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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Cartas na rua

“Cartas na rua” é o título do primeiro romance escrito pelo velho safado Charles Bukowski narrando a vida no submundo de Los Angeles dos anos 1970, quando ele trabalhava como carteiro, e gastava as migalhas que ganhava com bebidas e mulheres. Mas não é a esse livro que faço referência nesse texto, e sim, às cartas mesmo, essas, de papel que você manda (ou mandava) pelo correio.
Pesquisando sobre a vida de outro norte-americano, o jornalista Hunter Thompson, encontrei uma infinidade de livros biográficos em inglês (pra variar, nenhum em português) e vários deles formados a partir de correspondência do jornalista com amigos, inimigos, editores, leitores, políticos, etc. Tem um, que é uma relíquia que pretendo adquirir num futuro próximo, que tem quase 800 páginas só de correspondência dos últimos 10 anos da vida do escritor (que morreu em 2005). Fiquei me questionando: e se fosse hoje? Como recuperar a correspondência de alguém, se hoje a correspondência é toda eletrônica?
O tempo passa e, quanto mais passa, mais velho fico e mais velho me acho. Às vezes me sinto um vovô explicando para os mais novos que “no meu tempo” eu me correspondia por carta com os primos que moravam longe. Lembro que uma vez escrevi uma carta indignada para a Revista Placar, reclamando que eles não davam espaço para os times do sul. Passou-se um mês e recebi uma longa carta do Juca Kfuri, que era o editor na época, explicando como funcionava a linha editorial da revista. Mal ele sabia que o leitor indignado, que ele tratava por Senhor Eduardo, era um guri de 12 anos cheio de espinhas na cara. Outra vez, quando o Felipão foi para o Palmeiras pela primeira vez, fiquei enfurecido pela “traição”. Não tive dúvidas, peguei o endereço do Palmeiras no meu álbum de figurinha e mandei uma longa carta dizendo o quanto eu estava decepcionado pela sua ida para o Parque Antarctica, que na época era o grande rival do Grêmio no cenário nacional. Além disso, troquei correspondência com as coisinhas fofas que eu conhecia no veraneio, na praia, mesmo sabendo que nunca mais as veria. Enfim, bons tempos...
Mas o que quero dizer é que hoje a carta (conhecida por email) se banalizou. As pessoas não gostam do que escrevo aqui e resolvem mandar um e-mail falando qualquer coisa, pois isso não dá nenhum trabalho. Não precisa mais sentar, pensar, escrever por vários minutos, quiçá horas, deslocar-se até o correio e botar a carta para receber uma resposta, quando muito, uma semana depois. Ou seja, a correspondência, que no passado tinha um puta valor simbólico, banalizou-se.
Essa mesma banalização se tem hoje, na Libertadores. “No meu tempo” só ia para a Libertadores o campeão da Copa do Brasil e o campeão Brasileiro. Não tinha essa barbada de vice ou de terceiro colocado se classificar. Naquele tempo, pra ser campeão da América tinha que ser o melhor do seu país. Mas, como os tempos mudam, e nem sempre para melhor, vamos torcer para a dupla ganhar dos seus adversários nesse final de semana para lutar pelo 3° e 4° lugar, que é o que nos resta.
Hasta! Um bom final de semana a todos.

*Texto publicado no J Missões de amanhã.

1 Comentários:

  • No teu tempo é bom! Imagina eu falando do "meu tempo"!
    Meus alunos ficam mesmerizados, quando eu, dinossauro do rock, identifico uma regravação de rock antigo e digo quem foi que gravou e em que década. Normalmente eles nem pensavam em nascer ainda.
    hehe

    Hasta!gnedc

    Por Blogger Marcos, às 4 de agosto de 2012 às 14:41  

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