mafalda de perguntas.
- De onde vieram os índios? São amigos ou inimigos dos americanos? Por que esta parte dos Estados Unidos é um deserto?
- Perguntem ao pai de vocês – sugere Mafalda, fazendo um sinal na minha direção.
Luís me lança um olhar oblíquo e diz:
- Ele não sabe.
Abro um olho, como única resposta. Não sei a causa de meu desprestígio intelectual junto dessas criaturinhas. Lêem as histórias que escrevo, as absurdas aventuras de bichos e gentes, e depois, como único comentário, dizem sorrindo:
- Esse pai é um bola!
Quando têm de fazer perguntas, de pedir informações, recorrem à mãe”.


E aqui em casa, é mais ou menos assim. A minha pequena Lary muitas vezes não me da credibilidade intelectual. Mas, valeu a pena esperar. Na noite da apresentação, ela foi espetacular. Fiquei emocionado ao vê-la dançando no palco vestida de bailarina. Quando desceu, após receber os cumprimentos, eu disse:
- Agora é a vez do papai.
E então, ela pediu para ficar para me ver. E quando eu estava lá em cima, com o microfone na mão, eu a vi me olhando. E os seus olhinhos brilhavam. Quando passei a palavra para o Paulo Brito, olhei para ela, que me mirava hipnotizada, com os olhinhos brilhando. Senti que eu era o seu herói. Abanei lá de cima e ela, emocionada, sorriu e balançou as mãozinhas vagarosamente, como se não acreditasse no que via. Aquele sorriso, aqueles três segundos, fizeram tudo valer a pena. No outro dia, em casa, eu disse:
- Viu como o papai subiu no palco?
Ela sorriu meigamente e fez que sim com a cabeça. Dei um beijo na testa dela e disse:
- Agora vem, vou mostrar o livro que o papai escreveu.
Entreguei uma cópia e mostrei meu nome na capa. Ela pegou, admirada. Porém, começou a folhear e logo sentenciou:
- Que chato, não tem desenhos.
Pois é, nada é perfeito. Mas é essa imprevisibilidade faz com que eu ame essa criaturinha linda cada dia mais!

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Tiadinda Carol

Mesmo sem conviver diariamente com a tiadinda Carol, a minha pequena Lary voltaemeia lembra alguma história envolvendo a filha caçula do vô Nabuco e da vó Nara. Dia desses, fui buscar ela no Taekwondo (sim, ela também é ninja) e na volta, do nada, ela larga essa:
- Quando eu era pequena eu tinha vergonha de assistir Carrossel na frente da tia Carol.
Ela está na fase do Carrossel. E da Patrulha Canina. São os dois desenhos preferidos dela atualmente. E digo desenho, porque ela gosta mais do desenho animado do Carrossel do que da novela. Aliás, nem sei se o Carrossel contemporâneo pode ser chamado de novela ou série, mas no meu tempo, quando só tínhamos o original mexicano, era novela. Dia desses, assistindo com a Lary, descobri que na versão brasuca do Sílvio Santos a Maria Joaquina não é tão má quanto era nos anos 1990 e que o cachorro do Mário, que no original era um pastor alemão, agora é um collie. O nome do bicho, no entanto, continua o mesmo: Rabito. Hoje, por exemplo, ela assistiu ao episódio em que o Mário cata o Rabito na rua: ele estava com a pata machucada. Pouco depois, enquanto circulávamos de carro pela cidade, passamos por um cachorro que estava bem sentado na frente de uma casa, e ela aponta para o cusco:
- Olha pai, um cachorro!
- Sim meu nenê, eu vi.
- Para! Vamos pegar ele!
- Não dá, ele deve ser daquela casa.
- Ahhhh, pai. Tu nunca quer pegar os cachorros perdidos...
- Mas nenê, aquele cachorro não tá perdido... Se ele estivesse, não iria estar sentado, mas sim, andando pela rua, procurando o caminho de casa...
Silêncio. Depois de alguns segundos, quando já estávamos longe do animal, ela sentencia:
- Mas se ele estivesse com a pata machucada eu levava...
É uma frasista, essa pequena nenê, como diz a vó Nara. Mas voltando à vergonha que ela tinha em assistir Carrossel na frente da tia Carol quando “era pequena”, ao ouvir tal frase, na volta do Taekwondo, resolvi questionar:
- Mas por que afinal de contas você tinha vergonha da sua tia?
De bate pronto, ela respondeu:
- Não sei pai, eu era pequena...
Simples assim, como simples e sincera são as respostas das crianças.
Após contar essa história para a tiadinda Carol, acabei oferecendo uma rifa da escola da Lary, que na verdade são votos para princesa da escola. A Lary estava ao meu lado, e comentei que eu estava ofertando a tal da rifa para a tiadinda Cartolina, como diria o primo Gérson. Apenas para testar, perguntei quantos números ela queria vender para a dinda, ao que ela respondeu, sem pestanejar: “todos”. Um pouco da cara de pau ela herdou desse que vos escreve...
Bom, agora ela está escolhendo o presente que vai pedir para a dinda de aniversário... Ela queria o busão da Patrulha Canina, entretanto fui pesquisar nos sites e passa dos 700 reais, mas vou poupar a dita cuja desse desfalque...
Alguém se habilita?

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O eterno retorno

Nos últimos dias, meu telefone não parou de tocar. Minha caixa de email ficou absolutamente lotada. De dez em dez minutos uma pessoa apertava no interfone aqui do prédio. Recebi mensagens de Porto Alegre, São Paulo, Rio, Bogotá, Nova York, Paris, Londres, Casablanca, Kingston e Las Vegas. Anônimos e autoridades me procuraram. Então, acabei dando o braço a torcer e resolvi atender ao clamor popular: vou (tentar) colocar essa bagaça novamente na ativa.
A última vez em que eu havia escrito alguma coisa aqui para essa multidão formada por milhões de pessoas que só existem na minha imaginação, foi no dia 6 de agosto, ou seja, mais de dois meses atrás. Nesse período o Inter voltou a vencer, a Larissa aprendeu a contar até 100 e eu publiquei um livro. E é esse último ponto que vou abordar brevemente.
Entre 2009 e 2010 fiz mestrado na PUCRS e, do curso, nasceu a minha dissertação. Depois que terminei o mestrado, deixei-a engavetada e, após concluir o doutorado, revolvi pegá-la novamente. E, dessa volta à dissertação nasceu o livro que publiquei nesse mês de outubro de 2016: A Tribo Jornalística de Erico Verissimo. A síntese você pode ler na imagem ao fim desse texto. No entanto, o que busquei fazer foi transformar um texto acadêmico em algo mais literário. Umas 100 páginas absolutamente teóricas e de contextualização histórica foram suprimidas. O texto foi totalmente mexido e incluí histórias e considerações pessoais.
A primeira publicação não é fácil . Quase a metade dos 500 exemplares ficou comigo e o restante com a editora. Não publiquei para ficar famoso, muito menos rico, mas sim, para levar adiante um texto que escrevi depois de muita pesquisa e com enorme paixão pela literatura. Assim, a prioridade são os encaminhamentos para as bibliotecas das universidades que têm curso de Jornalismo. Porém, se o nobre leitor imaginário quiser adquirir uma cópia, tem duas opções: comprar pela Editora Unijuí (que publicou o livro), pela Livraria Cultura ou diretamente comigo (com um bom desconto). São apenas 500 cópias. O primeiro livro do Erico Verissimo, uma coletânea de contos intitulada Fantoches, teve a sua primeira publicação, em 1932, com 1.500 exemplares sendo postos a venda. Isso demonstra a minha tímida iniciação no mundo dos livros. Apesar disso (para meu consolo) foram vendidas apenas 400 cópias e as outras 1.100 foram perdidas num incêndio no estoque em que estavam. Obviamente, outras edições surgiram depois que o autor ficou famoso.
Hoje concedi uma entrevista ao jornalista Éder Calegari do jornal Folha do Noroeste, aqui de Frederico Westphalen. Ele me perguntou sobre os próximos projetos. Tenho três em mente, mas um é a princesa dos meus olhos. O primeiro é a própria tese, fazendo a mesma edição autoral que fiz com a dissertação. O segundo é teoricamente mais simples: reunir uma coletânea de escritos dessa bagaça – corrigindo e melhorando os textos. E, por fim, a minha obra prima (sic): uma ficção baseada no período em que fiquei um ano nos Estados Unidos, numa mistura de estilo bukowskiano e thompsiano. Porém, como pude ver na edição do livro que estou publicando, nada é rápido: preciso de um bom tempo para preparar o material, outro tempo para encontrar uma editora interessada e mais outro para ir negociando modificações e correções antes de ir para a gráfica. No caso do livro sobre Erico Verissimo, esse processo inteiro durou mais de um ano. Portanto, pretendo fazer isso com os três projetos que tenho enquanto ainda estiver nesse planeta, até porque depois vai ficar meio difícil...
Bom, agora que acalmei as massas, retiro-me para o meu anonimato. Podem parar de apertar o interfone ali embaixo, please!