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sábado, 20 de fevereiro de 2010

Cagaço no ar

Descobri o óbvio: para escrever, precisa-se de clima. Aliás, como tudo na vida. Estou louco para escrever sobre o Carnaval no Rio, o avião parado em frente de uma serra na chegada no aeroporto em Curitiba, Jesus me chamando para o além do outro lado, as festas nos blocos, as fantasias todas, as conversas malucas que tive, as cenas bizarras que vivenciei, os cantos animados das marchinhas, enfim, tem muita coisa que quero contar, mas, falta clima. Aliás, tem duas coisas que ajudam no clima: bebida e música. É o melhor. Ah, e a solidão. Para escrever, é preciso estar sozinho consigo mesmo. Há pouco o pessoal saiu aqui de casa para a gandaia e eu fiquei, e meu colega disse “o editor não tem espírito de grupo”. De fato, eu gosto do espírito de grupo, às vezes até me esforço para me enturmar mais, mas, para escrever, no meu caso, é preciso estar só. Completamente só. Se tiver alguém ao redor falando, perguntando, conversando, etc, não rola. É broxante. É como você estar lá, fodendo, e a mina falar “goza logo que não posso demorar”. Ou, você estar lá trabalhando e ela falar “não posso dormir tarde porque tenho médico amanhã de manhã”. Broxante, broxante. Acho que só conseguia escrever com alguém por perto quando morava com a minha irmã... Pensando bem, acho que não. Quando eu estava escrevendo, mandava ela ficar quieta, e depois que terminava o texto, enchia o saco para que ela lesse todas as baboseiras recém escritas.
Mas agora, falando sobre os dois elementos da inspiração (além da própria inspiração), estou aqui em Bento sem bebida e sem grana para comprar a bebida. Já em relação a música, consegui dar um jeito. Como estou escrevendo no note sem internet (agora é noite de sexta-feira), não posso colocar nenhuma música no youtube ou algo assim. No entanto, está passando o Laboratório MTV, com uns clipes meia boca. Quebra o galho. Mas ainda falta a inspiração e a bebida para eu voltar para o Rio. Ou para o avião. Parado. Simplesmente parado em frente a uma serra. E eu olho pela janela, e vejo a serra parada na frente do avião, e o avião parece estar olhando para a serra, e olho para baixo e vejo um monte de arvorezinhas, que parecem tão pequenas e inofensivas, mas tento calcular o impacto que um avião caindo daquela altura pode ter ao se chocar com elas, e meu estômago parece que vai sair pela boca, e meus olhos se arregalam, e eu fico branco, suando frio, pensando “agora vou descobrir como é o além. Será que vou morrer aqui e imediatamente nascer na China?”, imagino minha família em meu velório, me pergunto se meus amigos que moram longe se darão ao trabalho de viajar para acompanhar meu enterro, fico me questionando com quem meu amor platônico vai casar, quem vai cuidar do Jamelão, enfim, um turbilhão de coisas passa pela minha cabeça enquanto aquele avião está parado na frente da serra, e olho para a frente e vejo um monte de cabeças se erguendo e olhando para os lados, perguntando “que porra é essa?”, como aqueles animaizinhos africanos de pescoço cumprido, e olho para trás e o casal que está sentado lá me olha com a mesma cara de pavor, e eu sinto um nó na garganta, até que o avião começa a se mexer lentamente, e começa a virar para a esquerda, bem devagarinho, e o motor dá umas falhadas como aqueles fuscas antigos, e quando eu não vejo mais a porra da serra e o avião volta a andar, o estômago volta para o lugar, minhas pernas seguem trêmulas, e prometo a mim mesmo: “ de hoje em diante, serei um homem melhor”. Mas ao chegar em Porto Alegre ligo para meu amigo Cristiano e marco de passar lá para tomarmos um trago, afinal, é feriado de terça de Carnaval, e o Carnaval que eu tive merece um trago para comemorar, bem como o cagaço que levei no avião também merece um trago para aliviar! Ixi, até que rendeu a porra do texto...

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