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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Xingando o Arion sem nenhum pila no bolso

Como estou estudando os meios de atrair a atenção do público, vou usar um dos artifícios que mais tem agradado aos leitorinhos tupiniquins desse blog: xingar o Arion. Bom, de início eu pensava que esse artifício empatava com as histórias relacionadas a minha alergia a ovo, mas depois dos últimos posts eu acho que o que mais da ibope mesmo é xingar o Arion.
Portanto, antes, durante e depois do texto a seguir, eu vou xingar um pouco o Arion para garantir o ibope. É meio como os programas de auditório do Gugu e do Faustão, colocam a mulherada pelada para garantir a audiência. Nesse caso, como os leitores do meu blog tupiniquim são pessoas de família, então só vou xingar o Arion. Quem quiser ver mulher pelada que acesse algum site do tipo, sexonabanheira.com.
Portanto, fiquem vocês sabendo, que o Arion é um azougado, um nigromante, um mentecapto, um bocó, um cagalhão, um desleixado, um descarado, um desavergonhado, um salafrário, um relaxado e um petulante! (depois tem mais)
Pronto, agora vou para a minha história, que aconteceu nessa semana na minha ida semanal para a aula de mestrado em Porto Alegre. Cara, ter dinheiro não é a minha especialidade, como os leitorinhos tupiniquins que acompanham a minha coluna há mais tempo sabem, eu cheguei a entregar panfletos no centrão de Porto Alegre, e no período que morei em Ijuí também inventei muitas coisas devido a ausência de mirréis na minha carteira. Pois, relembrando esses tempos árduos, eu fui para Porto Alegre com exatos 16 reais e 60 centavos na carteira. Bom, nada mal, com esse dinheiro dava para pegar o ônibus para ir da rodoviária até a minha irmã, e de lá voltar para a rodoviária para retornar ao meu ponto de origem, ou seja, Santo Ângelo. Meu gasto absolutamente necessário era de 4 reais e 20 centavos (a passagem é 2 e 10). Estava praticamente rico. Cheguei na rodoviária em Porto Alegre, e fui para um dos botecos que lá existem e pedi uma torrada e uma latinha de Coca. Mó luxo. Cinco e 15 da madruga e eu comendo uma torrada e uma latinha de Coca, que me custaram somente 5 reais e 50 centavos. Às seis fui pegar o Campus-Ipiranga e lá se foram mais 2 e 10, o que fez com que me sobrassem exatos nove reais. Uma nota de cinco e duas de dois. Mó chiqueza. Fui para a aula, sabendo que o professor daria alguns textos para a próxima semana, o que resultaria em gastos com xérox. Dito e feito, o professor, que me apelidou de assessor para assuntos de xérox desde a vez que eu pedi para tirar xérox porque precisaria sair mais cedo porque tinha um compromisso, me deu dois textos para xerocarmos. Enquanto eu me dirigia da sala de aula até o xérox eu ia pensando:
“O Arion é um nauseabundo, um ordinário, um malévolo, um ser realmente lamentável, um crápula, um impuro, um incapaz, incivil, inútil, jegue, negligente, um... um... malfeitor maldito e louco... um mau-caráter medonho...”

Até que cheguei no xérox, já não sabendo do que mais eu poderia xingar o Arion. Pedi os xérox, e eu me cagando que fosse dar mais de 9 reais. Bem, eu sabia que tinha 7 reais na minha poupança (uhullll, rendimento de aproximadamente 1 centavo ao mês) e se precisasse, eu iria até o prédio 40 sacar a grana. Mas não precisou. Pelo menos não ali, naquele momento. Deu exatos 8 reais e 60 centavos. Com orgulho recebi meu troco de 40 centavos, que guardei na minha niqueleira do Grêmio. Porém, como eu precisaria de dinheiro para ir até a rodoviária, e minha irmã já tinha me dito em tom enfático que não tinha absolutamente nenhum centavo para me emprestar, tive que ir até o caixa eletrônico para sacar minha rica grana. Fui até o prédio 40, entrei na fila feliz da vida, pronto para sacar meus 7 pila, mas, porém, todavia, contudo, a máquina só tinha notas acima de 10 reais. Diabos! Malditos banqueiros, pensam que pobre não saca dinheiro. Sai de lá xingando mais ainda o Arion. “miserável, anta, bocó, aparvalhado, capeta, cão, canalha, monstro, trouxa, toupeira, arigó, zebróide, estúpido”. Em meio aos xingamentos, lembrei que tinha uma agência do banco dentro da PUC, lá na entrada. Cheguei lá e tinha três caixas eletrônicos. Senti-me na porta da esperança. Ou no Topa ou não Topa? Só faltava o Sílvio Santos lá me perguntando: “qual você escolhe?”.
Fui no bem da esquerda. Mesma merda, só notas de 10. Fui então no segundo e... notas de 2 reais! Uhuulll! Saquei seis reais. Tinha garantido os 2 e 10 da passagem e com os cinco e 30 que sobrava (tinham sobrado 40 do xérox, lembram?) eu pude comprar quatro pãezinhos, uma coca de 1,75 litros e uma batata palha velha que tinha na promoção do mercadinho por um e 50. Fui para casa feliz da vida e ainda tirei um cochilo e enchi o bucho antes de voltar para as Missões!
E quando cheguei aqui, antes de dormir, ainda tive tempo para xingar o Arion mais um pouco de: infeliz, inútil, infernal, obtuso, palerma, louco, maldito, vagabundo, traidor, torpe, birrento, brechento, covarde, coitado, deplorável, depravado e muito, mas muito mais!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Teorias, teorias, teorias...

Estou há poucos minutos de pegar o ônibus e estava refletindo acerca de importantes assuntos sobre o futuro da humanidade, porém, me desconcentrei ao ver que ninguém comentou meu último post, o que me leva a crer que estou pior do que o meu professor. Ele disse que lê somente os autores nortistas (da América, não do Brasil) e que não tem a ilusão de que leiam os seus livros, mas que pelo menos tem o consolo de que a mãe dele o lê. No meu caso, nem a minha mãe me lê. Aliás, ele descobriu que um de seus livros vai cair na prova de seleção do mestrado e avisou isso à mãe dele, livrando-a assim da obrigação de ler os seus livros. Mas, sem querer ser puxa-saco, apesar de inevitavelmente parecer isso um comentário puxa-saco, o livro dele é muito bom, o Mídia e Terror. Admito que se não fosse leitura obrigatória para a prova dificilmente leria, por ter uma lista de livros que tenho que ler e que não tenho tempo, mas admito também que é um livro muito bom e que apresenta muitos dados interessantes, que também não vou ficar colocando aqui, até porque você pode ser um concorrente na seleção do final do ano.... enfim, se tiver interesse, beba você mesmo direto da fonte.
Mas voltando aos meus pensamentos, aproveitando os poucos minutos que me restaram a partir de agora (e ainda quero fritar uma carne moída para comer antes de ir), estava pensando como o ser humano não é muito diferente dos bichos em relação ao comportamento. Principalmente nessa época de eleições. Bom, vou ter que inevitavelmente citar o livro do Jacques. Ele coloca que para você processar uma informação já tem que ter uma série de arquivos em sua mente, que entram em funcionamento ao receberem os dados. Claro que esse é o resumo, do resumo, do resumo. Existem outras complexidades em todo esse processo, mas enfim, é disso que se valem as propagandas eleitorais, e os manuais de comportamento, e os livros de auto-ajuda, e os livros de como enriquecer rápido, e os livros de como conquistar amigos, e os livros de como ser menos chato, e tal e coisa e tudo mais. Tipo, (desculpem, mas o uso do “tipo” foi inevitável) tudo isso se vale da idéia de que se você agir de determinada forma obterá inevitavelmente e irrevogavelmente o resultado esperado, o tão almejado SUCESSO! Ou seja, todos os outros seres humanos reagem da mesma forma ao receberem determinado tipo de informação ou ao presenciarem determinada situação ou ao ouvirem determinada frase. Claro que isso dependendo do grau de informação exigida do receptor e o resultado almejado, que se torna complexo em maior ou menor grau. E os bichos, incluindo o cachorro que está aí do seu lado se coçando, ou lá no pátio latindo, são exatamente assim. Se você o ensinou a sentar quando você diz “senta” ele arquivou em sua mente essa reação ao identificar a sonoridade da palavra “senta”. Esse é um ensinamento específico, que só o seu cachorro tem. Ou seja, alguns comandos servem para as pessoas que tem aquele arquivamento exigido para a reação esperada. Mas tem algumas reações que são globais. Como a dos cachorros. Por exemplo, você estala os dedos o cachorro levanta a cabeça e olha para você com a cabeça erguida. Você faz um barulho curioso e ele fica te olhando com a cabeça torcida com cara de burrinho. O mesmo vale para os seres humanos! Você está num lugar formal e grita “merda!”, todo mundo vai olhar para você com espanto. Você descobre que a sua namorada (o) está te traindo, e então você quer matar ela ou ele, ou a (o) abandona, mas existem aí uma série de reações padrões. O seu time faz um gol, você comemora. Você vê um palavrão em meio a um jornal sério, você ou fica indignado ou acha graça. Você vê um PM dançando a Piriquita, o mesmo. Enfim, existem uma série de reações pré-determinadas.
Bom, um exemplo disso é a própria teoria do meu professor, que não vou expor toda ela aqui, até porque ele não a contou por completo, que aborda o que ele chama de “lubrificantes sociais”, ou seja, são elementos que geram a conversa entre as pessoas e interação direta envolvendo as criaturas. Como por exemplo, o happy hour, ou quando você usa uma camiseta de um time de futebol, e os outros puxam papo contigo falando coisas do tipo “vamos vencer domingo?”, ou o passeio com um cachorro, que também faz com que outras pessoas percebam a sua existência, ou seja, sem o cachorro você não seria nada...
Enfim, acabou o tempo, vou nessa. Sei que os pensamentos ficaram incompletos, mas vou pensar mais sobre eles no ônibus, e quem sabe, algum dia voltarei a aborda-los em algum espaço qualquer de algum blog qualquer, possivelmente o meu mesmo. Até a volta, fui! (PS: não deu tempo de revisar, outra característica típica dos blogs, então desculpem os erros de português e as idéias embaralhadas, mas na volta, se der, eu tento corrigir, e também acho uma foto bem lega pra postar junto).

sábado, 20 de setembro de 2008

Sobrevivi!

Apesar de estar sumido do blog há uma semana, resolvi aparecer para dizer a todos os leitorinhos tupiniquins que sobrevivi aos atentados terroristas de Lara Nasi e Arion Fernandes! E além disso, ainda enchi o bucho de comida sem ovo e de cerveja, muita cerveja!!! E ainda dancei, cantei, gritei, xinguei os dois terroristas (nas suas respectivas festas) e comi mais comida sem ovo, e dei risada, e xinguei mais ainda os dois terroristas!
Aliás, eles não são tão do mal, até porque estava muito boa a festa de ambos os dois, apesar que é de se desconfiar, sei lá, de repente eles não colocaram ovo mesmo na comida mas tinha uma bomba relógio em um dos salgados que irá explodir às 22h49 do dia 13 de setembro de 2029, vá saber... Pior se eu morrer antes, ai explode tudo embaixo da terra e dá um terremoto...
Mas enfim...
Bom, não tenho escrito muito aqui pelo simples fato de que tenho muitas coisas para ler, além do trabalho no jornal, aulas pra gurizada, coluna em Cândido Godói, e por ai vai...
Mas se eu não voltar em 10 dias, podem começar a desconfiar desses terroristas do ovo...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Loucos e loucuras


Bom, queria falar aqui hoje de dois assuntos. Ou melhor, corrigindo, eu não só queria como vou falar aqui de dois assuntos: do PM paulista que dançou mambo e a periquita, e da formatura dos meus amigos (ou inimigos?) Lara e Arion, amanhã.
Vou começar falando do referido policial. Virei fã dele. A primeira vez que vi as imagens foram no Fantástico do último domingo. Estava jogando canastra, quando apareceram aquelas imagens cômicas. Eu me matei de tanto rir, enquanto outros ficavam indignados. Mas pô, deixa o cara dançar a periquita e dançar mambo. Faz tão bem. Experimente você fazer isso aí na sua casa. Ou no trabalho, mas nesse caso, não filme. Ou até pode filmar, porque daqui uns dias esse PM aparece como novo apresentador da Rede TV ou da Record. Mas enfim, como já disse o David Coimbra certa vez em uma de suas crônicas, ver que uma pessoa está feliz irrita as outras pessoas. Ainda mais se ela estiver no trabalho. Tem que mostrar serviço. Tem que sofrer. Tem que estar fazendo alguma coisa o tempo todo, senão você não é visto como útil. E a sua alegria, como foi no caso do policial, certamente irritará aqueles que estiverem infelizes e irritados com as suas vidas. Faz algum tempo que comecei a discutir com uma pessoa a minha felicidade no meu emprego, no meu namoro e no mestrado, e ela teimava e brigava dizendo que eu pensava estar feliz, mas que eu não estava feliz, e que eu só descobriria minha infelicidade no futuro. Porra, então deixe que eu pense que estou feliz, que pra mim está ótimo, e futuro que se foda. Até hoje me pergunto porque dediquei tanto tempo para aquela discussão (que deve ter durado uns 20 minutos, até que mandei ela se afumenta). Enfim, sejam como aquele PM, dancem e dêem risada que faz bem para a saúde (ó Gérson: mais um pouco de auto-ajuda paulo coelhana, apesar de não ler o orelhudo).

Agora vou falar um pouco sobre a formatura da Lara e do Arion. Bom, para falar a verdade estou com medo, principalmente porque sei que sofrerei um atentado de assassinato com ovos. Os dois prometeram que haverá comida sem ovos em ambos os coquetéis. A líder revolucionária Lara Nasi chegou a me prometer uma mesa só para mim, com doces e salgados sem ovos. Suspeito. Muito suspeito. Mas vamos lá. Provavelmente haverá várias câmeras filmando o momento em que eu engolir o primeiro doce com ovo e todas as minhas reações alérgicas serão transmitidas ao vivo para o mundo inteiro, da mesma forma que transmitiram o ataque de 11 de setembro, e essas mesmas câmeras ficarão me focando até eu dar o último suspiro. E certamente outros traidores estarão lá para fotografar o meu corpo e vender para os principais jornais do país e do mundo por telefone celular na mesma hora. Já vejo meus olhos esbugalhados estampados na capa do New York Times na edição de segunda-feira. Aliás, o livro que estou lendo chama-se Mídia e Terror, do meu professor Jacques Wainberg, muito bom, que fala justamente da utilização da mídia por parte do terrorismo. E é exatamente isso que eu suspeito que os terroristas do ovo, Lara e Arion, estão fazendo. Eles querem assustar um grande número de pessoas com a morte cruel de um inocente. Para isso, eles atrairão a atenção da mídia mundial para apresentarem suas reivindicações ao mundo. O terrorismo é assim: crimes cruéis que chamam a atenção da mídia e a conseqüente publicidade. Negativa, é verdade. Mas antes a publicidade negativa do que publicidade nenhuma, diria o Jacques.
Depois disso talvez você esteja perguntando o que o PM tem a ver com a Lara e o Arion. Eu respondo: fora o fato de todos eles serem completamente loucos e bem humorados, nada. Ou tudo. Sei lá, tire você as suas próprias conclusões.

Um estudante se aproxima de mim e pergunta:
- O que é preciso para ser escritor?
- Dinheiro.
- Dinheiro?
- É. Dinheiro.
- Como ãnsim?
- Com um pouco de dinheiro você pode escrever um monte de merda e pagar para as editoras publicarem. Se você tiver um mínimo de talento, ou talvez sem talento nenhum, você compra espaço na mídia e terá seu rostinho lindo estampado em revistas e jornais e concederá entrevistas às rádios e emissoras de TV e será eleito patrono de alguma coisa. Já sem dinheiro, você pode ser um bom escritor, mas não será publicado. A não ser que seja completamente louco, como Bukowski, Picasso e Keroac, ou se tiver muito, mas muito talento e muita força de vontade, como aconteceu com o Erico Verissimo. No primeiro caso, você só ficará famoso depois que morrer pobre em uma noite gelada deitado entre quatro cachorros de rua, que serão a sua única companhia. Ou senão, só se tiver muita, mas muita sorte. Entendeu?
- Hmmmmm. Mais ou menos.
- Você tem dinheiro?
- Sim.
- Seu pai é rico?
- Sim.
- Ah, então não precisa entender mesmo... Só escreva e publique. Pronto.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Adeus Banzé!


O texto a seguir, é o que eu inscrevi no concurso Machado de Assis, e que não foi o vencedor. Na verdade esse eu escrevi primeiro, e o segundo eu inscrevi por inscrever e que foi o que acabou ganhando o concurso.
Bom, de qualquer forma, aí vai:

Adeus, Banzé
Quando ele a conheceu, estava completamente perdido. Havia se entregado a bebida, faltara três vezes ao emprego por tomar porres federais, e só não foi demitido porque tinha anos de casa e, apesar de todos os defeitos, era o funcionário com maior talento na empresa. Na verdade, era o único. Também não tinha motivos para se entregar de tal forma ao álcool, apenas estava vivendo uma crise existencial. Não acreditava no amor, não acreditava nas mulheres, não acreditava na família, na estrutura social, no capitalismo, muito menos no socialismo. Acreditava apenas na existência dele mesmo e no fato de estar vivo, e por isso precisava curtir a vida. Foi com esse pensamento que ele foi parar naquele puteiro. Estava lá, sentado no balcão, tomando uma cerveja, quando ela se aproximou sorrindo. Ele sorriu de volta, e ela lhe perguntou com voz doce: “Posso te fazer companhia?”. Por um momento, o trago, a sua confusão mental e a sua crise existencial foram todos pelos ares, e ele respirou fundo e respondeu: “claro”.
Ela era diferente das outras. Sentou ao seu lado, e não no seu colo. Começaram a conversar e ele se sentiu a vontade desde o início. Ela ria de suas piadas e também falava coisas interessantes, apesar de apresentar uma visão simplista da vida, típica de quem nunca leu sequer um livro da Coleção Vagalume. Claro que quando o copo esvaziava, ela sorria e perguntava: “mais uma meu amorzinho?”. E ele não só aceitou mais uma, como decidiu que queria ouvir aquela voz doce lhe chamando de “meu amorzinho” para sempre.
Observava suas coxas enquanto ela falava que no dia anterior pegou a sua filha de cinco anos fumando no banheiro. “Pode isso? Quando vi aquela fumaça saindo do banheiro abri rápido e era o nenê com um cigarro na boca”, e ela contava isso achando a maior graça do mundo, enquanto para ele, a única graça que o mundo podia lhe dar era aquele par de coxas bronzeadas e douradas, que diziam: “vem”.
Ele então, passou a mão naquelas pernas torneadas, enquanto ela seguia obstinada a falar e a dar risada. Quando ela parou de falar, ele estava completamente hipnotizado olhando para dentro de seus olhos. Ela sorriu sem graça, e os dois lábios se aproximaram e se tocaram. A sua língua invadiu a boca dela, e ele pensou que naquele momento havia encontrado a razão de estar ali, de estar respirando e agüentando toda a escória humana que insistia em defecar frases sem sentido de todas as formas. Tudo o que passou por aquela boca – pensava - é menos nojento do que a hipocrisia do dono desse prostíbulo, que enche os bolsos dizendo que está fazendo um bem às meninas, menos vergonhoso do que o vereador que está no quarto com uma delas, enquanto deixou a mulher dormindo em casa, e menos revoltante do que o discurso moralista de seu pai, que enche a boca para condenar a todos em nome da moral e da religião, mas que mantém uma segunda família com a amásia que arranjou em uma cidade próxima, e que, para evitar um escândalo social, a mandou para a Bolívia, pagando mil reais por mês em troca do bico calado. Aquilo sim é que era podre. Já a boca de Sirlema (ou seria Jurema? Vá saber) não tinha toda essa merda. A sua língua começou fazendo movimentos circulares rápidos, mas ele logo a acalmou, da mesma forma que um ginete acomoda o seu cavalo. Era como se houvesse uma troca de clamores naquele beijo. Como se um pedisse para que o outro entendesse. Como se um dissesse para outro que a culpa dessa situação toda não é deles, afinal, a única coisa que querem é curtir a vida para ser feliz.
Mas, como tudo que é bom dura pouco, o beijo acabou, e o dinheiro de Carlos também. Sirlema pede mais cerveja e ele diz que não pode dar. Fica calmo, achando que eles estão apaixonados e que sairão dali para um motel, e que de lá irão para a casa dele, e lá dormirão juntos, e ela almoçará com a sua família, e todos vão adorá-la, já que ela é muito espirituosa, e então eles se casarão, terão filhos, e viverão felizes para sempre. Mas a vida não é assim. A vida é cruel. Não permite amores nem sonhos. A vida exige dinheiro e senso crítico (era o que o seu pai sempre lhe dizia). E ela, a Sirlema, levantou aquele rabo delicioso e saiu rebolando para dentro da copa. Ele ficou lá, com cara de cão arrependido, e a viu sair da copa e receber os novos clientes que estavam chegando. Ela conversava com um deles da mesma forma que há pouco estava lhe convencendo que o amor era possível sim! E foi com esse mesmo par de olhos que ele a viu beijar a boca daquele maldito sujeito com cara de mexicano e subir no colo dele, e aquele beijo mais parecia um beijo de cena final de filme hollywoodiano, e depois de mais um tempo de conversa, ele a viu subindo com o mexicano para um dos quartos do puteiro.
A vida era realmente triste. Foi então que decidiu ir embora e andou na direção de seu carro. Na saída, bateu a lateral em uma árvore do estacionamento sem dar a mínima bola e ingressou na rodovia. Quando passou por uma ponte, se perguntou até quando seguiria se iludindo e acreditando nas pessoas? Chegou em casa com vontade de chorar, e ao abrir a porta tropeçou em um corpo. Tratava-se do cadáver de seu cachorro Banzé. Era seu único amigo. O único ser em quem ainda tinha alguma confiança. Vai com Deus, Banzé. Com certeza você está melhor do que todos nós. Passou pelo corpo, caminhou trôpego até a cama, deitou, e dormiu. E nos seus sonhos, conseguiu ser feliz.