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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Excremento futebolístico e textual

Na década de 1970, mais precisamente nos anos de 1975 e 1976, o jornalista argentino Orlando Barone conseguiu reunir, em encontros que foram gravados, dois dos principais nomes da literatura argentina: Jorge Luis Borges (1899-1986) e Ernesto Sabato (1911-2011). Dessas conversas, ele escreveu o livro Borges e Sabato, publicado pela Editora Globo em 2005. É um desses livros que vale a pena ler e ter na estante, pois o que Barone conseguiu foi uma raridade, tendo em vista que os dois escritores se odiavam, exatamente como aqui no Rio Grande do Sul se odeiam Juremir Machado da Silva e Luis Fernando Verissimo. Eu, que entrevistei o Luis Fernando Verissimo na casa dele para a minha dissertação de mestrado, e na semana retrasada tive o Juremir na minha banca de qualificação de doutorado, poderia dizer que seria um sonho reunir os dois inimigos em conversas como as que estão no livro Borges e Sabato. Mas isso não vem ao caso...
Lembrei desse livro porque a cada vez em que tento procurar algo importante na imprensa brasileira, na televisão, nos sites, nos portais de notícias, e só encontro baboseiras e coisas completamente banais, lembro do seguinte trecho da conversa entre os dois monstros da literatura argentina:

BORGES: Claro. Ninguém pensa que deve se lembrar do que está escrito em um jornal. Um jornal, digo, é escrito para o esquecimento, deliberadamente para o esquecimento.
SABATO: Seria melhor publicar um periódico a cada ano, ou a cada século. Ou quando acontece alguma coisa verdadeiramente importante: “O Senhor Cristóvão Colombo acaba de descobrir a América”. Título em letras garrafais.
Ler as páginas de esportes dos grandes jornais nessa época do ano, por exemplo, não serve pra absolutamente nada. Saber que o Grêmio contratou o Vargas. Grande porcaria! Enquanto o Grêmio não conquistar um título importante, de nada vale tal notícia. No Inter: William diz que quer ser campeão brasileiro. E qual jogador que disputa o Brasileirão não quer ser campeão antes de o campeonato começar????
E Borges (foto 1) e Sabato (foto 2) já se davam conta dessas bestialidades midiáticas em 1974. O banal é esquecido. O relevante é permanente. Transações, especulações, jogadores de segunda linha, vice-campeões são todos jogados no mesmo saco:
o da obscuridade. Títulos, troféus importantes, vitórias milagrosas, essas sim, são dignas de comentários em um texto impresso. Abordagens de fatos relevantes podem ser guardados por colecionadores e torcedores fanáticos. Já textos sobre fatos banais, vão para a gaiola receber do periquito aquilo mesmo que eles são: excremento.
Um bom final de semana a todos.
* Texto que será publicado no J Missões de sábado. (se Deus, o editor e o diretor quiserem)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Puta falta de religião

Pedro entrou no quarto. Ela fechou a porta e disse:
- São 70 pila.
Ele catou no bolso duas notas de 50 reais amassadas e as colocou na mão da moça.
- Peraí que vou lá buscar troco. Pode ir tirando a roupa.
Pedro se livra do terno, tira tranquilamente as calças (assobiando Carnaval em Veneza), desamarra a gravata e a joga sobre a escrivaninha, desabotoa calculadamente a camisa antes de fazê-la voar para o outro lado do quarto. Olha-se no espelho, só de cueca e pau duro. Gosta quando elas olham o seu cacete ereto e volumoso através da sua boxer vermelha. Sempre conclui que aquilo deixa qualquer xoxota molhadinha. A verdade é que nunca falha. Ela volta e lhe devolve 30 reais. Ao ver o volume dentro da cueca, murmura:
- Hmmmmmmm.
Está massageando, quando vê, sobre a cama, um volume preto, que julgou reconhecer:
- O que é aquilo? – perguntou.
- Uma bíblia.
Ela riu. Achou que era brincadeira. Ficou pensando. Quando estava ajoelhada, pronta para colocar o pau de Pedro na boca, hesitou:
- Sério que é uma bíblia?
Ele, que estava contando os segundos para sentir aqueles lábios carnudos em seu pau, murmurou um “hum-hum”. Ela parou. Largou o pau e foi ver se era mesmo a bíblia.
- Não acredito.
- O quê?
- Como você vem com a bíblia num lugar desses?
- ....
- Seu safado, sem vergonha!
- ....
- Sai fora daqui, seu filho da puta!
- Calma, calma! Todos nós somos filhos do Senhor: você, eu, a cafetona, todos!
- Falta de respeito! Segurança! Ô segurança!
Em poucos segundos um Scherek de 2 metros de altura e 180 quilos entra e coloca Pedro para fora, sem antes dar umas sanfonadas que lhe deixam com o nariz esmigalhado.
FIM

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Velhos tempos

Fui passear hoje, dia 1° de janeiro de 2013, com minha pequena pelos arredores aqui da casa da mãe, em Santo Ângelo, e resolvi passar pela frente do Colégio Sepé Tiaraju. Caralho, está muito diferente. É praticamente outra escola. Enfim, apesar da diferença estrutural, vi nossos fantasmas ainda brincando e zanzando por ali. Enquanto minha pequena desenhava com um pedaço de tijolo na calçada uma “baibaina” (bailarina) eu enxergava o campinho velho, que tinha uma lateral do campo mais baixa que a outra, onde a gente jogava futebol com pinha na hora do recreio; a quadra de basquete com pedra brita e não coberta – bem diferente de hoje –; e a boa e velha pista atlética que dávamos voltas conversando sobre tudo na hora do intervalo. Lembrei-me de uma porrada de gente, alguns poucos eu mantenho contato ou sei por onde andam, enquanto outros não faço ideia de onde foram parar.
A lista é grande, e certamente esqueci dum monte de gente. Dos velhos tempos, lembrei do Maikel, que até hoje se envergonha de ser meu amigo e ter seu nome citado no blog, mas no fundo é gente boa. Lembrei-me do Harlei, que pelas últimas informações que tive está morando em Santa Catarina. Também lembrei do Fernando Hamster, que encontrei no início do ano e parece que anda por Lajeado trabalhando no Banrisul. O Bueno e o Carlos Daniel, que estão trabalhando na área de segurança pública. O Cristian Morcegão, que andou por São Paulo e Santa Maria como músico, e agora não faço ideia do que está fazendo. O Christian Peruzzi, que é meu amigo no Face e que às vezes recebo alguma notícia dele e de sua família (também casou e tem filha). O Fernando Sandri, que às vezes vejo zanzando por Santo Ângelo. O Felipe Pipo, que até encontrava por Santangelo alguns anos atrás, mas que nunca mais vi. O Pietro, que está no jornal Pioneiro, de Caxias do Sul. O Jorge Chileno, que joguei bola com ele ainda nesse ano e trabalha com informática em algum lugar por aí. E outros que realmente lembro, mas não faço ideia de onde andam, como o Álvaro (que batia em todo mundo), o Juliano Bassani (que tinha ido embora pra Joinville), o Cléber Chimena, o Dióenes, o Chiquinho, o Émerson Pernil, o Rodrigo Batata na Goela e o Alexandre Chupim, que vi pela última vez quando eu ainda estava na graduação, pegando o ônibus para Santa Rosa, pois ele trabalhava lá e eu ainda achava que ser um rebeésseteveético fosse grande coisa. Também tinha o Jean Bezerra e um outro Jean, que chamavam de Jean Bobão, até que um dia eu me estranhei com ele e levei uma surra (também dei surras, mas nessa prevaleceu a lógica: ele era muito maior do que eu) e aí pararam de chamar ele de Bobão. E tinha o Marco Lagartixa, que também até pouco tempo atrás morava perto da casa da mãe, aqui em Santo Ângelo, mas que nunca mais vi.
Havia ainda as gurias. Algumas foram amores platônicos, como a Simone, a Manuela, a Fernanda e a Georgia. Outras eu também achava bonitas, mas sem chegar a me apaixonar, como a Paula Tobias e uma amiga dela, meio ruiva, que realmente não lembro o nome (algo como Geseane ou Gisele).
Também me recordo das professoras e de cenas bizarras, como a vez em que eu e o Harlei tivemos um ataque de riso enquanto a Manuela declamava uma poesia gaúcha para toda a turma e, mesmo depois, enquanto a professora Natália, de Literatura, dava-nos uma mijada na frente de todo muito, nós continuávamos rindo até lacrimejar. Também houve o jogo histórico, quando o meu time, que era formado pelos terceiros reservas da turma da 8ª série (se não me engano, era o Chimena no gol, o Bueno, o Cristian Morcegão, o Jorge e eu) ganhamos do time principal num preparativo para o campeonato da Semana Cenecista por 3 a 2, com três gols do Jorge chileno (já contei essa história aqui). E teve outra, lá pela 6ª ou 7ª série, quando eu e o Maikel, inconformados em ser reserva de uns pernas-de-pau que eram da panelinha dos playboys, resolvemos bagunçar com a última aula de educação física antes do campeonato (que era como se fosse o último treino antes de uma Copa do Mundo), pegando a bola com a mão para cometer pênalti propositadamente. Nisso, o Chiquinho foi para cima do Maikel, e acabou levando a pior...
Enfim, são muitas lembranças, isso que eu nem comentei aqui as do Ensino Médio.
Em frente ao colégio onde estudei, fiquei olhando minha pequena, e desejando para que ela viva momentos tão bons quanto os que vivi nessa fase que, creio eu, foi uma das melhores da minha vida.
Chega de nostalgia. Que venha 2013 e mais lembranças para o futuro. Hasta!